quinta-feira, 28 de agosto de 2014

HISTÓRIAS CURTAS E MARCANTES

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)


“Conhecia-a já depois de ter ficado viúvo –ai, tenho tantas saudades da minha mulher! Numa rotina continuada, todos os Domingos vou à missinha e a seguir passo no cemitério para lhe levar flores. Não é que pretenda substituir o meu amor que partiu –ela será sempre insubstituível!- mas um homem sexagenário precisa muito de uma mulher! Nem é propriamente pelo sexo, nada disso! É o ombro amigo, o podermos conversar sobre a nossa vida –com a idade tornamo-nos como crianças em busca de afecto. Passamos a olhar sistematicamente para trás, para o passado, e a reviver as memórias. Às vezes até me torno chato, tenho consciência disso! De modo que conheci esta mulher há poucos anos. Gostei dela. No início pareceu-me uma boa companheira e, embora ela tivesse também a sua casa onde morou com o falecido marido, fomos viver juntos para a minha pequena quinta. Aos poucos comecei a verificar a verdadeira natureza dela. Eu não era senhor de falar com ninguém e muito menos de olhar para uma mulher na rua! Se ela se apercebesse fazia um banzé que me deixava corado de vergonha! Como é uma excelente dona de casa –repare que eu andei sempre nos trink’s, sempre muito limpo e asseado!-, fui desvalorizando o seu mau-feitio e deixei correr. Até que fui enchendo, enchendo, e não aguentei mais. E separamo-nos! O tempo passava e volta e meia ela ligava a dizer que me amava e não podia passar sem mim. E, você sabe, um homem da minha idade torna-se frágil, muito vulnerável, e lá a aceitava outra vez. E isto repetiu-se várias vezes ao longo dos últimos três anos. E há dias voltei a mandá-la embora! Ontem, deu-me um baque no peito, um pressentimento. Cheguei a casa e todo o meu ouro e o da minha falecida tinha desaparecido. Estou triste! Muito triste! Há mulheres que não valem uma merda! Desculpe vir desabafar consigo! Não leva a mal, pois não?”



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