sexta-feira, 9 de novembro de 2012

COMEÇOU O PEDITÓRIO PARA A CASA DO COMERCIANTE (3)

(Pedir para algo fundamentado e necessário não envergonha quem pede e, em contrapartida, enobrece quem dá)


 Hoje e pelo terceiro dia, por volta das 9h30, eu e o João Braga, iniciámos o peditório para a escritura e promulgação dos estatutos da “Casa do Comerciante da cidade Coimbra”, que implicam em mais de 500 euros. Começámos pelas Escadas do Gato, percorremos a Rua de Sargento-mor, Adro de Baixo, Praça do Comércio e Rua Adelino Veiga. Conseguimos 200 euros.
Tal como anteriormente, foi um gosto verificar que a maioria dos comerciantes dá sem questionar, com a expressão lacónica: “sei do que se trata li n’O Despertar!”. Ora para mim, que escrevo semanalmente neste mais antigo semanário de Coimbra gratuitamente, e sei que estou a contribuir para a sua continuação entre nós, dá-me um gozo redobrado. Dá para ver que as pessoas lêem o que tento transmitir e, sobretudo, o periódico está a entrar em quase todas as lojas de comércio. Passando a vaidade, é comum ouvir que O Despertar é o jornal dos comerciantes e da Baixa. Fico contente? Naturalmente. Quem escreve de uma forma livre, é assim que exerço este “part-time”, precisa de sentir que é lido e eu estou a inferir disso mesmo.
Prosseguindo na minha narração de hoje, pelo menos onde estava o patrão –porque há casos em que a gerência se encontra fora da cidade-, em 42 visitados, só dois não participaram, já explicarei o porquê. Volto a repetir, é uma satisfação concluir que as pessoas, em alguns casos sem sequer terem aberto a caixa, generosamente, puxam da nota sem ser a contragosto. É certo que, às vezes, lá vem o recado “veja lá se estamos a construir uma obra para os comerciantes e se, depois, não é para entregar a essa gandulagem”, e apontam para a rua, para os “polidores de esquinas”, como que a transmitirem que esta classe comercial é composta por pessoas esforçadas que desde crianças se habituaram ao trabalho duro de muitas horas no dia e hoje, apesar do desrespeito a que estão sujeitos pelos governos do país, continuam a não abdicar da sua condição de laboriosos.
Para registo, e nada mais, vou contar sobre as duas “negas” que recebemos. A primeira foi de um pequeno comerciante da Praça do Comércio. Perante a nossa solicitação, começou por dizer que tinha de saber melhor o que era isso de “Casa de Comerciante”. Prontifiquei-me a explicar e li alguns artigos dos estatutos. A seguir arguiu que tinha de conversar com os filhos, que não era ele que mandava. Aliás, “até estava a pensar em fechar a porta, porque não precisava nada daquilo”. E, portanto, que passasse outro dia qualquer. Mas que esta coisa nem fazia muito sentido. O que era preciso era “invadir a Câmara e mostrar lá aos políticos como é que está o comércio da Baixa”. Quem me conhece saberá que de santo não tenho nada e deverá intuir que até aguento todas as explicações desde que não sejam a “caçoar” de quem se está a esforçar e a tentar fazer alguma coisa. Ora este homem estava a fazer pouco de quem estava a olhá-lo olhos nos olhos e, por isso mesmo. Embora sucintamente, teve de me ouvir. Repliquei apenas que para esta acção ser possível por duas vezes este ano, grupos de comerciantes foram ao executivo e nunca o vimos, a ele, juntar-se a nós. De conversa, para os outros fazerem, estamos todos cheios. E deixei-o a falar sozinho. É politicamente correcto o que fiz? Não, não é! Porém, às vezes passo-me com sujeitos como este, que passam a vida a lamuriar-se que “o Governo é assim e assado, que a autarquia não quer saber” e sei lá mais o quê, mas quando lhes pedimos para ajudarem não podem. Nunca estão disponíveis. Vão para a porra que os carregue, para não dizer pior!
Quanto ao outro caso de não contribuição, olhe, leitor, eu e o João Braga, quase que chorámos a ouvir uma pequena comerciante, ainda nova, da Praça do Comércio. De lágrimas a querem saltar dos olhos sem brilho e embaciados pela dor, foi-nos adiantando que no próximo Dezembro vai encerrar. Está cheia de dívidas e não aguenta mais. O que está a vender não dá para a renda de agora 750 euros –já foi de 900. De rosto avermelhado, talvez pelo esforço em conter as lágrimas, diz-nos que tem feito tudo para conseguir aguentar. Já fez uma exposição dos seus artigos no átrio de uma grande superfície; tem tentado as feiras, mas as vendas estão muito difíceis. O que vai fazer a tanto artigo que está na loja? Interroga. Puxa d’O Despertar da semana passada, apontando o título “Venda ambulante Regulamentada vai dignificar a Praça do Comércio”, e questiona: “o senhor sabe se vão abrir concurso para mais pontos de venda? É que estou a tentar todos os meios para fazer face às despesas e conseguir sobreviver com a minha família.”

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