Quando bateram as doze badaladas de hoje na torre sineira do santuário de Barrô, pelas mãos hábeis dos membros da comissão zeladora da capela, constituída por Edite Pedro, Luís Santos e António Amorim, coadjuvados pela esposa de António Amorim, a Lucinda, e José Abrantes e a esposa Irene, tal como nos últimos anos, depois de organizarem o presépio, foram ligadas as iluminações natalícias em torno da ermida e no pinheiro, de cerca de seis metros, que foi erigido em honra de todos os moradores da aldeia, para acender a vela da esperança neste período deste ano tão deprimente e incaracterístico.
Dentro da pequena catedral, no altar, São Sebastião, o padroeiro, perante este acto que visa arredar a angústia e a tristeza, pareceu perder o ar de sofrimento e, por momentos, mostrou um sorriso de ciúme.
Em baixo, no átrio, as imagens da família sagrada, fitando o menino Jesus com mil cuidados, não tinham olhos para o que se passava à sua volta. Embora se diga que São José, de rosto enigmático e fechado, mostrava dizer: “bolas, este confinamento e recolher obrigatório veio lixar tudo. Se tivesse mais tempo tinha construído um curral mais acolhedor. Espero que o Menino Jesus não apanhe o maldito vírus”.
Já os três Reis Magos, Gaspar, Belchior e Baltazar, de ar muito compenetrado, aparentavam serenidade.
O anjo da Anunciação, de asas abertas e a abençoar o momento, numa posição de reflexão, parecia recordar-nos que todo o conjunto da representação da natividade foi oferecido por um bem-feitor. Já os animais, talvez preocupados com a falta de pasto, tratavam de encher a barriga enquanto havia.
O povo, protegendo-se do malefício epidémico nas suas casas, só aos poucos, nos dias que se anunciam para breve, virão ver e apreender a simbologia do Natal, sobretudo deste que sendo tão diferente dá saudade do tradicional.
EM NOME DA RENOVAÇÃO
Ao que se julga saber, 2021 é ano de renovação ou alteração de propositura para novos zeladores dos templos. Conforme é hábito as nomeações são feitas pelo padre da paróquia. Como se sabe, o anterior vigário de Luso, Carlos Godinho, deu lugar ao padre Rudolfo Leite.
Ora, aproveitando o momento da passagem da pasta, o novo presbítero, promovendo a mudança, devia incentivar a remodelação e apresentação de novas listas, que, a nosso ver, deveriam ser compostas apenas por mulheres. As pessoas, a bem do interesse comum e da revitalização dos lugares habitados, por sua livre iniciativa, deveriam dar primazia a outros e não se deixarem eternizar nos lugares.
Salienta-se que esta proposta não visa mostrar qualquer insatisfação perante as comissões que cessam o seu período de vigência. Nada disso. O que está em causa é, com a sua indisponibilidade voluntária de continuarem, mostrarem que estão dispostos a dar lugar a outros, a novas ideias, a novos projectos que conduzam a mais interação entre residentes.
Sejamos crentes ou não, estamos certos, todos estão de acordo que a(s) igreja(s), no seu religare entre humanos e o metafísico, é também a ponte fundamental que liga todos os nativos, independentemente da sua classe.
Precisamos de pessoas de coração aberto ao servir humilde, seja a Deus, seja aos terrenos, que propaguem o bem e o espalhem como folhas ao vento, mas sem beatice. Residentes que, sem interesses pessoais de protagonismo, estejam permanentemente ao serviço da comunidade.
Vale a pena pensar nisto?
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