quarta-feira, 23 de setembro de 2020

O TRABALHO CAMARÁRIO OFERECIDO A NÉ LADEIRAS





1 – Hoje, na Câmara Municipal de Coimbra (página não oficial), deu à estampa um apregoado “Postal do Dia”, espécie de carta-aberta, uma publicação assinada por Luís Osório, respeitado jornalista, dirigida ao Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado.

O “Postal começa por trazer à liça o “drama” de Né Ladeiras, reconhecida cantora conimbricense que fez parte dos grupos Banda do Casaco e Brigada Vitor Jara. Para além disso, colaborou com outras bandas e fez carreira a solo.

Há cerca de um mês, Ladeiras publicou no Facebook uma carta onde, com coragem, dava a conhecer as enormes dificuldades económicas porque estava a passar. Referia, nomeadamente, que, depois de ter perdido a voz, já tinha trabalhado em vários empregos, como a servir à mesa num restaurante. Dizia que, incluindo o dono do estabelecimento, não lhe pagaram a sua prestação. Com alguma lucidez, pedia que lhe arranjassem qualquer coisa. Que estava disposta a tudo (estou a citar de memória).


2 – Segundo reza o “Postal” de Luís Osório, pelos vistos, em face do apelo divulgado, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, remeteu-lhe “um convite, ao que sei, para limpar a merda das casas de banho e vigiar alunos no IGAP” (Instituto de Gestão e Administração Pública?).

Continuando a citar o “Postal”, “Não estou a desvalorizar o trabalho de quem o faz. Uma pessoa não perde a dignidade por limpar casas de banho, ser caixa de supermercado ou limpar as casas dos outros.

Muito pelo contrário.

Mas sabem… as pessoas têm o seu percurso. E no seu percurso vão acumulando experiências que podem ser úteis noutras áreas.

Não haveria na Câmara de Coimbra, na área cultural, um lugarzinho onde a Né Ladeiras pudesse caber?” - interroga Luís Osório.


3 – Não posso deixar de recordar que em 2016, falando pessoalmente com um vereador e através do blogue, lancei um apelo à Câmara Municipal de Coimbra para um ex-arrumador no Estádio Universitário, José Ferreira da Costa, homem demais conhecido pela sua atenção e bonomia. O Costa, a trabalhar no Cemitério da Conchada como coveiro, havia um ano, através de um POC, Programa Ocupacional, promovido entre o IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional e os Recursos Humanos da autarquia conimbricense, foi pura e simplesmente despedido. Pobre, sem recursos, sem poder voltar ao Estádio Universitário para arrumar carros, porque o espaço entrou em obras, ficou sem rendimentos e a sua condição de precariedade ficou num limbo. A edilidade não quis saber.

Por acaso, um amigo de outras andanças, que gere uma grande instituição na cidade, leu o meu apelo no blogue e, condoído com a situação do Costa, contactou-me para eu lá mandar o ex-coveiro. O Costa foi lá, ficou a contrato durante os últimos anos e hoje, para minha satisfação, está com vínculo efectivo à função pública.


4 – Quero dizer o quê, ao contar o caso do José Costa? Tão só que se em 2016, com o actual executivo, a Câmara não respondeu ao apelo de um cidadão comum - que trabalhava já para si -, e agora, no caso de Né Ladeiras, já ofereceu um trabalho, sem pretender ser irónico, está a melhorar muito. Ou não? Ou foi simplesmente para ficar bem na fotografia? No entanto, mudando a agulha, vou virar o raciocínio…


5 – Por caso Né Ladeiras, pelo facto de ter sido uma artista, merece ser tratada muito acima do vulgar cidadão trabalhador? Onde fica a tão apregoada igualdade de tratamento que todos pugnamos para a generalidade dos cidadãos? Sim defendemos a equidade desde que não sejam nossos amigos -contra mim falo.

Em Lisboa há dezenas ou centenas de artistas a viver das dádivas do Banco Alimentar -é o que noticia a imprensa. A Câmara Municipal lisboeta deve arranjar um “lugarzinho” para todos?

Acho que nestas coisas da amizade há demasiada emoção e pouca racionalidade. Quando vimos um amigo nosso nas redes da miséria ficamos com o olhar turvo. Só assim se pode entender este inusitado postal.

Afinal, ficamos sen perceber: Né Ladeiras quer um trabalho ou um emprego?










1 comentário:

José disse...

É pena a vereadora da cultura não ter lido o apelo de Nela Deiras, já que assinou um contrato com uma senhora de mais de 100.000 euros anuais para a gestão dos artistas que actuam no Convento de S. Francisco. Esta senhora ganha mais do dobro do Presidente da Câmara de Coimbra. Enfim... temos o que merecemos.