segunda-feira, 5 de novembro de 2018

BAIXA: CRÓNICA DA SEMANA PASSADA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



REFLEXÃO: A BAIXA ENCOLHIDA NA CASCA



A pouco mais de mês e meio do Natal, outrora um período de carregamento de baterias financeiras no sector comercial, a Baixa, quer no âmbito visual, quer a nível psicológico, permanece dormente, dolente, sem forças para sair do abismo em que há muito caiu.
Em analogia, o Centro Histórico está para a cidade como a comemoração do Armistício, ocorrida neste fim-de-semana em Lisboa, está para o país. Ou seja, a vivência actual da zona baixa citadina e a celebração da participação portuguesa na Primeira Grande Guerra, ambos os quadros, na generalidade, são olhados com alheamento e passividade, no sentido do facto consumado, não provocando reacção, o público tende a concordar e a obedecer sem reagir.
Por outro lado, igualmente em mentira aceite como verdade, os que habitam e trabalham na Baixa alimentam-se do passado glorioso comercial. Basta atentar nos imensos clamores plasmados nas redes sociais em que as fotos de há três dezenas de anos são o espírito que anima a alma e marcam o tempo. Falar no presente decrépito é tocar com um estilete na ferida que sangra. Por isto mesmo, numa espécie de auto-censura, tenta-se esquecer o hoje e apagar os planos para o futuro. Numa depressão colectiva de chapéu enfiado nas orelhas, sem questionar o que está acontecer, onde o medo marca os dias, fugindo do divã catártico como o Diabo da Cruz, o refúgio é a covardia endémica. Hoje cai um, amanhã outro, depois outro, mas parece que a causa e consequência são problemas de quem se estatela ao comprido.
Quem escrever sobre o que está acontecer é malquisto e menosprezado – não será por acaso que os jornais publicados na cidade pintam sempre o cenário sobre o comércio em tons garridos de esperança e nunca em cores negras de catástrofe social. No lead, constituído pelos elementos jornalísticos que no primeiro parágrafo permitem compreender rapidamente a notícia, o Onde, Quando, Como, Porquê, este último, o Porquê, nunca é desenvolvido no corpo da narração. Para exemplificar melhor: na semana passada houve uma reunião de comerciantes promovida pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e compareceu à chamada uma dezena de profissionais do comércio. Este número tão restrito de presenças não deveria provocar o “porquê” nos jornalistas?


O COMEÇO DA HISTÓRIA



Neste último Sábado, na antiga loja da desaparecida TLX, na Rua Eduardo Coelho, abriu a Coimbra 12 €, um novo espaço comercial dedicado a vestuário, calçado e acessórios, tudo com o preço único de uma dúzia de euros.
Aos novos investidores, em nome da Baixa comercial, se posso escrever assim, desejamos a maior sorte e sucesso.


O RECOMEÇO DA HISTÓRIA



Já com uma sapataria na Rua Visconde da Luz e depois de ter abandonado a Rua Eduardo Coelho, a marca Veludo Carmim instalou-se recentemente na Rua da Louça, no antigo espaço ocupado pela sapataria Bull’s.


A INÉRCIA QUE, A SER VERDADE, INCOMODA


Aparentemente, o restaurante Itália, que vai ocupar o espaço da Mango na Rua Ferreira Borges, e a pastelaria Visconde, que vai ocupar a área do BES na Rua Visconde da Luz, estão prontos a abrir há cerca de dois meses e, para a inauguração, alegadamente necessitarão somente de luz verde da administração.
Num tempo em que tanto se fala em celeridade nos processos de investimento – o chamado Simplex – custa a perceber como é que, pela burocracia, uma economia de mercado se pode dar ao luxo de travar projectos que trazem emprego e concorrem para a revitalização de um lugar. Se estiver errado, quem souber mais do que eu que esclareça o que está a acontecer.


EM TERRA DE CEGOS...
Barbearia São José abre segunda loja no CoimbraShopping
(Imagem do Notícias de Coimbra)
Segundo o jornal online Notícias de Coimbra, uma das mais antigas casas de escanhoar de Coimbra, a barbearia São José, instalada há 53 anos na Rua do Brasil, abriu, neste último Sábado, a sua segunda loja no Coimbra Shopping, no Vale das Flores.
Ainda que no campo da especulação, ninguém estará a ver um ofício tradicional, competindo com outras áreas mais lucrativas, a pagar uma renda mensal de um milhar de euros. Então, ainda no campo da conjectura, o que estará acontecer com a administração da empresa do emérito Belmiro de Azevedo?
O mais certo, enveredando na continuação da réplica do modus vivendi dos lugares habitados, aproveitando uma riqueza que está a ser desperdiçada pelo poder político das cidades tradicionais, a gerência da grande área comercial, com um outro olhar em que o pormenor atento marca a diferença que já nos habituou, está a dar a mão a profissões em avançado estado de desaparecimento. É óbvio que outros ramos, sem quaisquer apoios da tutela nem reconhecimento pela sua história e a caminhar para a morte lenta, se seguirão.
Em terra de cegos, quem tem olho é rei!
Uma grande salva de palmas para a administração do Coimbra Shopping!

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