quarta-feira, 7 de novembro de 2018

PARA ONDE VAIS RIO QUE EU CANTO?





Onde vais rio que eu canto, quero ver o teu novo Norte, Há no cais para onde vais mãos de vida não de morte.
Vai no mar barco à vela, vais para te abastecer, Mais além barco veleiro, flor da vida vai colher.
Nesta composição de Joaquim Pedro Gonçalves, com música de Nóbrega e Sousa e interpretação de Sérgio Borges no Festival RTP da Canção, em 1970, transpondo para os nossos dias, poderemos perfeitamente dar-lhe um enquadramento actualizado na política nacional.
Obviamente que já se viu onde quero chegar, ou seja, a Rui Rio, presidente do PSD, e o seu desvelado apoio a José Silvano, secretário-geral do partido, quando, há dias, foi descoberto o seu dom da ubiquidade ao assinar presenças em sessões plenárias do parlamento sem estar presente.
Rio, que há um ano atrás, sob o lema “é hora de agir” se apresentou como candidato ao comando do maior partido social-democrata e defendeu que “a política precisa de um banho de ética”, ao dar cobertura a uma desonestidade desta dimensão a um seu correlegionário, sai melhor que a encomenda. É uma pena que, sendo líder do maior partido da oposição, não entenda que deveria primar pela diferença em relação ao partido de governo – sobretudo pela protecção que António Costa tem mostrado por ministros que pouco depois se apresentavam como demissionários.
É mais que certo que esta tomada de posição do antigo presidente da Câmara Municipal do Porto vai sair muito cara ao PSD e à Assembleia da República – ou talvez não por que em relação ao Hemiciclo, quer por actos recentes -lembremos a foto pretensamente de Isabel Moreira a pintar as unhas, ou as viagens fantasmas dos deputados- quer do passado, a sua credibilidade está pior que uma maçã brilhante com o seu interior apodrecido.
As antigas Cortes Gerais – no tempo da Monarquia Constitucional – mereciam tanto respeito como Eça de Queirós nos deixou em legado:

A Assembleia é um local que:
Se for gradeado será um Jardim Zoológico,
Se for murado será um presídio,
Se lhe for colocada uma lona será um circo,
Se lhe colocarem lanternas vermelhas será um bordel,
E se se puxar o autoclismo não sobra ninguém...

No mínimo, é para lamentar que Rui Rio dê aval a uma continuada desonestidade que, em (mau) exemplo, mostre ao país que não há alternativa e seja tudo farinha do mesmo saco. Para onde vais Rio, do meu desencanto?

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