sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

BAIXA: JÁ NÃO HÁ ESTRELAS NO CÉU





1 - Ontem, por volta das 18h45, numa rua estreita da Baixa, com gritos, insultos e umas palmadas misturadas em vozes femininas e masculina, ouviu-se uma grande algazarra. O que era? Um conhecido cromo destas paragens carregado de vinho e acompanhado com umas quatro mulheres a vociferarem entre si. Na discussão, não se sabe se as meninas reivindicavam a parte do homem que ainda estaria aceitável e que lhe permitia manter-se a cambalear sem ir beijar as pedras, se procuravam o lado alcoólico que o tornava vítima sem defesa. Provavelmente, temendo que no caldinho de sangue com álcool pudesse sair um serrabulho de péssima qualidade que pusesse em risco a afamada boa cozinha portuguesa que se pratica em alguns bons restaurantes da Baixa, algum qualquer vizinho telefonou à PSP. Fazendo-se transportar em automóvel, vieram três agentes passado um tempo não contabilizado pelo meu relógio. Para sorte do erário público, os perturbadores da ordem pública já tinham desaparecido. Tivemos mesmo sorte! Se os cívicos os apanhassem só iam dar despesa para a esquadra. E mais, supondo que o homem fosse considerado agressor das mulheres, por aparentemente serem a parte mais vulnerável, mais que certo, acabava por ser mandado em liberdade. Quem teria atacado as mulheres? A parte do homem que, cambaleando, ainda se mantinha de pé ou o lado do alcoolizado como uma pipa? Como está de ver, na dúvida absolve-se o réu, depois de umas horas a ser ouvido, lá vinha embora a metade de barril conjuntamente com a outra metade de cidadão. Tivemos mesmo sorte!
Isto para dizer o quê? Que, por força do abandono a que a Baixa está votada pelas autoridades, o ambiente pesado com elevado teor etílico, ao raiar do crepúsculo, é uma constante. E se há uma explosão?

2Antes de ontem, numa rua estreita desta zona antiga, com algum aparato, dando cumprimento a uma ordem do tribunal movida por uma acção executiva, na presença de dois agentes da PSP, foi arrombada a fechadura de uma loja recentemente encerrada e carregada para uma carrinha parte do que restava da sua existência material.
Isto quer dizer o quê? Que anteriormente, nas últimas décadas, nunca aconteceu? Nada disso. Aconteceu sim. Só que era a excepção e hoje, nos nossos dias, é a regra. Pela banalidade já ninguém perde um minuto a pensar em casos destes. Encerrar um estabelecimento com largos anos de história, seja de que ramo for, é a economia a funcionar?
Acontecendo coisas destas com demasiada frequência não deveria fazer pensar os membros da maioria da vereação PS –com cinco vereadores eleitos? Não deveria fazer agir a oposição no executivo? O que tem feito a Coligação Mais Coimbra (PSD/CDS-PP/MPT/PPM) -com três vereadores sem pelouro? O que tem feito o movimento Somos Coimbra -com dois vereadores eleitos, sem pelouro? O que tem feito a CDU, Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV) -com um vereador eleito, com pelouro?
Estarão à espera que, economicamente, rebente tudo para depois intervir? Ou será que há uma intenção deliberada para deixar cair a zona? Não será verdade que quando uma área perde valor comercial e habitacional, depois, é muito mais fácil comprar quarteirões ao preço da uva mijona?

3Há uma semana, com título de primeira página nos jornais diários, foi anunciada a inscrição de uma verba de 150 mil euros para a Baixa, numa nova rubrica no nosso município: o Orçamento Participativo -instrumento que permite a participação publica em determinados projectos anunciados e muito em voga em muitas câmaras municipais do país. Seria votado na reunião desta última segunda-feira. Foi adiada a apreciação do projecto pelo executivo. Segundo o plasmado nos órgãos de informação, seriam 50 mil para projecto(s) jovem(s) e 100 mil para projecto(s) adulto(s) que poderiam ser votados pelos conimbricenses.
Mesmo antes do menino nascer, pergunta-se: tão mirradinho, tão pobrezinho, tão sem jeito, o que se pretende com este tiro de pólvora seca? É para entreter as massas? O que é que esta iniciativa, com tão pouca verba disponibilizada, mais própria para executar no Portugal dos pequenitos, vem ajudar a zona histórica? É isto? É tudo isto que a maioria socialista com assento no governo local tem para contribuir para a regeneração da Baixa?

4Anda por aquí uma zoada de que, no maior dos segredos, está em marcha a constituição de uma nova associação comercial em substituição da extinta ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, em 2016. Quem está a incentivar esta criação saberá o estado de fragilidade económica do comércio? Saberá que os comerciantes, pelo esgotamento financeiro, não podem pagar quotas? Então, a ser assim, onde se vai escavar as receitas para se aguentar?
É certo que a crise associativa do comércio em Coimbra também assenta na falta de credibilidade de quem gere os destinos associativos. O que moveu quem esteve à frente destas agremiações foi sempre o interesse pessoal. As associações foram sempre o trampolim para outros voos na política, ou, não havendo lugar nesta, como em alguns casos, boas colocações remuneradas em empresas ligadas à autarquia. Por isto mesmo será muito difícil avançar na conquista de associados. Salienta-se que não quero dizer que uma associação não seja importante para a defesa da classe. Claro que é importantíssima, mas é preciso mantê-la. Não chega a boa-vontade.
O que se necessita mesmo é de uma oposição que saiba estar à altura e, como a função indica, pressione a maioria no hemiciclo para o que está acontecer à parte baixa da cidade.

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