terça-feira, 12 de setembro de 2017

EDITORIAL: O QUE É QUE SE PASSA NA REDE?

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Faltam pouco mais de quinze dias para as eleições autárquicas. Nas redes sociais, em defesa dos seus candidatos ou simplesmente na salvaguarda dos seus pontos de vista ideológicos-sociais, as pessoas parecem ter enlouquecido. Quem os contradiz, sem mais e no mínimo, é logo apelidado de parasita, besta, comuna.
Há dias, numa página que sigo de política nacional, visando a greve da Autoeuropa e sobre as declarações de um jovem engenheiro que trabalhou na grande empresa portuguesa de capital alemão, um comentador postava o seguinte: “Este "Menino" Copinho de Leite , talvez quisesse que um Funcionário da Auto Europa ganhasse tanto como um Alemão ou como ele que emigrou para o Estrangeiro!”
Porque tinha lido a opinião do ex-funcionário da Volkswagen, entendi que o que se escrevia sobre o ex-empregado, para além de injusto, era violento e despropositado. O meu comentário foi assim: Este "menino" copinho de leite, como diz, trabalhou na AE, sabe do que fala, sabe do que escreve, sabe do que lê nas redes sociais. Eu, como não trabalhei lá, leio o que se vai escrevendo e, ao mesmo tempo, as posições políticas partidárias, abstenho-me de tomar uma posição -sobretudo radicalizada. Quer queira quer não, por muito que o desgoste, a opinião dele vale mais do que a sua, a de outros, a minha. Ele teve as mãos na massa, ele esteve lá, repito.
A resposta do visado não se fez esperar. Para além de outros insultos variados, levei logo com “comuna, vai dar banho ao cão!”
Em outra página sobre política local, há dias, numa discussão sobre o lixo na cidade, estabeleceu-se uma tal confusão que, em insultos baratos desde “ressabiada” até “parasita”, já valia tudo.
Hoje o Facebook está transformado numa espécie de saco de boxe onde cada um vai dar uns virtuais murros para descarregar a adrenalina ao mesmo tempo que solta uns vitupérios onde, para alma ficar aliviada, o insulto, a injúria e o ultraje devem carregar o máximo de veneno.
Nos nossos dias, as redes sociais substituíram as igrejas. Antigamente entrava-se numa catedral para, no silêncio das pedras milenares, através da introspecção se procurar um encontro com o “eu”. Fosse ou não pela espiritualidade concentrada nos templos frequentados por milhares de humanos, quem acreditava (e acredita), numa espécie de expiação de culpas, saía mais leve, mais puro, mais limpo do espírito e melhor consigo mesmo.
A teocracia foi substituída pela tecnocracia. Perdeu-se o enigma do que está para além de nós, do que nos transcende. Hoje, aparentemente, somos filhos da razão directa, pura subjectividade, onde não se pensa na causa e efeito. Onde para chegar à conclusão é necessário avaliar as premissas. Sem abstracção, pensa-se nos fins sem ter em conta os meios. Estamos transformados em máquinas humanas onde a injustiça está presente na maioria dos nossos actos.
Estamos melhores? Penso que não. Estamos todos com menor desumanidade e maior falta de compreensão pelos erros e deslizes do “outro”, o nosso amigo, o nosso opositor.
Valerá a pena pensar nisto?

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