quinta-feira, 21 de setembro de 2017

BAIXA: MEDIDAS DESPENALIZADORAS E A FAVOR DA REVITALIZAÇÃO (20)





Tendo em conta a continuada situação de aproveitamento político, de empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou a escrever p'ro boneco? É o mais certo.


    É urgente recuperar o Mercado Municipal D. Pedro V procurando novas valências, incluindo serviços municipais, para aquele espaço público. Tomando o exemplo de outras cidades, é preciso avaliar se, de facto, a gestão pública até aqui será o melhor para a sua regeneração e não se deverá pensar na concessão a uma entidade privada para a sua exploração.

Há cerca de dez dias fomos surpreendidos pela publicação nos jornais de uma Carta Aberta escrita por Paulo Dinis, presidente da Associação do Comércio dos Mercados de Coimbra (ACMC). Nesta missiva, Dinis acusa Manuel Machado, actual presidente da edilidade, de, enquanto órgão associativo, não os receber em quatro anos e interroga: “onde está o investimento que anunciou numa reunião camarária, num mês de Agosto, dentro deste seu mandato, que iria fazer neste Mercado Municipal e que estava estimado no valor de 600 000 euros?”
Antes de prosseguir vamos a factos que nos possam ajudar a analisar melhor o que se passa com o antigo mercado tão querido para tantos de nós.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Contando um pouco de história desta “praça” popular, depois de uma acentuada degradação que já vinha desde o princípio do século XX, quando, em 1911, “as impróprias vedações em madeira foram substituídas por muros de pedra e cal”, com a imprensa a pedir a sua transferência para outro local pela expansão da cidade “o mostrengo que hoje ainda ali se encontra, não deve continuar por mais tempo, para brio e lustre dos que dirigem os negócios do município conimbricense e para bom crédito e honra da cidade" –Gazeta de Coimbra, de 4 de Abril de 1914 e fonte-, proclamava-se uma solução para o Mercado. Ou a sua transferência ou obras de fundo para o existente. 
Foi assim que, sob a orientação de Manuel Machado, na altura e actual presidente da Câmara Municipal de Coimbra, o camartelo iniciou a sua demolição em Outubro de 2000 e um ano depois, em 17 de Novembro de 2001 e ainda a tempo de fazer parte da campanha eleitoral para a reeleição do promotor, com pompa e muita circunstância, seria inaugurado um bonito edifício a fazer lembrar uma moderna grande superfície comercial. Machado viria a perder as eleições para Carlos Encarnação.

NOVO CICLO, VELHOS DEFEITOS

Fosse pela queda política do “pai”, pela alteração radical do edificado, pela mudança dos costumes, ou talvez mais certo pelos licenciamentos e aberturas da Makro e do Continente, em 1993, e muitos outros shopping's que lhes sucederam, a verdade é que o “novo” mercado municipal progressivamente foi perdendo o interesse da população conimbricense. Tal como em muitas cidades do país, nos nossos dias e na mesma linha do comércio tradicional, esta praça de produtos populares começou a arrastar-se pelas ruas da amargura e com os seus vendedores a tentarem sobreviver. E a ser um lugar de agonia. Conheci bem o velho mercado antes das obras.
Ainda no consulado de Carlos Encarnação, as queixas dos operadores eram mais que muitas. Em final de 2010 Encarnação abdica para Barbosa de Melo. Este forma equipa com João Orvalho, este como vice-presidente e super-vereador responsável por vários pelouros, entre eles, como das finanças, recursos humanos, educação e mercados. Apaixonado por fazer obra, e sobretudo coisas novas, depressa Orvalho abraçou a revitalização do Mercado D. Pedro V como desígnio. Mas as guerras de capoeira rapidamente tiraram o tapete a Orvalho e de acumulador de pelouros depressa ficou sem um único. Homem de trato fácil, vejam bem, ousou criticar a gestão do todo-poderoso Manuel Oliveira, nesta altura, homem forte nos transportes, na autarquia e no PSD. É claro que a corda tinha de quebrar pelo mais frágil. Resultado desta quebra, como é lógico, a demissão no primeiro semestre de 2012 e com ele um grande ante-projecto já concebido para a revitalização do mercado municipal onde passava por transformar totalmente a praça do peixe em restauração de excelência e aberta até à meia-noite.
Não é preciso dizer que o pó do esquecimento envolveu o popular mercado e tudo continuou igual como dantes.

VELHOS DEFEITOS, NOVO CICLO

Em 2013 Barbosa de Melo perde a Câmara Municipal para Manuel Machado. Este, certamente sem esquecer que fora o mestre e responsável pelas obras do mercado D. Pedro V, prometeu em campanha eleitoral a revitalização e reconversão da tradicional praça.
É nesta regência de Machado que entra Paulo Dinis, presidente da Associação do Comércio dos Mercados de Coimbra (ACMC), com maior acutilância na reivindicação de melhoramentos. Talvez porque já estivesse cheio de promessas vazias ou se desse melhor com o anterior executivo, sei lá?!? Tentando ser isento, não sei qual dos dois terá pior feitio para a diplomacia. Quem souber que responda. O que sei é que os (poucos) encontros entre os dois representantes deram sempre em discussão grossa e com Machado a fugir de Dinis como o diabo da cruz.
Em 17 de Agosto de 2015, em reunião do Executivo, foi aprovado um projecto de reconversão para o mercado municipal. Segundo o Diário de Coimbra do dia seguinte, “Câmara quer restaurantes a dar nova vida ao mercado – Autarquia inspira-se em modelos de sucesso e conta investir meio milhão de euros para acolher novas actividades no Mercado D. Pedro V.”
Perante um texto que escrevi a enaltecer a iniciativa, logo acorreu Paulo Dinis a questionar-me: “Por acaso sabe em que moldes querem fazer essa reconversão do mercado municipal que o senhor tanto elogia? Tem a certeza que esses mercados-tipo a que se refere em Lisboa e Porto são assim um sucesso tão grande? Por acaso já visitou alguns deles e falou com os operadores desses Mercados? Não acha que a Baixa de Coimbra tem restauração a mais para a clientela da mesma? (…) Meio milhão de euros não será dinheiro a mais para gastar num Mercado com pouco mais de 10 anos? Cuidado a política é muito traiçoeira.”
Estamos em 2017, em vésperas de eleições. Constatamos que o Mercado D. Pedro V continua na mesma, igual à sua inauguração em Novembro de 2001, e os dois interventores, Machado e Dinis, continuam de candeias às avessas. Ou seja, se se olharem ao espelho, qualquer deles não pode disparar acusações na direcção oposta. Um, Machado, porque não levou em frente o que prometeu aos conimbricenses, outro, Dinis, porque perante o anúncio do projecto em 2015 tratou logo de discordar de tudo e pôr o pau na roda.
O que se extrai disto? Se queremos mesmo que a revitalização da velha praça avance, provavelmente, o melhor seria seguir o exemplo da Câmara de Vila Nova de Gaia, que concessionou o Mercado Municipal da Beira-Rio a um privado por 30 anos.
Vale a pena pensar nisto?

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