Sobre o espírito da “Noite Branca”, hoje, a Baixa vai estar de braços abertos até à
meia-noite pronta a acolher quem a quiser presentear com a sua presença. O
Centro Histórico precisa muito que não se esqueçam dele. Em metáfora, os
visitantes, mesmo nestas noites especiais, são a chuva que refresca o deserto
árido; o ruído que quebra o silêncio; a pressa que desacomoda o andar devagar;
o sorriso que desmantela o rosto chorado; o amor que abraça e envolve a
solidão; a guerra que procura a paz; a onda que se espreguiça na praia; a esperança
que ilumina o desespero; é o sangue que corre nas veias e dá vida ao corpo. Tudo
na natureza, na sua existência efémera, está direcionado para um alvo e é dual
em verso e reverso.
Aqui, nesta zona comercial e habitacional,
está a memória impregnada de gentes, de várias gerações, que deixaram nas
pedras a sua história escrita a fogo. A Baixa já foi um oásis florescente de actividades
comerciais e industriais. Embora mantenha o seu “modus vivendi”, perdeu muito da sua identidade e da sua alma. Hoje é um
lugar calmo, de recordação, um ponto de passagem para turistas, onde os que cá
estão a ganhar o seu dia tentam por todos os meios ao seu alcance aguentar-se
na esperança de que, na dinâmica natural de todas as coisas, mude. Embora a alteração
seja pouco visível para quem cá está, a verdade é que mesmo lentamente, está a acontecer.
Claro que para ser perceptível a olho nu era preciso que todos se envolvessem –consumidores,
comerciantes, poder político-, mas não é assim. No seu egoísmo inato, todos
procuram resguardar-se sem comprometimento e gastar o menor esforço em energias.
Assim, é óbvio, vai demorar o dobro do tempo a recuperar. Tenhamos fé e que
todos os santinhos ajudem!
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