terça-feira, 28 de outubro de 2014

EDITORIAL: A ERVA DO TERREIRO VARRIDA PARA DEBAIXO DO TAPETE

10 FOTO LUIS FERNANDES AA




A 4 deste mês de Outubro os jornais locais anunciavam que o Terreiro da Erva iria ser renovado após obra de 600 mil euros. Protestou –a meu ver muito bem- o vereador do movimento Cidadãos por Coimbra, Ferreira da Silva, a pugnar a discussão pública para o plano de engenharia. Nos dias subsequentes a imprensa local informava que a pretensão foi aprovada e a discussão pública foi alargada a trinta dias. Na quarta-feira, 16, um jornal local noticiava: “Até meados da próxima semana, a Câmara Municipal de Coimbra está a aceitar propostas no âmbito da discussão pública do projeto de requalificação do Terreiro da Erva. A partir daí, é preparar o lançamento do concurso para que a obra esteja concluída até final de 2015.”
Na última sexta-feira, dia 24, desloquei-me à Câmara Municipal de Coimbra (CMC) para apreciar a ideia e, se não me agradasse e as minhas dúvidas não fossem satisfeitas, poder contribuir com sugestões. No hall da edilidade, entre contactos telefónicos e mais umas interrogações pessoais da agente da Polícia Municipal, que faz a triagem de público na entrada, foi manifestamente difícil saber onde parava o plano para a revitalização do Terreiro da Erva. Finalmente fez-se luz e lá se conseguiu saber que se encontrava no Gabinete para o Centro Histórico, no Arco de Almedina. Depois de um passeio a pé, atravessando as ruas largas, cheguei ao responsável, o engenheiro Sidónio Simões, que com simpatia e competência me mostrou o plano no computador. Apesar de me suscitar alguma apreensão a plantação de laranjeiras, quarenta e cinco minutos depois estava esclarecido e não acrescentei nenhum elemento novo. Embora não seja claro, também me suscita alguma apreensão a provável transferência dos serviços de apoio a sem-abrigo e toxico-dependes praticados pela Cáritas na zona da Baixa. Temo que o executivo, influenciado por interesses empresariais e levado pelo populismo, não leve em conta este emérito e bom serviço social, imprescindível na área, e o impulsione para onde não seja necessário. É preciso não esquecer que, segundo a última contagem publicada nos jornais, são cerca de sete centenas os desabrigados que por aqui pululam. Empurrem com a barriga, varram os problemas para debaixo do tapete, mas depois não se lamentem se a insegurança aumentar.
Levando em conta as preocupações do meu amigo João José Cardoso, professor e profundo conhecedor da história da cidade, talvez se devesse aproveitar a remodelação do terreiro para escavar o solo e saber o que está a menos de dois metros da superfície –já que, ao que parece, para além desta profundidade já há água em nascente.
Em síntese, deu para ver que Manuel Machado, presidente da CMC, não convive muito bem com a gestão participada dos munícipes, que aliás, em boa verdade, os seus antecessores fizeram o mesmo. Por experiência própria, chegar à Assembleia Municipal e às sessões abertas ao público do executivo foi sempre de uma dificuldade dobrada. Quando é que os ocupantes da cadeira do poder municipal entendem que devem simplificar as regras de acesso público e que foram eleitos para servir e não para se servirem do estatuto e impor unilateralmente a sua vontade?

2 comentários:

Anónimo disse...

Caríssimo Luís Fernandes

É só para acrescentar que, no passado dia 21, houve uma sessão pública de apresentação deste projecto, na sala de sessões da CMC. A mesma foi noticiada nos jornais e contou com a participação de vários moradores e comerciantes/empresários do Terreiro da Erva.

Um abraço!

LUIS FERNANDES disse...

RESPOSTA DO EDITOR


Começo por lhe agradecer a informação mas, suponha que a notícia não foi lida e, por isso mesmo, não foi apreendida. A responsabilidade pública da Câmara acaba aí? Não há mais necessidade de disponibilizar a ideia, até para a maturação? Nessa sessão pública de apresentação do projecto foram logo passadas a escrito sugestões? Ou, tal como indica, tratou-se de uma sessão de apresentação?
Meu caro anónimo, mas conhecido, engraçado, quando o senhor fazia parte da oposição não se pronunciava assim. Tem graça, como a mudança de posição estatutária aliada ao interesse pessoal altera substancialmente a forma de pensar. Não acha? Muito interessante! Muito mesmo!