segunda-feira, 13 de outubro de 2014

OS LABIRINTOS DE ACESSO AO MOSTEIRO





Imaginemos, somos turistas em trânsito pela cidade e decidimos hoje visitar o Convento de Santa Clara-a-Velha. Depois de atravessar a pé a ponte sobre o Mondego, estamos agora em frente ao claustro refundado pela Rainha Santa, com licença da cúria papal de 1314, onde instalou o Mosteiro de Santa Isabel da Ordem de Santa Clara. Olhamos em volta e constatamos um manifesto abandono, sobretudo pelas ervas crescidas nas zonas verdes. Todos os portões se encontram fechados. Naquele momento nem um único visitante está dentro do espaço histórico o que nos leva a concluir que se encontra encerrado. Um bocado perdidos, a cerca de mais de uma centena de metros vemos lá ao fundo um espaço envidraçado e com pessoas no seu interior. Damos por entendido que está mesmo cerrado e damos meia volta. De repente somos atravessados por um pensamento: mas este não é um dos mais importantes monumentos da cidade? Não lemos há uma década que foram gastos milhões de euros para secar a sua nave? Não, não pode ser! Esta abadia não pode estar encerrada ao público. E voltamos para trás à procura de uma indicação. Bem nos parecia! Surge então um pontão, meio disfarçado e sem dar nas vistas, a indicar que o acesso é feito pela Rua das Parreiras. Mas nós não somos de cá! Onde ficará situada esta artéria? Bom, deve ser lá longe no edifício transparente a vidrado, pensamos. O melhor é mesmo arriscar e começamos a rodear o terreno murado. Entramos numa ruela de terra batida com crateras cheias de água e emolduradas por arbustos a fazerem lembrar a selva amazónica. Como se estivéssemos a jogar à macaca, vamos saltando de coágulo em coágulo em busca da entrada perdida. Mas não desistimos. Se Deus quiser e com ajuda da Rainha Santa Isabel havemos de chegar ao ingresso localizado na invocada Rua das Parreiras.
E chegámos mesmo. Transpomos o primeiro portão abobadado. Não há ninguém para informar. Pelas muitas pedras recolhidas em trabalhos arqueológicos, mais que certo, estaremos no bom caminho. Sempre levados pela intuição, chegamos à bilheteira, que é junto do bar panorâmico que se estende sobre a paisagem de construção medieval. Num balcão de informações, duas senhoras de meia-idade, muito simpáticas, por acaso, e que não recordamos o nome, ostentando no peito um pequeno identificativo onde consta a sigla do IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional, o que nos leva a supor que serão desempregados de longa duração e a desempenharem funções que deveriam ser específicas e atribuídas a pessoal especializado. Solicitamos dois bilhetes. Custam 8 euros. É-nos dito que dentro de pouco tempo, numa pequena sala em anfiteatro, vai começar um pequeno filme, de cerca de quinze minutos, sobre a história de toda a edificação começada em 1239 por Mor Dias e antes da refundação por Isabel de Aragão, mulher de Dom Dinis, e que, pela sua piedade e entrega à causa dos mais desfavorecidos, viria a ser beatificada em 1516 e posteriormente canonizada em 1742. Conjuntamente, cerca de meia dúzia de espectadores assiste a uma isenta e boa película com legendas em inglês e faladas em português. Faz-nos alguma confusão as legendas em estrangeiro. Perguntamo-nos se acaso forem turistas alemães e não dominarem a língua britânica? Custará muito dinheiro ter na sala vários auscultadores com gravações em várias línguas e manter o filme apenas em português?
Depois, à vontade, entramos em vários compartimentos onde, através de iluminuras pregadas na parede, se explica a história das ordens religiosas ali implantadas e também várias peças, em faiança e pedra autenticam o passado. E saímos em direcção ao edifício central que dista dali cerca de uma centena de metros. Pela erva crescida lembramo-nos que, para poupar mão-de-obra humana, poderia ser ali colocado um rebanho de ovelhas. Faz-nos alguma impressão o desleixo da envolvente. Junto à entrada, no meio do lajeado várias ervas teimam em irromper. E penetramos no monumento cujas pedras mantém a vivência da Padroeira da Cidade. Umas cadeiras, prontas a receber pessoas, permanecem vazias e um LCD mostra imagens silenciosas. O desmazelo é latente, abraça-nos e provoca-nos dor. Duas estrangeiras dão saltos para captar a melhor fotografia. Não há nenhum funcionário a vigiar. Se é certo que os vândalos não pagam para destruir, também é certo que qualquer um dito socializado pode passar-se e, pelo à vontade, pode arruinar o que quiser. Ninguém impede alguém de o fazer. E num percurso repetido voltamos ao bar.
Em resumo, dá para ver, ali o que conta é poupar pessoal. Deixamos uma pergunta de rectórica: por que não se transfere a entrada para o mosteiro, incluindo o filme explicativo a passar no LCD e propagandeado no seu interior, e se faz então a saída pela Rua das Parreiras?

1 comentário:

LUIS FERNANDES disse...

ILÍDIO FERREIRA LOPES deixou um novo comentário na sua mensagem "OS LABIRINTOS DE ACESSO AO MOSTEIRO":

Olá Luís.
Já tive o privilégio de visitar o mosteiro, que achei bastante interessante e muito bem recuperado, mas também não foi nada fácil encontrar o caminho certo para chegar.
Fui com a minha esposa e lembro-me já na altura comentar com ela: um mosteiro destes merecia uma entrada mais acessível e melhor sinalizada!
Mesmo assim tive mais sorte do que tu, pois não tive que evitar poças de água porque na altura não chovia.

Um abraço
Ilídio Lopes
Filadelfia
USA