quarta-feira, 5 de março de 2014

EDITORIAL: UMA CARTOLA ENFIADA



Quando em 2012, através de concurso público, o executivo camarário Coligação por Coimbra, liderado por Barbosa de Melo, adjudicou o café Cartola, na Praça da República, pela melhor oferta de 14.426,21 euros mensais à empresa GoodVives sabia o que estava a fazer, não sabia? Cidadãos como eu, como você, leitor, votámos nas eleições autárquicas de 2009 para que o resultado das urnas se traduzisse num governo responsável para a cidade. É sempre com este pensamento que participamos num qualquer sufrágio –e somos sempre acompanhados de uma esperança de que quem vier a seguir será melhor do que o anterior. Infelizmente a prática vem-nos dizer que os seguintes são sempre piores, mas isso é outra questão. Só para esclarecer, o anterior concessionário do estabelecimento hoteleiro, segundo as crónicas já praticamente insolvente, tinha contratualizado pagar mensalmente à edilidade cerca de 1450 euros. Por aqui já se vê que, perante a oferta de um novo proponente que oferece dez vezes mais, se estaria em face de um negócio ruinoso para as duas partes. Mais, no mínimo, nesta insanidade, seria de prever que fossem tomadas garantias para assegurar o bom pagamento contratual. Segundo parece a garantia bancária não excede os 50 mil euros –já li algures que era de 30 mil euros. (publica esta semana o jornal Campeão das Províncias que a caução é de 17.311,00 €, dezassete mil e trezentos e onze euros)
Ora com as notícias recentes de que a Câmara Municipal de Coimbra ontem tomou posse administrativa do estabelecimento por incumprimento de rendas em atraso no valor de cerca de 100 mil euros dá para ver que o anterior executivo não agiu com o cuidado a que está legalmente obrigado, com a ponderação exigida a um bom gestor público nomeado ou eleito. Se a responsabilidade do segundo outorgante, agora rescindido, é de mais de 100 mil euros e a garantia bancária -pela notícia do jornal Campeão- é de cerca de um quinto do seu valor quem vai pagar a diferença? Que responsabilidade é assacada ao anterior executivo? Que diga-se, em abono da verdade, também tinham assento no plenário vereadores da actual administração, do Partido Socialista. Mais ainda, segundo o Diário de Coimbra, com esta concessão aberrante –no sentido de se saber à partida que os valores oferecidos eram metafísicos, sem racionalidade, por impossibilidade de cumprimento-, uma dezena de postos de trabalho foram postos em causa. Quem responde pela vida destas famílias?
Na altura escrevi que as regras dos concursos públicos estavam erradas. Ou seja, em busca de uma imparcialidade obsessiva, procura-se o ofertório maior sem levar em conta o bom senso que deve acompanhar, na oferta e na procura, qualquer negócio em causa. Este desenlace agora, a posteriori, vem mostrar isso mesmo. Será que a próxima adjudicação vai funcionar nos mesmos moldes?
Para finalizar interroga-se: para quando a responsabilidade civil e criminal dos agentes políticos eleitos? Vamos continuar a votar em incompetentes que, provavelmente, nem os seus orçamentos privados sabem gerir? Vamos todos pensar que o que se passa na nossa Câmara Municipal não nos diz respeito e vamos continuar a assobiar para o lado e fazer de conta que isso é com eles?


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