sábado, 8 de março de 2014

DA JANELA DO MEU TÁXI



Marco deixou um novo comentário na sua mensagem ""BOAS NOTÍCIAS PARA AS NOSSAS EMPRESAS"":



Olá Luís. Se permite, vou-lhe contar duas situações ocorridas recentemente. Estas não são propriamente histórias felizes, mas são verídicas e aconteceram neste século XXI, em Portugal, e o que me assusta, é ter sido em Coimbra. Vou relatar as situações de uma forma simples, directa e pragmática, e sem floreados. Não pense que sou rude mas não posso descrever isto de outra maneira.
Primeira situação: foi-me atribuído um serviço para as urgências do CHC-HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, cerca das 2h30m da manhã. Ao chegar ao local surge-me uma senhora em robe, com 92 anos (disse-me depois durante na nossa conversa). A dita senhora, pelo que me contou, estava no hospital desde as 15h00 da tarde. Colocaram-na numa maca no corredor durante 10 horas e esperando pelos resultados dos exames efectuados depois de admitida. Aos pedidos de esclarecimento da senhora, aos pedidos de um copo de água, aos pedidos de atenção de uma pessoa que estava há horas abandonada num corredor era respondido: “está bem...”, “espere um bocadinho que já vem alguém falar consigo! Pois, pois!, etc., etc.,”. Ou seja, ignoraram uma senhora que apesar da idade está bastante lúcida. Depois desta interminável espera, cansou-se, foi à cabine telefónica, chamou um táxi, e abandonou o hospital. Ninguém lhe perguntou aonde ia, o porquê ou a razão de andar à procura de um telefone de madrugada em robe num hospital público. Pergunto: quem seria o responsável se lhe acontecesse alguma coisa?
(amanhã conto-lhe a segunda parte porque estou a escrever isto durante o jantar e tenho de sair para um serviço. Vou ver se lhe faço o envio quando chegar a casa às 7h30)
 Acha que têm interesse estes casos? A 2.ª situação acho que é gravíssima porque envolve um menor e dois pais idosos, em que a mãe é paraplégica e dormem na rua.

MARCO

**********************************

RESPOSTA DO EDITOR

Claro que tem muito interesse.  Precisamos todos de dar voz a quem denuncia arbitrariedades.
Só lhe peço um pormenor: envie-me a sua identidade para o mail choupalapa@sapo.pt.
Para dar eco aos seus legítimos e interessantes protestos preciso de saber quem é. A sua personalidade ficará salvaguardada. Isto porque, entenda, estou a publicitar crónicas de alguém que desconheço completamente. E se este caso agora relatado é de certo modo generalista, um outro qualquer pode ser mais incisivo e pode-me ser pedida a sua identidade para, como testemunha, ajudar no processo.
Abraço.

Luís Fernandes

1 comentário:

Anónimo disse...

Segunda situação ocorrida á cerca de 5,6 meses atrás.De madrugada e,coincidência,nas urgências dos HUC.Ao chegar ao local surge-me uma garota com 14 ou 15 anos no máximo,educadissima pediu-me para aguardar uns minutos que ia buscar a mãe acabada de ter alta.Aparece então pouco depois empurrando a sra. numa cadeira de rodas,acompanhada por um funcionário,que envergava uma bata verde,não sei se enfermeiro ou maqueiro.Sei que não fez o mais pequeno gesto e não teve sequer a intenção de abrir a porta da viatura,manteve-se quieto aguardando que a cadeira ficasse vazia para a recolher.A menina pegou na mãe ao colo e sentou-a no carro sempre a pedir-me desculpa pela demora.Agora pasme-se,e por isso a minha revolta com o funcionário dos huc(atenção que não estou a generalizar,existem lá excelentes funcionários),a sra. era PARAPLÉGICA' e ele quietinho sem mexer uma palha,a menina andava de um lado para o outro,para aconchegar a mãe,ia novamente á recepção,foi buscar os pertences,etc.
Mas o pior aconteceu depois de abandonar-mos o hospital.Perguntei o destino e a menina muito educada,como sempre, ficou um pouco envergonhada,disse-me apenas para tomar a direcção da Portela do Mondego.Insisti no nome da rua e ela respondeu que não sabia e depois no local indicava por onde iriamos.Quando estava a chegar á Portela disse-me para abrandar e cortar á direita,eu assim fiz,e reparei que nos dirigiamos para o rio,era o acesso á «praia dos tesos».Ao fundo reparei num amontoado de escombros,eram os restos demolidos de umas barracas que albergavam algumas familias que foram realojadas noutro local da cidade.E,ainda meio atrordoado,a menina mandou-me seguir á direita para um tunel que passa por debaixo a nova variante da boavista.Onde estavam uns colchões e papelões no chão.Era naquele local que elas iriam ficar?Onde estava um sr.idoso deitado,pai da garota e marido da sra. paraplégica.A menina tinha 5 euros e foi pedir o resto ao pai para me pagar.Como isto tudo não fosse já triste o suficiente,reparei que o pai era também um doente,não falava normalmente,tinha um aparelho na gargante que pressionava para se fazer entender,numa voz «metálica»,tipo robot,soube então que tinha tido um tumor na garganta,além das doenças que têm normalmente os sem abrigos,como pneumonia e tunerculose.Incrédulo com toda situação não consegui fazer mais perguntas,o que entendi da situação foi que por alguma razão esta familia não foi realojada,nãoi sei também se a menor frequenta a escola,não sei .. nada.Já não sei nada!?Sei só que este é ano de 2014,e que estou em coimbra,Portugal,União europeia,1a divisão dos paises desenvolvidos.Será?!!
Abraço,Marco