quinta-feira, 4 de julho de 2013

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "REFLEXÃO: SUBSÍDIO PARA A FORCA", deixo também as crónicas "QUIM BARREIROS NA BAIXA";  e "MORREU MÁRIO NUNES"; 


REFLEXÃO: SUBSÍDIO PARA A FORCA

 Não é a primeira vez que escrevo sobre esta medida de incentivo ao trabalho. Desde que seja para a criação de auto emprego o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) tem dado aos desempregados de longa duração a possibilidade de estes receberem em acumulado, de uma vez só, as verbas a que teriam direito durante o prazo máximo de desemprego. Faz sentido esta possibilidade? Sim, parece que faz e não oferece contestação. Então, sendo assim, o que me leva a, mais uma vez, trazer o assunto à colação? Embirrei com o IEFP? Não tenho mais nada para escrever? Vou tentar responder e explicar melhor.
Nos últimos anos, aqui na Baixa, abriram alguns negócios deste género que conheci bem. As pessoas, com a sede natural e legítima que se adivinha de precisar e querer trabalhar, sem experiência de gestão e algumas vezes do tipo de comércio, lançaram-se em projetos de alguma envergadura. Sem citar nomes, abriram-se casas de pronto-a-vestir onde a oferta era excedentária; nasceram novas sapatarias onde a escassos metros havia dezenas de lojas do mesmo ramo. As que eu conheci, como fado triste, acabaram por ter por destino a insolvência. Com rendas exageradas e custos fixos associados imensuráveis para os proventos que deveriam ter sido alertados em tempo útil e não foram, estas pessoas, alguns deles jovens, entraram vulneráveis de mão estendida e saíram pior que mendigos com as suas vidas destroçadas.
Lembrei-me de escrever sobre isto porque, no mesmo âmbito e sem critério de avaliação, novos negócios estão a dar à estampa no Centro Histórico. Tal como os anteriores, e sem que se vislumbre mudança, o quadro de implantação é o seguido há vários anos, abrir mais um ponto de venda quando os que já lá estão não aguentam a alavancagem para o futuro. Bem sei que, dentro do princípio da liberdade de livre iniciativa, esmiuçar o certo e o errado nas vontades de cada um parece colidir com a autonomia individual. Mas se a prática mostra uma elevada percentagem de insucesso –haverá estatísticas?-, então é preciso parar para pensar e fazer a destrinça entre os dois males, maior e menor. É que, atente-se, o subsídio de desemprego, intrinsecamente, fará sentido se constituir uma fonte de rendimento para evitar que o outrora assalariado e agora sem emprego se arraste e caia na indigência. Ora, depois dos factos consubstanciados, facilmente se adivinha que esta subvenção está a ser desvirtuada do fim a que se destina. Pior, embora sem generalizar, está a ajudar a enriquecer alguns proprietários menos escrupulosos que, sem pudor, se aproveitam da inocência destas pessoas. E o Estado, tal como Pilatos, lava as mãos desta responsabilidade? Talvez valha a pena pensar nisto.


QUIM BARREIROS NA BAIXA

 Na penúltima terça-feira, a convite da sua amiga Isabel Leão, com estabelecimento de malas e carteiras na Rua Eduardo Coelho, Quim Barreiros, o popular instrumentista e cantautor brejeiro do Casamento gay, andou pela Baixa a distribuir charme. Procurou Meias de Renda e, numa grande confusão, acabou a comprar cuecas na loja da Rosinha. Entrou na perfumaria Baviera, também na mesma rua, e, como perdido em busca d’A Cabritinha, começou a ter Insónia, perguntou à Mikas, funcionária da loja dos odores: “viu Minha Vaca louca?”. É claro que a rapariga não estava a entender mesmo nada e, meio a titubear, ainda disse; “se calhar pode estar na Garagem da Vizinha”. Mas o Quim, que tem pinta de malandreco, embora não gostando d’A coisa, enfatizou: “Fica amor tá cedo”. Mas a empregada, que até estava ligada Na Internet, achou aquilo meio Tico, Tico. E lá com seus botões, em solilóquio, lá foi pensando que “Quem pode, Pode. Os Bichos da Fazenda são o que são!”
Entrou na Sapataria Paiva e disse à Fátima e à Célia: “Deixai-me Chutar”. As duas funcionárias, um pouco nervosas perante a estrela de todas as Queimas das Fitas do país, e natural de Vila Praia de Âncora, avisaram logo: “Cuidado Zé”, não se meta connosco. Aqui vendemos sapatos e não chuteiras. Além disso, Use Álcool no bigode para o deixar branquinho e parecer mesmo o Malhão dos Santinhos. Em coro, um bocado irritadas com as avançadas do Barreiros, ainda enfatizaram: “não puxe do cigarro que aqui É proibido Fumar”. Mas o Quim, vivido como o raio, safardolas até à quinta casa, não se ficou e devolveu a investida: “Casado também Namora”.
Embora o Quim Barreiros fosse coberto –salvo seja, quero dizer em reportagem de exterior- pela nossa grande e boa jornalista Rosete Sempre-em-cima”, como o trabalho noticioso esteja a tardar –suponho que a rapariga não Tá fugindo, ou sofreu algum afrontamento perante o “Mestre da Culinária” que por aqui procurava Uma Virgem e, mesmo até n’Os Buracos do chão, não encontrou- e a ansiedade por parte dos fotografados ao lado do Zé do Pau é grande, cá na Quinta da Pentelheira, entendemos publicar uma foto. A qualquer momento, e assim que recebermos a crónica da nossa enviada especial, contamos dar ao prelo a sua vivência com o homem do nariz que Quer cheirar teu bacalhau.


MORREU MÁRIO NUNES

 Subitamente, na manhã do último sábado, faleceu Mário Nunes. Pela primeira vez, conheci este homem por volta de 1982, era ele então funcionário bancário, salvo erro do BNU, Banco Nacional Ultramarino, ali em frente ao café Nicola. Na altura ele escrevia para o Diário de Coimbra em crónica semanal, se a memória não me atraiçoa ao Domingo. Como eu, de vez em quando, também publicava uns desabafos no mesmo jornal começámos a falar-nos. Para além disso, ele estacionava o carro no largo da Sé Velha diariamente e, como eu tinha o café com o mesmo nome no vetusto largo histórico, passámos a entabular conversa facilmente. Acompanhei de perto, em 1987, o Congresso Internacional “Alta, que futuro?” promovido por este grande vulto defensor das artes locais enquanto presidente do GAAC, Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Entretanto, como trabalhador–estudante, licenciou-se em História, na Universidade, e aposentou-se da entidade bancária onde prestava serviço. Fui sempre acompanhando o seu percurso até que se tornou vereador da Cultura, em 2002, da Câmara Municipal e fazendo parte integrante da Coligação por Coimbra.
Mário Nunes era um gentleman. Um homem gentil de um sorriso largo, escancarado, e fantástico. Era um lisonjeador. Ao longo do tempo, fomos sempre falando. Ainda há poucos dias, um pouco magro e de aspeto cansado, nos encontrámos e, naquela sua forma de bom comunicador, me dizia: “ó Luís, as suas crónicas n’O Despertar são fantásticas. Nunca perco uma”. E eu, meio encavacado, sabendo que havia nas suas palavras exagero, lá argui: lá está o senhor a lisonjear-me. Você é um adulador nato. Infelizmente, para mim, para Coimbra, para todos nós, Mário Nunes deixou-nos repentinamente. Se todos na morte somos boas pessoas, para mim, este homem, para além de ser o paradigma do homem pobre que vem do interior e sobe a corda a pulso- era natural de Espinhal, ali ao lado de Penela-, sempre me considerou e me fez ver que, através do seu trato simples, era uma ótima pessoa. As minhas sinceras condolências à família. Paz à sua alma. Coimbra está de luto.



AS EXÉQUIAS DA INDIGNAÇÃO

Todos sabemos, como é normal uns estarão mais de acordo outros menos, Mário Nunes foi um vulto das artes, sobretudo na sua divulgação. Com vários livros publicados sobre o património público e privado, incluindo sobre a toponímia, onde a história das ruas, em volta do seu nome, é focada com o relevo que merece, este homem foi um defensor da cidade. Para além disso, durante oito anos, foi vereador da Câmara Municipal de Coimbra. Ora, a meu ver –e não sei a quem cabe a responsabilidade pela omissão- não se pode entender que este meu amigo –que para aqui é despiciente- falecesse no sábado, durante a manhã, e, quase a correr, fosse enterrado logo no domingo, também durante a manhã. Repetindo, não sei a que se deveu tal pressa. O que sei é que muitos amigos, como eu, não puderam incorporar o féretro. Por outro lado, a coberto do anonimato, disse quem esteve presente, que a homenagem pública que a cidade lhe deveria ter prestado, e não prestou, foi simplesmente de uma pobreza franciscana, sem ofensa para os mesmos. “O funeral, como sabe, foi realizado no Espinhal (Penela) terra-natal de Mário Nunes. Em Coimbra realizou-se o velório e missa de corpo presente antes da partida para o Espinhal. Escolheram a capela mortuária de S. José, na freguesia dos Olivais, dado que vivia não muito longe dali, junto ao pavilhão do OAF e fazia a vida religiosa naquele templo. O problema é que o espaço foi pequeno para tanta gente! Aguardaram no exterior, sob calor e sol, o sêxtuplo das pessoas que conseguiram ficar no interior, aguardando pela sua vez para se despedir do ex-vereador. Muitas acotovelaram-se para aceder ao interior da capela. Não sei se a ideia da cerimónia naquele espaço foi da família ou do município. Mas, de uma ou doutra forma, não foi modo de se despedir duma figura que, apesar de vários defeitos, foi vereador da Câmara Municipal de Coimbra (CMC)! Algumas pessoas ficaram indignadas, e disso fizeram viva voz no local, chegando a afirmar que «se fosse outra personalidade, mais próxima ao clube» a CMC teria feito justa homenagem. Carlos Encarnação, Barbosa de Melo, Manuel Oliveira, entre outros não conseguiram melhor do que um lugar no exterior diante da porta principal da capela. Viu-se pouquíssima gente do PS e CDU. O momento de maior indecoro viveu-se no decorrer da missa, com as pessoas no exterior a falarem, algumas muito alto como se fosse uma feira, outras a rirem -um ruído imenso que abafou por completo a cerimónia religiosa. A Dr.ª Isabel Vale, da área cultural da Fundação Bissaya Barreto, apresentou-se com vestido verde-alface a roçar a minisaia. Outras lhe seguiram o exemplo. Só visto amigo, só visto! Coimbra trata assim as suas figuras públicas!”
É preciso salientar que na hora do perdão e do juízo final, individualmente, se formos contemplados com esse sentimento, crescemos todos como pessoas e tornamo-nos mais cidadãos.
Se no nascimento e na morte, intrinsecamente, todos somos iguais, no entanto, e no derradeiro, é legítimo uma discriminação positiva para “aqueles que, por obras valorosas, se vão da lei da morte libertando”. É justo que, pelo seu trabalho em prol do social, tenham um merecido tributo na hora da partida. Quanto mais não seja para servir de incentivo aos vindouros. Alguém, dos vivos, esteve muito mal no reconhecimento que todos devemos a Mário Nunes.



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