quinta-feira, 18 de julho de 2013

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "REFLEXÃO: EM BUSCA DE UM NOVO SALVADOR", deixo também as crónicas "O OLHAR DO GATO PERSA"; e "BAIXA NOT SHOPPING".



REFLEXÃO: EM BUSCA DE UM NOVO SALVADOR

 Estamos aí com as eleições autárquicas à porta –e por que não, se calhar e mais que certo, também as legislativas?! Os candidatos à cadeira do imperador perfilam-se, afiando espadas, navalhas e, sobretudo, recorrendo aos meios de influência para levar tudo, desde o cãozinho ao gatinho, e todos lá de casa a votarem nos seus idealizados projetos, não a pensar no desenvolvimento das zonas locais onde estão implantados, mas sim no que pode dar no olho e cativar o eleitor, desde o mais simplório até ao mais importante do léxico social.
Depois da apresentação das suas candidaturas em brilhantes colóquios –que no início das suas dissertações o público convidado mostra as suas gravatas reluzentes na cor partidária em fato domingueiro e, algumas vezes, fazendo-se acompanhar com um grande bouquet de flores, começa por ser uma feira de vaidades onde, no fim do discurso do candidato, se concentram todas as particulares clientelas pretendentes aos novos tachos, levando os filhos, os netos e os sobrinhos ao beija-mão real- passa-se então à fase seguinte, que são os almoços em família. Neste entremeio, os olheiros do aspirante, sub-repticiamente, vão vendo o posicionamento dos conhecidos mais próximos. Se o postulante ao poleiro é do centro-direita, naturalmente mais conotado com a Democracia Cristã ou a Social-democracia, o mais provável, perante certas atitudes vanguardistas dos avaliados, é serem inscritos no Index como comunistas. Se o candidato a chefe de colocação de empregos é do centro-esquerda, em face de parciais crónicas nos jornais a favor do opositor, posições públicas assumidas, conversas de café, o mais certo é o estudado ser relegado para um limbo de condenados ao esquecimento. Se o pretendente ao maior número de votos é da esquerda retinta, como sabe que dificilmente assentará o rabiosque no trono, o mais óbvio é olhar todos os não prosélitos como inimigos; assim um pouco como os maoistas, nos idos anos de 1960, consideravam todos os não seguidores da doutrina de Mao. Ou seja, és por mim ou, não sendo, és inimigo do povo, e, em consequência para abater a qualquer custo. E depois, como não poderia deixar de ser, vêm os novos movimentos independentes. Aqui, como sabem e sentem ser discriminados pela Lei Eleitoral, onde a legislação funciona como preservativo, e tudo é dificuldade criada pelos partidos tradicionais para evitar a sua multiplicação, neste caso, dentro destas organizações, intrinsecamente de esquerda mas apregoando a aceitação de todos os credos ideológicos, apela-se ao papelinho na urna, a todas os idealistas, venham os votos, sem olhar a quem e com algum cinismo calculista à mistura, nem que seja do Inferno.
Passando às prováveis eleições legislativas que aí estão a romper, o cenário não é menos desolador e catastrófico. O interesse pessoal e partidário domina completamente os atores sonhadores com um lugar ao sol no executivo ou, no mínimo, uma cadeirinha no Parlamento, na Assembleia da República. O curioso, neste tempo de vacas magras e de colocações difíceis, é que, como se estivéssemos num teatro de máscaras, de repente, toda esta gente –esta execrável amostra de gente sem princípios e valores, sublinho-, de uma forma prepotente e cuidada, deixaram cair as dissimulações e, agora, apresentam-se, sem pudor, como sempre foram: servidores dos seus próprios alinhamentos mentais e interesses narcisistas. Se nesta feira de ladroagem, cujo país será já pequeno para conter tantos ladrões, sempre houve alguma esperança no Presidente da República, cuja função constitucional, hipoteticamente, será a de árbitro, gestor de conflitos e ansiedades do povo que sofre na pele as tropelias destes indivíduos sem escrúpulos, este último e em exercício, Cavaco Silva, em nome dos alegados soberanos interesses do país, ao tornar-se um descarado protetor do seu partido de sempre, guardador de um rebanho de ovelhas que giram à sua volta, e acima de tudo preocupado com a sua própria imagem, com a sua recente intervenção desastrada, veio, de uma vez por todas, afundar o que ainda restava na confiança que os portugueses depositavam no seu chefe de Estado. A partir de aqui, para a frente, acabou-se de vez a crença nas instituições. Desapareceu a esperança. O sistema democrático está em coma induzido. Basta desligar as máquinas para ser enterrado sem direito a epitáfio. Morreu o projeto europeu, assente na livre-circulação de pessoas e bens. Claudicou o Euro e o sistema monetário, assente na crença de uma moeda única, símbolo do princípio da derrocada da soberania para todos os seus membros. Está aberto o caminho para o ressurgimento de um novo salvador que vai retirar Portugal das garras dos interesses mesquinhos de uma classe de elite que desprezando o povo, não olhando a meios para atingir os fins, sem freio, abocanha e, sem vergonha, mastiga, tritura e consome tudo o que for riqueza nesta Nação. Com o seu confisco, levando ao suicídio individual, ao encerramento da pequeníssima empresa, e destruindo famílias inteiras como se de um processo de seleção se tratasse. Uma espécie de Eugenia, que Hitler para atingir os seus fins recorreu também com o sucesso que se conhece traduzido em 80 milhões de mortes com a subsequente Segunda Guerra Mundial. Por que razão ninguém se sustenta na História e nos sinais evidentes que perpassam em frente aos nossos olhos? Essa, verdadeiramente, é mesmo a questão nacional.
Em regressão, fazendo analogia com os anéis do tempo, provavelmente, estaremos entre 1892, data da bancarrota e finais da Monarquia Constitucional, e 1933, apogeu e ascensão de Salazar, na instituição do Estado Novo como bandeira nacionalista. Sem esquecer a ditadura Sidonista de 1917. Tal como nessa época, para a maioria, para este povo que lavra neste rio de sacrifícios sem valer a pena, a sensação é a de que se com este sistema não vamos a lado nenhum e estamos cada vez mais pobres e miseráveis venha lá esse Salvador. Onde é que ele está? Onde é? Onde é? Venha ele!


O OLHAR DO GATO PERSA

 Dentro da montra daquela que já foi a maior universidade livre do comércio da Baixa, o felino, de pelo bem tratado e a parecer um gato de peluche, olha para quem passa com desdém. Os seus olhos, frios e petrificados no vazio, parecem avaliar tudo em seu redor. Uma pequena fresta muito estreita na principal porta de entrada indica que sai quando quiser. Notoriamente, pelo ar descansado em pose, sente-se dono de todo aquele território imenso e abandonado pelos homens. Afinal ali tem tudo o que um gato precisa; espaço para fazer umas caminhadas ao entardecer, em completa segurança, porque caminhar em beirais e outros tais, já foi. Isso foi noutros tempos. Pensa para si mesmo –porque gato também pensa, não esqueçam. Hoje com a segurança protecional aos felinos, concedida pelos humanos, não vale a pena arriscar. Gente de todos os quadrantes trazem tudo, a paparoca – já nem é preciso correr atrás dos ratos-, água, vitaminas, e até umas vacinas para evitar a multiplicação da espécie. Às vezes, quando, no intervalo de uma boa leitura, tira um tempo para refletir, dá por si a questionar o que se passa com o pessoal de duas patas. Será que enlouqueceram? Não ligam patavina aos congéneres da mesma espécie; nem um olhar de comiseração lhe dispensam, mas para nós, irracionais, é tudo em grande. Para além da Sociedade Protetora dos Animais, já arranjaram mais uma associação cá na cidade. Não deixa de ser estranho, confesso, nós não pedimos nada e dão-nos tudo. Por acaso, falo por mim, não tenho aspirações políticas, porque se tivesse, com este paparicar em forma de assédio, facilmente chegava à cadeira do mayor. Até era giro. Já imaginaram um gato como eu, de grandes bigodaças, chapéu na cabeça, e grandes botas de cano, a mandar nestes humanos tolos? Não se admirem. Já estive mais longe. Um dia destes até fundam a Universidade do Miau. Em contrapartida, as pessoas passam a vida de braço no ar a reivindicar tudo nas ruas e não levam nada. Para além de ninguém lhes passar cartão, ainda lhes retiram o que conseguiram nas últimas décadas. Muitas vezes penso que esta gente anda toda doida. Qualquer dia, no Código Penal, vale mais a vida de um gato do que a de uma pessoa. Este pessoal não sabe o que nos hão-de fazer. Isto às tantas é carência de afeto, sei lá! A solidão invadiu o coração do colectivo. Todos tentam sorrir a fingir que são felizes, mas eu sei que não são. O sofrimento é imenso. Ainda bem que a dor não tem cor. Se tivesse estes humanos seriam todos africanos. Só eu sei quantas lágrimas choradas me apercebo nas tantas janelas que espreito.

Mas deixem-me mostrar, isto aqui tem umas vistas magníficas sobre a rua e a praça em frente. Se não fosse pela passagem estreita de acesso, traria uma cadeira de balouço, um charuto havano e colocava uns óculos pretos nos meus olhos. Mais, até tem um lago na cave. Isto é simplesmente espetacular. Quando me lembro que os meus pais –o Felício e a Isménia, eram muito pobres coitados, creio que vocês não devem ter conhecido- durante “décadas” nunca tiveram acesso a esta outrora grande loja. Se me vissem agora, aqui, nestas minhas férias, nem iam acreditar. Até tenho pena deles, palavra de gato. O que eles passaram para fazer de mim um felino culto e trabalhador. Saiu-lhe tudo furado. Culto sou pouco, trabalhador muito menos. Mas como é que eu podia ser trabalhador? Basta lembrar-me dos velhotes sempre esfalfados e estafados, de telhado em telhado, em busca do sustento para mim e para os meus irmãos. Ora o que aconteceu? O meu pai, o Felício, deu uma queda brutal do alçado do prédio do senhor Zacarias e estatelou-se na calçada –foi nitidamente um acidente de trabalho, mas pensam que a minha mãe, a Isménia, recebeu alguma coisa? É o recebes! Nessa altura não havia este protecionismo todo à volta da minha classe que hoje assistimos. Passado pouco tempo, a minha progenitora bateu também a caçoleta. Coitada! Não aguentou a solidão e o esforço dobrado. Ora, está de ver que o trabalho mata. Sendo assim, seguir os seus passos, só se eu fosse um jumento. Acontece que sou gato. Esta vida é uma maravilha!


“BAIXA NOT SHOPPING”

 Nesta última quarta-feira, foi inaugurada no estacionamento do Hotel Oslo, Parkhotel, na Avenida Fernão de Magalhães, uma exposição permanente de fotografias do conceituado fotógrafo Paulo Abrantes.
Trata-se de um portefólio de imagens representativas de ícones do comércio tradicional, alguns a desaparecerem diariamente, outros que já se foram e apenas o seu esboço ficou na memória coletiva. Uma mostra que recomendo vivamente a todos os que amam a Baixa.

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