quarta-feira, 3 de maio de 2023

MEALHADA: POR UMA DÚZIA DE CORNOS (3)

 





Na reunião da Câmara Municipal de Mealhada, de ontem, no tempo atribuído ao público, um munícipe de nome Messildes, em forma de lamento, pedido de informação e resolução do seu problema, contou que no último Domingo foi até ao Luso à água e, “sem saber que não podia lá estar”, levou uns bolos de cornos, que coze em casa, num “tabuleirito, não eram mais de doze, e um senhor de uma tasquinha lá de cima, que é ruim como as cobras, viu-me lá e chamou a GNR. Ora, eles disseram que iam passar isto aqui para a Câmara”, prosseguiu a cidadã.

- Eu, é uma coisa tão mínima que eu faço, que até já me informei nas Finanças e eles disseram que não valia a pena eu estar a colectar-me porque é uma coisa mínima – e o senhor “Zé”, aqui, sabe. E eu queria saber qual é a minha solução, porque, como ele chamou a GNR, eles trouxeram os meus dados e disseram que iam entregar aqui à Câmara. (…) O meu marido teve um acidente, eu até tenho estado a ser ajudada pela Câmara, e eu, como fui à água, peguei em meia-dúzia e levei. São os tais ditos bolos de cornos...

- São muito bons, classificou o presidente Franco.

- Pois são, o senhor presidente já os comeu, atalhou a senhora Messildes.

Só que aquele é um senhor tão “ranhoso”, que lá está duma tasquinha, que assim que me viu chamou a GNR. Eu até os vi passar, mas quem não tem mal, mal não joga. Se fosse outra vinha-me embora, mas esperei que eles fossem ao pé de mim… mas eu não sabia, senhor presidente…


Nomeada pelo presidente António Franco, a responsabilidade de tentar solucionar este imbróglio ficou a cargo de Filomena Pinheiro, vice-presidente da autarquia.


PONTO DA SITUAÇÃO


Messildes, doceira a tempo parcial, é fabricante de cornos e, por carência económica, sem escolher o cliente, pô-los em exposição junto à Fonte de São João para qualquer pessoa comprar e levar.

Presumidamente, na Mealhada muitos já experimentaram os cornos de Messildes.

António Franco, cidadão comum, fora das lides presidenciais, já provou os ditos, e gostou.

O alegado “ranhoso”, de Luso, só gosta dos seus cornos, e não vai à bola com cornos postos (à venda) por outra pessoa vinda de fora.

Os agentes da GNR, cidadãos impolutos e acima de qualquer suspeita, cumprindo o seu dever de zeladores da lei, não gostaram que a dona Messildes pusesse os cornos no Luso, sobretudo, sem licença de actividade.


E O QUE SE PODE FAZER?


Venda Ambulante:


Os vendedores ambulantes são obrigados a ter um título de actividade. Os produtos comercializados devem ser provenientes de estabelecimentos de fabrico devidamente licenciados.”

Logo, pelo entendimento e salvo melhor opinião, esta munícipe não pode comercializar bolos de fabrico próprio.


FEIRAS E MERCADOS


Salvo melhor interpretação, depois de consultada alguma legislação com fiscalização a cargo da ASAE, este género de bolos de fabrico caseiro não é permitido. “Os produtos comercializados devem ser provenientes de estabelecimentos de fabrico devidamente licenciados.”


FEIRA SEMANAL DA MEALHADA


De acordo com o Decreto-lei 10/215, de 16 de Janeiro, foi consultado o REGULAMENTO DO MERCADO MUNICIPAL E DA FEIRA SEMANAL DA MEALHADA.


No Artigo 14º pode ler-se:


Atribuição ocasional de bancas e lugares de terrado 1 — As bancas e lugares de terrado não atribuídos com caráter permanente podem ser destinadas a vendas ocasionais, nomeadamente:

a) Pequenos agricultores que não estejam constituídos como agentes económicos, que pretendam participar no Mercado e na Feira para vender produtos da sua própria produção, por razões de subsistência, devidamente comprovadas pela junta de freguesia da área de residência;


b) Outros participantes ocasionais;”


Ou seja, aparentemente o munícipe Messildes também não pode comercializar os cornos no mercado semanal…

A não ser que a alínea “b) Outros participantes ocasionais”, a título excepcional, tendo em conta igualmente a sua razão de subsistência, possa ser considerada a permanência ocasional na feira pela Câmara Municipal.

Caso não seja criada uma solução que lhe permita trabalhar para sobreviver, mais que certo, a cidadã Messildes terá de continuar a optar pela clandestinidade.

Está certo? Ou errado?


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