quinta-feira, 4 de maio de 2023

EDITORIAL: O MEU PODER É MAIOR QUE O TEU


 




Começo com ressalvas, não me sinto socialista, não votei em António Costa nas últimas eleições legislativas. Mas mais, ao longo destes 7 anos de legislatura fui ganhando uma enorme admiração pelo Primeiro-ministro em exercício. Para mim, mesmo com todos os “casos e casinhos” conhecidos nos ministérios, Costa é o maior político português na actualidade. Se, agora, houvesse eleições legislativas antecipadas, provavelmente, votaria no PS.

Passadas estas ressalvas, na minha natural invisibilidade cidadã, venho “botar faladura” sobre as notícias que nos bombardeiam a todo o momento sobre a demissão de Galamba.

Acabei de ouvir a declaração ao país de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a continuada permanência no Governo do ministro das Infraestruturas, pela não aceitação da resignação por António Costa.

Com esta comunicação aos portugueses, o Chefe de Estado não veio acrescentar nada de positivo que abone em sua defesa no momento político grave em que vivemos. O que pareceu querer mostrar até à insanidade é a mesma prosápia absolutista de Luiz XIV (1638-1715): “o Estado sou eu”, “L’État c’est moi”.

Sem conseguir disfarçar, Marcelo mostrou um inusitado ressentimento pelo facto de Costa lhe ter desobedecido – com isto não quero dizer que o chefe do Governo terá feito bem em manter Galamba. De facto, sendo um (in)activo tóxico, não se entende como vai ser a credibilidade do futuro próximo do ainda ministro.

Porém, sendo detentores de dois poderes distintos por força de escrutínio, o Presidente da República apenas nomeia os membros do Governo sobre proposta do Primeiro-ministro e não tem força constitucional para destituir elementos que fazem parte do executivo. Quanto muito detém uma magistratura de influência, isto é, através das suas declarações públicas pode forçar a sua saída.

Já quanto ao Primeiro-ministro é a ele que lhe cabe escolher os membros da sua equipa. Goste-se ou não de cada escolhido, a responsabilidade é inteiramente dele e de mais ninguém. Já sabemos todos que as suas escolhas, pelos que se vê, não têm sido as melhores, mas, repito, a responsabilidade e o arcar com as consequências políticas é dele.

O Chefe de Estado, com este destrambelhado ralhete público, mais pareceu um menino mimado a queixar-se aos pais.

Marcelo, sem dúvida, é um homem inteligente e com uma capacidade de análise invulgar. Presumidamente, com legitimidade será muito vaidoso, convive mal sem o poder de facto e de direito. Por raízes familiares de casta e mérito próprio, é um homem habituado, desde cedo, a cavalgar a crista da onda e não consegue viver sem a luz brilhante e ofuscante dos holofotes.

A até aqui a declarada união de facto entre Belém e São Bento só se manteve tantos anos porque o Presidente pensava deter um ascendente sobre o CEO, António Costa. A fazer lembrar casamentos em que um dos membros, por manifesta insegurança, pensa dominar o outro. No dia em que o dominado retirar as rédeas da dominação o matrimónio acabou.

Mas Costa, sagaz e estratega de nomeada, há muito que vem enchendo com as consecutivas intrusões e, nos últimos tempos, até alguma chantagem ao ameaçar dissolver a Assembleia quase diariamente. E quando menos esperava Rebelo de Sousa levou um “coice” que o deixou sem reação e em estado de choque.

Se não souber gerir melhor as emoções, Marcelo pode acabar mal na hodierna História de Portugal.


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