sexta-feira, 4 de maio de 2018

“GANDA” PANCADA NO “MANEL DOS AUDIS”

(Foto do Jornal de Notícias)




Helena Freitas, bióloga e professora universitária, num texto escrito e inserido no 18º aniversário do semanário Campeão das Províncias, em indirectas muito claras, manda um pancadão no executivo liderado por Manuel Machado que não é brincadeira.
Helena, que já foi líder de bancada do Partido Socialista na Assembleia Municipal de Coimbra e uma forte promessa para ocupar a cadeira maior do município, na Praça 8 de Maio, e mais recentemente foi responsável pela Unidade de Missão para a Valorização do Interior, cargo que abandonou em Julho do ano passado, é uma mulher de surpresas. Como a querer separar o trigo do joio, como se dissesse eu não me identifico com este procedimento nem tenho nada a ver com esta gente, com esta carta desempoeirada, a demarcar-se de uma política local medíocre, Freitas faz-nos acreditar que nem todos são iguais, nem tudo está perdido na corrompida e lodosa vida política portuguesa.
Gostei, sim senhora! Volta e meia, quando a noite cai doce e serena numa terra de pasmaceira, há sempre alguém que irrompe e, reescrevendo a história, não aceita o situacionismo morno, paladino e bacoco. Escusado será escrever que há muitos seus correlegionários com as orelhas a arder.
Uma grande salva de palmas para a princesa dos olhos tristes!

Fica então a crónica de Helena Freitas no aniversário do jornal, Maio 2018:


Um outro rumo para Coimbra

Coimbra é a cidade universitária do país, e esta condição histórica e singular, deve representar uma evidente mais valia quando se projeta o desenvolvimento e as opções do presente, e sobretudo, na ambição colocada quando se perspectiva o futuro. Outra condição que importa invocar é o papel de Coimbra na região centro; durante muito tempo, foi a sua capital regional, a sua urbe cultural, a referência para um conjunto alargado de serviços e, até certo ponto, o seu modelo de progresso. É com esta amplitude de referência que interpreto a evolução recente da cidade, desejando que possa adoptar um outro rumo.
É preciso reconhecer que a liderança regional de Coimbra é contestada - ou mesmo rejeitada - há algum tempo, e a sua influência política no plano nacional é hoje uma quimera. É por isso com desconforto e extrema inabilidade, que a urbe do Choupal se confronta consigo própria, com um estatuto despojado da notoriedade de outrora, ainda que a sua indignação seja pacífica, própria de quem aceita que as razões para esta decadência são provavelmente legítimas.
Mas vai sendo tempo de pôr termo às lamúrias, e afirmar um projeto inspirador e mobilizador da cidade e das gentes de Coimbra. Coimbra pode e deve aspirar a ser a cidade com maior empenho e responsabilidade no desenvolvimento sustentável da região, impulsionando uma agenda de inovação e de transferência de conhecimento para a atividade económica e para o bem estar das comunidades. O conhecimento é hoje o principal ativo para a construção de um projeto de desenvolvimento inclusivo e progressista, e as instituições universitárias da cidade, em articulação com as redes associadas às incubadoras e empresas da região, envolvendo as organizações da sociedade civil e os cidadãos, podem construir a trajetória mobilizadora de Coimbra. A educação e a ciência têm que alicerçar as soluções capazes de proporcionar prosperidade e uma vida melhor para todos, ajudando a combater as desigualdades e o acesso aos recursos essenciais.
Coimbra não tem dimensão para estruturar uma área metropolitana, e muito menos o desígnio de disputar a primazia no equilíbrio regional com as duas áreas metropolitanas do país, mas Coimbra deve ambicionar ser um exemplo de urbe moderna e atrativa, assumindo a sua dimensão e a sua história, afirmando-se com audácia num mundo global.
Coimbra deve assim apostar em primeiro lugar na qualidade de vida dos seus habitantes, e dos seus visitantes, configurando as infraestruturas e a organização da cidade ao acolhimento respeitador das crianças, dos idosos e dos cidadãos com necessidades especiais, dando prioridade aos problemas das pessoas, assegurando a participação da comunidade no debate e na decisão; uma cidade amiga da transparência e uma administração campeã das melhores práticas, integrando metas ambientais, sociais e económicas na definição das políticas sectoriais; uma cidade ecológica, cuidando do espaço público e valorizando o património e os espaços verdes, apoiando a economia e o comércio local, promovendo a cultura e a diversidade, apostando na qualidade da oferta educativa e formativa, defendendo um rede robusta e justa de cuidados de saúde. Estas são necessariamente as bandeiras de uma cidade que quer fixar os jovens, garantindo investimento qualificado e emprego. Os novos tempos e os desafios da modernidade exigem um outro rumo para Coimbra, e já se faz tarde.”
Helena Freitas