segunda-feira, 9 de abril de 2018

EDITORIAL: DEUS VALHA AO CENTRO HISTÓRICO





Com grande alarme colectivo na zona da Baixa, na madrugada de quarta-feira, da semana passada, deflagrou um grande incêndio no histórico café Nicola, na Rua Ferreira Borges. Combatido com grande rapidez e eficácia pelos Bombeiros Sapadores de Coimbra, conseguiu-se restringir o fogo ao último piso do edifício e à cobertura que, alegadamente, ficou destruída. Quando se esperava que o reputado estabelecimento ficasse em coma vários dias para restauro do sistema imunológico, eis senão que, duas horas mais tarde depois de ter estourado o acidente, o conhecido café abriu ao público normalmente, como se nada tivesse acontecido.
Para este desfecho prejudicial mas sem redundar em tragédia concorreu um facto importantíssimo: a circunstância de dois pisos do prédio, primeiro e segundo andares, serem em betão armado. A divisória do terceiro, como era em madeira, já sofreu danos consideráveis.
Ora, se levarmos em conta que a maioria dos edifícios centenários da zona histórica são divididos em madeira, facilmente chegamos à conclusão que se desta vez todos tivemos sorte na próxima pode não acontecer o mesmo. E mais: as seguradoras não se interessam por fazer seguros a prédios antigos com pisos separadores em madeira. Ou não respondem à proposta particular ou, se apresentam valores, o prémio é tão incomportável que ninguém subscreve o contrato. Portanto, em consequência, na Alta e na Baixa, largas dezenas de edificações centenárias encontram-se por sua conta e risco há vários anos.
Pode até invocar-se que, sendo de propriedade particular, é um problema individual de cada proprietário. Mas não é assim. Em caso de cataclismo, todos poderão ser arrastados no desastre. Uma vez que é uma dificuldade sem solução, o executivo municipal deveria debruçar-se com alguma urgência, procurando a prevenção comunitária, sobre o perigo que possa representar para a condição social. Nem preciso recordar o que se passou em Lisboa, com o grande incêndio do Chiado, há cerca de vinte anos, para se tomar consciência de que este situacionismo não deve continuar ao deus dirá.
Vale a pena pensar nisto?

3 comentários:

Unknown disse...

Muito bem, amigo Luís Fernandes. O aviso está feito.

Unknown disse...

Muito bom...só com uma pequena correção. O piso imediatamente inferior à cobertura era integralmente madeira. Foi protegido pela estratégia usada no combate, numa tentativa de minimizar a carga sobre o mesmo (água e escombros). Evitaram que, apesar de ser um piso de madeira, os vestígio de água no piso inferior eram residuais...

LUIS FERNANDES disse...


Pois, tem razão Luís Silva. Agora me lembro que, durante o sinistro, foi-me dito isso mesmo. Obrigado pela correcção. Apesar de não alterar o sentido da perigosidade na zona histórica, vou alterar o texto de acordo com a sua descrição. Bem-haja pela sua chamada de atenção.