quinta-feira, 27 de julho de 2017

BAIXA: NA ROTA DE UMA ANIMAÇÃO PERDIDA





Sob o mote “Noites de Coimbra - Música no coração da cidade” e na temática “Rota das Tabernas”, de responsabilidade da Câmara Municipal de Coimbra, realizou-se ontem à noite, no Largo da Freiria, um jantar para cerca de quatro dezenas de pessoas e outra vintena a assistir acompanhado por fado de Coimbra. Pelo preço de 8 euros, os comensais, inscritos previamente na autarquia, puderam degustar um saboroso caldo verde a abrir o repasto, uma boa chanfana assada em forno de lenha e a terminar com um arroz-doce de estalar o palato, tudo muito bem servido pelo Sérgio Ferreira, no restaurante Padaria Popular. Tudo bem regado por uma “pomada” de carrascão da zona.
Numa fantástica execução instrumental a cargo do projecto “Iterum”, guitarra clássica e guitarra portuguesa, e com a extraordinária voz de António Dinis, um dos melhores intérpretes da canção coimbrã da actualidade, a mostra, muito bem organizada pelo pelouro da cultura da autarquia, deixou sabor a pouco. No final de cada actuação, as palmas ecoaram fortemente no mais pitoresco largo da Baixa de Coimbra.

E O DIA, SENHORES?

O programaNOITES DE MÚSICA NO CORAÇÃO DA CIDADE DE COIMBRA teve início no passado 22 de Junho e distribuído por entre vários dias da semana, com vasta animação noturna entre fado, cinema, folclore e outros ritmos, vai até 01 de Outubro.
Numa primeira análise, há alguma questão a apontar? Afinal é festa e esta, no pico turístico, é realizada no coração da cidade, como quem diz, na Baixa, que, como se sabe, sofre de uma acentuada desertificação, sobretudo e também, a partir das 19h00. Sendo assim, está tudo bem. Estará?
Antes de prosseguir gostaria de fazer uma ressalva: tenho para mim que se, por um lado, nada agrada a todos, por outro, qualquer iniciativa cultural é passível de aperfeiçoamento. E isto quer dizer o quê?
Quer dizer que este programa está carregado de boa-vontade, mas, depois de se pensar bem, chega-se à conclusão que terá de levar uns acertos. Tem coisas boas? Tem sim! Uma delas é o facto de tomar mais atenção aos becos e vielas mais esquecidas da denominada baixinha. Mas há detalhes que devem ser melhorados. Se não vejamos:
Visto a frio, sendo estas acções realizadas à noite, mais uma vez se verifica que quem mais sai beneficiado é o sector hoteleiro. Ou seja, os milhares de euros saídos do erário público destinados à revitalização do Centro Histórico no seu todo, na prática, vai beneficiar uma parte, uma área, a hotelaria, que é a que está melhor economicamente no tecido empresarial desta zona. Portanto, a autarquia, sem intenção certamente, acaba por discriminar negativamente os operadores que aqui laboram entre as 09 e as 19h00, como o comércio e os serviços.

MAS, Ó SENHOR, O QUE SE HÁ-DE FAZER?

Se houver repetição destas alegorias para o ano, estes acontecimentos terão de ser repensados. Porque há uma questão básica similar: a desertificação na Baixa de Coimbra não atinge apenas a noite. Embora em menor escala, o movimento no dia também precisa de uma mexida. E grande, digo eu. As lojas continuam a encerrar -e isto não é teimosia minha, está à vista de toda a gente. Basta dar um passeio pelas ruas.
Então surge a pergunta sacramental: como é que se pode dar a volta a isto? A meu ver, há duas alternativas. Na primeira, é imperioso envolver o comércio tradicional e tentar que as lojas estejam abertas neste período de verão. Bem sei que é difícil, mas para o demover cabe ao pelouro da cultura estudar o assunto. Claro que para esta mudança ocorrer os espectáculos públicos terão de se realizar mais cedo e não às 21h30-22h00 como está acontecer. Na segunda alternativa, que se tornará efectiva por falhanço político no acordo com os lojistas, a edilidade, para não ser acusada de vistas curtas, em benefício e privilégio de um sector, estará obrigada a empreender também animação durante o dia.



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