sábado, 15 de julho de 2017

AC: SUBSTITUIR O FERRO POR CIMENTO CUSTA MUITO?

Foto de Diário As Beiras.




A essência de haver um problema é não haver uma solução.
Fernando Pessoa

Em aforismo, diz o povo que para grandes problemas soluções simples. Às vezes há respostas tão óbvias que, por serem tão evidentes, nos levam a questionar a razão de continuar a haver problemas.
Vem isto a propósito de hoje, em primeira página, os dois jornais da cidade, Diário de Coimbra e Diário as Beiras, noticiarem o furto de 150 grelhas, em ferro fundido, de sarjetas em meio ano e da responsabilidade de reposição pela empresa municipal Águas de Coimbra (AC).
A primeira questão que se levanta é perguntar se, de facto, este desvio é recente. Para quem lê jornais facilmente responde que este fenómeno, em Coimbra, já tem barbas, sobretudo e pelo menos desde há cerca de três anos a esta parte e quando o preço dos metais subiu exponencialmente a nível mundial. Ou seja, como o valor pago por quilo de resíduos será alto, o crime compensa bastante para quem furta e quem recepciona.
A segunda interrogação é a razão de não terem sido tomados cuidados que evitassem o descalabro em tempo útil, isto é logo no início dos desaparecimentos.
Não é preciso ser economista para verificar que, contrariamente ao que parece ser sugerido, a solução deste problema social não reside na apresentação de queixa na polícia para a descoberta dos autores. Este procedimento, aliás obrigatório numa empresa pública, é uma mera prerrogativa de função administrativa. Como acção de eficácia, era preciso ter substituído o ferro fundido por cimento ou pedra, que eram os materiais usados no Estado Novo (1933-1974). E mais ainda: recorrer menos a grades e mais a cavidades interiores nas bermas e encravados nos passeios para escoamento de águas pluviais. E por que não foi seguida esta ajuizada metodologia? Claro que não sabemos, mas podemos sempre aventar: se calhar na AC não haverá arquitectos ou a haver, sem ofensa para a classe, estes profissionais de projecto não conhecem o sistema antigo de escoadura; a AC ser accionista de uma fábrica de fundição de ferro; haver demasiado dinheiro na AC e que não obrigue a empresa a prevenir e a poupar nos custos de execução.
Seja lá o que for que esteja por detrás desta ineficácia, perante as diárias dificuldades das empresas particulares, esta inusitada falta de visão económica, este desperdício irrita até um santo homem como eu -modéstia à parte, é claro. Se não houver mais alguém, pelo menos a mim deixa-me fora de controlo.
Vale a pena pensar nisto?

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