segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O PINTASSILGO NÃO VOLTARÁ A CANTAR



O Victor Manuel Cardoso, mais conhecido entre nós por Pintassilgo, não voltará a percorrer estas ruas e ruelas do Centro Histórico. Embora só hoje desse conta do anúncio do seu falecimento no mural da Igreja de São Tiago, o seu funeral já ocorreu no passado dia 29 do mês passado. Ao que parece, e segundo o depoimento de um seu vizinho, o Victor sofria da Diabetes e não se cuidava minimamente. Para além de não vigiar o aumento da glicose no sangue –uma vez que o seu pâncreas não gerava insulina suficiente para suprir as necessidades do seu organismo- o Cardoso não tomava os medicamentos como estaria obrigado pelo médico. Para piorar, e nisso sou testemunha, o Victor bebia demais. Por que o conhecia há mais de três décadas enquanto funcionário da Universidade e agora aposentado, sei que o Pintassilgo era um homem triste e há muito deixou de assobiar como o fazia em criança e que teria vindo a originar este seu apelido. A vida, como para a maioria de nós, deu-lhe voltas e revoltas que o tornaram num homem solitário e triste. Talvez por isso, quem sabe para afogar as mágoas, deu em refugiar-se onde não devia. Outra vez como tantos de nós, perante a solidão quem não arranja uma bengala? Somos todos assim e quem não for que atire a primeira pedra.
Nesta singela crónica de elogio fúnebre, e para que a memória não se desvaneça, gostaria de deixar registada a passagem terrena do Victor, Pintassilgo, enquanto companheiro diário desta zona antiga. Para a família, irmãos, filha e netos –e até a ex-mulher, porque acredito que na hora da partida se esquecerão todas as coisas menos boas e se elevarão os momentos de gratidão-, em nome da Baixa, se posso escrever assim, as nossas sentidas condolências. Para o Cardoso, que já lá vai, uma grande salva de palmas por ter sido um nosso camarada e amigo.

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