segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

CMMEALHADA: UM ROMBO NO PORTA-AVIÕES

  




 

 

Segundo o jornal online Bairrada Informação, ficámos a saber hoje mesmo que o executivo mealhadense ganhador das últimas eleições sofreu uma baixa de peso-pesado, no caso, Gil Ferreira, vereador a meio-tempo com os pelouros da Cultura, Arquivo e Biblioteca, Cineteatro Messias, Comunicação e Imagem, Educação e Associações não desportivas. 

Professor coordenador na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) do Instituto Politécnico de Coimbra, dividiu até agora a vereação na Câmara Municipal de Mealhada e o ensino de jornalismo. Homem de vários talentos, com vários artigos publicados em revistas especializadas e com 5 livros publicados, ainda arranjou arte para, há cerca de um ano, fazer parte do elenco do documentário intituladoA primeira Linha de Wellington”, realizado por Paulo Fajardo, em que é retratada a Terceira Invasão francesa, na Batalha do Bussaco ocorrida em 1810 e liderada por Massena. 

Durante cerca de 15 meses em que exerceu o mandato, Gil Ferreira, como trave-mestra numa edificação, foi o paradigma, o modelo, da seriedade e da confiança, um “Lord”, um senhor, pelo sentido de responsabilidade que emanava da sua pose assertiva e cordata. Porém, uma ilação parecia ressaltar da sua imagem aprumada: este eleito era ali um peixe fora de água. Isto é, Gil, apesar de tentar fazer o melhor, era uma peça fora do tabuleiro, aparentemente é demasiado puro para fazer parte de um lodoso mundo político profissional, cuja palavra dada pouco vale e não é para ser respeitada, em que estava inserido. Caiu ali por acidente.  

Associada a esta saída abrupta não será alheia, em 2018, a conclusão da Prova de Agregação, “título académico de agregado atribuído pelas universidades, mediante a aprovação em provas públicas, necessário à progressão nas carreiras docentes universitária e politécnica e na carreira de investigação científica. 

Por outro lado, há uns meses, em reunião da câmara, Rui Marqueiro, ex-presidente e agora líder da oposição, acusou a maioria de, no final do ano passado, durante umas horas, ter ensaiado uma inscrição a tempo inteiro do vereador Gil, para tentar reparar as perdas entre o salário de docente e de vereador. 

Ou seja, mais que certo, o pampilhosense, em catarse experimentada durante vários meses em longas noites de insónia, escolheu o que o fazia mais feliz: escrever e dar aulas. Para além de ser monetariamente muito mais desafiante e compensador, não tinha de levar para casa, diariamente, os negros fluídos contaminados de um ambiente pesado, degradante e desagregador da auto-estima. 

 

UM CASO PARA PENSAR 

 

Por que já o escrevi várias vezes ao longo das últimas décadas, por princípio, defendo que qualquer cidadão que aceite submeter-se a sufrágio popular e é eleito para cargo público, como num contrato social, tem obrigação de cumprir por inteiro o seu mandato político. Para quebrar este compromisso de honra, só a saúde do próprio e de alguém muito próximo de si pode constituir alibi para rasgar o acordo. Ao renunciar, trocando a cadeira pública por um lugar mais bem pago, está a contribuir directamente para a degradação de uma classe que, mesmo sem este claudicar que se tornou hábito, já anda pelas ruas da amargura. 

 

NO ENTANTO... 

Apesar de não aceitar pacificamente, consigo perceber a decisão de quem abdica de um lugar político. Existem fortes razões para levar em frente esta vontade. E essas razões são monetárias. Hoje, desde deputado, ministro, passando por presidente de câmara e acabando em presidente de junta, qualquer um destes eleitos ganha muito mal. Tal como os administradores no sector privado, fossem estes lugares bem-pagos e o país e a sociedade em geral ficariam a ganhar. Como não é assim, só permanecem na carreira política os apaixonados pela função e aqueles que não têm mais mundo para escolha. E, para quem quiser ver o resultado dos decisores da nossa Macro-economia no último meio-século, basta atentar no crescimento económico de Portugal que, oscilando entre picos de euforia e desânimo, não passa da cepa-torta. 

Para piorar, temos uma classe política medíocre, dividida entre a esquerda e direita, enraizada no populismo, que defende ainda uma redução de salários para os servidores do Estado. 

Para tornar o ambiente mais turvo e a favorecer as teses “popularuchas”, para nosso azar, temos aí o constante martelar da comissão paga pela TAP à ex-secretária de Estado Alexandra Reis. 

Para onde caminhamos? Queremos galinha gorda por pouco dinheiro? 


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