sábado, 19 de agosto de 2017

BAIXA: MEDIDAS DESPENALIZADORAS E A FAVOR DA REVITALIZAÇÃO (5)




Tendo em conta a continuada situação de empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou a escrever p'ro boneco? É o mais certo!


    Deve ser criado o estatuto de Loja de Tradição -estabelecimentos, comerciais, industriais e de serviços, com mais de 20 anos;
    (paralelo a esta ideia, e só assim fará sentido, deve ser implantada a criação de um bilhete turístico único para todos os monumentos na Baixa e Alta, incluindo a Universidade, Portugal dos Pequenitos, todas as igrejas, Lojas de Tradição e Repúblicas. As Lojas de Tradição, tal como as Repúblicas, estando disponíveis para receber turistas previamente apetrechados com bilhete de livre acesso a toda a monumentalidade da cidade terão a sua quota-parte correspondente, por igual a dividir pelo número de subscritores contraentes no protocolo, e os visitantes, apresentando o bilhete nos espaços comerciais, terão direito a um desconto negociado e anunciado)

Estranhamente, ou talvez não, está em vigor um bilhete turístico único subscrito entre apenas duas entidades: Fundação Bissaya Barreto -com visita ao Portugal dos Pequenitos- e Universidade de Coimbra -com visita à Biblioteca Joanina e espaços adstritos. A explicação para este absurdo procedimento, com notório prejuízo para as actividades privadas e para o desenvolvimento da Baixa, foi-me dado por Luís Menezes, vice-reitor da Universidade de Coimbra e responsável pelo turismo, em 22 de Outubro de 2016, no Teatro da Cerca de São Bernardo, numa conferência seguida de debate sobre o lema “A visão do Guia Interprete para uma Cidade Património da Humanidade". À minha pergunta sobre o facto de haver apenas dois subscritores neste bilhete único respondeu Filipe Menezes que é assim porque, embora fosse proposto, não houve entendimento com a Diocese de Coimbra -entidade gestora e responsável pelos monumentos classificados e dedicados ao culto católico.
Tal como afirmei, olhos-nos -olhos, na altura a este senhor vice-reitor, é urgente acabar com o monopólio que a Universidade de Coimbra quer impor sobre os fluxos turísticos que aportam à cidade. É vergonhoso constatar que, num circuito viciado, o trajecto continue a ser entre o hotel Astória, Arco de Almedina e Universidade e vice versa. Perante a total passividade do executivo municipal, sem se querer saber da riqueza que deve ser geral e caber a todos e não apenas a alguns, abandonou-se a Baixa na generalidade e mais propriamente a Rua da Sofia -parte também classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Quando, naturalmente e pela distinção, se deveria levar os turistas a esta rua dos colégios e da sabedoria, assobia-se para o lado e faz-se de conta que está tudo bem. Só que os estabelecimentos a encerrarem nesta rua larga são como o algodão: não enganam. É a prova provada de que a gestão da cidade não está ser gerida com imparcialidade. E os ícones vão desaparecendo.
É preciso ter coragem para bater o pé à Universidade e dizer aos seus dirigentes que não é nenhum principado independente. A Universidade, embora com estatutos próprios, faz parte da cidade e não o contrário. Isto é: não é a cidade que está arregimentada ao seu alegado desmesurado poder. Sem que nos apercebamos, lentamente, com total prejuízo para as actividades comerciais de Coimbra esta entidade está a chamar a si a parte de leão na rentabilidade turística. Por exemplo, tendo esta faculdade do saber por objecto a formação intelectual de cidadãos, não se entende que, concorrendo com os privados na venda de artesanato, possa ter uma loja aberta no seu espaço histórico. Que aproveite bem, onerando quem visita as suas seculares instalações, até se aplaude e entende com razoabilidade. Mais do que isso, a meu ver, é abuso de posição dominante. E mais: como a marca Universidade é registada, preparem-se os operadores privados da cidade, na Baixa, para um dia destes serem proibidos de vender artigos regionais com o seu logótipo.
Ao escrever sobre este assunto tenho alguma esperança de que mudem os procedimentos? Claro que não. Seja este executivo PS, que sobre este assunto nos últimos três anos de classificação universal nada fez, seja outro que lhe suceda, o dobrar da espinha, em vassalagem silenciosa e sem decreto que o fundamente, escandalosamente vai continuar. Rezemos à porta das igrejas encerradas na Baixa e oremos a Deus um milagre, que, pelos vistos, destes políticos que nos regem com visão desfocada não levaremos nada.


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