quinta-feira, 17 de agosto de 2017

BAIXA: MEDIDAS DESPENALIZADORAS E A FAVOR DA SUA REVITALIZAÇÃO (3)






Tendo em conta a continuada situação de empobrecimento e desalento que as actividades comerciais tradicionais da Baixa de Coimbra atravessam, diariamente e até às próximas eleições autárquicas de 01 de Outubro, vou sugerindo medidas que, se houvesse vontade política, poderiam servir para atenuar a queda e o encerramento de mais espaços mercantis.
Estou a escrever p'ro boneco? É o mais certo!


    Parar o licenciamento de mais feiras de rua na Baixa (e na cidade) excepto se a sua realização acontecer ao Domingo; ordenar os certames actuais com lugares marcados para os vendedores e inscritos previamente na Câmara Municipal de Coimbra contra pagamento dos espaços cedidos.

Para além da Feira dos 7 e dos 23 na margem esquerda, durante mais de uma década, na Baixa e com periodicidade mensal, a Feira de Velharias, que se iniciou em 1991 na Praça do Comércio, foi filha única. Pela mão de Carlos Dias, antiquário e dono do Velhustro, começou como feira franca, isto é, sem estatutos, gratuita e sem inscrição antecipada por parte dos vendedores. Depois da centenária Feira da Ladra, em Lisboa, como foi das primeiras a surgir no país para animar as cidades com movimento de pessoas, durante pouco tempo foi a rainha da zona centro. Dentro do mesmo conceito de gratuitidade, logo a seguir e a multiplicarem-se como cogumelos, nasceriam em Viseu, Leiria e Águeda e Mealhada. Aveiro criou a sua mas com regras, com estatutos, com lugares marcados e com inscrição na Câmara Municipal e com pagamento semestral. Ao longo destes últimos vinte anos, enquanto todas as outras, que nunca cobraram mas também nunca investiram nada, foram decaindo e algumas desapareceram, Aveiro com realização ao Domingo, e com contra-prestação dos expositores que pode chegar aos 300 euros anuais, é hoje uma das mais pujantes e de maior importância nacional. Transferindo o certame para o Centro Histórico, espalhando os vendedores pelas praças, becos e ruelas e aproveitando para revitalizar ruas pouco frequentadas, é uma romaria bem concebida entre a dualidade do interesse privado e serviço público.
A Feira de Velharias de Coimbra, sem qualquer investimento por parte da autarquia, sem publicidade, sem lugares marcados e ao sabor de simpatias, obrigando os vendedores a dormirem lá dentro dos carros para marcarem o seu lugar, numa teimosia muito própria de barões mal assinalados, mantendo-se sempre na Praça do Comércio, por força das esplanadas entretanto geradas, foi encolhendo, encolhendo, até ao dia em que, por forças das circunstâncias, inevitavelmente morrerá.
Há meia-dúzia de anos, no espaço da romaria do Espírito Santo, em Santo António dos Olivais, surgiu uma de feira mensal de trocas e de usados. Seguindo a linha da precedente também gratuita e sem inscrição prévia.
Também há poucos anos, pela orientação de José Simão e Junta de Freguesia de Santa Clara, foi criada a Feira sem Regras, junto ao Convento Velho. Praça de venda de artigos usados e antigos, na mesma orientação da Feira de Velharias, como o nome indica, sem regras, gratuita e sem lugares marcados, nascida para reanimar a margem esquerda, é de prever que, a médio prazo, terá um fim igual à primeira.
Anualmente realizavam-se na cidade a CIC, Feira Industrial e Comercial de Coimbra, ultimamente no Choupalinho, a Feira Medieval, no Largo da Sé Velha, a Feira das Cebolas, na Praça do Comércio, e a Feira do Livro e do Artesanato, na Praça da República -que em 2013, sob ordens do executivo Coligação por Coimbra, passou para o Parque Verde com uma cabimentação de 70,500 euros e com stands pagos pelos utilizadores. Em 2014, sob comando do executivo socialista, passou para o Parque da Cidade com um orçamento de 113 mil euros e sem onerar os vendedores. Em 2015 o mesmo orçamento e gratuitidade para vendedores. Em 2016 o mesmo e com um agravamento para os cofres da edilidade em cerca de 130 mil euros. Este ano de 2017, a autarquia gastou cerca de 170 mil euros para realizar gratuitamente, com custos apenas para o erário público, a Feira Cultural de Coimbra.
Por volta de 2007, pela batuta de Mário Nunes, vereador da Cultura da Coligação por Coimbra, nasceu a Feira da Flor e da Planta que, sem periodicidade e sem agravo para os expositores, se realizava ao ar livre nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz. Actualmente, continuando a ser gratuita para os vendedores, é realizada mensalmente no mesmo local.

ARMA DE TIRO PELA CULATRA

Escrevendo sobre Coimbra, quer o anterior executivo da Coligação por Coimbra, quer o actual liderado pelo Partido Socialista, cedo verificaram que a realização de feiras é uma forma fácil, facilitista, de agradar à maioria constituída pelo público em geral e o que visita o certame apenas neste dia, pelos vendedores que, vindo de perto e de longe, nada pagam e pelos hoteleiros que, nestes dias de forró, facturam sempre mais do que habitualmente. Sabendo-se que para muitos ganharem, a maioria, alguém, a minoria, terá de perder. Ora este lugar do morto cabe por inteiro às lojas comerciais implantadas na Baixa. Isto é, numa visão egoísta, que apenas se sustenta no sucesso da festa e dos foguetes, e acompanhada pelos hoteleiros, pelos turistas e pelos vendedores, que vêm de fora fazer concorrência a quem cá está estabelecido e é obrigado a cumprir formalidades fiscais, a autarquia não hesita em subsidiar estas acções mesmo sabendo que o tiro saído pela culatra fere de morte imensas lojas de artesanato e outras áreas.
Portanto, pelo que fica escrito, numa espécie de “nós e os outros mas em nome de todos”, não é de admirar que o presidente da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, sendo hoteleiro, defenda hoje no Diário as Beiras que “tem mantido contactos com responsáveis camarários de vários concelhos da CIM -Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra- com vista à captação de novos certames ao centro histórico. (…) Iniciativas como estas são extremamente positivas para nós. Dão vida à Baixa e agitam o comércio e a restauração. Por mim, tínhamos isto todas as semanas. (…) Já fizemos esse convite a diversas pessoas e penso que, no futuro, haverá condições para que esses concelhos possam vir a Coimbra promover a sua gastronomia, comércio, artesanato e todas as suas mais-valias.”
Haja paciência para tanta falta de bairrismo e insensibilidade para quem cá tenta resistir. Haja dinheiro no erário público -e que este não se esgote para fazer punhetas a grilos- para rebentar no ar fogo de artifício.


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