sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

MEALHADA: O INTERMARCHÉ E A MULHER DE CÉSAR

 





Numa iniciativa inteligente e muito generosa, a loja Intermarché da Mealhada – presumo que será extensível a todas unidades da marca internacional – lançou recentemente um jogo para levar mais clientes ao seu estabelecimento de retalho. No caso, trata-se de atribuir a cada cliente que faça compras no valor mínimo de 30.00 € uma ficha que será introduzida numa máquina a imitar as “Slots Machines” dos casinos. Num visor sempre a piscar, vários prémios de pequena monta, como, por exemplo, um pacote de leite, brilham e rebrilham para serem levados para casa do esfomeado consumidor – ou não fosse o português perdido por jogos de sorte e azar.

Não quero parecer miseravelista nem mal agradecido, mas, tendo em conta o elevado valor dos prémios, é de prever grandes manifestações de júbilo, como na Roda da Sorte, programa da RTP1.

Hoje, numa compra de noventa euros, fui contemplado com três moedas da sorte. Depois de as inserir na ranhura fui premiado com duas senhas de cinquenta cêntimos cada para os Bombeiros e, valha-nos Deus, imagine-se, um pacote de leite de Marca branca “Por si”, com um custo aproximado a 80 cêntimos. Fiquei tão contente, tão contente, que, se não fosse um bocado encolhido, assim para o envergonhadito, tinha lançado vivas e o casaco ao ar.

Como é óbvio nestas coisas, porque fica sempre bem, a contribuição para as áreas humanista e solidária não foi esquecida, e no cardápio de prémios a borbulhar de luz lá consta: Bombeiros Voluntários da Mealhada. Ou seja, o consumidor introduz a ficha e a máquina, presume-se, com um algoritmo que visa detectar e classificar os “sem vintém” e os “remediados”, ora atribui um “chorudo” prémio físico, ora encaminha para os guardiões da paz na cidade do Leitão.

Depois da introdução da moeda plástica, com uns segundos de suspense, remete-nos uma senha onde consta a designação do prémio, que será levantado, no caso de ser galardoado, ou depositado nas mãos de uma funcionária do balcão, se for destinado aos bombeiros, estes serão contemplados com cinquenta cêntimos.

E é aqui que fiquei com a pulga atrás da orelha. Um momento para eu respirar e já explano a minha dúvida.

Primeira questão: não é por nada, nem querer desconfiar das boas intenções da gerência do Intermarché, mas quem me garante que os Bombeiros vão mesmo receber o meu gratificado de 1.00 €, hoje depositado em duas senhas no balcão de atendimento?

Não sei se estou a ser claro, mas estas senhas deviam ser introduzidas à vista de toda a gente numa tômbola transparente junto à “Slot Machine”.

À mulher de César não lhe cabe ser séria, tem também de parecer.

Vale a pena pensar nisto?


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