sábado, 11 de fevereiro de 2023

INTERMARCHÉ-MEALHADA: A MULHER DE CÉSAR É SÉRIA E PARECE SER

 



Eu e a minha mulher, hoje, voltámos ao Intermarché. Percorremos os poucos metros no corredor que separam a porta de entrada e a “Slot Machine”, a nova celebridade cheia de luz e cor que todos querem tocar para tentar a sua sorte.

Como escrevi ontem, numa jogada de mestre da administração, por compras no valor de trinta euros na loja, o cliente ganha uma ficha e, como numa raspadinha, fica habilitado a uma lista de prémios integrados no visor e que recebe na hora – incluindo uma contribuição de cinquenta cêntimos para os Bombeiros Voluntários da Mealhada.

Por momentos em que parei à sua frente, pareceu-me que a coisa de inteligência artificial fixava os meus olhos com maior intensidade, num assédio descarado me estivesse a piscar o olho de enleio. Foi então que reparei que a seu lado estava uma tômbola transparente e já com umas centenas largas de senhas destinadas aos Bombeiros – exactamente a mesma ideia que defendi ontem.

Coincidência, está de ver...

Fiquei contente, com este gesto sóbrio mostra-se que a gerência não quer que haja qualquer pensamento duvidoso que ponha em causa a boa-fé da sua iniciativa.

Pensei para mim que estava explicado o piscar de olho da “Slot”.

Entrámos na zona de vendas onde se encontram os legumes e a exposição dos pescados sempre frescos. Na banca do peixe uma série de douradas alinhadas como tropa em parada, aprumadas, brilhantes de escamas luzidias, pareciam mirar-nos de soslaio com olhos vivos, mas tristes de desconfiança. Por segundos, pensei cá com os meus botões da razão de tanta nostalgia naquele olhar. Se calhar foram pescadas sem contar e ficaram traumatizadas.

Fosse pela falta de alegria, ou não, do espécime respirador por guelras, a verdade é que a minha mulher mandou pesar dois.

Enquanto esperava, reparei que um homem sozinho, já entradote, na casa dos “setentas”, cantarolava enquanto empurrava o carrinho de compras. Numa fracção de segundos recordei que hoje, nos dias que correm, praticamente ninguém canta nem assobia. É como se esta exteriorização de alegria tivesse desaparecido da comunidade. E porquê? Interroguei-me em silolóquio. Sei lá, se calhar esta forma foi banida por se entender que, por ser tão pura e natural, talvez pareça mal.

Continuei atrás da minha consorte a conduzir o carrinho de compras. Enquanto ela comparava preços eu esperava e pensava em tudo e nada desta vida. Volta e meia, erguendo um ou outro produto até ao meu nariz, dizia-me: “já viste o que isto aumentou? Era um euro e quarenta e nove e agora custa mais cinquenta cêntimos?

E rematava: “Isto está impossível para se viver...

E eu, franzindo o sobrolho, soletrava em concordância: poisÉ verdade...

Não deixei de pensar numa frase repetida de um estimado amigo já falecido: “Os homens pensam nas grandes ocorrências no mundo, as mulheres no que está na sua origem, nas pequeníssimas coisas”.

E, já com as compras feitas, passámos em frente ao “take-away”, onde se adquire comida para levar para fora. E se levássemos aquela perna de leitão para o almoço? Sugeri. Embora não seja um perdido por esta maravilha da Bairrada, como sei que ela gosta muito e nesta casa tem muita qualidade, insisti. Tal como noutras vezes, ela respondeu: “está muito caro… Por que não levamos um frango?

Antes de entrar na fila para pagamento, ainda perguntei: Vê lá se temos aí sessenta euros em compras, para termos direito a duas fichas para introduzir na máquina da sorte. Num pensamento rápido como um relâmpago, ainda deu para maldizer a administração da média-superfície pela estratégia bem conseguida de, com sucesso, me tentar pela adição, estabelecer correlação com o vício de jogar, e me levar a adquirir mais produtos. Filhos da mãe, sabem-na toda! Suspirei.

E chegámos à caixa de pagamento. Como a totalidade não ultrapassou muito os sessenta euros, tivemos direito a duas fichas para inserir no ventre da “Slot”.

Antes da papa-moedas de plástico me absorver os meus gratificados, reparei, pelo menos pareceu-me, que os prémios de hoje em competição já são diferentes dos de ontem, para melhor. Agora o “Jackpot” é de cerca de 250.00 euros em compras depositados em cartão.

Ah, é verdade, ganhámos um café e um baralho de cartas.


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