quinta-feira, 4 de março de 2021

MEALHADA: O FUTURO DOS MUNICÍPIOS APÓS A PANDEMIA

(Imagem do Jornal da Bairrada)




O debate, “O futuro dos municípios após a pandemia”, patrocinado pela Câmara Municipal da Mealhada, foi realizado ontem, 3 de Fevereiro, no Teatro Messias. Sem assistência de público e com transmissão directa via Internet, estavam em palco os presidentes das Câmaras, Municipal de Lisboa, Fernando Medina, Municipal do Porto, Rui Moreira, e Municipal da Mealhada, Rui Marqueiro. A moderação foi entregue a Fátima Campos Ferreira, jornalista da RTP e responsável pelo programa Prós e Contras, enterrado, há cerca de três meses, no cemitério mediático em mausoléu dourado com dezanove anos de holofotes, com gosto e a contra-gosto.

O tema, em torno do PRR, Plano de recuperação e de Resiliência, e da chamada Bazuca em que se apontam para cerca de 60 mil milhões de euros vindos da Europa, ao longo dos próximos cinco anos, para recuperar Portugal, sendo de grande actualidade e passível de preocupação social, tinha tudo para correr bem. Mas, como em tudo na vida, como no ditado popular, onde se coloca toda a maior esperança é onde reside a probabilidade de maior desilusão. E o aforismo concretizou-se.

Marcado para as 20h00, começou dez minutos depois, nada de maior, pensei para com meus botões, é o velho e caduco costume académico a chegar à Mealhada. Não deveria ser, tentei argumentar em solilóquio, afinal, em pequenas manifestações de vontade, até há sinais da cidade do leitão, a minha sede de concelho, querer liderar o presente em direcção ao futuro.

E tomei nota do segundo percalço. A minha diva vinda Lisboa, envolvida na plumagem de estrela, Fátima Campos Ferreira, a abrir o evento, deu a palavra a Fernando Medina, presidente da edilidade lisbonense, quando, por responsabilidade anfitriã, deveria ter atribuído a recepção laudatória a Rui Marqueiro.

Porra, Porra! Isto parece fadado para não correr bem. Pode ser que não, contemporizei a minha ansiedade.

Foi então que, progressivamente, me comecei a aperceber que o jogo, apresentado para ser a três, afinal, era só a dois. Como num jogo de pingue-pongue, Fátima, como um árbitro viciado, ora passava a bola a Medina ora a Moreira. E os dois ases da política nacional não se fizeram rogados. E falaram, falaram. E voltaram a falar dos seus imensos problemas em lidar com as leis urbanísticas. Moreira foi ao ponto de insultar - ou pelo menos foi deselegante - os cidadãos que, com razão ou sem ela criticam o poder autárquico. Ou seja, uma discussão que deveria incidir essencialmente nas consequências sociais e económicas sobre os munícipes, sobre as pessoas nos próximos cinco anos, o diálogo tornou-se em algo fastidioso e intragável onde ressaltava a política pura e dura dos dois tubarões, mais interessados em espalhar charme e demagogia, como se já estivessem em campanha eleitoral.

Foi patético assistir ao que se passou no magnífico Teatro Messias. As imagens chegaram a mostrar Rui Marqueiro a roer as unhas, certamente não seria de alegria.

Mas umas perguntas emergem: por que não levantou o dedo em riste à apresentadora e reivindicou a defesa do seu lugar? Ou, por exemplo, nas cerca de três vezes que teve a palavra, poderia ter prolongado a dissertação e tentado capitalizar o seu envolvimento, por que não o fez? Goste-se ou não da forma política como se apresenta o actual presidente da Câmara Municipal aos seus munícipes, duas coisa ninguém lhe pode retirar: a sua vasta experiência política e o seu muito saber sobre direito autárquico. Insisto: por que não defendeu ali o seu lugar?

Bom, sempre podemos especular que procurou não dar nas vistas, o que é uma razão de peso. Mas, em boa verdade, esse abatimento acabou por recair na sua pessoa como um ónus.

Sendo honesto intelectualmente, se a culpa deste desaire não deve ser atribuída por inteiro ao líder da edilidade mealhadense, é também certo que o organizador se pôs a jeito ao convidar as duas maiores estrelas polares da política autárquica nacional. Talvez não prevenisse que o intenso brilho emanado dos seu alter-egos mediáticos o iriam ofuscar completamente. Mas, com a conivência da jornalista da RTP, foi isso mesmo o que aconteceu.

Por que razão não optou Marqueiro por convidar os presidentes das câmaras em redor da Mealhada? Uma pergunta que só ele poderá responder. Mas, avento, provavelmente teria pensado que assim chamaria mais pessoas a visionar o acontecimento e, por outro lado, dar-lhe ia uma maior importância no meio dos dois grandes. Fosse assim, ou assado, não deveremos ter vergonha de sermos pequenos. Somo-lo com muito orgulho.


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