quinta-feira, 30 de novembro de 2017
terça-feira, 28 de novembro de 2017
QUANTO VÃO CUSTAR AS FESTAS DE NATAL E DE ANO NOVO NA CIDADE?

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Hoje,
os dois jornais da cidade, em nota de rodapé na primeira página,
remetem para o interior do caderno o que se passou ontem na reunião
do executivo municipal.
O
Diário de Coimbra (DC) titula que “Manuel
Machado forçado a descer o IMI”,
e continua: “Proposta
avançada pelo presidente da Câmara de Coimbra foi chumbada, sendo
aprovada uma redução no IMI com os votos da oposição e da CDU”.
Por
sua vez, o Diário as Beiras, virando os holofotes para festa que aí
vem, noticia o seguinte: “COIMBRA
HMB e PESTE & Sida actuam na noite de fim de ano”
E
entramos para o desenvolvimento dos dois diários. O DC ocupa cerca
de dois terços de uma página sobre o chumbo da proposta de 0,34 do
IMI, apresentada por Manuel Machado, líder do executivo PS, e, por
contraproposta da oposição, passando para 0,33 a taxa a cobrar no
próximo ano. Segundo o jornal, perante a descida de um ponto
percentual, citando Machado, este terá desabado: “Acabámos
de despachar 900 mil euros!”. Continuando a citar o DC,
“(...) Regina Bento,
vereadora (PS) com o pelouro da Contabilidade e Finanças, sublinhou
que uma redução no valor do IMI tornará ainda mais difícil a
discussão do Orçamento e das grandes Opções do Plano para 2018
(...)”.
Noutra
página ao lado, em cerca de dois terços, a jornalista do DC
desenvolveu em título que “Coimbra
celebra Natal e Ano Novo com mais de uma centena de espectáculos”.
Minuciosamente conta que “Quando baterem as 18 horas da próxima
sexta-feira acende-se a iluminação natalícia que até 6 de
Janeiro, dará outra luz à cidade. Estará, assim, oficialmente
aberto o programa “Luzes sobre a Baixa de Coimbra” que celebra o
natal e o Fim de Ano e chamará milhares de pessoas à cidade. Entre
45 dias de actividade -embora o programa tenha sido delineado para
decorrer entre 1 de Dezembro e 6 de Janeiro, há actividades desde 25
de Novembro e até 9 de Janeiro. (…) Oito minutos de fogo de
atifício sobre o rio Mondego marcam o início do novo ano.
Seguem-se, pelos quatro palcos instalados na Baixa (largo da
Portagem, praça do Comércio, praça 8 de Maio e Terreiro da Erva),
a música dos HMB, dos Peste & Sida e Karetus, os cabeça de
cartaz do programa.”
Por
sua vez o Diário as Beiras, em meia página, titula o seguinte: “45
dias de animação dão as boas-vindas à época natalícia em
Coimbra”. Prosseguindo, “Mais
de 100 espectáculos, a decorrer ao longo de 45 dias, levarão até
ao dia 8 de Janeiro, o brilho da época natalícia à Baixa da
cidade. O programa “Luzes sobre a Baixa de Coimbra”, promovido
pelo município, foi dado a conhecer ontem e propõe iniciativas para
todos os tipos de público, entre os quais 115 espetáculos, 14
exposições, concertos, arruadas musicais, actividades para
crianças, cantares de Natal e as iluminações de rua, que este ano
se estendem à margem esquerda do Mondego, no eixo que liga que liga
a Ponte de Santa clara e o Convento São Francisco, além de duas
árvores de Natal de grandes dimensões “instaladas” junto aos
Paços do Concelho e no Largo da Portagem. (…) O programa “Luzes
sobre a Baixa de Coimbra” -que vai para a quinta edição-,
pretende “não só dar a conhecer a diversidade cultural da cidade,
mas também reforçar a sua atratividade” durante a época
natalícia, sem esquecer “a promoção e valorização do comércio
da Baixa”, lembrou o presidente da câmara, Manuel Machado, durante
a a sessão de apresentação do programa.”
QUANTO
CUSTA?
Para
os mais velhos como eu -que já sou sexagenário-, que, no decurso do
seu tempo, levaram a vida a contar tostões -agora cêntimos- sempre
que se contratualizava um serviço, ou uma qualquer compra, surgia a
pergunta sacramental: quanto custa?
Ora
pasme-se: ontem, na sessão do executivo, o custo total destes
eventos não passou na ordem do dia. Outro espanto, e aqui é que me
salta a tampa, entre vereadores do regime (PS) entre a oposição,
que aprovou, e jornalistas não houve uma alma curiosa que
interrogasse quanto vão custar estas festas ao erário público. Por
isso mesmo, os relatos dos dois jornais não referem os valores cabimentados.
Por
seu lado, também não deixa de ter o seu quê de esquisito o
facto de a página na Internet do Município de Coimbra, em várias
crónicas desenvolvidas sobre o efeito, não mostrar os montantes
elencados. Será esta forma de comunicar um aval à transparência
dos actos, a que a administração pública está obrigada?
E
os jornais diários, o chamado contrapoder, porque, não fazendo
perguntas, se limitam a publicar o que vêem e ouvem? Em
introspecção, por que não se questionam? Por que não interrogam,
por exemplo, como é que a descida de um ponto percentual no IMI,
acarretando um benefício de 900 mil euros para os munícipes, pode
constituir uma tragédia nos cofres municipais e queimar cerca de 300
mil euros -estimativa minha, já que não consegui obter a resposta
certa- em foguetório e circo não causa qualquer engulho?
Podia
perorar sobre se esta forma de incinerar milhares de euros no Natal e
Ano Novo é, de facto, uma boa forma de desenvolver a
“promoção e
valorização do comércio da Baixa”, mas
não vou por aí. Já não tenho paciência. Sinto uma enorme
tristeza quando uma informação, que, por ser tão óbvia e
relevante, deveria ser pública e não o é. Por não conseguir
entender a razão de cada um, entrosado na organização política e
social, não fazer o que está obrigado, apetece-me fugir daqui. Com
franqueza!
ENTRETANTO...
A
APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, em 14 de
Novembro passado e em segunda via a 23, enviou a todos os comerciantes da Baixa este
e-mail:
“Caro
Colega,
Na
sequência do encontro de comerciantes realizado em Outubro, no Salão
Brazil, vimos enviar a proposta de programação de Natal para a
Baixa de Coimbra.
As
actividades/iniciativas propostas pela APBC, que vão também
integrar a programação de Natal da Câmara Municipal de Coimbra,
são:
·
Animação infantil aos fins de semana e feriados (25 de Novembro a
23 de Dezembro);
·
Chegada do Pai Natal no dia 25 de Novembro pelas 11h;
·
Mascotes de Natal (Rena e Boneco de Neve);
·
Arruadas musicais com os Dixie Gringos (8, 9, 16 e 23 de Dezembro de
2017);
·
Festa do Galo - semana gastronómica (1 a 17 de Dezembro)
·
Desfile de viaturas antigas (26 de Novembro);
·
Actuações de grupos populares (1, 2, 3, 8, 9, 10, 16, 17, 23 de
Dezembro);
·
Tômbola de Natal com oferta de um ou mais "Cabaz da Baixa"
composto por produtos das lojas aderentes à iniciativa.
A
distribuição dos cupões para a Tômbola de Natal e o sorteio do
cabaz de Natal apenas faz sentido com a participação dos
comerciantes. À semelhança do ano anterior, solicitamos que todos
contribuam para a criação do cabaz de Natal com produtos dos vossos
estabelecimentos comerciais.
Os
comerciantes fizeram notar a importância da sonorização na Baixa
de Coimbra durante a época natalícia. No entanto, devido ao elevado
orçamento da sonorização (4.300,00€) e à incapacidade
financeira da APBC para levar esta iniciativa a cabo, gostaríamos
que os comerciantes participassem e colaborassem com um contributo
monetário de 25€ por estabelecimento.
A
sonorização da Baixa apenas avançará quando a totalidade do
dinheiro estiver reunido.
Aguardamos
uma resposta relativamente ao interesse em participar nas iniciativas
da tômbola de Natal e da sonorização da Baixa até ao final do dia
17 de Novembro.
Acreditamos,
que todos juntos, conseguiremos ter um Natal de 2017 cheio de
agradáveis surpresas.
Agradecendo
antecipadamente a atenção dispensada ao presente assunto,
atenciosamente,
O
Presidente da Direcção da APBC
Vítor
de Sá Marques”
sábado, 25 de novembro de 2017
UM QUADRO PARA PENSAR

A Pordata actualizou o quadro-resumo de Portugal, com dados de 2016. Espreite: https://goo.gl/2MHdhj
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
MAIS UM PREGO NO CAIXÃO LARANJA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Segundo
o Campeão das Províncias, “Teresa Anjinho, que encabeçou uma
lista (de Centro-Direita) para a Assembleia Municipal (AM) de
Coimbra, vai coadjuvar a nova titular da Provedoria de Justiça.”
Não
é nada que não se esperasse e já não estejamos habituados, mas,
sinceramente, com estas renúncias ao mandato consagrado pelos
eleitores, o que espera o PSD/CDS, secção de Coimbra, para o
futuro? Primeiro foi Jaime Ramos -que já tinha anunciado que em caso
de perder a cadeira municipal principal renunciaria. Agora foi a
líder da sua lista à Assembleia Municipal.
Enquanto
cidadão fico indignado com este procedimento. É certo que também o
PS já fez o mesmo “engana-tolos”.
A
lei eleitoral, no tocante às autarquias, deveria consignar que um
edil só pode renunciar por comprovada doença ou por condenação
criminal, depois de transitado em julgado -esgotadas todas as
possibilidades de recurso.
A
continuar assim, dá impressão que os candidatos andam à procura de
emprego. Só são candidatos às câmaras municipais por, na altura,
não terem melhor.
É
esta forma de estar, entre eleito e eleitor, que melhora a relação
entre cidadão e político?
Apesar
da história nos trazer amargos de boca, nunca, como agora, os
políticos foram tratados tão abaixo-de-cão como se verifica hoje.
A lei eleitoral não devia ser mudada? Estão à espera de quê?
Esperam que a política partidária cheire ainda mais mal?
A POUCA
VERGONHA QUE SE ASSISTE
Ontem fui a um almoço convidado por amigo que comemorava o seu
aniversário. Sentado ao meu lado estava um desconhecido para mim.
Por arrasto da conversa, um dos temas desemboca na política local.
Às tantas o homem, que não mede as palavras, deu em acusar pessoas
por corrupção, dando nomes. Então o “mostrengo” -para mim é o
que é e o que vale- deu em contar perante todos o caso de um seu
amigo envolvido no licenciamento de um determinado empreendimento na
cidade nos últimos anos. Saltou-me a tampa e disse-lhe o que tinha a
dizer, cara-a-cara. Se os indignou tanto, a ele e ao amigo, porque não denunciaram? A
besta contou aquilo com a maior displicência sem ter noção de que
-sendo mentira- estava a difamar pessoas. Mas o mais grave é que
este “conto” entrou no universo popular. É de bom tom, fica bem,
acusar -sem provas, digo eu!- a classe política.
É
verdade? É mentira? Para mim, embora conhecendo mal as pessoas em
causa, é! E disse ao homem que não acreditava no que ele estava a
propagandear gratuitamente. E dei-lhe uma lição de moral, que não
aceitou, obviamente.
Mas,
imaginemos que até é mesmo mentira -e aqui é que mora o busílis
da questão: a dúvida fica instalada no meu consciente. A suspeição
vai corroer para sempre a confiança que deposito nestas pessoas.
Claro
que podemos dizer que eu também posso denunciar o caso. É verdade.
Mas, considerando-me pessoa de bom-senso, não estando envolvido nem tendo qualquer conhecimento da matéria em causa, tenho o direito de arrastar
o nome de pessoas para a lama? Por que as coisas são mesmo assim:
mesmo que os visados sejam ilibados pela justiça nunca mais serão
inocentados pelo povo. E porquê? Porque o cidadão comum, por um
lado, condena antes do julgamento, por outro, não acredita nos
tribunais. Acha que estão todos “feitos” para branquear
os políticos.
Este
é o povo que temos, mas, diga-se, é a soma de muitas premissas
alimentadas por legislação que concorre para instalar a suspeição.
Pensemos
nisto.
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
EDITORIAL: OS VARRIDOS DO COMÉRCIO (1)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Tentando
trazer à colação a história recente do comércio na Baixa, com a
maior honestidade intelectual e até onde a memória me conduzir, vou
tentar retratar os últimos cerca de vinte anos, mais precisamente a
partir de 1995. Porquê continuar a malhar no desgraçadinho, como
quem diz escrever sobre o comércio? Porquê começar em 1995? Porquê
o título? À primeira interrogação respondo que continuo a
escrever sobre a actividade mercantil na Baixa por que, a meu ver, a
história do comércio no coração da cidade, quer no nascimento,
quer no crescimento, quer no pico máximo, quer na declinação (que
vivemos hoje), não está feita. Embora eventualmente possa fazer
remissões para o passado, estabeleço uma data de começo em 1995
por ter sido um ano de transição, o início de um novo ciclo
político de abertura à esquerda, após dez anos de governos PSD, a
viragem do milénio, o marco da chegada de uma nova sociedade mais
informada e informatizada, a data em que, de certo modo, nasceu a
última fornada de consumidores -que estão agora, neste ano da graça
de 2017, com 22 anos. E é precisamente nestes dois estratos sociais,
velhos comerciantes e novos consumidores, que, ao mesmo tempo que
descrevo, vou tentando arranjar explicação para a queda do comércio
tradicional, visto pelos olhos de um operador que começou a
trabalhar na Baixa em 1973.
Porquê
o título “os
varridos do comércio”?
Furtei a presente denominação a um antigo comerciante, e meu amigo, que chama
assim aos colegas que foram “empurrados”
para uma insolvência anunciada ou ainda estão no activo por
necessidade e sabem antecipadamente que o seu destino está traçado
a curto ou a médio prazo.
Foi
precisamente por isto que, apesar de já ter produzido dezenas e
dezenas de textos sobre este mesmo assunto, senti necessidade de
escrever novamente sobre o declínio da classe.
Os
comerciantes de rua serão vítimas de um sistema político
interesseiro, onde só os grandes grupos económicos contam e os
pequenos são moléculas invisíveis carregadas de obrigações?
Serão
despojos de uma cultura assente no costume, em que a mudança e a
novidade são os trilhos onde corre a máquina do progresso, que
nunca foi tão rápida como hoje?
Serão
peças velhas, sem utilidade, resquícios de um tempo que passou de
moda?
Serão
simplesmente os guardiões de um museu -que, como actores de uma peça
trágica, dando vida às urbes pagam para trabalhar- em que se
transformaram os velhos centros das cidades para os turistas e novos
consumidores?
Como
é evidente não vou responder a qualquer destas perguntas. O que
pretendo é, partindo do passado para o presente, com seriedade fazer
reflectir e, cada um por si, chegar a uma conclusão.
I
Estamos
em 02 de Outubro de 1995. Ontem realizaram-se as eleições
legislativas. António Guterres, ganhando o pleito eleitoral com
maioria relativa, depois de uma década de governos PSD,
centro-direita, liderados por Cavaco Silva, abre a porta de entrada
do país ao Partido Socialista (PS), centro-esquerda.
A
Câmara Municipal de Coimbra é liderada por Manuel Machado, em
representação do PS.
O
movimento comercial na Baixa segue o seu curso praticamente igual aos
últimos vinte anos. A cidade, para quem vem do exterior, é uma
espécie de Meca comercial. Aqui tudo se compra, aqui tudo se
vende. As ruas estreitas e largas continuam apinhadas de pessoas. Os
transeuntes, constituídos por nativos e visitantes de toda a região
centro que aqui se deslocam para fazer compras, fazem fila indiana
para percorrer escassos metros de calçada. Por esse facto, por um
desmesurado movimento de pessoas a atropelarem-se nas vias, e também
por começar a ser moda retirar os automóveis dos centros
históricos, cinco anos antes, em 1990, Machado manda retirar o
trânsito automóvel e transforma as Ruas Ferreira Borges e Visconde
da Luz em vias pedonais. Os jornais locais anunciam que no Verão,
sobre orientação de Fernando Távora, que fora também o
responsável pelo projecto de pedonalização das ruas largas, vão
iniciar-se as obras de rebaixamento do piso da Praça 8 de Maio.
II
A
zona da Alta, sobretudo as Escadas de Quebra Costas, para além da
hotelaria, está essencialmente povoada com estabelecimentos
dedicados ao mobiliário. Embora houvesse também dois alfaiates, uma
livraria, uma loja de electro-domésticos, uma oficina de rádios,
uma casa de canetas, um velhustro e um alfarrabista.
Abaixo
do Arco de Almedina, a Baixa prossegue o seu curso aparentemente
normal. No entanto, pressente-se no ar alterações ao seu “status
quo”, ao seu
situacionismo, e alguma preocupação, sobretudo para os
profissionais do comércio. A abertura do Continente e da Makro no
Vale das Flores ocorrera dois anos antes, em 1993, e, embora recente,
a deslocalização de clientela estava em curso e já provocava mossa
no negócio. Nessa altura, aquando da abertura destas grandes
superfícies, chegou a realizar-se uma manifestação de protesto
liderada por César Branquinho, um comerciante com lojas na Rua das
Padeiras, próximo do PS e muito activo nas lides associativas e que
chegou a ser presidente da ACIC, Associação Comercial e Industrial
de Coimbra.
Como
se fosse pouco a concorrência que vinha em grande escala, por força
das políticas de Cavaco Silva no obedecer a directivas europeias
-Portugal aderiu à então CEE, Comunidade Económica Europeia, nove
anos antes, em 1986-, pelo abandono dos campos, o terciário passou a
ser um porto de abrigo de todos os encalhados. O resultado deste
encarte é que começaram a abrir negócios em tudo quanto era vila e
cidade periférica da grande urbe. Por isso mesmo, aos poucos,
Coimbra ia perdendo a atractividade comercial que sempre tivera ao
longo do século XX. Mas, salienta-se, apesar disso, a cidade
fervilhava de gente. Um ano antes, em 1994, pela adesão de Portugal
à Organização Mundial de Comércio, começaram a surgir as “lojas
de trezentos” como
cogumelos em manhã de nevoeiro. Na Rua das Padeiras, onde irrompeu o
primeiro espaço comercial onde se vendia tudo, desde guarda-chuvas a
ferramentas, havia longas filas de pessoas à espera para entrar.
III
O
comércio na Baixa está dividido por áreas classicistas. As ruas largas, a
Visconde da Luz e Ferreira Borges, constitui a fina flor que tem por
objecto servir a elite da cidade. Para além de deter os melhores
cafés e muitos consultórios médicos nos pisos superiores, aqui
estão situadas as grandes casas de moda e duas sapatarias de marca.
Nas
ruas estreitas e praças adjacentes está o comércio mais popular.
Neste ano encerrou um grande armazém de mercearia nas ruas
estreitas, os tendeiros que vendem tudo em porção de quilo temem a
sua extinção.
A
ocupar verticalmente todo o edifício, o ponto de venda está no
rés-do-chão. Está muito centralizado, isto é, um comerciante
chega a ter oito lojas a vender o mesmo artigo num espaço de cem
metros quadrados entre vielas que se cruzam. Outros, na mesma rua ou
praça, quase encostados uns aos outros, detêm dois, três e quatro
estabelecimentos, todos com o mesmo artigo para venda. Não é
surpresa saber que algumas destas empresas têm no seu quadro de
pessoal quarenta trabalhadores, alguns deles com mais de trinta anos
de casa. Mas as vendas estão a cair muito rapidamente e muitas
destas firmas não conseguem ganhar para pagar aos funcionários. Os
despedimentos, sobretudo nos servidores mais novos para não pagar
indemnizações, começam em catadupa. As grandes empresas, que deram
nome à Baixa comercial nas últimas décadas, entram em falência técnica e vão durar
poucos anos.
(ARTIGO
EM CONTINUAÇÃO)
terça-feira, 21 de novembro de 2017
FALECEU O SENHOR ANTÓNIO, DA SAPATARIA REIS

Por
volta do meio-dia, quando o Sol estava a pique, foi hoje a enterrar,
no cemitério de Santa Clara, António Marques Ferreira, de 86 anos,
o “Senhor António,
da Sapataria Reis”,
como era conhecido em toda a baixa comercial no tempo quando pessoa e estabelecimento eram irmãos siameses na identidade.
Como
marçano, tendo como colega Manuel Magalhães -também já falecido-,
começou ainda novo a vender sapatos na desaparecida Sapataria Reis,
com frente para a Rua Eduardo Coelho -antiga dos sapateiros- e Largo da Freiria. Hoje deu lugar a um bonito estabelecimento de calçado
para criança: A Loja da Laura. Anos mais tarde, talvez
em fins das décadas de 1970 e princípio de 1980, por cedência de
quotas da antiga proprietária da Sapataria Reis, viria a constituir
uma sociedade com o seu colega Magalhães. E por aqui se manteve até
por volta de 2008, altura em que cedeu os seus direitos de
propriedade a uma filha de Magalhães.
Apesar
de ter deixado o comércio com cerca de 75 anos, o Senhor António
parecia vender saúde. Tal como Magalhães, o seu sócio no negócio,
tinha por aqui muitos amigos, que diariamente faziam da velha
sapataria desaparecida -encerrou em Maio de 2011- uma espécie de
porto de abrigo para grandes conversas e jogo da moeda. Aqui se
juntavam em grupo ao longo da tarde. Era muito interessante sentir o
quanto este antigo espaço comercial contribuiu para a revivificação
desta zona.
Para
a família enlutada nesta hora de sofrimento, em nome da Baixa
comercial, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Até
sempre, Senhor António.
UMA
OUTRA BAIXA DESAPARECIDA
Embora
talvez poucos pensem nisto com a mesma profundidade como escrevo,
porque estou cá, as pequenas lojas, sobretudo as mais antigas, que
constituem o universo do comércio tradicional estão para a cidade
como as flores estão para os jardins. Se os negócios vão
desaparecendo e substituídos com outros ramos, resultado de várias
crises, económica e social, as áreas habitáveis vão secando como
desertos e, conduzindo ao isolacionismo e ao individualismo,
transformam-se em zonas de pouco humanismo. É nestas alturas que o
pior que as pessoas transportam dentro de si, como a maldade, a
inveja, o falso testemunho e a difamação, vem ao de cimo. É nesta
instabilidade social que, acentuadamente nos mais frágeis e
sensíveis, a ansiedade dispara, as depressões marcam o dia e a
falta de sono branqueia a noite.
Não
sei se consigo explicar por palavras escritas o quanto foi importante
a antiga Sapataria Reis, nas pessoas dos seus sócios, ao longo das
décadas para uma vivência desaparecida da Baixa. É certo que todos
os dias era um bulício popular, um forró coroado com tinto bem
regado, e muitos não gostavam, sobretudo pelo barulho proferido
pelos contraentes do jogo da moeda: “duas”, “quatro”, “seis”,
“oito”, que ecoava ao longo da velha rua, mas era um encanto para os meus ouvidos.
Retirando
a ladainha de um ou outro cego -que nesse tempo se digladiavam por um lugar na esquina-, agora praticamente o silêncio cobriu toda
a envolvente, Tenho muita saudade desse tempo. Certamente pelo
pitoresco, pela invulgaridade, gostava muito de os ouvir. Pressentia
naquela manifestação popular uma espécie de prova de vida. Pela
sua falta, impressionou-me tanto que em 2013 até compus uma canção
a que chamei “Hino à cidade “perdida”:
HINO À
CIDADE PERDIDA
“Olhem,
tenham dó”,
gritava
a cigana,
“tenho
dez filhos e “mi home, entrevadinho”,
está
na cama, coitadinho, e não pode trabalhar”;
Davam
uma moeda,
tinham
compaixão,
na
outra esquina um ceguinho repetia a lengalenga
trauteada
em oração;
No
largo em frente
jogavam
à moeda,
e
entre um copo e uma sardinha na tasca da Mariazinha
se
depuravam as mágoas;
ESTA
CIDADE JÁ NÃO EXISTE
SÓ NA
MEMÓRIA É QUE PERSISTE
O
tempo passou
e
tudo mudou,
e
a minha rua que era luz, agora é triste, tem uma cruz
p’ra
lembrar que pereceu;
Já
nem um pregão,
um
gato a miar,
só
o silêncio modorrão invadiu seu coração
e
de quem teima em ficar;
ESTA
CIDADE NÃO TEM VIVER.
JÁ NÃO
TEM VIDA, ESTÁ A MORRER.
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
O NOSSO FISCO NÃO DEIXA QUE NOS FALTE NADA

(Imagem do UNIPLACES-PORTAL)
"Fisco lança guia para ajudar alojamento local"
“Com
o objectivo de auxiliar contribuintes com as novas obrigações
fiscais que envolvem o alojamento local, o Fisco publicou um guia
completo. A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) espera que com a
nova ferramenta, menos pessoas fugirão aos impostos.”
UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...

Aguinalda
Simões Graça Amaro deixou um novo comentário na sua mensagem
"EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”":
Boa
noite, Sr. António Luís Fernandes Quintans. Mais uma vez obrigada
por escrever para o povo. Li tudinho...
Eu estou na Rua da Sofia. Mesmo em frente ao Terreiro da Erva. É horrível, horrível. Há três semanas tive que ir à PSP. Não fui fazer qualquer queixa, apenas pedi para desabafar com alguém. Falei, falei... É muita toxicodependência à luz do dia, à frente de todos. Estamos no café e sentimo-nos intimidados. Eles vêem que a gente vê... É um entra e sai a toda a hora a trocar notas de 5... Digo que não tenho, tratam-me mal. Casa de banho: tenho que pôr um papel “avariado”. O meu filho passa no Terreiro da Erva todos os dias, pois anda na São Bartolomeu (na escola). O meu coração... Seringas pelo chão.
Saem completamente "mocados "do terreiro. É horrível! Sentados na travessa a fazer a droga ainda me vêm pedir prata e limão. Eu sou obrigada a passar por isto????
Eu estou na Rua da Sofia. Mesmo em frente ao Terreiro da Erva. É horrível, horrível. Há três semanas tive que ir à PSP. Não fui fazer qualquer queixa, apenas pedi para desabafar com alguém. Falei, falei... É muita toxicodependência à luz do dia, à frente de todos. Estamos no café e sentimo-nos intimidados. Eles vêem que a gente vê... É um entra e sai a toda a hora a trocar notas de 5... Digo que não tenho, tratam-me mal. Casa de banho: tenho que pôr um papel “avariado”. O meu filho passa no Terreiro da Erva todos os dias, pois anda na São Bartolomeu (na escola). O meu coração... Seringas pelo chão.
Saem completamente "mocados "do terreiro. É horrível! Sentados na travessa a fazer a droga ainda me vêm pedir prata e limão. Eu sou obrigada a passar por isto????
Foram
os polícias simpáticos. Todos os dias tem passado um agente, e pára
pelo café. Pedi por favor para o fazerem, para ver se os
toxicodependentes se afastam.
Estas
duas semanas tem sido mais calmo o movimento por lá. Tenho medo.
Fica noite cedo. Para me sentir mais segura tenho fechado o café às
18h30. Quero sair e apanhar o autocarro com o meu filho enquanto há
gente e portas abertas. Infelizmente é a única coisa que posso
fazer.
Desculpe o desabafo mas realmente não é seguro. A Baixa não é nossa... Um bem-haja.
Desculpe o desabafo mas realmente não é seguro. A Baixa não é nossa... Um bem-haja.
Antonio Madeira deixou
um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”":
Obrigado Amigo Luis, por compreender a minha mensagem de revolta e a clarificá-la por forma a que todos saibam as injustiças porque passam os comerciantes desta zona.
Bem haja Amigo. abr.
****************************************
Jorge Neves
deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: UMA“PONTUAÇÃO DE MERDA”":
A Baixa e a baixinha de Coimbra acabou para tudo que seja comercio tradicional .
Jorge Neves
A Baixa e a baixinha de Coimbra acabou para tudo que seja comercio tradicional .
Jorge Neves
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
António
Madeira, para além de ser um respeitado munícipe na Baixa, é,
desde há muitos anos, o proprietário da Residencial Moeda, na Rua
da Moeda, confinante com a Loja do Cidadão. Desde há uns tempos, na
sua página do Facebook, tem vindo a plasmar a sua impotência para
vencer o isolacionismo a que está votado e a lamentar o que se passa
na zona envolvente paredes-meias com o seu estabelecimento, o
conhecido “Bota-abaixo”, a área do Largo das Olarias.
Desta
vez, na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial)
postou o seguinte post:
“OBRIGADO
SR. PRESIDENTE DA CÂMARA POR MAIS ESTE COMENTÁRIO E PONTUAÇÃO DE
MERDA ACABADINHO DE CHEGAR DE UM CASAL ESPANHOL.
Convido-o
a vir visitar o meu estabelecimento e ver as excelentes condições
com que recebemos os nossos clientes, para no fim termos uma
pontuação miserável por sua causa. HONRE A SUA PALAVRA E FAÇA O
QUE PROMETEU.
A noite no "Bota-abaixo" tem que mudar. ESTAMOS FARTOS.!
A noite no "Bota-abaixo" tem que mudar. ESTAMOS FARTOS.!
A
sua página de comentários em Booking.com
Anónimo
La ubicación está en peatonal parte antigua cuando cierran negocio a las 19 ha se vuelve muy inseguro.”
Anónimo
La ubicación está en peatonal parte antigua cuando cierran negocio a las 19 ha se vuelve muy inseguro.”
Para
se perceber melhor vamos aclarar algumas premissas simples referidas
nesta crónica. Comecemos por explicar o que é o “Bota-abaixo”
e o “Booking.com”.
O
“Bota-abaixo”
é a denominação de uma área de casario antigo que começou a ser
demolida em meados de 1960 para construir uma avenida central que
ligaria a Rua da Sofia à margem do Rio Mondego. Alegadamente por
falta de dinheiro, a obra pública viria a ser interrompida e
constituiria um enorme buraco até aos finais de 1990 -quando os
terrenos foram vendidos em hasta pública pela Câmara Municipal de
Coimbra à Bragaparques, uma firma de Braga, que ali construiu um
grande estacionamento subterrâneo e vários prédios, entre eles a
Loja do Cidadão. Depois disso continua inquinada com os interesseiros do Metro. Daí apelidar-se a zona de “Bota-abaixo”.
O
“Booking.com” é um site de reservas para hotéis e
congéneres de dormidas a nível mundial. No fim de pernoitar no
alojamento o cliente comenta e classifica a estrutura turística a
seu modo. Está de ver que esta manifestação pessoal acaba por ser
uma espécie de carta de recomendação para outros, quem, no mundo
inteiro, estiver interessado no mesmo espaço e pretenda deslocar-se
e alojar-se.
Ora,
agora voltando ao protesto de António Madeira, o que escreveram os
espanhóis, que estiveram alojados na Residencial Moeda, no
“Booking.com”? Aproximadamente, tão só como isto:
“A
localização está edificada na parte antiga. Quando encerram os
comércios às 19h00 se torna muito insegura.”
Prosseguindo
na análise desta mensagem escrita, vamos a perguntas:
-O
turista lamentou os serviços prestados dentro do empreendimento
hoteleiro? Não senhor, o espanhol queixou-se da zona envolvente.
-E
as consequências para o empresário? Mesmo sendo por razões
exteriores ao seu serviço, assume os prejuízos e paga pelo mesmo,
ou não? Claro que sim!
Em
balanço, ou seja, por um problema que cabe inteiramente às
entidades públicas que gerem a segurança pública na cidade, este
empresário pode acabar na falência. Está correcto o alheamento a
que está a ser votado? Sabendo que na zona existem outros
empreendimentos no género, é óbvio que todos se encontram no mesmo
patamar de abandono e com um pé na insolvência, mas, pelos vistos,
num cenário que todos conhecemos bem, ninguém protesta.
TODA
A BAIXA É UM IMENSO “BOTA-ABAIXO”
O
que
se está a passar na zona enunciada é o mesmo que se apreende e
constata em toda a Baixa. O que está em causa nem é uma efectiva
segurança material mas antes, pela desertificação notória depois
do encerramento do comércio às 19h00, uma sentida insegurança
psicológica. Pelo facto de haver poucas pessoas a circular à noite,
como é natural, a todo o passo, em ruas com pouco movimento e pouco iluminadas, damos
de caras com indivíduos de aspecto maltrapilho e emoldurados com
rosto pouco amistoso. Posso escrever à vontade porque moro e
trabalho nesta zona, retirando um ou outro caso pontual, desde há
meia dúzia de anos que não há notícias de criminalidade,
violência, através de assaltos sobre pessoas.
Se
bem que, sejamos justos, na área do Bota-abaixo, apesar de estar
inserida na Baixa, há uma diferença para pior: os sem-abrigo e
toxico-dependentes concentram-se em grupo. Depois do encerramento,
executado há anos, de alguns becos com portões, estes últimos
injectam-se à vista de toda a gente, causando algum horror ao
transeunte menos familiarizado com estas questões de saúde pública. já escrevi várias crónicas a tentar trazer à discussão a criação de uma sala de chuto nesta área velha. A resposta, claro está, nunca veio. É preciso inventar novos conceitos.
Já muito se falou, já muito se escreveu sobre este assunto, sobretudo na recente campanha eleitoral, porém foi fumo que não deu fogo, aliás, pelo deixa-correr, nada a que todos não estejamos já habituados.
Já muito se falou, já muito se escreveu sobre este assunto, sobretudo na recente campanha eleitoral, porém foi fumo que não deu fogo, aliás, pelo deixa-correr, nada a que todos não estejamos já habituados.
QUEM
LEVA A SÉRIO A BAIXA?
É
público
que a Reforma Administrativa de 2013, que levou à agregação das
juntas de freguesia em todo o país, foi um fiasco -"A
maioria das Freguesias agregadas defende que a reforma administrativa
não melhorou a gestão nestas autarquias", refere um estudo que
leva a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) a defender a
reposição das juntas extintas contra a sua vontade.”.
Retirado daqui. E como é de prever a Baixa de Coimbra não constitui
excepção. Passados quatro anos, desde essa altura, a zona histórica
está entregue a si mesma, sem que alguém leve os seus problemas ao
executivo ou, no mínimo, à Assembleia Municipal. Para piorar, quando deveriam permanecer na Baixa, transferiram-se os serviços da junta, agora agregada, para os Arcos do Jardim. Durante estes
últimos quatro anos, exceptuando a campanha alegre, a contactarem munícipes, nunca se viu por
aqui o presidente da Câmara Municipal, o presidente (agora
substituído) da União de Freguesias de Coimbra. Também nunca se
viu um deputado à Assembleia a saber dos problemas que afligem quem
cá mora e trabalha.
MAS
ATÉ A SEGURANÇA PÚBLICA?
Sabe-se
que a segurança pública é da responsabilidade da PSP, mas o
presidente da Câmara Municipal, enquanto chefe máximo da protecção
civil, também aconselha e dá orientações sobre a garantia de
bem-estar na cidade. E quando escrevo “segurança
pública”
refiro também a protecção psicológica que qualquer cidadão
nacional ou estrangeiro tem direito. Escrevo isto porque, é dos
livros, quando se fala de segurança pública lá vem o responsável
máximo, mesmo que seja interino, pela instituição com um molho de
números de estatística onde, a todo o custo, tenta mostrar que na
Baixa não há criminalidade que justifique mais agentes de turno.
Não
entro em sentimentos de ocasião, que um recente caso de espancamento
à porta do Mc Donald's fez disparar a rebelião da oposição no
executivo, em que à custa da desgraça alheia se tenta capitalizar
juros políticos. O que escrevo, e não é só agora, é que a
cidade, a Baixa, a Alta e outras zonas precisam de um policiamento
diário, durante o dia e a noite, de proximidade. Na última década,
digo eu, teria sido neste ramo de segurança pública a cargo do MAI,
Ministério da Administração Interna, onde, para poupar, mais
cortes teria havido e, em consequência, por um lado, terá gerado
nas pessoas de bem um sentimento de medo, por outro, nos malfeitores,
uma ideia de completa impunidade.
Uma
coisa é certa, porque o texto já vai longo, é injusto, é ilegal,
é inconstitucional que para poupar no erário público se
sacrifiquem investidores que arriscam a sua vida no negócio. Estas
pessoas, de que os políticos parecem ter tanto amor na altura da
captura do voto, como o António Madeira, precisam da protecção
institucional. Quem lhes vale?
EDITORIAL: QUANDO A NUVEM OBLITERA O NOSSO OLHAR
(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)
Claro que este pensamento não é tão linear assim, tem argumentos, mas, por entender agora despiciendos, não vou rebatê-los.
Continuando, então, num esforço louco, os três comerciantes proponentes da medida e as duas associações fizeram tudo para convencer os comerciantes-colegas a aderirem ao movimento. Fica aqui um texto que escrevi na altura. A APBC, na pessoa do presidente Armindo Gaspar, e a ACIC, por intermédio do presidente do sector comercial, Arménio Pratas, contactaram a autarquia a solicitarem a discriminação positiva para o não pagamento de estacionamento ao Sábado durante todo o dia –era pago até às 14 horas.
Através do vice-presidente da câmara, na altura o eng.º Rebelo, foi prometido que se deixaria cair o pagamento da manhã.
Em rigor, como as máquinas de moedas, controladoras de tempo de estacionamento, não estavam preparadas com software para alterações o que aconteceu é que muitos automobilistas, por desconhecimento, continuaram a pagar.
Ora acontece, para meu pesar, que os comerciantes não aderiram à medida. Se no primeiro Sábado abriram cerca de 100 estabelecimentos –num universo de 500-, nos seguintes, penúltimo dia da semana, foi decrescendo até ficarem os mesmos que já abriam anteriormente, cerca de três dezenas de lojas.Ora, mesmo na ambiguidade de pagar ou não pagar por falta de informação nas máquinas, por um lado –se os comerciantes não aderiram- entende-se o cair desta medida. Porém…
Há sempre um porém! A Baixa, se no ano passado estava em “cuidados continuados”, hoje, sem exagero, está em “morte clínica”. E isto não são meras palavras. São factos. Só não vê quem não quiser. Eu sei do que escrevo. Na maioria das vezes não conto tudo para não assustar e não ser acusado de catastrofista.
E então surge a pergunta: estará certo, num momento de extrema fragilidade económica a Câmara de Coimbra voltar atrás? Para mim, está profundamente errado. É evidente que se pensar no trabalho que tive –que andei a pedinchar de porta-em-porta para os colegas abrirem-, e se me deixar levar pelo revanchismo mesquinho, digo: bem feito! O problema é que o momento é demasiado grave para pensar em vinganças bacocas. Estamos todos no fio da navalha. E quando digo “todos”, não me refiro apenas aos comerciantes. A Baixa é constituída por pequenos elos de uma cadeia económica. À medida que se vão quebrando, tudo vai atrás.
E quem mais deveria pensar nisto deveria ser a autarquia. Sem querer dar lições a ninguém –quem sou eu para tal?-, mas um político eleito tem obrigação de ver mais longe do que apenas o que os nossos olhos conseguem alcançar.
para
mostrar que o comportamento do
executivo
municipal PSD/CDS dessa altura,
perante
os múltiplos problemas agonizantes
da
Baixa, é igual ao de hoje, mesmo passando
para
o PS.
Claro que, evidentemente, a filosofia dos
comerciantes, perante as dificuldades que
se abateram sobre o sector, também é a mesma.
Claro que, evidentemente, a filosofia dos
comerciantes, perante as dificuldades que
se abateram sobre o sector, também é a mesma.
“A
Polícia Municipal deixou aviso:
o estacionamento aos sábados de manhã na Baixa de Coimbra vai
voltar a ser pago”, em título de primeira página no Diário as
Beiras de hoje.
Vamos começar pelo princípio, passando a redundância. Este perdão de pagamento no estacionamento ao Sábado surgiu há cerca de um ano, quando um grupo de comerciantes (em que eu estava incluído) tentou por todos os meios e com o apoio da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, e da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, que todas as lojas do Centro Histórico, perante a crise de vendas que continuamente se sente, estivessem abertas aos Sábados durante todo o dia.
Com o grande envolvimento das duas associações e de alguns comerciantes não associados, pela primeira vez, deram as mãos para tentar suprirem o “calcanhar de Aquiles” do comércio tradicional. Ou seja, quando se pugna por novas medidas de apoio, naturalmente, pensa o consumidor:
Vamos começar pelo princípio, passando a redundância. Este perdão de pagamento no estacionamento ao Sábado surgiu há cerca de um ano, quando um grupo de comerciantes (em que eu estava incluído) tentou por todos os meios e com o apoio da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, e da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, que todas as lojas do Centro Histórico, perante a crise de vendas que continuamente se sente, estivessem abertas aos Sábados durante todo o dia.
Com o grande envolvimento das duas associações e de alguns comerciantes não associados, pela primeira vez, deram as mãos para tentar suprirem o “calcanhar de Aquiles” do comércio tradicional. Ou seja, quando se pugna por novas medidas de apoio, naturalmente, pensa o consumidor:
“Então
vocês querem ser apoiados e não trabalham um minuto depois das 19
horas e, sobretudo ao Sábado, quando o consumidor está a descansar
e tem tempo para passear e poder comprar, é nessa altura,
incompreensivelmente, que vocês estão encerrados?”
Claro que este pensamento não é tão linear assim, tem argumentos, mas, por entender agora despiciendos, não vou rebatê-los.
Continuando, então, num esforço louco, os três comerciantes proponentes da medida e as duas associações fizeram tudo para convencer os comerciantes-colegas a aderirem ao movimento. Fica aqui um texto que escrevi na altura. A APBC, na pessoa do presidente Armindo Gaspar, e a ACIC, por intermédio do presidente do sector comercial, Arménio Pratas, contactaram a autarquia a solicitarem a discriminação positiva para o não pagamento de estacionamento ao Sábado durante todo o dia –era pago até às 14 horas.
Através do vice-presidente da câmara, na altura o eng.º Rebelo, foi prometido que se deixaria cair o pagamento da manhã.
Em rigor, como as máquinas de moedas, controladoras de tempo de estacionamento, não estavam preparadas com software para alterações o que aconteceu é que muitos automobilistas, por desconhecimento, continuaram a pagar.
Ora acontece, para meu pesar, que os comerciantes não aderiram à medida. Se no primeiro Sábado abriram cerca de 100 estabelecimentos –num universo de 500-, nos seguintes, penúltimo dia da semana, foi decrescendo até ficarem os mesmos que já abriam anteriormente, cerca de três dezenas de lojas.Ora, mesmo na ambiguidade de pagar ou não pagar por falta de informação nas máquinas, por um lado –se os comerciantes não aderiram- entende-se o cair desta medida. Porém…
Há sempre um porém! A Baixa, se no ano passado estava em “cuidados continuados”, hoje, sem exagero, está em “morte clínica”. E isto não são meras palavras. São factos. Só não vê quem não quiser. Eu sei do que escrevo. Na maioria das vezes não conto tudo para não assustar e não ser acusado de catastrofista.
E então surge a pergunta: estará certo, num momento de extrema fragilidade económica a Câmara de Coimbra voltar atrás? Para mim, está profundamente errado. É evidente que se pensar no trabalho que tive –que andei a pedinchar de porta-em-porta para os colegas abrirem-, e se me deixar levar pelo revanchismo mesquinho, digo: bem feito! O problema é que o momento é demasiado grave para pensar em vinganças bacocas. Estamos todos no fio da navalha. E quando digo “todos”, não me refiro apenas aos comerciantes. A Baixa é constituída por pequenos elos de uma cadeia económica. À medida que se vão quebrando, tudo vai atrás.
E quem mais deveria pensar nisto deveria ser a autarquia. Sem querer dar lições a ninguém –quem sou eu para tal?-, mas um político eleito tem obrigação de ver mais longe do que apenas o que os nossos olhos conseguem alcançar.
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
EDITORIAL: PARA QUE SERVIU E SERVE A APBC? (4)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)
Em
jeito de contar histórias, seguindo a mesma linha de anteriores
apontamentos, vou continuar a escrever sobre a APBC, Agência para a
Promoção da Baixa de Coimbra.
Como
ressalva, saliento que não se trata de qualquer obstinação,
intenção obsessiva de perseguir seja quem for. A pretender alguma
coisa, no máximo será fazer pensar se valerá a pena continuar a
derreter milhares de euros de verbas públicas num projecto destinado
à revitalização comercial e que na última década, para além da
animação das ruas, não trouxe qualquer acrescento à Baixa. A
mostrar isso mesmo, basta olhar em redor e verificar que o sector,
num marasmo aflitivo, continuou e continua a empobrecer e as lojas mais antigas,
paulatinamente, têm encerrado umas atrás de outras.
Rebobinando
a cassete, estamos então em 2010. É interessante verificar, pelas
remissões para textos escritos nessa altura, que os problemas eram os
mesmos de hoje. Então, surge a pergunta: agora, passados sete anos,
estamos melhor, igual, ou pior?
A
Baixa, apresentava uma série de edifícios em ruína. A Polícia
Municipal (PM), pela sua não actuação, pelo deixa-correr, era alvo
de reparo pela Junta de Freguesia de São Bartolomeu. Outro novo
comandante da PM, Euclides Santos, foi empossado em Janeiro.
A
Câmara Municipal continuava a apertar os comerciantes até ao último suspiro. A Ourivesaria Costa foi esbulhada de todo o seu recheio, e
eu a perorar sobre a insustentável leveza de ser comerciante. A
minha tia Aida partiu para não mais voltar. Para onde caminhamos? Aflorava a questão.
Coimbra
era uma cidade de ilhotas -pelo menos sob o meu olhar. Hoje estará diferente? O Sol andava
nublado. O prédio decrépito do Largo da Freiria desafiava as leis
da gravidade. Adivinhem se alguma coisa se alterou nestes sete anos.
A Baixa morria perante os nossos olhos. No entanto, como a contrariar
um marasmo implantado numa zona decrépita e a dar início a uma
recuperação vertiginosa na zona das Escadas de Quebra Costas, abria
o Fangas, Mercearia & Bar.
Chamava
a atenção para os jardins suspensos, como quem diz, para o
esquecimento da nossa história recente. O lixo na Baixa era um
problema. O remoer da loucura na vida social foi e será sempre uma
eterna e pertinente questão. Decorria na urbe uma importante peça
teatral: a farsa de Dona Vitália. Era um ver e não ver. O que nos valia era a menina Francelina. Em todo o lado há
sempre uma mulher misteriosa.
O
Centro Histórico teve sempre presidentes de câmara que, fossem de
direita ou de esquerda, sempre castigaram o comércio com taxas do absurdo. Claro que, por vezes, são obrigados a recuar -mas, para
isso acontecer, terá de haver uma forte oposição dos lesados. Em
contraponto, a sorte grande, de vez em quando, sai em Coimbra.
Como
tolinho, em editorial, eu interrogava: o que querem “eles”
fazer da Baixa? É óbvio que ninguém respondia, e a miserável
discriminação continuava: os velhos lobos do comércio, sem dó nem
piedade, estavam condenados ao desaparecimento. Mesmo assim, nessa
altura de 2010, os portugueses eram muito caridosos. O que nunca muda
é a autarquia ao considerar os homens do comércio uma espécie de
burro espanhol.
Uma
infeliz certeza para a Baixa. O lojista era (e é) um cepo sujeito a
todas as pancadas. Mas havia sempre tolos de vaidade. Surgiam imagens
que não eram por acaso. Há dias, de dias, que deveriam acontecer
todos os dias. Como o dia da tremoceira, por exemplo. Há
sempre “Invictus” que nos marcam. Por outro lado, para
nossa desconsolação, com a nuvem a obliterar o nosso olhar, os
políticos, como é costume, fazem pouco dos “pequeninos”...
e também dos “maiorzinhos”.
Dizia
eu que, nessa época de 2010, a Baixa estava em morte clínica. Um
exagero, claro está!
O
que parecia estar em coma era o(a) nosso(a) Império. Mas havia
sempre umas ofertas para esquecer a crise e embalar o consumidor. Era
o começo das promoções em série “XXL”. Mas a Baixa, a
desgraçada, continuava a cair aos olhos de todos. Um ouvido
indiscreto apanhava sempre uma conversa aqui e ali. E podia até
voar-se sobre um ninho de cucos.
Como
já escrevi até à exaustão, o que sempre feriu mais quem trabalha
nesta área velha foram os critérios pouco equitativos da edilidade.
Foi sempre uma insensibilidade assustadora para esta amada terra de
ninguém. Os comerciantes da Baixa até tinham descontos na morte. Os
mendigos viam-se a dormir no patim de muitas entradas de prédios. E
até havia quem colocasse bicos contra a indolência. Os Outlet's
estavam a romper tentando contornar a crise da procura.
Algumas
lojas desapareciam na noite. O comércio independente era já uma
espécie em vias de extinção. Mas os velhos também morriam
sozinhos. Debater o futuro? Sei lá?! Reivindicar o quê? E fez-se um
jantar para falar da instabilidade económica que tocava todos.
Sabia-se o que se queria, o problema era chegar lá. O pessoal resistia, resistia. Até se apelava a Deus para buscar forças. Mas,
mesmo assim, a loja tradicional continuava a encerrar sem apelo nem
agravo. Era o óbvio de La Palisse.
A
direcção da ACIC, havia pouco tempo depois de empossada, realizava
uma conferência de imprensa para falar da instabilidade que assolava
o comércio. Mas a vetusta associação seguia o seu caminho. Há
sempre quem procure o seu menino. Havia também os loucos das vielas
manhosas. E interrogavam-se as estrelas.
A
Perfumaria Pétala, a setenta metros da 2.ª Esquadra da PSP, foi
assaltada. Para que serviam as câmaras de video-vigilância?
Interrogava eu. E até fui à Assembleia Municipal. Chamava-lhe
câmaras de ilusão. Até proclamava que precisava de uma câmara de
inteligência. Eu sabia lá o que era uma revolução? E houve um
desabamento anunciado. E quem era o proprietário? A autarquia, “off
course”.
O
“Aspirante” era o rei das ruas estreitas. A cidade se, por um
lado, continua boazinha com os diferentes, por outro, sempre foi
muito pudica. E quando se mija fora do penico lá vêm os puristas.
Mas há sempre os últimos fingidores. E também os perdidos. O tempo
também nos trocava as voltas. A Dona Altina, uma senhora muito
conhecida, desapareceu sem deixar rasto. A ACIC dava conversa para
boi dormir.
Às
vezes, perante a miséria alheia, era impossível conter as lágrimas.
A Polícia Municipal até multava ao amanhecer. No comércio era o
alho e o reviralho.
Na
política partidária, numa desilusão continuada que nos há-de
levar à tumba, nunca mais aparecia o Dom Sebastião. Nem na crónica
da semana passada. E escrevia sobre o Panteão Nacional, o nosso
esquecido, mesmo à frente dos nossos olhos.
As
fogueiras do Romal eram um espectáculo! Não há dúvida que só há
bons líderes quando estão na oposição. Quando vão para o poder desaparecem no éter.
A Avenida Central
continuava embruxada. E já caiu a maldição?
O
“forró” na Baixa persistia no descontrolo. O pão e circo
sempre alimentou a alma do povo.
E,
nesta crónica em que se remete para outras, conta-se a história dos
primeiros seis meses de 2010.
(ARTIGO
EM DESENVOLVIMENTO)
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