quinta-feira, 16 de novembro de 2017

EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





António Madeira, para além de ser um respeitado munícipe na Baixa, é, desde há muitos anos, o proprietário da Residencial Moeda, na Rua da Moeda, confinante com a Loja do Cidadão. Desde há uns tempos, na sua página do Facebook, tem vindo a plasmar a sua impotência para vencer o isolacionismo a que está votado e a lamentar o que se passa na zona envolvente paredes-meias com o seu estabelecimento, o conhecido “Bota-abaixo”, a área do Largo das Olarias.
Desta vez, na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial) postou o seguinte post:

OBRIGADO SR. PRESIDENTE DA CÂMARA POR MAIS ESTE COMENTÁRIO E PONTUAÇÃO DE MERDA ACABADINHO DE CHEGAR DE UM CASAL ESPANHOL.
Convido-o a vir visitar o meu estabelecimento e ver as excelentes condições com que recebemos os nossos clientes, para no fim termos uma pontuação miserável por sua causa. HONRE A SUA PALAVRA E FAÇA O QUE PROMETEU.
A noite no "Bota-abaixo" tem que mudar. ESTAMOS FARTOS.!
A sua página de comentários em Booking.com
Anónimo
La ubicación está en peatonal parte antigua cuando cierran negocio a las 19 ha se vuelve muy inseguro.”

Para se perceber melhor vamos aclarar algumas premissas simples referidas nesta crónica. Comecemos por explicar o que é o “Bota-abaixo” e o “Booking.com”.
OBota-abaixo” é a denominação de uma área de casario antigo que começou a ser demolida em meados de 1960 para construir uma avenida central que ligaria a Rua da Sofia à margem do Rio Mondego. Alegadamente por falta de dinheiro, a obra pública viria a ser interrompida e constituiria um enorme buraco até aos finais de 1990 -quando os terrenos foram vendidos em hasta pública pela Câmara Municipal de Coimbra à Bragaparques, uma firma de Braga, que ali construiu um grande estacionamento subterrâneo e vários prédios, entre eles a Loja do Cidadão. Depois disso continua inquinada com os interesseiros do Metro. Daí apelidar-se a zona de “Bota-abaixo”.
OBooking.com” é um site de reservas para hotéis e congéneres de dormidas a nível mundial. No fim de pernoitar no alojamento o cliente comenta e classifica a estrutura turística a seu modo. Está de ver que esta manifestação pessoal acaba por ser uma espécie de carta de recomendação para outros, quem, no mundo inteiro, estiver interessado no mesmo espaço e pretenda deslocar-se e alojar-se.
Ora, agora voltando ao protesto de António Madeira, o que escreveram os espanhóis, que estiveram alojados na Residencial Moeda, no “Booking.com”? Aproximadamente, tão só como isto:
A localização está edificada na parte antiga. Quando encerram os comércios às 19h00 se torna muito insegura.

Prosseguindo na análise desta mensagem escrita, vamos a perguntas:

-O turista lamentou os serviços prestados dentro do empreendimento hoteleiro? Não senhor, o espanhol queixou-se da zona envolvente.
-E as consequências para o empresário? Mesmo sendo por razões exteriores ao seu serviço, assume os prejuízos e paga pelo mesmo, ou não? Claro que sim!
Em balanço, ou seja, por um problema que cabe inteiramente às entidades públicas que gerem a segurança pública na cidade, este empresário pode acabar na falência. Está correcto o alheamento a que está a ser votado? Sabendo que na zona existem outros empreendimentos no género, é óbvio que todos se encontram no mesmo patamar de abandono e com um pé na insolvência, mas, pelos vistos, num cenário que todos conhecemos bem, ninguém protesta.

TODA A BAIXA É UM IMENSO “BOTA-ABAIXO”

O que se está a passar na zona enunciada é o mesmo que se apreende e constata em toda a Baixa. O que está em causa nem é uma efectiva segurança material mas antes, pela desertificação notória depois do encerramento do comércio às 19h00, uma sentida insegurança psicológica. Pelo facto de haver poucas pessoas a circular à noite, como é natural, a todo o passo, em ruas com pouco movimento e pouco iluminadas, damos de caras com indivíduos de aspecto maltrapilho e emoldurados com rosto pouco amistoso. Posso escrever à vontade porque moro e trabalho nesta zona, retirando um ou outro caso pontual, desde há meia dúzia de anos que não há notícias de criminalidade, violência, através de assaltos sobre pessoas.
Se bem que, sejamos justos, na área do Bota-abaixo, apesar de estar inserida na Baixa, há uma diferença para pior: os sem-abrigo e toxico-dependentes concentram-se em grupo. Depois do encerramento, executado há anos, de alguns becos com portões, estes últimos injectam-se à vista de toda a gente, causando algum horror ao transeunte menos familiarizado com estas questões de saúde pública. já escrevi várias crónicas a tentar trazer à discussão a criação de uma sala de chuto nesta área velha. A resposta, claro está, nunca veio. É preciso inventar novos conceitos.
Já muito se falou, já muito se escreveu sobre este assunto, sobretudo na recente campanha eleitoral, porém foi fumo que não deu fogo, aliás, pelo deixa-correr, nada a que todos não estejamos já habituados.

QUEM LEVA A SÉRIO A BAIXA?

É público que a Reforma Administrativa de 2013, que levou à agregação das juntas de freguesia em todo o país, foi um fiasco -"A maioria das Freguesias agregadas defende que a reforma administrativa não melhorou a gestão nestas autarquias", refere um estudo que leva a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) a defender a reposição das juntas extintas contra a sua vontade.”. Retirado daqui. E como é de prever a Baixa de Coimbra não constitui excepção. Passados quatro anos, desde essa altura, a zona histórica está entregue a si mesma, sem que alguém leve os seus problemas ao executivo ou, no mínimo, à Assembleia Municipal. Para piorar, quando deveriam permanecer na Baixa, transferiram-se os serviços da junta, agora agregada, para os Arcos do Jardim. Durante estes últimos quatro anos, exceptuando a campanha alegre, a contactarem munícipes, nunca se viu por aqui o presidente da Câmara Municipal, o presidente (agora substituído) da União de Freguesias de Coimbra. Também nunca se viu um deputado à Assembleia a saber dos problemas que afligem quem cá mora e trabalha.

MAS ATÉ A SEGURANÇA PÚBLICA?

Sabe-se que a segurança pública é da responsabilidade da PSP, mas o presidente da Câmara Municipal, enquanto chefe máximo da protecção civil, também aconselha e dá orientações sobre a garantia de bem-estar na cidade. E quando escrevo “segurança pública” refiro também a protecção psicológica que qualquer cidadão nacional ou estrangeiro tem direito. Escrevo isto porque, é dos livros, quando se fala de segurança pública lá vem o responsável máximo, mesmo que seja interino, pela instituição com um molho de números de estatística onde, a todo o custo, tenta mostrar que na Baixa não há criminalidade que justifique mais agentes de turno.
Não entro em sentimentos de ocasião, que um recente caso de espancamento à porta do Mc Donald's fez disparar a rebelião da oposição no executivo, em que à custa da desgraça alheia se tenta capitalizar juros políticos. O que escrevo, e não é só agora, é que a cidade, a Baixa, a Alta e outras zonas precisam de um policiamento diário, durante o dia e a noite, de proximidade. Na última década, digo eu, teria sido neste ramo de segurança pública a cargo do MAI, Ministério da Administração Interna, onde, para poupar, mais cortes teria havido e, em consequência, por um lado, terá gerado nas pessoas de bem um sentimento de medo, por outro, nos malfeitores, uma ideia de completa impunidade.
Uma coisa é certa, porque o texto já vai longo, é injusto, é ilegal, é inconstitucional que para poupar no erário público se sacrifiquem investidores que arriscam a sua vida no negócio. Estas pessoas, de que os políticos parecem ter tanto amor na altura da captura do voto, como o António Madeira, precisam da protecção institucional. Quem lhes vale?

3 comentários:

Antonio Madeira disse...

Obrigado Amigo Luis, por compreender a minha mensagem de revolta e a clarificá-la por forma a que todos saibam as injustiças porque passam os comerciantes desta zona.
Bem haja Amigo. abr.

LUIS FERNANDES disse...



Aguinalda Simões Graça Amaro deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”":


Boa noite, Sr. António Luís Fernandes Quintans. Mais uma vez obrigada por escrever para o povo. Li tudinho...
Eu estou na Rua da Sofia. Mesmo em frente ao Terreiro da Erva. É horrível, horrível. Há três semanas tive que ir à PSP. Não fui fazer qualquer queixa, apenas pedi para desabafar com alguém. Falei, falei... É muita toxicodependência à luz do dia, à frente de todos. Estamos no café e sentimo-nos intimidados. Eles vêem que a gente vê... É um entra e sai a toda a hora a trocar notas de 5... Digo que não tenho, tratam-me mal. Casa de banho: tenho que pôr um papel “avariado”. O meu filho passa no Terreiro da Erva todos os dias, pois anda na São Bartolomeu (na escola). O meu coração... Seringas pelo chão.
Saem completamente "mocados "do terreiro. É horrível! Sentados na travessa a fazer a droga ainda me vêm pedir prata e limão. Eu sou obrigada a passar por isto????
Foram os polícias simpáticos. Todos os dias tem passado um agente, e pára pelo café. Pedi por favor para o fazerem, para ver se os toxicodependentes se afastam.
Estas duas semanas tem sido mais calmo o movimento por lá. Tenho medo. Fica noite cedo. Para me sentir mais segura tenho fechado o café às 18h30. Quero sair e apanhar o autocarro com o meu filho enquanto há gente e portas abertas. Infelizmente é a única coisa que posso fazer.
Desculpe o desabafo mas realmente não é seguro. A baixa não é nossa ...Um bem-haja.

Jorge Neves disse...

A baixa e a baixinha de Coimbra acabou para tudo que seja comercio tradicional .
Jorge Neves