quinta-feira, 16 de novembro de 2017

EDITORIAL: QUANDO A NUVEM OBLITERA O NOSSO OLHAR

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)




Escrevi este texto em Março de 2010.
Passando a auto-citação, volto a publicá-lo
para mostrar que o comportamento do
executivo municipal PSD/CDS dessa altura,
perante os múltiplos problemas agonizantes
da Baixa, é igual ao de hoje, mesmo passando
para o PS.
Claro que, evidentemente, a filosofia dos
comerciantes, perante as dificuldades que
se abateram sobre o sector, também é a mesma.



A Polícia Municipal deixou aviso: o estacionamento aos sábados de manhã na Baixa de Coimbra vai voltar a ser pago”, em título de primeira página no Diário as Beiras de hoje.
Vamos começar pelo princípio, passando a redundância. Este perdão de pagamento no estacionamento ao Sábado surgiu há cerca de um ano, quando um grupo de comerciantes (em que eu estava incluído) tentou por todos os meios e com o apoio da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, e da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, que todas as lojas do Centro Histórico, perante a crise de vendas que continuamente se sente, estivessem abertas aos Sábados durante todo o dia.
Com o grande envolvimento das duas associações e de alguns comerciantes não associados, pela primeira vez, deram as mãos para tentar suprirem o “
calcanhar de Aquiles” do comércio tradicional. Ou seja, quando se pugna por novas medidas de apoio, naturalmente, pensa o consumidor:


Então vocês querem ser apoiados e não trabalham um minuto depois das 19 horas e, sobretudo ao Sábado, quando o consumidor está a descansar e tem tempo para passear e poder comprar, é nessa altura, incompreensivelmente, que vocês estão encerrados?

Claro que este pensamento não é tão linear assim, tem argumentos, mas, por entender agora despiciendos, não vou rebatê-los.

Continuando, então, num esforço louco, os três comerciantes proponentes da medida e as duas associações fizeram tudo para convencer os comerciantes-colegas a aderirem ao movimento. Fica aqui um texto que escrevi na altura. A APBC, na pessoa do presidente Armindo Gaspar, e a ACIC, por intermédio do presidente do sector comercial, Arménio Pratas, contactaram a autarquia a solicitarem a discriminação positiva para o não pagamento de estacionamento ao Sábado durante todo o dia –era pago até às 14 horas.
Através do vice-presidente da câmara, na altura o eng.º Rebelo, foi prometido que se deixaria cair o pagamento da manhã.
Em rigor, como as máquinas de moedas, controladoras de tempo de estacionamento, não estavam preparadas com
software para alterações o que aconteceu é que muitos automobilistas, por desconhecimento, continuaram a pagar.
Ora acontece, para meu pesar, que os comerciantes não aderiram à medida. Se no primeiro Sábado abriram cerca de 100 estabelecimentos –num universo de 500-, nos seguintes, penúltimo dia da semana, foi decrescendo até ficarem os mesmos que já abriam anteriormente, cerca de três dezenas de lojas.
Ora, mesmo na ambiguidade de pagar ou não pagar por falta de informação nas máquinas, por um lado –se os comerciantes não aderiram- entende-se o cair desta medida. Porém…
Há sempre um porém! A Baixa, se no ano passado estava em “
cuidados continuados”, hoje, sem exagero, está em “morte clínica”. E isto não são meras palavras. São factos. Só não vê quem não quiser. Eu sei do que escrevo. Na maioria das vezes não conto tudo para não assustar e não ser acusado de catastrofista.
E então surge a pergunta: estará certo, num momento de extrema fragilidade económica a Câmara de Coimbra voltar atrás? Para mim, está profundamente errado. É evidente que se pensar no trabalho que tive –que andei a pedinchar de porta-em-porta para os colegas abrirem-, e se me deixar levar pelo revanchismo mesquinho, digo: bem feito! O problema é que o momento é demasiado grave para pensar em vinganças bacocas. Estamos todos no fio da navalha. E quando digo “todos”, não me refiro apenas aos comerciantes. A Baixa é constituída por pequenos elos de uma cadeia económica. À medida que se vão quebrando, tudo vai atrás.
E quem mais deveria pensar nisto deveria ser a autarquia. Sem querer dar lições a ninguém –quem sou eu para tal?-, mas um político eleito tem obrigação de ver mais longe do que apenas o que os nossos olhos conseguem alcançar. 

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