quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

RESPEITEMOS O SILÊNCIO DE QUEM PRECISA DELE PARA DESCANSAR







Hoje é o 1º de Dezembro, feriado nacional, Dia da Restauração da Independência -citando a Wikipédia,”é a designação dada ao golpe de estado revolucionário ocorrido a 1 de dezembro de 1640, chefiado por um grupo designado de Os Quarenta Conjurados e que se alastrou por todo o Reino, pela revolta dos portugueses contra a tentativa da anulação da independência do Reino de Portugal pela governação da Dinastia filipina castelhana.
Apesar de, para muitos, ser um dia de paragem no trabalho, pelo costume, que já vem de longe, o comércio, na sua maioria, está de portas abertas. Respira-se uma aragem ligeira de quadra natalícia. Junto aos estabelecimentos, vêem-se alguns vasos com arbustos verdes e passadeiras de cor “atejolada”. Com algumas montras vivas -com manequins de carne e osso-, decorrem também quadros cénicos, em teatro de rua, com performers a retratarem cenas do quotidiano. Os transeuntes páram pelas vozes, umas vezes monólogo outras diálogo, vindas dos actores.
Embora ainda não estejam a funcionar, as ornamentações estão praticamente prontas para receberem a luz e cor que esta zona comercial tanto precisa. Este ano, contrariando ligeiramente o anterior, os enfeites de Natal apenas foram colocados nas ruas largas, da Sofia, Visconde da Luz e Ferreira Borges. O Largo da Portagem, como é hábito e enquanto porta de entrada na cidade, mantém o seu normal brilho acrescentado em outros anos e nesta época do nascimento do menino. Pelos restantes largos e praças apenas alguns, como é o caso do Largo da Freiria, mereceram um arco digno desse nome. As ruas estreitas não tiveram sorte na escolha de serem beneficiadas ao menos com um arquinho nas entradas, como era assim noutros anos já pisados pelo tempo. Por aqui, pela baixinha, como é assim conhecida a área respeitante aos becos e ruelas mais pequeninas, os comerciantes, em surdina, mandam farpas à autarquia por, aparentemente, terem sido discriminados de uma forma aviltante, afirmam à boca cheia. De pouco se remedeia dizer que até 2001 as iluminações públicas estiveram sempre a cargo dos donos das lojas, com custos à sua responsabilidade. Ou seja, a edilidade assumia a verba respeitante ao consumo de energia eléctrica e os negociantes, a seu modo, a seu jeito e conforme a sua vontade, contratavam uma firma para embelezar a sua rua. O clima político mudou de rosa para laranja, como quem diz, do Partido Socialista para o PSD, com Carlos Encarnação a chamar a si a cadeira até aí ocupada por Manuel Machado, actual presidente da Câmara Municipal. A partir daí, seguindo a regulação do dar devagar e cada vez menos a que estamos todos acostumados, no primeiro ano muitas ruas tiveram animação e ornamentação e festa de arromba. Depois, sempre a diminuir, sempre a minguar, durante os quinze anos que já passaram, chegámos ao que temos agora. Por outras palavras, num eterno retorno, será de supor que continuaremos a encolher até nada haver para contar e, novamente, voltarão a ser os comerciantes a entrar com a massa e, se querem festa, a suar na testa.
Depois de terem sido instaladas colunas de som em muitas artérias da Baixa -o que se saúda a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, pela iniciativa-, hoje, logo ao romper da aurora comercial, entre as 8 e as 9h00, a zona foi invadida com música natalícia num volume, diga-se, moderado. Este som musical traz consigo uma redobrada atmosfera do Natal. Quanto a mim, é positivo e vem dar alegria a tanta gente, a todos nós que cá residimos ou trabalhamos, que, presumivelmente, carrega no rosto uma solidão e uma tristeza palpável a olho nu.
Há um pormenor que é preciso regular: nos feriados de Dezembro e Domingos a música emanada das colunas públicas, espalhadas pelas paredes e junto às janelas de particulares, deve começar depois das 10h00. Vou explicar melhor esta pretensão:
Pensando que eu risco alguma coisa cá no burgo, hoje, vários moradores de alguma idade vieram apelar para ver se eu poderia fazer alguma coisa. Como é óbvio, canalizei-os para quem, de facto, manda nestas questões decisórias e prometi escrever e elevar os seus queixumes.
Fazendo eco de uma senhora, uma do grupo, “como o senhor Luís sabe, nesta zona moram muitas pessoas idosas como eu, que já tenho mais de setenta anos. Acontece que, durante os dias úteis da semana, por ser uma área densamente comercial, logo às 8h00 começamos a ouvir barulho e já não conseguimos dormir mais nada. É o homem da fruta que arrasta os caixotes; é o café do lado que liga o moinho e tira uma bica; é o camião que vai abastecer o talho e fica a trabalhar junto à nossa janela; são dois transeuntes que se cruzam e, parando, ficam a falar alto da sua vida. Claro que, durante a semana até compreendo. Afinal até trabalhei décadas numa loja. É claro que entendo e suporto. Por conseguinte, restam o Domingo, os feriados e os dias santos para poder ficar na cama até mais tarde. Você percebe o que eu digo? Estou a ser clara, senhor Luís?

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