terça-feira, 15 de abril de 2014

CARA FACILIDADE

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



“Em 2003, vendi um automóvel usado a um amigo que tinha em total estima e consideração. Até frequentava a casa dos meus pais e tudo! No acto da transmissão, para lhe facilitar as coisas, não coloquei a data da venda. Para começar, nunca me chegou a pagar a totalidade. Entregou-me menos de metade do acordado. O tempo foi passando e coloquei a verba em dívida nos incobráveis e, para não me aborrecer deveras, não mais pensei no assunto. Até que no ano passado um meu familiar que me trata da declaração de IRS me alertou que eu tinha uma dívida inscrita no Portal das Finanças relativa ao imposto de circulação do carro que já foi meu. Não recebi e ainda tenho de responder em obrigação tributária. Contactei o meu ex-amigo e ex-devedor –porque a sua dívida perante mim já prescreveu. Começou por me aldrabar dizendo que já tinha feito o abate do veículo numa determinada sucateira. Desloquei-me à sede desta empresa e era mentira, o carro continua a circular por aí. Cometi um erro, um erro de palmatória! Está a custar-me muito caro e, em cima de tantas despesas, está a levar-me ao desespero.
Sou funcionário da CMC, Câmara Municipal de Coimbra. Esta semana recebi uma comunicação dos Recursos Humanos emanada da Autoridade Tributária a penhorar-me parte do salário e para ressarcimento, entre coimas e o imposto em falta, no valor de mais de 500 euros. Fiquei em choque. Bolas, depois dos cortes sucessivos no meu ordenado já pouco me resta para pagar o empréstimo da casa que adquiri há poucos anos. A minha mulher está grávida e a trabalhar a cerca de uma centena de quilómetros de Coimbra, em uma cidade do interior. Bem sei que facilitei mas já viu isto? Estou completamente desorientado. Que futuro vou dar ao meu filho que está para chegar? Não tenho dinheiro para o meu dia-a-dia, e acontece-me mais isto? Ainda agora tive de ir a correr às Finanças e pagar 61,42, que estava em vias de prescrição. Acredita que tive de ir ao banco pedir que me avançassem esta importância e para descontar no meu salário do fim do mês? Bolas, amores e dissabores todos temos nesta vida! Mas isto é demais! Sinto-me muito desmoralizado! Sinto-me um náufrago na imensidão do oceano!”

ORDENADOS PENHORADOS NA CMC É MATO

Segundo fontes que me deram o alerta, há uma percentagem elevadíssima de funcionários com a corda ao pescoço e agora confirmadas por este meu depoente. Segundo esta minha testemunha que pediu o anonimato, “é verdade que há imensos casos de penhoras de vencimento na autarquia. Alguns deles com depressões associadas e com possíveis tragédias anunciadas. Pelo sentimento de impotência, é um dó falar com estas pessoas. Para além de chorarmos com elas, o que poderemos fazer?”
Talvez fosse boa ideia o executivo municipal debruçar-se sobre o que se está a passar na sua própria casa, digo eu, não sei!

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