domingo, 6 de março de 2022

HÁ OU NÃO HÁ ESPAÇOS INTOCÁVEIS PARA A TROÇA?

 

(imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Estão aí, na SIC, dois programas que nos fazem pensar até onde pode ir a troça (achincalhar, brincar, caçoar, galhofar, gracejar, escarnecer, mangar). Um deles, “Gozar com quem trabalha”, com Ricardo Araújo Pereira, que conquistou as audiências no último ano, e outro que estreou ontem, “Tabu”, de Bruno Nogueira.

Depois de uma temporada a gozar com a política e os políticos, Ricardo Araújo Pereira enveredou já na semana passada pelo chalacear da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Ontem, Bruno Nogueira estreou um programa em que, declaradamente e de acordo com quatro convidados, gozava com os deficientes em geral.

Começo com uma ressalva: estou dividido. Não tenho uma opinião formada e bem delineada sobre os conteúdos, no objecto, destes dois programas.

Até agora, tenho para mim, ou pelo menos costumo pensar que a comédia não tem limites. Podemos brincar com tudo e mais alguma coisa. Por vezes é uma forma de pôr a nu as nossas fragilidades humanas, desmistificando o blindado das caixas de aço societárias, desfazer os tabus, discutir aquilo que aparentemente é indiscutível.

No fundo, penso tratar-se de mais um exercício de um direito fundamental, o da livre-expressão e pensamento. Por outro lado, como examinador de qualidade, deve ser o mercado livre de opinião pública a ajuizar da sua continuidade ou a serem banidos do ecrã.

Mas, talvez pela sensibilidade da vetusta idade, dou por mim numa dúvida existencial a pensar que não será bem assim. Que a comédia, como se tivesse um livre-trânsito, não pode e não deve entrar em todos os campos, no comportamento, na idiossincrasia do Homem na sociedade, sobretudo bárbaro em que a vida humana é um mero número entre contendores e a morte é a semente presente. Assim como em implicativo de diferenças psico-somáticas ou genéticas.

O que pensa o leitor acerca deste assunto?

A comédia deve ter um passaporte internacional e gozar com todos os problemas da Humanidade? Ou, pelo contrário, há mesmo assuntos tabus, que remexendo neles vai ampliar os fantasmas de quem sofre?



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