Este
blogue foi criado em 2007. Com quase uma dezena de anos, e a raiar o
milhão de leitores, é feito na completa carolice do editor, que,
por acaso sou eu. É um sítio da Internet sem grandes ambições.
Não se fazem grandes coisas para a sua promoção. Actualmente, em
média semanal, tem 500 visitas diárias. Sem escala hierárquica,
nasceu pela minha intrínseca necessidade de escrever; pela
necessidade de intervir na zona onde estou inserido; pela necessidade
de contar histórias do homem comum; pela necessidade de relatar os
acontecimentos a frio, na subjectividade, sem ter de agradar a
alguém; pela necessidade de falar de assuntos comezinhos que
normalmente passam ao lado da imprensa local; pela necessidade de
usar a escrita como catarse, como desabafo, para acalmar os demónios
que me consomem o interior. Tenho necessidade de explanar o meu
pensamento. Também não ficará mal dizer que, provavelmente, também
pela necessidade de protagonismo. Como se vê, demasiadas
necessidades para um homem só e para deixar de continuar a escrever,
apesar de cada vez mais desmotivado.
Talvez também por achar
que a nossa imprensa escrita local -devido à conjuntura económica e
revolução no sector- está cada vez mais afastada e enviesada.
Prejudicando o leitor diário, escreve cada vez mais para agradar a
um certo poder instalado. O futuro deste calcorrear caminho em
pezinhos de lã, perdendo o seu legítimo direito/obrigação
de intervir na sociedade, denunciando arbitrariedades, não pode
trazer grandes benesses para o fosso da desigualdade crescente.
Desde
os primeiros tempos, o blogue teve sempre três géneros distintos de
leitores. Um, é aquele que se move por saber notícias
descomprometidas da Baixa. Tenho visitantes no mundo inteiro, na
diáspora, desde a China à Austrália. Outro, constituído pelas
instituições, é aquele que lê somente por obrigação, no fundo,
para estar a par de assuntos que, na sua resolução, são da sua
competência. Outro ainda, é o constituído por um grupo de
comerciantes, colegas, que detestam a minha forma de estar na
Baixa. Se eles pudessem, há muito tempo que este blogue estava
arrumado. Este grupo tem uma ideia formatada de que, por exemplo, ao
noticiar sobretudo os assaltos estou a “destruir” a Baixa. Desde
os primórdios do blogue que sou acusado de promover a
desclassificação da Zona Histórica. Entendem que ao publicitar
assuntos pouco agradáveis estou a espalhar ao mundo que esta área é
insegura. Reconheço que das várias premissas extraídas aquela é
uma delas. Mas como é que se faz a triagem? Quem como eu escreve
sabe que estamos obrigados a relatar o bom e o mau. E porquê? Porque
o que é mau para uns poderá ser bom para outros. Quem escreve com
honestidade, sem interesse partidário, está somente sujeito à
verdade e ao leitor, que é o primus da existência do
escritor.
O
tempo veio sempre a dar-me razão. Quando estes comerciantes são
assaltados são os primeiros a gritar “Ó DA GUARDA”!
Aconteceu assim em 2008/2009/2010, quando uma vaga de assaltos varreu a
Baixa e esteve na origem da implantação das câmaras de
video-vigilância -que foram uma espécie de barriga de aluguer para
suster a criminalidade que assolava esta parte da cidade. Depois de
milhares de euros aplicados, nunca funcionaram em pleno e em direcção
ao objecto que se propunham. Tanto quanto tive conhecimento, apenas
uma vez deram origem à prevenção e os assaltantes foram presos no
local por acção das imagens visionadas. Num procedimento egoísta
estes lojistas, sem levar em conta a situação económica do lesado,
procuram abafar o incidente, o grito individual para não prejudicar
o colectivo.
Por
outro lado, a contribuir para a ignorância dos factos, muitos dos
ofendidos, para evitar passos inúteis que conduzem normalmente ao
arquivamento, não comunicam as ocorrências à PSP e, como é óbvio,
o que não é transmitido por queixa escrita, logo, não existe. Ou
seja, as polícias trabalham com estatística e, pelos chefes, o
maior gozo que lhes podem dar é mostrarem os baixos valores
casuísticos numa colectividade urbana, numa mistura de facto
político e princípio da segurança -para não levar ao alarme
social e à imitação da criminalística.
Diz-me a experiência, a
questão é que se ocultarmos os episódios de violência contra o
património a PSP não age. Repito, isto mesmo aconteceu no período
citado de 2008/2009. Volto a lembrar que, na altura, a violência
urbana foi sustida e as coisas acalmaram pelo clamor gerado e também
porque se “obrigou" as autoridades a agir em conformidade. O “gangue”
acabou preso pela PSP -e com isto não se pense que estou a
desvalorizar o trabalho árduo deste corpo de polícia pública.
Isto
tudo para, por um lado, para explicar a razão de eu, quase como
missão, dar nota de todas as ocorrências criminais e outras que se
passam na Baixa -pelo menos as que tenho conhecimento. Por outro para
dizer que depois de um certo período de acalmia -isto é cíclico,
como se sabe-, progressivamente, sem querer ser alarmista, estão a
acontecer demasiados assaltos na Baixa nos últimos tempos.
Naturalmente
não tenho dados que me permitam consubstanciar a minha análise,
mas, lendo os jornais diários em que se noticiam várias apreensões
de droga nesta área da cidade dá para ver que a toxicodependência
está a aumentar por aqui. Há dias, quando conversava com uma amiga
ligada a instituições de apoio à toxico-dependência sobre o
aglomerado de viciados concentrados e a injectarem-se à vista de
todos junto à Loja do Cidadão, dizia-me ela: “sabe, tem havido
uma preocupação enorme em encerrar becos junto à Rua Direita para
impedir o acesso dos dependentes de drogas. E com as obras do
Terreiro da Erva a mesma coisa. O resultado é que não havendo
espaços mais recatados eles são obrigados a vir para a frente dos
olhos de todos. E lembre-se, se mandarem embora as instituições de
apoio a estes párias -como parece ser intenção do presidente da
Câmara Municipal, Manuel Machado, vocês, comerciantes, preparem-se
para o pior. É uma falácia pensar que transferindo os serviços
para outra zona da cidade os toxicodependentes vão atrás.”
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