terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

MEALHADA: A SENHORA DONA ESTAÇÃO

  





Ao longo das minhas mais de seis décadas de vida, apesar de ter passado ao seu lado tantas e tantas vezes, nunca me senti com curiosidade para a conhecer. É certo que, como se fosse uma bela mulher, nunca deixei de apreciar as suas linhas insinuantes e modernas pelo canto do olho. Porque já sou entradote, quem sabe por preconceito, por saber que ela conta mais anos do que eu, nunca me deu para a visitar.

Não sei bem explicar mas, se calhar, só se mete com ela quem precisa. Como nos museus públicos, entre nós e ela, acaba por ser muito mais visitada e estimada pelos que vêm de fora do que os nativos. Para quem cá mora, é apenas uma coisa icónica, algo que se utiliza pela necessidade, agora mais esquecida que outrora, por que já foi simbolo de grande desenvolvimento social, comercial e industrial.

Por ser uma relação egoísta, como nunca precisei dos seus serviços, nunca tinha entrado (nem saído) na Estação Ferroviária de Mealhada.

Aconteceu ontem, por acaso, por acidente, para ser mais preciso. Acompanhado da minha mulher, tive que colocar o automóvel numa oficina próxima onde a manutenção durou toda a manhã. Como estava um lindo dia de Sol, depois de darmos um passeio pela cidade a “queimar” tempo, inevitavelmente, surgiu o cansaço. Onde nos podemos sentar? Começámos por nos perguntar. Com os bancos dos jardins públicos com fitas intermitentes entre branco e vermelho a impedir a acomodação – o que, como tantas outras medidas para nos protegerem da pandemia, me parece um verdadeiro disparate -, em teoria não há grandes hipóteses para nos sentarmos. Foi então que me lembrei da Estação.

Com a calma necessária para avaliar tudo em redor, Propus-me varrer o que os meus olhos alcançassem. Com linhas modernas e com a cobertura em ferro a remeter-me o pensamento, em analogia, para a Gare do Oriente, do arquitecto Calatrava, em Lisboa, a Estação de Caminhos-de-ferro de Mealhada é um encanto para o meu olhar pesquisador. Muito limpa em toda a superfície circundante relativa ao piso das linhas de comboios é mesmo muito simples e agradável. Com equipamentos em bom estado de conservação no exterior e as casas-de-banho mais ou menos asseadas, limpas e com papel, comparando com outras que conheço, tomei-a num caso raro.

O tráfego de composições sem paragem é impressionante. Provavelmente poucos imaginam o movimento de composições que se cruzam a todo o momento.

Não fossem as escadas para a passagem inferior, que por baixo dos carris faz a ligação entre as duas margens, e todo o túnel estarem muito sujas e com lixo solto, e far-me-ia pensar estar numa gare em Paris.

Para terminar, só não entendo a razão dos Táxis permanecerem em frente ao edifício do município quando, a meu ver, deveriam ter uma praça no átrio da estância. Faz sentido? Se calhar faz, mas não estou a ver...


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