quarta-feira, 10 de julho de 2019

EDITORIAL: “A CIDADE ENQUANTO LABORATÓRIO DE DEMOCRACIA”

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Segundo a Wikipédia, “A hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não as possui. A palavra deriva do latim hypocrisis e do grego hupokrisis ambos significando a representação de um ator, atuação, fingimento (no sentido artístico). Essa palavra passou mais tarde a designar moralmente pessoas que representam, que fingem comportamentos.”
O país e o mundo ao longo da história antiga e contemporânea estão cheios de exemplos. Só para exemplificar um caso recente, basta relembrar o artigo de opinião de M. Fátima Bonifácio, com o título “Podemos? Não, não podemos”, publicado no último Sábado, no jornal PÚBLICO – para quem não leu, tratava-se de uma análise da historiadora, e colunista, ao pressuposto do tema “PS quer discriminação positiva para as minorias étnico-raciais”. O que perorava Fátima Bonifácio? Tão só uma opinião, que, concordemos ou não, é a dela, e, pelos direitos civis e constitucionais, que a assistem, temos de (deveríamos) respeitar. Em nome do pluralismo de opinião, cujo resultado final resulta do debate entre prós e contras, todos deveríamos pugnar pela liberdade de manifestação individual.
Ora, numa intolerância a todos os níveis, estamos a verificar uma catadupa de asneiras que ainda vai acabar mal. Seja em nome do “politicamente correcto”, ou talvez porque a maioria, olhando para este caso como se não lhe dissesse respeito, a verdade é que os alegados membros da defesa das minorias partem a loiça toda e, numa intransigência inqualificável, ostracizam e prometem acções judiciais contra a escritora. Está na moda sobrevalorizar os minoritários e desvalorizar os que, pensando pela sua cabeça, discordam de teses estúpidas e formatadas. Numa espécie de reviralho legalista, tendo em conta que o respeito se conquista, tenta-se impor pela força coercitiva o reconhecimento através da lei.
Para piorar, e podermos conjecturar que as liberdades de opinião e de livre-expressão estão ameaçadas por estes perigosos polícias censores, no dia a seguir, ou seja, no Domingo, o director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, em editorial, espetando uma faca na barriga publicamente – em metáfora, é claro -, veio pedir desculpa aos leitores por ter permitido a publicação da historiadora no jornal em que é (um mau) director. Uma tristeza que faz doer -pelo menos a mim, que sou leitor diário do matutino.
E agora, largando atentados à dignidade que nos deveriam envergonhar a todos, vou prosseguir no caso que me levou a escrever, e que também se insere na coluna da hipocrisia social que nos domina e, pela não intervenção cobarde da maioria que prefere não se manifestar, que há-de acabar por institucionalizar uma ortodoxa doutrina dominante.
Também no jornal Público de ontem, na edição em papel, na página 14, sob o título “A cidade enquanto laboratório de democracia”, em texto de opinião, insignes subscritores advogavam a defesa da revitalização da democracia, e que “urge aproximar os cidadãos da tomada de decisões e credibilizar o sistema político”.
Acontece que um dos signatários do manifesto é o conimbricense José António Bandeirinha. Sendo figura de proa na cidade dos estudantes, é professor catedrático e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Para além das suas funções de Pró-Reitor para a Cultura da Universidade de Coimbra e outros cargos de relevo que tem ocupado, Bandeirinha, em 2013, foi também deputado municipal, em representação do movimento Cidadãos por Coimbra. Em 2008, foi ainda membro activo do movimento nascido em Coimbra Pelo direito à cultura e pelo dever de cultura!”, postado num blogue na Internet, em que se pedia a assinatura online, apelidado de “Amigos da Cultura. É preciso esclarecer que este tempo foi entre 2001 e 2013, ou seja, no período do governo local, PSD/CDS/PPM, conotado com a direita.
Acerca da possibilidade de intervenção política dos munícipes na Câmara Municipal de Coimbra, Executivo e Assembleia Municipal, qualquer citadino minimamente informado sabe o que se passa actualmente nos dois fóruns da cidade. E, diga-se sem pejo, com a descarada conivência da imprensa local.
Então deixo umas interrogações ao professor Bandeirinha: estando farto de saber o que se passa na cidade, por que razão ainda não ouvi uma frase sua a denunciar esta violação do direito individual e colectivo dos cidadãos? Será por a cadeira do poder municipal estar a ser ocupada pela esquerda?
Não acha ridículo vir, através dos jornais, apelar aos portugueses que se movimentem no sentido de ouvir a sua voz individual e agrupada quando na sua própria terra o governo local, com subterfúgios, impede a participação política e faz pouco de todos?
Confesso que me apetece mandar-lhe um manguito, na forma de cruzar os braços `do “Zé Povinho”, na figura estilizada de Bordallo Pinheiro. Mas não. Como o conheço há muitos anos e tenho algum respeito por si, fico-me só pelo pensamento.

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