sábado, 3 de abril de 2021

FELIZ DIA DE PÁSCOA

Tendo em conta o momento extremamente complicado que o país, e o mundo, está atravessar devido à pandemia e consequente confinamento que, para uns mais e outros menos, afecta os rendimentos de todos, gostaria de deixar uma palavra de esperança a todos quantos fazem o favor de me ler. Não porque esteja melhor do que a maioria, ou que, pelo discurso a cair em homilia, tenha vocação para presbítero, mas, neste momento de grande aflição económica, que todos estamos a viver, acredito com convicção que, embora leve tempo, longo e maturado, iremos, com toda a certeza, atravessar este mar revolto de incertezas quanto ao futuro. A fé, mesmo sem se praticar uma religião, neste momento grave que estamos a sentir, é, tem de ser, o farol, a luz que brilha ao longe e nos alenta a seguir até ela. Já escrevi muito sobre este assunto. Já escrevi muitas histórias do tempo dos nossos pais. Eles viveram muito pior do que nós, sobretudo no período da Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945, e nas décadas seguintes. Passaram muitas privações, com o racionamento de alimentos e a fome a bater à porta do quotidiano. Esses sim eram realmente tempos miseráveis que, apesar da dureza, não têm qualquer comparação com os dias que correm. E se eles ultrapassaram essa fase desgraçada, onde a carência alimentar imperava, nós, com toda a certeza absoluta, passaremos também estas nuvens negras de pessimismo. Todos sabemos que o que custa mais é subir, atingir o cume do desenvolvimento, no máximo bem-estar, e depois, paulatinamente, sem conseguirmos evitar, começarmos a descer para pior. Descer, vendo desaparecer tudo aquilo que conquistámos ao longo de uma vida de trabalho, este é a verdadeira tragédia individual. Por muito que se combata esta máxima, inseridos numa sociedade materialista, nós somos o que temos. Por que, em boa verdade, não chegando a um estádio de abastança e felicidade inerente, desconhecendo-os, não é difícil aceitar o que de mal vem a seguir. A dificuldade passa a ser o sal da vida. O problema é termos vivido esse tempo áureo, termos apostado numa vida melhor, porque nos sacrificámos muito para a alcançar. Esta minha geração de 1950/60, não é para me gabar, mas foi uma criação fantástica. Sem apoio financeiro de ninguém, partimos para a luta, acreditando que éramos capazes de fazer melhor que os nossos pais e, trabalhando dia e noite, muitas vezes sem sequer dormir, conseguimos fazer mais do que os nossos primogénitos. Esta minha geração, a meu ver optimista – exactamente o contrário dos seus geradores, que, talvez pela circunstância, era abatida e conformada -, quase a cair no utópico, buscando o seu sucesso particular, por arrastamento, fez imenso pelas inovação e desenvolvimento social. É lógico – e falo por mim -, tentámos a ventura e, com muito esforço transpirado, quase sempre em recompensa, a sorte sorriu. Houve vários factores que influenciaram. Hoje, como as coisas estão, não seria possível arriscar da mesma forma como o fizemos. Mas, estou em crer, embora com algum património adquirido e fruto de muita poupança, mesmo descapitalizados, se formos apoiados financeiramente, apesar da idade avançada, pudemos ainda fazer muito pelo futuro da Nação. Precisamos apenas de crédito para concretizar os imensos planos que continuam, como sempre, a bailar na nossa mente. Somos uma estirpe sonhadora. Talvez por esta facilidade de imaginar o impossível concretizámos e somos uma lição. Partimos sem nada, sem rede, sem ninguém a apoiar as nossas costas, apenas acreditando que éramos mesmo capazes, obtemos a vitória. Esgravatando, subindo a corda a pulso, pondo as mãos na merda, fazendo “trinta por uma linha”, nem sempre da melhor maneira ética e moral, na maioria dos casos, saímos vencedores. Somos uma geração que a caminhar em frente, sempre a trabalhar, sem ajudas, desenvolveu as suas próprias vocações. Educou-se a si mesmo. Aprendeu música sem nunca frequentar um conservatório. Aprendemos a escrever sem nunca ter frequentado uma faculdade de Letras. Transformámo-nos em políticos sem nunca militar em partidos. Aprendemos a ver o Sol para além da bruma. Sabemos quantos grãos de milho tem um alqueire. Fomos obrigados a treinar para conter as lágrimas perante o infortúnio – hoje, de certo modo a balouçar entre a presunção e o arrependimento, talvez demasiadamente críticos com o passado, os com mais de sessenta anos de idade, choramos com a maior das facilidades. Somos um bocado convencidos? Vaidosos até? Se calhar! Mais para sim do que para não. Mas isso é fruto do nosso orgulho em termos passado por cima do fogo e, mesmo queimando-nos, conseguimos dar uma vida aos nossos filhos mais digna, muito melhor do que aquela que tivemos. E mais: de certeza muito superior à que os nossos filhos conseguirão dar aos nossos netos. Tenhamos confiança de que se ultrapassará o vendaval que estamos a viver. É possível que tenhamos de abrir mão de um património que tanto custou a amealhar? Quase de certeza! Mas quem nada tem para vender estará muito pior. Tenhamos esperança no dia de amanhã. Muita saúde, muita paciência, muita paz. Feliz Páscoa para todos.

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