Hoje, à hora do almoço e durante todo o dia,
no meio da rua Visconde da Luz um balcão da instituição Renascer batia-nos de frente como se, para além
de ser um aborto intrusivo na paisagem, nos agredisse pessoalmente. Vamos lá
ver se consigo ser claro, não estou contra que se façam peditórios nas ruas. O
que quero dizer é que deve ser feito com algum cuidado e de modo a não termos
que desviar o passo para não sermos incomodados, quando assim é, e diariamente,
estamos a ser violentados na nossa intimidade e liberdade de circulação –repare-se
que, por exemplo, a mendicidade é permitida –pode vir a ser restringida,
veja-se o caso actual da Noruega- porque assenta na voluntariedade de quem dá e
não é sujeita a coacção física, ainda que a sua bondade seja discutível do
ponto de vista psicológico.
Mas acabei
por me dispersar por outras paragens e fronteiras. O que me levou a escrever
esta crónica foi o facto de pensar que nos últimos anos o espaço urbano,
sobretudo o da Baixa, é ocupado sem critério –contrariamente ao que muitas
vezes se pensa, não pertence à autarquia. Esta é apenas a entidade gestora, que
licencia, e que nos representa. O espaço é público, de todos nós. Exemplos há
tantos! Basta ver esta linda Praça 8 de Maio, terreiro em frente ao Panteão
Nacional, onde se encontram sepultados os nossos primeiros Reis, ser
conspurcada amiúde com todo o género de estruturas ainda que movíveis. São
feiras de tudo e mais alguma coisa. No largo da Portagem a mesma coisa –são painéis
e outros que não refiro. As ruas e praças do centro histórico, agora consignado
pela Unesco como Património da Humanidade, salvo excepções muito bem fundamentadas,
deveria servir apenas como palco de actividades performativas e lúdicas, como
os músicos de rua e outros desempenhos cénicos. Não podemos querer uma Baixa
bonita quando a Câmara Municipal, com o argumento de atrair pessoas, autoriza
todo o género e mais algum de objectos e entretenimento. Talvez valha a pena pensar
nisto.
TEXTOS RELACIONADOS
(Clique em cima de cada um)
"Brincar com a mendicidade em jeito de alertar"
"Baixa: a crise também afecta os pedintes"
"Não dar para o peditório"
"O mendigo turco"
"A incompreensão da arte ou a insensibilidade humana"
"A "carraça"
TEXTOS RELACIONADOS
(Clique em cima de cada um)
"Brincar com a mendicidade em jeito de alertar"
"Baixa: a crise também afecta os pedintes"
"Não dar para o peditório"
"O mendigo turco"
"A incompreensão da arte ou a insensibilidade humana"
"A "carraça"
Sem comentários:
Enviar um comentário