LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA
Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: UMA MEDIDA QUE SE APLAUDE MAS..."; "ESTE É O TEMPO..."; "CAIXA DE NINGUÉM"; e "TRÊS MULHERES PARA UM VISCONDE".
REFLEXÃO: UMA MEDIDA QUE SE APLAUDE MAS…
Para quem não deu por isso, desde que Manuel
Machado, o atual locatário do paço da Praça 8 de Maio, tomou posse como
presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), ao Sábado o edifício está de
portas abertas. Porém, quem empurrar e transpuser as portas de vidro não pode
passar do hall. Lá dentro, atrás de
um pequeno balcão, está um agente da Polícia Municipal (PM). É bonito de ver
esta ação? Faz sentido? Quanto a mim, que, ao longo dos anos, já escrevi vários
textos sobre este necessário franquear neste dia da semana, faz sim, senhor! Estando
o edifício aberto, ainda que em símbolo, parece dar as boas vindas a quem nos
visita. É assim, em metáfora, como se fosse o Cristo-Rei, no Rio de Janeiro, de
braços arqueados a receber todos. Em analogia, acontece que, na forma, esta
abertura das portas da CMC ao sábado, como se apresenta, é um quase desperdício,
um desaproveitamento de meios. Comecei por elogiar a medida e mantenho. No
entanto pode melhorar do suficiente ao
bom.
A meu ver, só em teoria, de modelo de cidade
anfitriã no bem receber, fica bem ter apenas a entrada acessível e manter um
agente da PM todo o dia ali enclausurado e sem mais nada para fazer. Quero
dizer, portanto, que estou de acordo na forma mas não na substância. Por
exemplo, por que não se aproveita este dia de Sábado para, rotativamente, estar
um vereador do executivo a receber os munícipes? Incluindo o presidente? Ao que
parece alguns vereadores não têm tempo para ouvir os cidadãos. Vou dar um exemplo.
A Associação de Beneficência ao
Comerciante de Coimbra, legalmente constituída em 2013, à espera de ver
cumprida uma deliberação camarária, em novembro deste mesmo ano, pediu à
representante do pelouro, Carina Gomes, para ser recebida. Como até ao mês passado,
de junho, não tivesse disponibilidade, o que naturalmente se admite, o
presidente da ABCC, Armindo Gaspar, reiterou pessoalmente e novamente por
ofício para ser ouvido. Até hoje! É claro que nove meses, como período de
gestação, nem será muito. Admito. É mais a cara de idiota, como eu, que,
perante este desrespeito, qualquer um fica. Só isso!
Em síntese, está de ver que dar provimento a
este plano, que apresento sem custos, faz sentido. Não acha?
ESTE É O TEMPO…
Neste dia que escrevo, hoje é o dia 19 de
Julho, Sábado, neste ano da graça -e também da tristeza e desgraça para tantos,
porque o mundo surge-nos ameaçador e perigoso. Supostamente, deveríamos estar
no verão, naquela canícula intensa de cegarregas a matraquear o percurso, mas
parece que estamos no outono, talvez por volta de outubro, quando as folhas
secas caem e atapetam o chão e as andorinhas já teriam arrumado a trouxa e
rumado para outras paragens menos hostis no clima. Pretensamente, nesta altura,
o Sol deveria malhar-nos tanto, tanto, como o Primeiro-Ministro nos massacra a
repetir que estamos no bom caminho, que o pior já passou, e, num virar de
olhos, nos sobrecarrega com mais impostos. Mas agora, mediando entre uma
luminosidade crescente e um crepúsculo precoce, como se o dia chorasse de pena,
carpindo mágoas e pedisse desculpa, volta e meia, chove copiosamente neste fim-de-semana,
deste mês de férias para quem as puder ter.
É óbvio que, perante este cenário de pés-secos
e molhados, a Bolsa de Valores Epicurista
vai entrar no vermelho e as ações de gozar o dia vão cair a pique. É natural
que menos interessados queiram adquirir títulos de esperança num amanhã de
bem-estar melhor. O tempo, aquele tempo conforme o conhecíamos noutro tempo,
vale menos que a palavra prometida de um qualquer político. Mas, em boa
verdade, a deles é igual à nossa porque a nossa é igual à deles. Não fosse o
endeusamento em que nos achamos e colocamos, substantivando a nossa
superioridade perante o outro, e facilmente se constatava que eles, políticos e
tempo, são apenas a projeção e o resultado da nossa ineficácia enquanto pessoas
de construção. Sobre os primeiros, os políticos, porque continuamos a deixar
que sejam almas penadas, sem corpo para responsabilizar e encarnar, mas que
infernizam as nossas vidas. Sobre o segundo, sobre o tempo, por um lado,
tornamo-nos herméticos, pragmáticos, perdemos a fé na transcendência, o
racionalismo submergiu a infantilidade que nos deveria acompanhar na existência
terrena e só acreditamos no que vemos ou sentimos.
Por outro lado, pela previsibilidade fácil de
saber se vai chover em tal data de aqui a meses, deixámos de ter necessidade de
reconhecer São Pedro na sua provável omnipotência temporal como senhor de todas
as águas do mundo. Esta perda da crença, contrariamente ao que se cogita,
porque somos seres de doutrinação, empobreceu a nossa convivência. Numa erosão
continuada largámos os antiquados mitos, maravilhas que nunca corresponderam,
sendo apenas o velho costume humano de valorizar mais tudo o que está para trás,
e, repetindo até à exaustão “no meu
tempo… no meu tempo… era assim… e assado”, criámos outros de substituição. Como
a facilidade no adquirir leva ao cansaço, depressa nos tornamos enfastiados
destes e queremos outros que nunca nos satisfarão completamente. Começámos por
tomar um comprimido ansiolítico para
conter a ansiedade e a solidão. Passámos ao frasco e o isolamento é crescente.
Queremos mais. Muito mais! Em suma, uma coisa é certa e dá para ver: não é a
quantidade que gera a felicidade. Não estamos mais felizes. Em antítese,
estamos cada vez entregues a sombras e a silêncios impostos e não procurados
pela reflexão necessária. Neste individualismo crescente, quando parece que
tudo dominamos, através da ciência e da técnica, somos cada vez mais ilhas onde
cabe somente um corpo, isolado e só, e onde a obsessiva digitalização substitui
o conhecimento intelectual e a mente, enquanto propulsor de inteligência e
imaginação, passa a mero artefacto sem utilização para pensar. Sem graça, interessante
como no desenvolvimento extrínseco, no conforto, a humanidade atingiu o Zénite
e no intrínseco, no interior do ser, na agnição, como num regredir de eterno
retorno, estejamos cada vez mais próximos do macaco.
Tal como o tempo previsto para a semana que aí
vem é de mudança, pode ser que as coisas se alterem e encontremos a
harmonização equilibrada entre o homem comum, na sua essência, e a Natureza que
nos transcende. Vamos aguardar que passe esta nebulosidade envolvente,
climatérica e social. Pode ser?
CAIXA DE NINGUÉM
No princípio deste mês, na Rua das Padeiras,
apareceu uma tampa de ferro partida na via pedonal, de calçada, e que oferecia
alguma perigosidade, sobretudo durante a noite -normalmente relacionamos estes
quadrados de ferro com o saneamento. Como ficava em frente ao estabelecimento
de Luís Duarte, fazendo o que lhe cabia, este comerciante comunicou a anomalia
à Câmara Municipal de Coimbra.
No dia 8 deste mês recebeu uma comunicação,
via e-mail, da autarquia informando
que a reclamação tinha sido encaminhada para o Departamento de Obras Municipais.
Dois dias depois passou um
funcionário dos SMASC, Serviço Municipalizados de Águas e Saneamento, afirmando
“que aquele assunto era da
responsabilidade da EDP, ou da PT, porque passavam lá uns cabos.”
Passado outro tempo mais ou menos
igual veio um graduado da PSP –“um graúdo”,
nas palavras do Luís Duarte-, acompanhado de outro, e ali mesmo, perante a
caixa de ferro ofendida na sua integridade, afirmou que “em princípio o caso estava resolvido e que, por isso mesmo, estava
encaminhado”.
Passados mais uns dias, veio
outro funcionário dos SMASC e, em face daquela tentativa de destruição ferronha
por parte de autor desconhecido, olhando de cima para baixo, nada disse e
seguiu em frente.
Esta semana o Duarte recebeu outro e-mail das Águas de Coimbra que
transcrevia o seguinte: “No seguimento da
reclamação, informamos, após averiguação local, que a tampa da caixa em causa
não faz parte das nossas infraestruturas. Trata-se de uma caixa de cabos e por
isso somos a sugerir que contacte a EDP ou a PT. Com os melhores cumprimentos,
Rui Cardantas.”
Naturalmente, o Luís sente-se ofendido por
este ziguezaguear de quem terá responsabilidade na manutenção da coisa pública
e, em pingue-pongue, habilmente se desmarca. Diz ainda que não fará mais nada.
Quando alguém ali se magoar e pedir ressarcimento à edilidade, então, talvez
nessa altura vão a correr para a substituição da tampa de ferro.
TRÊS MULHERES PARA UM VISCONDE
A semana passada escrevi que o Centro
Comercial Visconde, na Rua Visconde da Luz, de um total de mais de três dezenas
apenas duas lojas resistiam com duas senhoras trabalhando em consertos de
costura.
Pois esta semana, logo à entrada,
abriu um novo estabelecimento de pronto-a-vestir com peças femininas de
encantar. Com o sugestivo nome de “MUST-HAVE”
que, segundo Helena Carvalho a simpática proprietária, traduzido para português
significa “é obrigatório ter no
guarda-roupa de uma senhora”. Mas vamos conversar com a Helena. De onde vem
e para onde vai?
“Venho dos arredores de Soure onde, durante décadas, estive
estabelecida. Sempre tive uma fascinação pela Baixa da cidade. Aqui estudei,
aqui me apaixonei por esta rua larga e sonhei realizar projetos lindos. Com
muito amor e carinho, agora, assim nasceu este meu estabelecimento. Acredito
que as coisas vão dar uma volta. Tenho fé que a Baixa, num futuro próximo, vai
voltar ao que foi noutros tempos. Bem sei que neste momento, comercialmente,
está em coma. É um facto. Mas acredito que vai renascer das cinzas. Claro que,
neste ressurgir, devem estar todos envolvidos, senhorios e inquilinos. Ora,
falando deste centro comercial, verifica-se que os primeiros, os proprietários,
continuam a pedir rendas incomportáveis e parecem lavar as mãos da
responsabilidade social que lhes cabe na revitalização da Baixa.”
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