quinta-feira, 24 de julho de 2014

LEIA O DESPERTAR...


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: UMA MEDIDA QUE SE APLAUDE MAS..."; "ESTE É O TEMPO..."; "CAIXA DE NINGUÉM"; e "TRÊS MULHERES PARA UM VISCONDE".


REFLEXÃO: UMA MEDIDA QUE SE APLAUDE MAS…

Para quem não deu por isso, desde que Manuel Machado, o atual locatário do paço da Praça 8 de Maio, tomou posse como presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), ao Sábado o edifício está de portas abertas. Porém, quem empurrar e transpuser as portas de vidro não pode passar do hall. Lá dentro, atrás de um pequeno balcão, está um agente da Polícia Municipal (PM). É bonito de ver esta ação? Faz sentido? Quanto a mim, que, ao longo dos anos, já escrevi vários textos sobre este necessário franquear neste dia da semana, faz sim, senhor! Estando o edifício aberto, ainda que em símbolo, parece dar as boas vindas a quem nos visita. É assim, em metáfora, como se fosse o Cristo-Rei, no Rio de Janeiro, de braços arqueados a receber todos. Em analogia, acontece que, na forma, esta abertura das portas da CMC ao sábado, como se apresenta, é um quase desperdício, um desaproveitamento de meios. Comecei por elogiar a medida e mantenho. No entanto pode melhorar do suficiente ao bom.
A meu ver, só em teoria, de modelo de cidade anfitriã no bem receber, fica bem ter apenas a entrada acessível e manter um agente da PM todo o dia ali enclausurado e sem mais nada para fazer. Quero dizer, portanto, que estou de acordo na forma mas não na substância. Por exemplo, por que não se aproveita este dia de Sábado para, rotativamente, estar um vereador do executivo a receber os munícipes? Incluindo o presidente? Ao que parece alguns vereadores não têm tempo para ouvir os cidadãos. Vou dar um exemplo. A Associação de Beneficência ao Comerciante de Coimbra, legalmente constituída em 2013, à espera de ver cumprida uma deliberação camarária, em novembro deste mesmo ano, pediu à representante do pelouro, Carina Gomes, para ser recebida. Como até ao mês passado, de junho, não tivesse disponibilidade, o que naturalmente se admite, o presidente da ABCC, Armindo Gaspar, reiterou pessoalmente e novamente por ofício para ser ouvido. Até hoje! É claro que nove meses, como período de gestação, nem será muito. Admito. É mais a cara de idiota, como eu, que, perante este desrespeito, qualquer um fica. Só isso!
Em síntese, está de ver que dar provimento a este plano, que apresento sem custos, faz sentido. Não acha?


ESTE É O TEMPO…

Neste dia que escrevo, hoje é o dia 19 de Julho, Sábado, neste ano da graça -e também da tristeza e desgraça para tantos, porque o mundo surge-nos ameaçador e perigoso. Supostamente, deveríamos estar no verão, naquela canícula intensa de cegarregas a matraquear o percurso, mas parece que estamos no outono, talvez por volta de outubro, quando as folhas secas caem e atapetam o chão e as andorinhas já teriam arrumado a trouxa e rumado para outras paragens menos hostis no clima. Pretensamente, nesta altura, o Sol deveria malhar-nos tanto, tanto, como o Primeiro-Ministro nos massacra a repetir que estamos no bom caminho, que o pior já passou, e, num virar de olhos, nos sobrecarrega com mais impostos. Mas agora, mediando entre uma luminosidade crescente e um crepúsculo precoce, como se o dia chorasse de pena, carpindo mágoas e pedisse desculpa, volta e meia, chove copiosamente neste fim-de-semana, deste mês de férias para quem as puder ter.
É óbvio que, perante este cenário de pés-secos e molhados, a Bolsa de Valores Epicurista vai entrar no vermelho e as ações de gozar o dia vão cair a pique. É natural que menos interessados queiram adquirir títulos de esperança num amanhã de bem-estar melhor. O tempo, aquele tempo conforme o conhecíamos noutro tempo, vale menos que a palavra prometida de um qualquer político. Mas, em boa verdade, a deles é igual à nossa porque a nossa é igual à deles. Não fosse o endeusamento em que nos achamos e colocamos, substantivando a nossa superioridade perante o outro, e facilmente se constatava que eles, políticos e tempo, são apenas a projeção e o resultado da nossa ineficácia enquanto pessoas de construção. Sobre os primeiros, os políticos, porque continuamos a deixar que sejam almas penadas, sem corpo para responsabilizar e encarnar, mas que infernizam as nossas vidas. Sobre o segundo, sobre o tempo, por um lado, tornamo-nos herméticos, pragmáticos, perdemos a fé na transcendência, o racionalismo submergiu a infantilidade que nos deveria acompanhar na existência terrena e só acreditamos no que vemos ou sentimos.
Por outro lado, pela previsibilidade fácil de saber se vai chover em tal data de aqui a meses, deixámos de ter necessidade de reconhecer São Pedro na sua provável omnipotência temporal como senhor de todas as águas do mundo. Esta perda da crença, contrariamente ao que se cogita, porque somos seres de doutrinação, empobreceu a nossa convivência. Numa erosão continuada largámos os antiquados mitos, maravilhas que nunca corresponderam, sendo apenas o velho costume humano de valorizar mais tudo o que está para trás, e, repetindo até à exaustão “no meu tempo… no meu tempo… era assim… e assado”, criámos outros de substituição. Como a facilidade no adquirir leva ao cansaço, depressa nos tornamos enfastiados destes e queremos outros que nunca nos satisfarão completamente. Começámos por tomar um comprimido ansiolítico para conter a ansiedade e a solidão. Passámos ao frasco e o isolamento é crescente. Queremos mais. Muito mais! Em suma, uma coisa é certa e dá para ver: não é a quantidade que gera a felicidade. Não estamos mais felizes. Em antítese, estamos cada vez entregues a sombras e a silêncios impostos e não procurados pela reflexão necessária. Neste individualismo crescente, quando parece que tudo dominamos, através da ciência e da técnica, somos cada vez mais ilhas onde cabe somente um corpo, isolado e só, e onde a obsessiva digitalização substitui o conhecimento intelectual e a mente, enquanto propulsor de inteligência e imaginação, passa a mero artefacto sem utilização para pensar. Sem graça, interessante como no desenvolvimento extrínseco, no conforto, a humanidade atingiu o Zénite e no intrínseco, no interior do ser, na agnição, como num regredir de eterno retorno, estejamos cada vez mais próximos do macaco.
Tal como o tempo previsto para a semana que aí vem é de mudança, pode ser que as coisas se alterem e encontremos a harmonização equilibrada entre o homem comum, na sua essência, e a Natureza que nos transcende. Vamos aguardar que passe esta nebulosidade envolvente, climatérica e social. Pode ser?


CAIXA DE NINGUÉM
No princípio deste mês, na Rua das Padeiras, apareceu uma tampa de ferro partida na via pedonal, de calçada, e que oferecia alguma perigosidade, sobretudo durante a noite -normalmente relacionamos estes quadrados de ferro com o saneamento. Como ficava em frente ao estabelecimento de Luís Duarte, fazendo o que lhe cabia, este comerciante comunicou a anomalia à Câmara Municipal de Coimbra.
No dia 8 deste mês recebeu uma comunicação, via e-mail, da autarquia informando que a reclamação tinha sido encaminhada para o Departamento de Obras Municipais.
Dois dias depois passou um funcionário dos SMASC, Serviço Municipalizados de Águas e Saneamento, afirmando “que aquele assunto era da responsabilidade da EDP, ou da PT, porque passavam lá uns cabos.”
Passado outro tempo mais ou menos igual veio um graduado da PSP –“um graúdo”, nas palavras do Luís Duarte-, acompanhado de outro, e ali mesmo, perante a caixa de ferro ofendida na sua integridade, afirmou que “em princípio o caso estava resolvido e que, por isso mesmo, estava encaminhado”
Passados mais uns dias, veio outro funcionário dos SMASC e, em face daquela tentativa de destruição ferronha por parte de autor desconhecido, olhando de cima para baixo, nada disse e seguiu em frente.
Esta semana o Duarte recebeu outro e-mail das Águas de Coimbra que transcrevia o seguinte: “No seguimento da reclamação, informamos, após averiguação local, que a tampa da caixa em causa não faz parte das nossas infraestruturas. Trata-se de uma caixa de cabos e por isso somos a sugerir que contacte a EDP ou a PT. Com os melhores cumprimentos, Rui Cardantas.”
Naturalmente, o Luís sente-se ofendido por este ziguezaguear de quem terá responsabilidade na manutenção da coisa pública e, em pingue-pongue, habilmente se desmarca. Diz ainda que não fará mais nada. Quando alguém ali se magoar e pedir ressarcimento à edilidade, então, talvez nessa altura vão a correr para a substituição da tampa de ferro.


TRÊS MULHERES PARA UM VISCONDE

A semana passada escrevi que o Centro Comercial Visconde, na Rua Visconde da Luz, de um total de mais de três dezenas apenas duas lojas resistiam com duas senhoras trabalhando em consertos de costura.
Pois esta semana, logo à entrada, abriu um novo estabelecimento de pronto-a-vestir com peças femininas de encantar. Com o sugestivo nome de “MUST-HAVE” que, segundo Helena Carvalho a simpática proprietária, traduzido para português significa “é obrigatório ter no guarda-roupa de uma senhora”. Mas vamos conversar com a Helena. De onde vem e para onde vai?
“Venho dos arredores de Soure onde, durante décadas, estive estabelecida. Sempre tive uma fascinação pela Baixa da cidade. Aqui estudei, aqui me apaixonei por esta rua larga e sonhei realizar projetos lindos. Com muito amor e carinho, agora, assim nasceu este meu estabelecimento. Acredito que as coisas vão dar uma volta. Tenho fé que a Baixa, num futuro próximo, vai voltar ao que foi noutros tempos. Bem sei que neste momento, comercialmente, está em coma. É um facto. Mas acredito que vai renascer das cinzas. Claro que, neste ressurgir, devem estar todos envolvidos, senhorios e inquilinos. Ora, falando deste centro comercial, verifica-se que os primeiros, os proprietários, continuam a pedir rendas incomportáveis e parecem lavar as mãos da responsabilidade social que lhes cabe na revitalização da Baixa.”


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