terça-feira, 1 de julho de 2014

O LIXO NA BAIXA



Como se sabe, até ao ano passado a recolha de lixo na Baixa era realizada pela ERSUC -Resíduos Sólidos do Centro, SA, Empresa Pública. Porque houvesse demasiadas reclamações sobre a eficiência deste trabalho no Centro Histórico, a verdade é que, após concurso, o serviço nesta parte da cidade velha foi privatizado e consignado à empresa Recolte, com sede no Porto e participada a cem por cento pelo Grupo Teixeira Duarte.
Antes de avançar, enquanto morador e comerciante na Baixa, gostaria de dizer que o serviço agora praticado pela Recolte, para melhor, fica a anos-luz do anterior. Constata-se, diariamente e incluindo domingos, uma dedicação e profissionalização elevada dos funcionários desta firma do Norte.
Depois desta ressalva, porque quem escreve tem obrigação de ser justo e atribuir a cada um o que é seu, vou continuar. Se até há meses, e durante a vigência da ERSUC, havia demasiados protestos de residentes no sentido de que os detritos não eram recolhidos atempadamente e esta zona de antanho era uma lixeira a céu-aberto, a verdade é que sempre foram estes mesmos usufrutuários que, num egoísmo atroz e de desrespeito pelos vizinhos e outros visitantes da cidade, contribuíram para o abandalhamento e, como quem se lixa é o mexilhão, quem pagou a fava foi a ERSUC. Por um lado, nunca se apostou na sensibilização dos moradores para respeitarem os horários de colheita de resíduos, por outro, por parte da autarquia, foram criadas posturas com coimas para os “lixadores” do esquema mas, salvo um ou outro caso pontual, nunca foram colocadas em prática pela Polícia Municipal.
Naturalmente que já deve dar para ver onde quero chegar. Hoje temos um serviço de excelência de recolha mas o cenário, de desleixo e de terceiro-mundo, continua devido a uns quantos montadores –chamo-os assim porque consideram a Baixa da mesma forma que o cliente trata a prostituta. Servem-se dela para esvaziar as frustrações e, após os gemidos de prazer, abandonam-na à sua sorte e depois até têm vergonha de lhe olhar para a cara.
Ou seja, num lado temos os trabalhadores da Recolte a correr para cuidar do espaço público e do outro temos uma cambada de usurpadores da coisa alheia, desmazelados -para não chamar pior- que parecem gozar com quem lhes chama a atenção. Não seria melhor apostar na formação e sensibilização, porta-a-porta, de todos os que por aqui moram e trabalham? E já agora, este cuidado deve ir também  para quem se serve da Baixa para outros fins. Mas isto não é evidente? Desabafo assim porque já escrevi crónicas sem fim a defender isto mesmo e remeti-as para a Câmara Municipal. O que está acontecer nesta área classificada pela UNESCO como Património Mundial, em metáfora, parece o mesmo que o Mondego, de um dia para outro, aparecer conspurcado com óleo. Então, perante a catástrofe ambiental, correm os serviços para limpar localmente a jusante e sem se preocuparem com a origem da contaminação a montante. A continuar assim, esquecendo a fonte do problema, não vamos ficar pela Recolte. Mas há mais empresas, não há?


TEXTOS RELACIONADOS

(Para ler, clique em cima de cada título)

"Rua das Azeiteiras com lixo ao almoço"
"Baixa: Domingo, 8h45 da manhã"
"Lixo?... Hã?... Onde?"
"Quem teima em dar-me uma prenda?"
"Não há fome que não dê em fartura..."

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