Como se sabe, até ao ano passado a recolha de
lixo na Baixa era realizada pela ERSUC -Resíduos
Sólidos do Centro, SA, Empresa Pública. Porque houvesse demasiadas
reclamações sobre a eficiência deste trabalho no Centro Histórico, a verdade é
que, após concurso, o serviço nesta parte da cidade velha foi privatizado e
consignado à empresa Recolte, com
sede no Porto e participada a cem por cento pelo Grupo Teixeira Duarte.
Antes de avançar, enquanto morador e
comerciante na Baixa, gostaria de dizer que o serviço agora praticado pela
Recolte, para melhor, fica a anos-luz do anterior. Constata-se, diariamente e
incluindo domingos, uma dedicação e profissionalização elevada dos funcionários
desta firma do Norte.
Depois desta ressalva, porque quem escreve tem
obrigação de ser justo e atribuir a cada um o que é seu, vou continuar. Se até
há meses, e durante a vigência da ERSUC, havia demasiados protestos de
residentes no sentido de que os detritos não eram recolhidos atempadamente e
esta zona de antanho era uma lixeira a céu-aberto, a verdade é que sempre foram
estes mesmos usufrutuários que, num egoísmo atroz e de desrespeito pelos vizinhos
e outros visitantes da cidade, contribuíram para o abandalhamento e, como quem
se lixa é o mexilhão, quem pagou a fava foi a ERSUC. Por um lado, nunca se
apostou na sensibilização dos moradores para respeitarem os horários de colheita
de resíduos, por outro, por parte da autarquia, foram criadas posturas com
coimas para os “lixadores” do esquema
mas, salvo um ou outro caso pontual, nunca foram colocadas em prática pela Polícia
Municipal.
Naturalmente que já deve dar para ver onde
quero chegar. Hoje temos um serviço de excelência de recolha mas o cenário, de
desleixo e de terceiro-mundo, continua devido a uns quantos montadores –chamo-os assim porque
consideram a Baixa da mesma forma que o cliente trata a prostituta. Servem-se
dela para esvaziar as frustrações e, após os gemidos de prazer, abandonam-na à
sua sorte e depois até têm vergonha de lhe olhar para a cara.
Ou seja, num lado temos os trabalhadores da Recolte a correr para cuidar do espaço
público e do outro temos uma cambada de usurpadores da coisa alheia, desmazelados
-para não chamar pior- que parecem gozar com quem lhes chama a atenção. Não
seria melhor apostar na formação e sensibilização, porta-a-porta, de todos os
que por aqui moram e trabalham? E já agora, este cuidado deve ir também para quem se serve da Baixa para outros fins. Mas isto não é evidente? Desabafo assim porque
já escrevi crónicas sem fim a defender isto mesmo e remeti-as para a Câmara Municipal.
O que está acontecer nesta área classificada pela UNESCO como Património
Mundial, em metáfora, parece o mesmo que o Mondego, de um dia para outro,
aparecer conspurcado com óleo. Então, perante a catástrofe ambiental, correm os
serviços para limpar localmente a jusante e sem se preocuparem com a origem da
contaminação a montante. A continuar assim, esquecendo a fonte do problema, não
vamos ficar pela Recolte. Mas há mais empresas, não há?
TEXTOS RELACIONADOS
(Para ler, clique em cima de cada título)
"Rua das Azeiteiras com lixo ao almoço"
"Baixa: Domingo, 8h45 da manhã"
"Lixo?... Hã?... Onde?"
"Quem teima em dar-me uma prenda?"
"Não há fome que não dê em fartura..."
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"Lixo: Ensinar para (con)viver melhor"
"Baixa: Os novos miseráveis"
"Neste Natal o que queres, Eduardo?"
"Eduardo olhos de mágoa"
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"Carta a uma funcionária pública"
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