quarta-feira, 31 de agosto de 2011

REQUIEM POR UM SONHO




Requiem por aqueles que, na sua santa inocência, votaram e acreditaram que este Governo iria fazer melhor do que o anterior.

Requiem por todos aqueles pequenos e médios comerciantes ou industriais que, trucidados a jusante e a montante, vão caindo nesta vala comum a que muitos chamam crise. Para eles -que tanto trabalharam e durante muito tempo foram apelidados de "Grande Capital", maltratados e incompreendidos, são hoje uma ténue sombra dos tempos passados, abandonada e que ninguém se abriga nela-, com todo o respeito pelos que vão tombando -porque a nossa vez chegará- uma grande salva de palmas.

UM COMENTÁRIO SOBRE...




Jorge Neves deixou um novo comentário na sua mensagem "DE SUPETÃO, HOJE, ENCERRARAM DUAS LOJAS NA BAIXA": 


 Quando todos os comerciantes optarem por uma medida mais radical e deixarem de cumprir as regras vão deixar de encerrar as suas lojas e que em alguns casos são centenárias, fazem parte da história da Cidade.
Deixem todos de pagar IRC, IVA, SEGURANÇA SOCIAL E LICENÇAS. Criem um movimento de comerciantes que assente nesse princípio e partilhem esse sentimento à escala nacional, aposto que estes (des)governantes se vão sentir picados como os toiros da arena e vão começar a abrir os olhos, caso não usem óculos de cabedal. Eu nem sou comerciante, mas dói imenso ver a Baixa de Coimbra afundar dia após dia. 


DE SUPETÃO, HOJE, ENCERRARAM DUAS LOJAS NA BAIXA



 Os Têxteis Mondego, na Rua da Moeda, e os Tecidos Mondego, na Rua da Louça e com frente para a Avenida Fernão de Magalhães, propriedade do mesmo comerciante, encerraram repentinamente hoje de manhã.
Segundo informações de alguém muito próximo e que pediu o anonimato, “a semana passada o senhor Carlos Alberto Henriques avisou os seus 4 empregados de que iria encerrar brevemente. Hoje, pelo menos a loja dos Têxteis Mondego, na Rua da Moeda, ainda esteve aberta cerca de meia-hora. Segundo parece o funcionário presente recebeu ordens para fechar e que seria definitivamente.”
Continuo a questionar a minha fonte se saberá o que se passou. Continua então, “o senhor Carlos e a mulher são pessoas muito probas, muito honestos e trabalhadores, mas, coitados, não aguentavam o montante das rendas. Só a loja dos Tecidos Mondego, na Rua da Louça, pagava cerca de 3000 euros por mês. Por muito que eles se esforçassem, e tenho a certeza de que o faziam porque os conheço bem, humanamente na forma como estão as vendas no comércio, jamais lhes seria possível continuar. Acredito que foi por isso mesmo que tiveram de claudicar. No entanto sei que o senhor Carlos Henriques já arrendou ou irá arrendar, ali à frente, no Largo das Ameias, as antigas instalações da Agência Abreu e, tanto quanto sei, mudará para lá o seu ponto de venda, bem como os seus empregados.”
Apesar de tentar chegar a alguém mais próximo dos proprietários e que pudesse corroborar esta versão, a verdade é que não consegui. A única verdade, colocada aos olhos de todos nós, é que as duas lojas com cerca de 25 anos de existência encerraram.
Uma tristeza, meu amigo leitor. Uma tristeza que deveria preocupar quem nos governa. O pior disto tudo é que, quanto a todo este universo comercial da Baixa de Coimbra, a procissão ainda está no adro. Sem querer ser dramático, infelizmente muito mais histórias destas irão ser públicas. Os comerciantes estão no fio da navalha.



TEXTOS RELACIONADOS, E ESCRITOS NOS ÚLTIMOS ANOS:


"Dai-nos Senhor o melhor título"
"Editorial: O que querem fazer dos Centros Históricos?"
"Arrendamento: A reforma que morre sempre..."
"O último acto de uma peça que terminou"
"Baixa: Um barulho ensurdecedor"
"Editorial: Quem olha pelos Centros Históricos?"
"Editorial: Os últimos fingidores"
"Os tempos que vivemos"
"NA Rua da Moeda de nariz no ar"
"Um Habitus que se entranha"
"Comércio: Ontem, hoje e amanhã"
"Encerrou o Saul Morgado"
"Vagabundos de nós"
"O óbvio de La Palisse"
"Morreu o Ramiro"
"Um chinês na Praça Velha"
"A Baixa está a morrer..."


UMA IMAGEM... POR ACASO...


(Quarta-feira, 31 de Agosto, 16 horas, Rua da Louça, em frente à Avenida Fernão de Magalhães)

JÁ CÁ TEMOS O CHINÊS DA NOSSA RUA



 O Taipio, o chinês mais querido da nossa rua -sem desprimor para os restantes- já começou a trabalhar. O nosso "Karaté man" teve um enfarte nos princípios de Maio. Saíu do hospital há cerca de dois meses e tem estado a recuperar muito rapidamente.
Felizmente para ele, e para todos nós porque gostamos muito dele, já começou a ... ler o jornal. Ia dizer trabalhar, mas, para isso, vai devagarinho.
É bom vê-lo novamente no seu posto. O que seria a nossa rua sem pessoas como ele, como outros? Não seria nada sem os moradores, os comerciantes e os clientes que lhe dão vida.

UM COMENTÁRIO SOBRE...





Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "A GERAÇÃO À RASCA DE 1950": 


 Porque também fiz parte dessa geração “Anos 60”, porque cumpri o serviço militar dessa época, porque fui mobilizado e embarquei para Angola, li com muita atenção os comentários e posso dizer que senti palavra a palavra o que foi escrito. Quem fala assim e escreve não é gago. 
Parabéns. 

O QUE É IMPORTANTE PARA OS "MEDIA"?




 Quem me segue aqui, através do blogue, sabe que redijo sobre um pouco de tudo e sobre qualquer tema excepto futebol –que não percebo patavina. Mas o que me levará a escrever rapidamente será, por exemplo, um qualquer acontecimento que se verifique aqui no Centro Histórico. Poderá ser acerca de um transeunte que caiu num qualquer buraco; pode ser um qualquer assalto; pode até ser uma loja que abriu ou encerrou. É evidente que estabeleço prioridades. Naturalmente que uma senhora que caiu será noticiado imediatamente e logo que me seja possível escrever. Já a abertura ou encerramento de um estabelecimento não será prioritário. Ou seja, mesmo não sendo jornalista, consigo discernir o que é serviço de interesse público mediato e imediato.
Ora, depois deste intróito, às vezes custa-me muito a entender o procedimento dos meios de informação. É lógico, ainda não o referi, que uma escolha deste ou daquele tema implica uma elevada carga de subjectividade. Porém, na minha clarividência, refiro outra vez, quem escreve, está obrigado a ter um sexto sentido associado. É como se tivesse uma campainha que toca quando está em presença de algo que foge ao comum, e que deve ser notícia. Isto é, que, pela sua invulgaridade em si mesma, será motivo de conhecimento ou alerta para a comunidade. Se for de conhecimento é apenas um facto que se destaca no quotidiano. Se for de alerta, é obrigação de qualquer meio de informação divulgar e, com essa propagação pública, estabelecer um raio de protecção na sua imprevisibilidade a quem da notícia tomar conhecimento.
E por que é que estou para aqui com este arrazoado todo? Perguntará o leitor. Muito simples: há uma empresa espanhola que, através de um procedimento bacoco e na maior das impunidades, faz questão de nos colocar na cabeça um chapéu de burro. Refiro uma empresa denominada “Guia Telefax Anuário Professional”, com sede em Espanha e que, como disse atrás, fazendo dos portugueses totós, anda há cerca de dois anos a enviar às empresas um questionário como se fosse um “Registo de Comércio Português”. O que acontece é que centenas ou milhares, pensando que estão a colaborar com informações e dados estatísticos, estão a subscrever um contrato irregular de prestação de serviços. Os tais “nuestros hermanos”, talvez porque se julgam mais inteligentes do que os vizinhos portugueses, deixam passar os 14 dias de possibilidade de denúncia contratual e enviam a conta.
 Não se sabe bem, mas será possível terem caído neste logro centenas ou milhares de empresas.
Há um ano atrás denunciei aqui no blogue esta fraude. Já recebi algumas dezenas de comentários… anónimos. Muitos deles a pedirem-me ajuda, como se eu pudesse fazer alguma coisa para além de noticiar e alertar. E o que é que eu fiz mais para além de escrever aqui nesta página virtual? Interrogará você outra vez, leitor.
Olhe telefonei para um jornal cá da cidade para que, embora a um público local e restrito, desse parte aos seus leitores para que se prevenissem. Até hoje, continuo à espera da notícia.
Tenho um amigo que é jornalista na Lusa, há uns tempos dei-lhe conhecimento deste anómalo facto. Disse-me que precisava de alguém que desse a cara. Alguém que tivesse mesmo subscrito o contrato e tivesse mesmo caído no logro. Fiz aqui um apelo e apareceu uma empresa que estava disposta a dar a cara pela prevenção de futuras situações. Até hoje, continuo a à espera que o meu amigo escreva umas linhas sobre este assunto.
Tenho uma amiga que é jornalista da SIC, e que já me pediu alguns favores. Enviei-lhe um e-mail para ver se era possível editar esta notícia no canal de Balsemão. Até hoje continuo sentado à espera.
Agora, por amabilidade de um dos contactados por esta empresa espanhola, chamou-me a atenção para uma notícia no “Portal da Queixa”.
Em jeito de final deixo as perguntas: o que interessará aos meios de informação? Será só o que tenha a ver com a crise? Só interessam notícias de incêndios ou assaltos? E a prevenção para tudo isto, não caberá aos jornais e à televisão?

terça-feira, 30 de agosto de 2011

CONVÉM TOMAR ATENÇÃO...




Índice do INE

Vendas no comércio caem 5,5% e emprego no sector atinge valor mais baixo dos últimos dez anos


VAI HAVER CORTE NA DESPESA, MAS CONVÉM NÃO ESQUECER QUE...


(IMAGEM DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)




"... os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham cerca de metade (55%) do que se ganha na zona euro... 

mas os nossos gestores recebem, em média:

       - mais 32% do que os americanos;
      - mais 22,5% do que os franceses;
       - mais 55 % do que os finlandeses;
   - mais 56,5% do que os suecos"
      
 (dados de Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 24/10/09)

O VÍDEO DO DIA...




Muita força e coragem para levar a semana em frente. Sinta a força desta música...

UM COMENTÁRIO SOBRE...



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "SINGULARIDADES DE UM PEQUENO ESTABELECIMENTO": 



 Há valores que se perdem, como o da educação e o do respeito pelo outro. Cada vez mais há indivíduos que se consideram no direito de fazer e dizer o que lhes apetece, independentemente dos efeitos que isso possa provocar noutras pessoas. E mais grave ainda é que algumas dessas pessoas vêm a ocupar lugares de destaque na nossa sociedade. Lamentável! Talvez nos compita a nós, os "menos espertos", os "simples", aqueles que, apesar de tudo, conseguem sorrir depois de um despautério, dar umas lições a essa gente. Cara a cara, e não encapotadamente, como essa gente. Em nome de uma sociedade melhor... 

UM COMENTÁRIO SOBRE...




António Martins deixou um novo comentário na sua mensagem "NOITE BRANCA, NOITE BRANCA, FAZ O COMÉRCIO ARRIVAR...": 


 Antes de mais, as minhas felicitações à APBC por mais esta iniciativa, a qual irei acompanhar “in loco”.
Claro que a recuperação, para mais num momento nacional e mundial de grave crise económica, não passa só por iniciativas deste género. Passa, evidentemente, por muito mais.
Mas passa, fundamentalmente, por algo referido no texto: a vontade dos agentes económicos, nos que deveriam ser os primeiros interessados, apoiantes e dinamizadores.
De uma vez por todas, o comerciante tem de ter presente que é ele quem tem de ir ao encontro do consumidor. Longe vão os tempos em que toda a Beira vinha comprar à Baixa de Coimbra e em que bastava abrir a porta para os compradores entrarem e comprarem, mesmo se com mau atendimento.
Infelizmente, isso ainda não parece ter sido entendido.
A este propósito, vou recordar uma situação, pessoalmente testemunhada. Estávamos em 1966. Em representação de uma selecção universitária, encontrava-me em Vigo. Um dia, muito perto da meia-noite, um barco de cruzeiro, por certo com elevado número de turistas, atracou naquele porto. O navio, apesar da hora, fez ouvir a sua buzina. Pois, minutos passados, foi ver as lojas a abrirem e os seus proprietários ao balcão a atenderem aqueles inesperados compradores. Vão lá cerca de 45 anos! E mais não digo.
António Martins



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Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "NOITE BRANCA, NOITE BRANCA, FAZ O COMÉRCIO ARRIVAR...": 



Excelente iniciativa!


ERA UMA VEZ...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

NOITE BRANCA, NOITE BRANCA, FAZ O COMÉRCIO ARRIVAR...




 Na próxima sexta-feira iremos ter mais uma iniciativa promovida pela Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, (APBC) sob o lema “o Comércio vem para a Rua”, em prol da revitalização da Baixa e do desenvolvimento do seu tecido comercial.
Hoje, cerca das 15h00, na bonita esplanada do largo da Portagem, Armindo Gaspar, presidente da APBC, explicou aos jornalistas presentes em que consiste mais esta acção.
“Na próxima sexta-feira, dia 2 de Setembro, a partir das 10 e até às 24h00, em final de época de saldos, com preços mais económicos, iremos ter o comércio a vender na rua. Teremos várias iniciativas de animação, como grupos de folclore, saltimbancos, os concertinistas da Lousã e ainda uma diversidade destinada a vários públicos.
Com a participação de vários restaurantes iremos fazer uma ementa dedicada a um tema gastronómico: o bacalhau. Serão colocados a concurso vários pratos que serão apreciados por um júri.
Para além disso, os Bombeiros Voluntários estarão na Baixa para realizarem uma acção de sensibilização. Precisam de toda a nossa ajuda. Tentarão vender pequenos objectos para realizarem alguma verba de que tanto necessitam, e também tentarão fazer novos associados.
Todos sentimos a Baixa como sendo nossa, mas ela é património de todos. Por isso mesmo é preciso que venham todos na próxima sexta-feira ao Centro Histórico.
Aderiam  a esta iniciativa 267 estabelecimentos, entre lojas comerciais e restaurantes.
No princípio, quando começámos, havia escassas dezenas de adesões. Hoje são quase 300. Com teimosia, com poucos meios, vamos conseguindo fazer frente às grandes áreas comerciais.
Gostaríamos de ter uma adesão de 100 por cento, mas, apesar de tudo e com este resultado, sentimos que estamos no bom caminho e estamos satisfeitos. A continuar assim, pensamos, dentro em breve teremos todo o tecido comercial e industrial de hotelaria a aderir.
É preciso que os comerciantes entendam que estamos numa guerra de mercado. Sozinhos, sem unidade, não iremos a lado nenhum. Quanto maior for a adesão mais fortes nos tornaremos.
Em breve anunciaremos novas formas de reanimar esta parte comercial.
A semana passada entraram novos sócios para a APBC. Actualmente, somos cerca de 200, mas precisamos de muitos mais. Num universo de cerca de 600 operadores comerciais estamos ainda muito aquém do nosso objectivo.
Se houver boa-vontade; se se entender esta zona como um condomínio e se se partilharem as dificuldades, com muita persistência, alcançaremos os nossos objectivos”, declarou Armindo Gaspar aos jornalistas no Largo da Portagem.

NOVOS PROJECTOS ESTÃO NO AR

 Continua Armindo Gaspar, “o nosso projecto para o ano foi aprovado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional em 70 por cento. Nunca tal percentagem tinha ido além de 65. Parece-me ser compreensível termos e mostrarmos alguma vaidade. Temos credibilidade e as pessoas, que aprovam os projectos, acreditam em nós.
O total do projecto é de 170 mil euros. Só nos garantem 70 por cento desta verba. Temos de arranjar os outros 30 por cento. Temos ajuda da Câmara Municipal de Coimbra que também participa.
Os associados, para além da sua quota mensal, não pagam mais nada para estes espectáculos que se realizam na rua.
A seu tempo iremos apresentar outras ideias, como por exemplo a “Gazeta da Baixa”, enfatizou Armindo Gaspar.

OS COMERCIANTES NÃO QUEREM TRABALHAR AO SÁBADO

 Por nenhum jornalista foi colocada a questão de esta iniciativa ter sido projectada para o sábado, dia 3 de Setembro, e, por falta de adesões dos profissionais do comércio, a APBC se ter sentido obrigada a recuar na intenção e ter antecipado esta festa de reabilitação urbana para a sexta-feira. Um recuo que deveria envergonhar os comerciantes. Não se entende como é que perante tantas dificuldades estes mercadores continuar a navegar à bolina e muito próximo da costa, não querendo esforçar-se para entrar mar-adentro, continuando no mesmo “ramram”, e irem ao encontro do que os consumidores esperam desta tão reputada zona comercial que, com o seu ambiente tão “sui generis” a todos encanta. Quando acordarão os comerciantes para enfrentarem os tempos difíceis que aí virão nos próximos meses?

E A ACIC? POR ONDE ANDA?

 Apesar das muitas dificuldades que o comércio de rua atravessa, com a Confederação do Comércio e Serviços de Portugal a ser ouvida no Parlamento e a afirmar que estão a encerrar cerca de uma centena de lojas diariamente, a Associação Comercial e Industrial de Coimbra, (ACIC) aparentemente, tal como os comerciantes em não quererem trabalhar ao sábado, parece estar alheada de toda a movimentação que se passa a jusante.
Será que a ACIC está de férias? Quando regressa? Esperemos todos que seja breve.


O SONO PROFUNDO DO VENDEDOR



O Augusto é vendedor,
nesta feira de velharias,
desapega-se com amor,
memórias de muitos dias,
são para ele o motor,
o motivo de correrias,
que o leva como batedor
do Norte até terras algarvias,
o negócio não é promissor,
agora não está para fantasias,
ainda por cima com este calor,
que dá uma soneira de alivias,
enquanto se “passa” olvida a dor,
até aparecerem outras alegrias,
assim é a vida de fornecedor,
que faz operações sem anestesias,
de um mostrengo faz um navegador,
muda o sofrimento em ninharias,
dá um colorido ao negro ardor,
o que era a vida sem romarias,
sem a militância do venerador,
pouco importam as gritarias,
se ele descansa sem temor,
não quer saber de vistorias,
da Troika ou outro igual salteador,
deixem-no dormir sem arrelias,
Augusto é mesmo trabalhador,
não é igual a qualquer rico fingidor.



UMA COMUNICAÇÃO DE PARCERIA IMPORTANTE PARA ELEVAR A BAIXA




Caros Sócios e Amigos,
A Agência Para a Promoção da Baixa de Coimbra vai realizar, no próximo dia 2  de Setembro, entre as 10 e as 24 horas, uma iniciativa de animação e de promoção gastronómica e comercial na Baixa da Cidade, designada: "O COMÉRCIO VEM PARA A RUA".

Como parceira activa e empenhada na vida da cidade e correspondendo a um amável convite da referida Agência, esta Associação vai estar presente  no referido evento.
A Baixa é um importante, singular e fantástico espaço das nossa Cidade, que vai seguramente recuperar das dificuldades que atravessa e transformar-se num espaço comercial e de lazer de referência, necessitando, para que isso se torne realidade, da nossa presença e do nosso empenhamento colectivo. 

É, perante este interessante e urgente desafio, que apelo a todos os sócios e amigos que aproveitem para vir comerciar, deliciar-se com um bom petisco e divertir-se, nesse dia e também em todos os outros, na Baixa de Coimbra.

Com os melhores cumprimentos,
João Silva
(Presidente da direcção dos Bombeiros Voluntários de Coimbra)


UM COMENTÁRIO SOBRE...



SDaVeiga deixou um novo comentário na sua mensagem "SINGULARIDADES DE UM PEQUENO ESTABELECIMENTO": 


 O problema é que as pessoas estão parvas de todo e não são capazes de fazer aos outros o que gostavam que lhes fizessem a elas, como co-habitantes que somos todos neste planeta, neste país e, em especial, nesta cidade.
Porque quando se rouba a um, roubamos a todos...
Porque quando não pagamos o que usufruímos, somos nós que perdemos a longo prazo...
Mas e paizinhos que ensinem os filhos a respeitar o que é seu e o que é dos outros como se fosse seu?!?
Mas e mãezinhas que ensinam a dizer "por favor", "obrigado" e "desculpe" com sentimento e respeito?!?
Mas e famílias que prezem o tempo em conjunto e partilhem o seu amor com o mundo e os outros, mostrando o património cultural e arquitectónico com orgulho e respeito?!?
Haja esperança, porque a paciência vai mingando... 

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O Belogue da Martinha Lacerda deixou um novo comentário na sua mensagem "SINGULARIDADES DE UM PEQUENO ESTABELECIMENTO": 

 Muito realistas os seus textos.
Gostei. 

SINGULARIDADES DE UM PEQUENO ESTABELECIMENTO





 A mulher entra em passo ligeiro em direcção à casa-de-banho do pequeno café. Percorrendo a distância que a separa da porta de entrada, não cumprimenta, não olha para ninguém. O dono do pequeno estabelecimento, habituado a fazerem da sua casa um “cagatório” público sem “água vai” ou qualquer satisfação e adivinhando o objecto da visita, intercepta a senhora na sua marcha velocipédica e diz-lhe: “bom dia, precisa de alguma coisa?”. A mulher, bem vestida, como locomotiva chiando com barulho de ferro contra ferro, por força de travões a fundo, estanca, vira-se para o balcão e diz: “um copo de água!”.
O homem, o dono do pequeno espaço, contraindo a face, fazendo duas rugas no canto da boca, enterra a cabeça pelo pescoço abaixo, serve-lhe o solicitado copo com água. A mulher bebe de um trago, como se tomasse um comprimido, e avança novamente em direcção ao pequeno cubículo das aliviações. Saiu, novamente engrenada em quinta velocidade de cruzeiro em direcção à porta, como se fugisse de si mesma, ou do acto que talvez a compungisse, mas, por falta de uma moeda na algibeira, assim estava obrigada. Antes de atingir a porta de saída, numa distância que, se calhar, para ela, seria mais longa que uma vereda de pedras envolta em tojos de picos, o homem do café atirou: “obrigada!”. Novamente a mulher, como avião em pista pronto a levantar voo e obrigado pela torre a suster a velocidade, pára, olha para o homem da mesma forma que visse um fantasma e, meia atarantada, soletra: “obrigada!”. E vai porta fora, quem sabe a remoer –ou não- no facto de ter tomado consciência de ter sido mais um cliente “persona non grata” para o responsável pelas imensas despesas diárias daquela pequena loja. O senhor Jorge riu, quem sabe com um ardor na alma, e eu, com simpatia, sorri também.

SAFAR, EIS O VERBO

Helena é uma mulher que veio do nada, mas do nada se tornou gente. Filha de um rancho enorme nascido na pobreza dos difíceis anos de 1950, se escrevesse um livro, provavelmente, seria lido num ápice desde a primeira frase até à última. Mas esses tormentos de escolhos que lhe feriram o corpo e lhe cunharam a alma fizeram dela uma mulher forte. Raro é o dia em que vá comprar o jornal ali para os lados da Rua dos Oleiros e o seu rosto não esteja iluminado por um imenso sorriso que mais parece um pôr-do-sol.
Há dias, estranhamente, estava sorumbática, com cara de nuvem carregada de tempestade. Há poucos minutos, mais uma vez, um pedante bem-falante tinha acabado de tentar dar-lhe a volta. “Veja lá que me chegou aqui, e do alto do seu caro fato de bom corte, pediu-me três maços de Marlboro. Coloquei-os em cima do balcão. O presunçoso abriu logo um e retirou um cigarro que imediatamente colocou nos lábios. Eu fiquei à espera do pagamento. Ele levou a mão ao interior do casaco “Armani” e, fazendo um acto teatral, desfez-se em mil desculpas, tinha deixado a carteira no carro. Que eu desculpasse que ia lá buscá-la. Em cima do balcão ficaram dois maços e outro já aberto foi com ele. Deu-me assim um baque e fui atrás dele. Já estava com o carro a trabalhar e pronto a arrancar. Coloquei-me à frente e pedi-lhe o pagamento. Com um descaramento do “caraças” abriu o vidro da “bomba”e disse que não tinha dinheiro. Ai não?! Então faça o favor de me devolver o maço de tabaco violado. E devolveu mesmo. E foi à vida. Grande cabrão!”. O que uma pessoa está sujeita!
Todos os dias me surgem formas novas de engodos para me tentarem enganar. Olhe há dias apareceu-me aí um tipo com uma revista cara na mão a pedir-me se não fazia o favor de lha trocar por um a maço de tabaco. Abri a página interior e, pela marca, vi que o magazine era meu. Tinha acabado de mo surripiar na entrada. A minha sorte é que eu registo sempre, com uma pequena marca, tudo o que recebo. Já viu este?!
Outra vez, estava aqui dentro e comecei a ouvir lá fora um rapaz ainda novo a falar com uma senhora. Dizia ele, “ó mãe empresta aí 5 euros para eu comprar uma maço de tabaco que logo tos darei, e entrou e pediu o tabaco. Eu dei-lho e ele disse, só um momento que a minha mãe está tirar o dinheiro e foi saindo. Eu vim à porta à espera que a senhora me desse o dinheiro, mas ela não mostrava vontade. Até que lhe falei. Ela respondeu: “ó minha senhora, desculpe lá, mas não tenho filhos daquela idade!”
Olhe, poderia estar aqui horas a contar-lhe as imensas peripécias com que sou contemplada todos os dias”. E, como se com esta conversa em forma de catarse tivesse ficado mais aliviada, lançou um grande e estridente sorriso.


ALÔ, ALÔ, GENTE, VAMOS LÁ ACORDAR PARA UMA BOA SEMANA




 Vamos lá deixar essa máscara de tristeza. Vamos lá a pensar em coisas boas. Por exemplo, se você é homem, pense na Joaquina, aquela moçoila, boa c'mó milho, que está vender fruta no nosso Mercado Municipal Dom Pedro V, e, para além de ter sempre um sorriso rasgado maior que o túnel do Salgueiral, tem também sempre, mas sempre, dois melões na montra, melhores que a fruta de Almeirim, que até apetece apalpá-los...
Se você é mulher, pense no melhor momento da sua vida, quando alguém muito querido a abraçou e você, num sussurro meloso, balbuciou: "abraça-me... abraça-me e beija-me, amor!"

sábado, 27 de agosto de 2011

O "SEXO E A CIDADE" ENCERRADO POR MOTIVO DESCONHECIDO

(IMAGEM RETIRADA DE AQUI)



 O bordel "Sexo e a cidade", um dos mais conhecidos de quantos viandantes fora da graça de Deus que percorrem os caminhos internéticos, foi encerrado devido a causas desconhecidas. 
Fernando Moura, o gerente, explicou na sua página do Facebook que tal movimento contra a propriedade poderá ser causado por ácaros. “Enquanto não conseguem eliminar os milhares de bicharocos que estão a tentar entrar no bordel, os “desparasitadores” foram obrigados a suspender a conta”, como quem diz, a actividade.
Se por um lado, naturalmente numa sã camaradagem, este fecho parcial do estabelecimento nos deixa preocupados, por outro –valha-nos isso!-, estamos mais descansados: ficamos a saber que tal acção não é devida à ASAE. Ainda bem que não é. Esta instituição, tão amada por todos os portugueses e tantas vezes incompreendida pelas suas acções de purificação, apanha por tabela. Está visto que não tem nada a ver com este parcial cerrar de portas deste digníssimo, ilustradíssimo e reconhecido lupanar. É o que vem logo à ideia. É ou não é? Sei lá, uma pessoa pensa logo no pior. Será que o Moura estaria a vender publicidade estragada? Assim com a data de validade ultrapassada, não sei se estou a ser claro. Ou será que as meninas, a Carrie, a Samantha, a Charlotte e a Miranda se envolveram em sexo explícito lá no estabelecimento? Lá capazes disso são elas e o Moura também me induz matreirice –que, saliento, conheço mal, mas, pela pinta, parece-me mais fresco que a Idalina, aquela vendedeira que vende produtos naturais, biológicos, como agora se diz, ali no Mercado Dom Pedro V.
Pode não ser assim, mas, sabe-se lá, também poderia ser uma história destas. É que cá na parvolândia o sexo só pode ser apreciado sob o manto diáfano da inocência, jamais da libertinagem. Por isso mesmo é que a prostituição é permitida para quem a pratica e proibida para quem se aproveita dela. Claro que isto seria difícil de entender num país desenvolvido, mas cá na terra até é muito fácil de perceber. Só os jumentos assim do género do meu Silvano –é o burro que me sustenta nas minhas longas caminhadas pensadoras até à eternidade- é que não entendem. Para melhor ser compreensível criou-se a figura do lenocínio, que é assim uma espécie de fantasma que paira por cima de qualquer prostituta, absolve o seu desempenho na horizontal, e condena quem ganha dinheiro à custa da desgraçada. Eu escrevi desgraçada? Não era isso que queria dizer, mas já que está fica. Pronto! Desgraçada… desgraçada é a pobre que está na estrada e, por cada vender de alma em farrapos em cima de um tojeiro, para além de apanhar com qualquer selvagem no pêlo, apenas cobra cerca de 10 euros. Esta sim é desgraçada. Mas e as outras? Aquelas que por cada gemido fingido facturam 1000 euros, fora os bónus num qualquer lugar da administração pública. Como é que se vai contabilizar isto? Bom, é simplesmente prazer, e prazeres edonistas pagos a peso de ouro jamais serão contabilizáveis. São “Golden Share’s” escondidas cujo interesse público estará sempre acima do privado.
Ai!! Porque é que comecei a escrever? Então não é que se me varreu? Se calhar estou com Alzheimer… sei lá! Se calhar!

ESCRAVOS DO TEMPO







Estou parado no meio de uma encruzilhada,
ouço ruídos intensos de grande velocidade,
multidão sem rosto, de gente atormentada,
olhares esgazeados, respirando ansiedade,
caminham sobre nuvens, vão agrilhoados,
não sentem as algemas, é uma crueldade,
são novos escravos caminhando acorrentados,
nas mãos em concha, carregam bestialidade,
vendedores de tudo e nada, andam ocupados,
as pratas já foram em memórias de saudade,
a aliança de ouro, marca de apaixonados,
em breve será alienada numa loja da cidade,
pouco resta para oferecer, estão tão afundados,
já perderam tudo, os princípios, a dignidade,
agora são dependentes, autómatos agarrados,
prostituem o corpo em becos de clandestinidade,
a alma está negra, carregada, com sonhos castrados,
vão para a religião, para uma qualquer divindade,
multiplicam igrejas de fé, sotaques abrasileirados,
Deus parece dormir perante tanta barbaridade,
pouco importa, o que conta é sermos abençoados,
nem que seja um homem prenhe de brutalidade,
prometendo esperança em mezinhas africanizadas,
saia lá da bruma um salvador de contabilidade,
nos tire da agonia e nos transforme em regulados,
a liberdade já não conta, menos a credibilidade,
somos somente uma massa, pelotão de soldados,
comandados por generais cheios de falsidade,
buscam o poder para protegerem os afilhados,
é o tempo que corre, não há outra verdade,
tomemos consciência de que estamos tramados,
tomámos a sobrevivência em troca da felicidade.

O VÍDEO DO DIA...

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O "OLHO DE LINCE" DÁ OS PARABÉNS AO LUÍS FERNANDES

(IMAGEM DA WEB)





 Confesso, ultimamente ando um bocado deprimido. Tenho andado a evitar ir ao médico para me receitar uns antidepressivos, mas por este andar não sei não! Também não é para menos, porra! Eu não sou um jornalista qualquer. Estive no Afeganistão, lavei as mãos em petróleo no Iraque, disparei na Tetechenia, chorei nos Balcãs. Já entrevistei desde o presidente Obama até ao Manel do pêndulo, relojoeiro no Beco da Parolândia. Bolas!, vocês não estão a ler um desses recém-licenciados de comunicação. À vossa frente, salvo seja, pelo menos através de sentimentos plasmados, está o maior, um dos melhores e mais conceituados “freelancer” do mundo… o “Olho de Lince”, como já deveriam ter adivinhado.
O que mais me amanda para as pedras da calçada é que precisava de estar a cobrir a Cândida Pinto, da SIC, na Líbia, e estou aqui na parvónia –só agora é que reparei na frase que escrevi. Este português é mesmo “fatela”. O que queria dizer é que deveria estar na Líbia a proteger a minha colega Cândida, ambos em trabalhos de reportagem em cenários de guerra e estou para aqui, sem dinheiro que mais pareço um cão esfaimado, e não posso estar lá ao lado dela. Então, continuando, escrevia eu que, em vez de estar a fotografar a fuga de Kadafi, estou para aqui nesta parvalheira, cá no cu de judas, terra do nada acontece, e onde, por falta de assunto, até se “esmifra” qualquer notícia sem interesse nenhum. Não sei se estão a ver, é como aquele despiste de avião no Pólo Norte, há uns anos, onde, para não morrerem à fome, os sobreviventes tiveram de comer os mortos. Aqui é a mesma coisa. O canibalismo é igual. Comem-se todos uns aos outros. São os filiados do mesmo partido a anavalharem-se; são os chefes sem subordinados a espetar a lança no superior; é o vizinho a comer a mulher do vizinho.
Isto é um problema. Não há assunto, e o pouco que acontece é tudo muito calculável. Uma pessoa já sabe que se hoje há um ferido grave amanhã morre. Não sei se estou a ser claro. Falta aqui uma necessária imprevisibilidade.
Já viram, portanto, várias razões para estar em “baixo”. Isto está de tal modo esgotado que, na falta de melhor, até vou ver se aproveito qualquer coisa do director do blogue, o Luís Fernandes, não sei se conhecem –em caso negativo é a vossa sorte, quem vos diz sou eu. O gajo não interessa ao menino Jesus. Como não tenho mais nada para escrever, como o camafeu faz hoje anos –que remédio!-,  vou dar os parabéns ao artolas. É uma tristeza, um periodista como eu, por falta de trabalho, ter de andar para aqui a aturar nódoas destas. Mas o que é posso fazer? Nada. Toquemos o burro –que é ele- para a frente.

-Boa tarde, chefe! Parabéns! Então faz anos hoje, não é verdade?
-É sim, “Olho de Lince”!... Mas… espere lá, porquê tanta amabilidade? Está para me lixar, não?
-Porra, chefe! Uma pessoa já não pode ser amável. Só estou a ser simpático… que diabo!
-Que diabo, não. Eu conheço bem a besta!
-Como? O Chefe está ver-se ao espelho… já estou a ver.
-Que conversa é essa, ó “Olho de Lince”? Você está a desconversar, não está?
-Eu?! Nem pensar! Você deve é estar com um peso na cabeça que não aguenta…
-Quê?! O que quer dizer com isso?! Está a chamar-me…?
-Eu?! Nada disso! Quero dizer é que você não paga o que me deve e anda para aí armado “ós tordos”. Às tantas hoje, porque faz anos, ainda vai jantar ao “Zé Manel dos Ossos”, não?! Não sei se sabe, mas todos os dias o meu almoço é uma sandocha…
-Isso não interessa nada para aqui, ó “Olho de Lince”. Deixe-se de merdas e desampare-me a loja. Olhe vá mas é chatear o Amorim, que é trabalhador…


UMA FEIRA DE USADOS NA PRAÇA VELHA





 Quem hoje, durante a manhã, passou na Praça do Comércio, certamente, foi surpreendido por dois grupos de jovens, cada um com sua banca, a vender bens usados.
Ali poderiam ser comprados vários artigos, desde livros para crianças e adultos, roupa usada a um euro, sapatos, discos de vinil e uma parafernália de objectos que apesar de pouca monta comercial não perderam o seu valor utilitário.
E o que pensam os transeuntes sobre o facto de esta rapaziada estar a vender no largo? Vou entrevistar um senhor idoso, de bigode e chapéu à texano a cobrir-lhe a cãs prateada.
-Bom dia, desculpe, escrevo para um blogue. O que pensa o senhor destes jovens estarem a vender artigos usados aqui na praça?
(Olha para mim, com cara de desconfiado, e, por momentos fiquei à espera do que sairia dali. Ou coice ou martelada)
-O que acho disto? Uma vergonha! Isto admite-se? Vão mas é trabalhar! Estão para aqui a fazer concorrência às lojas de velharias… é o que é! Estou indignado… está a ouvir? –o seu dedo em riste quase que me chegou ao nariz. Ainda consegui cheirar o seu odor a tabaco de enrolar.
-Mas o senhor já lhes perguntou o que estão aqui a fazer? Será que não terão autorização? Sei lá… digo eu… não sei!
-Não perguntei nem vou perguntar. Isso é que era bom! Por quem me toma o senhor? –mau mau! Pensei cá com meus botões. Querem ver que ainda vou levar um enxerto de um velhote?- Autorização? Mas, o senhor pensa que estamos onde? Na república das bananas, é? Por acaso o senhor apoia esta gente e concorda que esteja aqui a vender? –e, mais uma vez, cresce para mim. Estou tramado, Já não há respeito pela imprensa. Lembro-me logo da Cândida Pinto, da SIC, na Líbia, agachadinha, com as balas a zumbirem por cima da sua cabeça.
-Eu nem apoio nem deixo de concordar. Eu só quero escrever qualquer coisa… mais nada! –disse eu assim meio a titubear, e dando um passo atrás, não fosse o raio do velho disparar a direita. Fosca-se, anda uma pessoa a fazer serviço social “à borliú” e ainda leva com um destes. Ó égua!!
Vou ver se tenho mais sorte com a menina Lurdinhas –é uma solteirona que mora ali ao lado, no Beco dos Prazeres, e é mais velha que a torre da Universidade.
-Bom dia, Lurdinhas. Como está? O que acha da iniciativa destes jovens estarem a vender aqui na praça artigos usados?
-Estou bem, obrigado! Acho muito bem. Gosto muito de ver estes jovens a fazerem pela vida. É uma boa experiência para eles. Tenho a certeza de que irão sair daqui muito mais enriquecidos. Mas, diga-me, isto é para continuar?
-Não sei, Lurdinhas, cheguei agora. Não sei nada…
-Como não sabe nada? Então que raio de repórter é você? Olhe lá, e aquele calmeirão ali –e aponta para um dos vendedores- será que não quererá lá ir a minha casa? Tenho lá tanta coisa para vender… (e deu um profundo suspiro. Tão grande que até um grupo de pombas se assustou e, largando penas no ar, partiu espavorido).

FEIRA DE USADOS… QUÊ?

 Vou então falar com o primeiro grupo, junto à ex-farmácia Miranda. Têm uma manta no chão pejada de livros infantis. Alguns compradores adquirem vários livros a 1 euro e outros a 50 cêntimos.
Aqui, a vender, estão três jovens. Uma é a Liliana Simões, licenciada em sociologia. Outra é a Nazaré Neves, licenciada em cerâmica, pela ARCA. E outra ainda é a Fátima Faria, licenciada em agricultura biológica.
-Então, contem lá, isto é muito mais do que parece. Certo? Contem lá, porque é que estão aqui. Interrogo.
-Nós –responde uma delas-, tal como aquele outro grupo ali –e aponta lá mais para a frente-, somos formandas de um curso de formação ministrado pela Câmara Municipal de Coimbra a jovens e adultos em situação precária de emprego –estamos todos desempregados. Estamos aqui numa acção de empreendedorismo e, proximamente, estaremos noutra de educação financeira.
-E a experiência está a ser gira? Interrogo.
-Muito engraçada. Pode crer! Esta acção de nos colocarmos no lugar de um qualquer vendedor é muito enriquecedora. Sentirmos na pele a frustração de não vender. Está a ser fantástico.
-E já venderam alguma coisa?
-Já vendemos 9 livros…
-É pá!! –manifesto admiração.
-É por ser para crianças, e tudo muito baratinho…

E OUTRO GRUPO? VENDE OU NÃO VENDE?

 Mais à frente, quase no meio da praça está outro grupo de vendedores. É constituído pela Joana Cortesão, licenciada em Comunicação e Relações Públicas; pela Ana Faria, que é engenheira química; pela Anabela Figueiredo, licenciada em Serviço Social; e pelo Afonso Ferreira, licenciado também em Serviço Social. Todos em situação de desemprego.
Estarão aqui todos até às 13h00. A experiência está a ser fantástica, referem em coro. “Depois disto vamos todos dar mais valor a quem está a vender num qualquer balcão. É certo que estamos aqui numa acção de formação, mas dá para sentir a frustração de se precisar de vender e não se conseguir. As pessoas olham, olham, mas não compram. Olhe que ainda não nos estreámos. Estamos a ver que nem para uma “bucha” ali no restaurante dá. Você não quer comprar este disco de vinil, um dos primeiros de Frank Sinatra? Não?! E este livro sobre blogues… não vai?”