quinta-feira, 30 de novembro de 2017

IN MEMORIAN





Morreu  Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés.
Leia aqui a notícia (clique em cima)

terça-feira, 28 de novembro de 2017

QUANTO VÃO CUSTAR AS FESTAS DE NATAL E DE ANO NOVO NA CIDADE?

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Hoje, os dois jornais da cidade, em nota de rodapé na primeira página, remetem para o interior do caderno o que se passou ontem na reunião do executivo municipal.
O Diário de Coimbra (DC) titula que “Manuel Machado forçado a descer o IMI”, e continua: “Proposta avançada pelo presidente da Câmara de Coimbra foi chumbada, sendo aprovada uma redução no IMI com os votos da oposição e da CDU”.
Por sua vez, o Diário as Beiras, virando os holofotes para festa que aí vem, noticia o seguinte: “COIMBRA HMB e PESTE & Sida actuam na noite de fim de ano
E entramos para o desenvolvimento dos dois diários. O DC ocupa cerca de dois terços de uma página sobre o chumbo da proposta de 0,34 do IMI, apresentada por Manuel Machado, líder do executivo PS, e, por contraproposta da oposição, passando para 0,33 a taxa a cobrar no próximo ano. Segundo o jornal, perante a descida de um ponto percentual, citando Machado, este terá desabado: “Acabámos de despachar 900 mil euros!”. Continuando a citar o DC, “(...) Regina Bento, vereadora (PS) com o pelouro da Contabilidade e Finanças, sublinhou que uma redução no valor do IMI tornará ainda mais difícil a discussão do Orçamento e das grandes Opções do Plano para 2018 (...)”.
Noutra página ao lado, em cerca de dois terços, a jornalista do DC desenvolveu em título que “Coimbra celebra Natal e Ano Novo com mais de uma centena de espectáculos”. Minuciosamente conta que “Quando baterem as 18 horas da próxima sexta-feira acende-se a iluminação natalícia que até 6 de Janeiro, dará outra luz à cidade. Estará, assim, oficialmente aberto o programa “Luzes sobre a Baixa de Coimbra” que celebra o natal e o Fim de Ano e chamará milhares de pessoas à cidade. Entre 45 dias de actividade -embora o programa tenha sido delineado para decorrer entre 1 de Dezembro e 6 de Janeiro, há actividades desde 25 de Novembro e até 9 de Janeiro. (…) Oito minutos de fogo de atifício sobre o rio Mondego marcam o início do novo ano. Seguem-se, pelos quatro palcos instalados na Baixa (largo da Portagem, praça do Comércio, praça 8 de Maio e Terreiro da Erva), a música dos HMB, dos Peste & Sida e Karetus, os cabeça de cartaz do programa.
Por sua vez o Diário as Beiras, em meia página, titula o seguinte: “45 dias de animação dão as boas-vindas à época natalícia em Coimbra”. Prosseguindo, “Mais de 100 espectáculos, a decorrer ao longo de 45 dias, levarão até ao dia 8 de Janeiro, o brilho da época natalícia à Baixa da cidade. O programa “Luzes sobre a Baixa de Coimbra”, promovido pelo município, foi dado a conhecer ontem e propõe iniciativas para todos os tipos de público, entre os quais 115 espetáculos, 14 exposições, concertos, arruadas musicais, actividades para crianças, cantares de Natal e as iluminações de rua, que este ano se estendem à margem esquerda do Mondego, no eixo que liga que liga a Ponte de Santa clara e o Convento São Francisco, além de duas árvores de Natal de grandes dimensões “instaladas” junto aos Paços do Concelho e no Largo da Portagem. (…) O programa “Luzes sobre a Baixa de Coimbra” -que vai para a quinta edição-, pretende “não só dar a conhecer a diversidade cultural da cidade, mas também reforçar a sua atratividade” durante a época natalícia, sem esquecer “a promoção e valorização do comércio da Baixa”, lembrou o presidente da câmara, Manuel Machado, durante a a sessão de apresentação do programa.

QUANTO CUSTA?

Para os mais velhos como eu -que já sou sexagenário-, que, no decurso do seu tempo, levaram a vida a contar tostões -agora cêntimos- sempre que se contratualizava um serviço, ou uma qualquer compra, surgia a pergunta sacramental: quanto custa?
Ora pasme-se: ontem, na sessão do executivo, o custo total destes eventos não passou na ordem do dia. Outro espanto, e aqui é que me salta a tampa, entre vereadores do regime (PS) entre a oposição, que aprovou, e jornalistas não houve uma alma curiosa que interrogasse quanto vão custar estas festas ao erário público. Por isso mesmo, os relatos dos dois jornais não referem os valores cabimentados.
Por seu lado, também não deixa de ter o seu quê de esquisito o facto de a página na Internet do Município de Coimbra, em várias crónicas desenvolvidas sobre o efeito, não mostrar os montantes elencados. Será esta forma de comunicar um aval à transparência dos actos, a que a administração pública está obrigada?
E os jornais diários, o chamado contrapoder, porque, não fazendo perguntas, se limitam a publicar o que vêem e ouvem? Em introspecção, por que não se questionam? Por que não interrogam, por exemplo, como é que a descida de um ponto percentual no IMI, acarretando um benefício de 900 mil euros para os munícipes, pode constituir uma tragédia nos cofres municipais e queimar cerca de 300 mil euros -estimativa minha, já que não consegui obter a resposta certa- em foguetório e circo não causa qualquer engulho?
Podia perorar sobre se esta forma de incinerar milhares de euros no Natal e Ano Novo é, de facto, uma boa forma de desenvolver a “promoção e valorização do comércio da Baixa”, mas não vou por aí. Já não tenho paciência. Sinto uma enorme tristeza quando uma informação, que, por ser tão óbvia e relevante, deveria ser pública e não o é. Por não conseguir entender a razão de cada um, entrosado na organização política e social, não fazer o que está obrigado, apetece-me fugir daqui. Com franqueza!

ENTRETANTO...

A APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, em 14 de Novembro passado e em segunda via a 23, enviou a todos os comerciantes da Baixa este e-mail:

Caro Colega,
Na sequência do encontro de comerciantes realizado em Outubro, no Salão Brazil, vimos enviar a proposta de programação de Natal para a Baixa de Coimbra.
As actividades/iniciativas propostas pela APBC, que vão também integrar a programação de Natal da Câmara Municipal de Coimbra, são:

· Animação infantil aos fins de semana e feriados (25 de Novembro a 23 de Dezembro);
· Chegada do Pai Natal no dia 25 de Novembro pelas 11h;
· Mascotes de Natal (Rena e Boneco de Neve);
· Arruadas musicais com os Dixie Gringos (8, 9, 16 e 23 de Dezembro de 2017);
· Festa do Galo - semana gastronómica (1 a 17 de Dezembro)
· Desfile de viaturas antigas (26 de Novembro);
· Actuações de grupos populares (1, 2, 3, 8, 9, 10, 16, 17, 23 de Dezembro);
· Tômbola de Natal com oferta de um ou mais "Cabaz da Baixa" composto por produtos das lojas aderentes à iniciativa.

A distribuição dos cupões para a Tômbola de Natal e o sorteio do cabaz de Natal apenas faz sentido com a participação dos comerciantes. À semelhança do ano anterior, solicitamos que todos contribuam para a criação do cabaz de Natal com produtos dos vossos estabelecimentos comerciais.
Os comerciantes fizeram notar a importância da sonorização na Baixa de Coimbra durante a época natalícia. No entanto, devido ao elevado orçamento da sonorização (4.300,00€) e à incapacidade financeira da APBC para levar esta iniciativa a cabo, gostaríamos que os comerciantes participassem e colaborassem com um contributo monetário de 25€ por estabelecimento.
A sonorização da Baixa apenas avançará quando a totalidade do dinheiro estiver reunido.
Aguardamos uma resposta relativamente ao interesse em participar nas iniciativas da tômbola de Natal e da sonorização da Baixa até ao final do dia 17 de Novembro.
Acreditamos, que todos juntos, conseguiremos ter um Natal de 2017 cheio de agradáveis surpresas.
Agradecendo antecipadamente a atenção dispensada ao presente assunto, atenciosamente,
O Presidente da Direcção da APBC
Vítor de Sá Marques”

NO APROVEITAR SE ACUMULA O GANHO...

sábado, 25 de novembro de 2017

UM QUADRO PARA PENSAR

Foto de Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Pordata actualizou o quadro-resumo de Portugal, com dados de 2016. Espreite: https://goo.gl/2MHdhj

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

BOA TARDE, PESSOAL...

MAIS UM PREGO NO CAIXÃO LARANJA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Segundo o Campeão das Províncias, “Teresa Anjinho, que encabeçou uma lista (de Centro-Direita) para a Assembleia Municipal (AM) de Coimbra, vai coadjuvar a nova titular da Provedoria de Justiça.
Não é nada que não se esperasse e já não estejamos habituados, mas, sinceramente, com estas renúncias ao mandato consagrado pelos eleitores, o que espera o PSD/CDS, secção de Coimbra, para o futuro? Primeiro foi Jaime Ramos -que já tinha anunciado que em caso de perder a cadeira municipal principal renunciaria. Agora foi a líder da sua lista à Assembleia Municipal.
Enquanto cidadão fico indignado com este procedimento. É certo que também o PS já fez o mesmo “engana-tolos”.
A lei eleitoral, no tocante às autarquias, deveria consignar que um edil só pode renunciar por comprovada doença ou por condenação criminal, depois de transitado em julgado -esgotadas todas as possibilidades de recurso.
A continuar assim, dá impressão que os candidatos andam à procura de emprego. Só são candidatos às câmaras municipais por, na altura, não terem melhor.
É esta forma de estar, entre eleito e eleitor, que melhora a relação entre cidadão e político?
Apesar da história nos trazer amargos de boca, nunca, como agora, os políticos foram tratados tão abaixo-de-cão como se verifica hoje. A lei eleitoral não devia ser mudada? Estão à espera de quê? Esperam que a política partidária cheire ainda mais mal?

A POUCA VERGONHA QUE SE ASSISTE

Ontem fui a um almoço convidado por amigo que comemorava o seu aniversário. Sentado ao meu lado estava um desconhecido para mim. Por arrasto da conversa, um dos temas desemboca na política local. Às tantas o homem, que não mede as palavras, deu em acusar pessoas por corrupção, dando nomes. Então o “mostrengo” -para mim é o que é e o que vale- deu em contar perante todos o caso de um seu amigo envolvido no licenciamento de um determinado empreendimento na cidade nos últimos anos. Saltou-me a tampa e disse-lhe o que tinha a dizer, cara-a-cara. Se os indignou tanto, a ele e ao amigo, porque não denunciaram? A besta contou aquilo com a maior displicência sem ter noção de que -sendo mentira- estava a difamar pessoas. Mas o mais grave é que este “conto” entrou no universo popular. É de bom tom, fica bem, acusar -sem provas, digo eu!- a classe política.
É verdade? É mentira? Para mim, embora conhecendo mal as pessoas em causa, é! E disse ao homem que não acreditava no que ele estava a propagandear gratuitamente. E dei-lhe uma lição de moral, que não aceitou, obviamente.
Mas, imaginemos que até é mesmo mentira -e aqui é que mora o busílis da questão: a dúvida fica instalada no meu consciente. A suspeição vai corroer para sempre a confiança que deposito nestas pessoas.
Claro que podemos dizer que eu também posso denunciar o caso. É verdade. Mas, considerando-me pessoa de bom-senso, não estando envolvido nem tendo qualquer conhecimento da matéria em causa, tenho o direito de arrastar o nome de pessoas para a lama? Por que as coisas são mesmo assim: mesmo que os visados sejam ilibados pela justiça nunca mais serão inocentados pelo povo. E porquê? Porque o cidadão comum, por um lado, condena antes do julgamento, por outro, não acredita nos tribunais. Acha que estão todos “feitos” para branquear os políticos.
Este é o povo que temos, mas, diga-se, é a soma de muitas premissas alimentadas por legislação que concorre para instalar a suspeição.
Pensemos nisto.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

EDITORIAL: OS VARRIDOS DO COMÉRCIO (1)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Tentando trazer à colação a história recente do comércio na Baixa, com a maior honestidade intelectual e até onde a memória me conduzir, vou tentar retratar os últimos cerca de vinte anos, mais precisamente a partir de 1995. Porquê continuar a malhar no desgraçadinho, como quem diz escrever sobre o comércio? Porquê começar em 1995? Porquê o título? À primeira interrogação respondo que continuo a escrever sobre a actividade mercantil na Baixa por que, a meu ver, a história do comércio no coração da cidade, quer no nascimento, quer no crescimento, quer no pico máximo, quer na declinação (que vivemos hoje), não está feita. Embora eventualmente possa fazer remissões para o passado, estabeleço uma data de começo em 1995 por ter sido um ano de transição, o início de um novo ciclo político de abertura à esquerda, após dez anos de governos PSD, a viragem do milénio, o marco da chegada de uma nova sociedade mais informada e informatizada, a data em que, de certo modo, nasceu a última fornada de consumidores -que estão agora, neste ano da graça de 2017, com 22 anos. E é precisamente nestes dois estratos sociais, velhos comerciantes e novos consumidores, que, ao mesmo tempo que descrevo, vou tentando arranjar explicação para a queda do comércio tradicional, visto pelos olhos de um operador que começou a trabalhar na Baixa em 1973.
Porquê o título “os varridos do comércio”? Furtei a presente denominação a um antigo comerciante, e meu amigo, que chama assim aos colegas que foram “empurrados” para uma insolvência anunciada ou ainda estão no activo por necessidade e sabem antecipadamente que o seu destino está traçado a curto ou a médio prazo.
Foi precisamente por isto que, apesar de já ter produzido dezenas e dezenas de textos sobre este mesmo assunto, senti necessidade de escrever novamente sobre o declínio da classe.
Os comerciantes de rua serão vítimas de um sistema político interesseiro, onde só os grandes grupos económicos contam e os pequenos são moléculas invisíveis carregadas de obrigações?
Serão despojos de uma cultura assente no costume, em que a mudança e a novidade são os trilhos onde corre a máquina do progresso, que nunca foi tão rápida como hoje?
Serão peças velhas, sem utilidade, resquícios de um tempo que passou de moda?
Serão simplesmente os guardiões de um museu -que, como actores de uma peça trágica, dando vida às urbes pagam para trabalhar- em que se transformaram os velhos centros das cidades para os turistas e novos consumidores?
Como é evidente não vou responder a qualquer destas perguntas. O que pretendo é, partindo do passado para o presente, com seriedade fazer reflectir e, cada um por si, chegar a uma conclusão.

I

Estamos em 02 de Outubro de 1995. Ontem realizaram-se as eleições legislativas. António Guterres, ganhando o pleito eleitoral com maioria relativa, depois de uma década de governos PSD, centro-direita, liderados por Cavaco Silva, abre a porta de entrada do país ao Partido Socialista (PS), centro-esquerda.
A Câmara Municipal de Coimbra é liderada por Manuel Machado, em representação do PS.
O movimento comercial na Baixa segue o seu curso praticamente igual aos últimos vinte anos. A cidade, para quem vem do exterior, é uma espécie de Meca comercial. Aqui tudo se compra, aqui tudo se vende. As ruas estreitas e largas continuam apinhadas de pessoas. Os transeuntes, constituídos por nativos e visitantes de toda a região centro que aqui se deslocam para fazer compras, fazem fila indiana para percorrer escassos metros de calçada. Por esse facto, por um desmesurado movimento de pessoas a atropelarem-se nas vias, e também por começar a ser moda retirar os automóveis dos centros históricos, cinco anos antes, em 1990, Machado manda retirar o trânsito automóvel e transforma as Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz em vias pedonais. Os jornais locais anunciam que no Verão, sobre orientação de Fernando Távora, que fora também o responsável pelo projecto de pedonalização das ruas largas, vão iniciar-se as obras de rebaixamento do piso da Praça 8 de Maio.

II

A zona da Alta, sobretudo as Escadas de Quebra Costas, para além da hotelaria, está essencialmente povoada com estabelecimentos dedicados ao mobiliário. Embora houvesse também dois alfaiates, uma livraria, uma loja de electro-domésticos, uma oficina de rádios, uma casa de canetas, um velhustro e um alfarrabista.
Abaixo do Arco de Almedina, a Baixa prossegue o seu curso aparentemente normal. No entanto, pressente-se no ar alterações ao seu “status quo”, ao seu situacionismo, e alguma preocupação, sobretudo para os profissionais do comércio. A abertura do Continente e da Makro no Vale das Flores ocorrera dois anos antes, em 1993, e, embora recente, a deslocalização de clientela estava em curso e já provocava mossa no negócio. Nessa altura, aquando da abertura destas grandes superfícies, chegou a realizar-se uma manifestação de protesto liderada por César Branquinho, um comerciante com lojas na Rua das Padeiras, próximo do PS e muito activo nas lides associativas e que chegou a ser presidente da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra.
Como se fosse pouco a concorrência que vinha em grande escala, por força das políticas de Cavaco Silva no obedecer a directivas europeias -Portugal aderiu à então CEE, Comunidade Económica Europeia, nove anos antes, em 1986-, pelo abandono dos campos, o terciário passou a ser um porto de abrigo de todos os encalhados. O resultado deste encarte é que começaram a abrir negócios em tudo quanto era vila e cidade periférica da grande urbe. Por isso mesmo, aos poucos, Coimbra ia perdendo a atractividade comercial que sempre tivera ao longo do século XX. Mas, salienta-se, apesar disso, a cidade fervilhava de gente. Um ano antes, em 1994, pela adesão de Portugal à Organização Mundial de Comércio, começaram a surgir as “lojas de trezentos” como cogumelos em manhã de nevoeiro. Na Rua das Padeiras, onde irrompeu o primeiro espaço comercial onde se vendia tudo, desde guarda-chuvas a ferramentas, havia longas filas de pessoas à espera para entrar.

III

O comércio na Baixa está dividido por áreas classicistas. As ruas largas, a Visconde da Luz e Ferreira Borges, constitui a fina flor que tem por objecto servir a elite da cidade. Para além de deter os melhores cafés e muitos consultórios médicos nos pisos superiores, aqui estão situadas as grandes casas de moda e duas sapatarias de marca.
Nas ruas estreitas e praças adjacentes está o comércio mais popular. Neste ano encerrou um grande armazém de mercearia nas ruas estreitas, os tendeiros que vendem tudo em porção de quilo temem a sua extinção.
A ocupar verticalmente todo o edifício, o ponto de venda está no rés-do-chão. Está muito centralizado, isto é, um comerciante chega a ter oito lojas a vender o mesmo artigo num espaço de cem metros quadrados entre vielas que se cruzam. Outros, na mesma rua ou praça, quase encostados uns aos outros, detêm dois, três e quatro estabelecimentos, todos com o mesmo artigo para venda. Não é surpresa saber que algumas destas empresas têm no seu quadro de pessoal quarenta trabalhadores, alguns deles com mais de trinta anos de casa. Mas as vendas estão a cair muito rapidamente e muitas destas firmas não conseguem ganhar para pagar aos funcionários. Os despedimentos, sobretudo nos servidores mais novos para não pagar indemnizações, começam em catadupa. As grandes empresas, que deram nome à Baixa comercial nas últimas décadas, entram em falência técnica e vão durar poucos anos.
(ARTIGO EM CONTINUAÇÃO)

terça-feira, 21 de novembro de 2017

FALECEU O SENHOR ANTÓNIO, DA SAPATARIA REIS





Por volta do meio-dia, quando o Sol estava a pique, foi hoje a enterrar, no cemitério de Santa Clara, António Marques Ferreira, de 86 anos, o “Senhor António, da Sapataria Reis”, como era conhecido em toda a baixa comercial no tempo quando pessoa e estabelecimento eram irmãos siameses na identidade.
Como marçano, tendo como colega Manuel Magalhães -também já falecido-, começou ainda novo a vender sapatos na desaparecida Sapataria Reis, com frente para a Rua Eduardo Coelho -antiga dos sapateiros- e Largo da Freiria. Hoje deu lugar a um bonito estabelecimento de calçado para criança: A Loja da Laura. Anos mais tarde, talvez em fins das décadas de 1970 e princípio de 1980, por cedência de quotas da antiga proprietária da Sapataria Reis, viria a constituir uma sociedade com o seu colega Magalhães. E por aqui se manteve até por volta de 2008, altura em que cedeu os seus direitos de propriedade a uma filha de Magalhães.
Apesar de ter deixado o comércio com cerca de 75 anos, o Senhor António parecia vender saúde. Tal como Magalhães, o seu sócio no negócio, tinha por aqui muitos amigos, que diariamente faziam da velha sapataria desaparecida -encerrou em Maio de 2011- uma espécie de porto de abrigo para grandes conversas e jogo da moeda. Aqui se juntavam em grupo ao longo da tarde. Era muito interessante sentir o quanto este antigo espaço comercial contribuiu para a revivificação desta zona.
Para a família enlutada nesta hora de sofrimento, em nome da Baixa comercial, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames. Até sempre, Senhor António.

UMA OUTRA BAIXA DESAPARECIDA

Embora talvez poucos pensem nisto com a mesma profundidade como escrevo, porque estou cá, as pequenas lojas, sobretudo as mais antigas, que constituem o universo do comércio tradicional estão para a cidade como as flores estão para os jardins. Se os negócios vão desaparecendo e substituídos com outros ramos, resultado de várias crises, económica e social, as áreas habitáveis vão secando como desertos e, conduzindo ao isolacionismo e ao individualismo, transformam-se em zonas de pouco humanismo. É nestas alturas que o pior que as pessoas transportam dentro de si, como a maldade, a inveja, o falso testemunho e a difamação, vem ao de cimo. É nesta instabilidade social que, acentuadamente nos mais frágeis e sensíveis, a ansiedade dispara, as depressões marcam o dia e a falta de sono branqueia a noite.
Não sei se consigo explicar por palavras escritas o quanto foi importante a antiga Sapataria Reis, nas pessoas dos seus sócios, ao longo das décadas para uma vivência desaparecida da Baixa. É certo que todos os dias era um bulício popular, um forró coroado com tinto bem regado, e muitos não gostavam, sobretudo pelo barulho proferido pelos contraentes do jogo da moeda: “duas”, “quatro”, “seis”, “oito”, que ecoava ao longo da velha rua, mas era um encanto para os meus ouvidos.
Retirando a ladainha de um ou outro cego -que nesse tempo se digladiavam por um lugar na esquina-, agora praticamente o silêncio cobriu toda a envolvente, Tenho muita saudade desse tempo. Certamente pelo pitoresco, pela invulgaridade, gostava muito de os ouvir. Pressentia naquela manifestação popular uma espécie de prova de vida. Pela sua falta, impressionou-me tanto que em 2013 até compus uma canção a que chamei “Hino à cidade “perdida”:


HINO À CIDADE PERDIDA

Olhem, tenham dó”,
gritava a cigana,
tenho dez filhos e “mi home, entrevadinho”,
está na cama, coitadinho, e não pode trabalhar”;
Davam uma moeda,
tinham compaixão,
na outra esquina um ceguinho repetia a lengalenga
trauteada em oração;
No largo em frente
jogavam à moeda,
e entre um copo e uma sardinha na tasca da Mariazinha
se depuravam as mágoas;

ESTA CIDADE JÁ NÃO EXISTE
SÓ NA MEMÓRIA É QUE PERSISTE

O tempo passou
e tudo mudou,
e a minha rua que era luz, agora é triste, tem uma cruz
p’ra lembrar que pereceu;
Já nem um pregão,
um gato a miar,
só o silêncio modorrão invadiu seu coração
e de quem teima em ficar;

ESTA CIDADE NÃO TEM VIVER.
JÁ NÃO TEM VIDA, ESTÁ A MORRER.

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

O NOSSO FISCO NÃO DEIXA QUE NOS FALTE NADA

Fisco
(Imagem do UNIPLACES-PORTAL)


"Fisco lança guia para ajudar alojamento local"

 “Com o objectivo de auxiliar contribuintes com as novas obrigações fiscais que envolvem o alojamento local, o Fisco publicou um guia completo. A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) espera que com a nova ferramenta, menos pessoas fugirão aos impostos.



UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...






Aguinalda Simões Graça Amaro deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”":


Boa noite, Sr. António Luís Fernandes Quintans. Mais uma vez obrigada por escrever para o povo. Li tudinho...
Eu estou na Rua da Sofia. Mesmo em frente ao Terreiro da Erva. É horrível, horrível. Há três semanas tive que ir à PSP. Não fui fazer qualquer queixa, apenas pedi para desabafar com alguém. Falei, falei... É muita toxicodependência à luz do dia, à frente de todos. Estamos no café e sentimo-nos intimidados. Eles vêem que a gente vê... É um entra e sai a toda a hora a trocar notas de 5... Digo que não tenho, tratam-me mal. Casa de banho: tenho que pôr um papel “avariado”. O meu filho passa no Terreiro da Erva todos os dias, pois anda na São Bartolomeu (na escola). O meu coração... Seringas pelo chão.
Saem completamente "mocados "do terreiro. É horrível! Sentados na travessa a fazer a droga ainda me vêm pedir prata e limão. Eu sou obrigada a passar por isto????
Foram os polícias simpáticos. Todos os dias tem passado um agente, e pára pelo café. Pedi por favor para o fazerem, para ver se os toxicodependentes se afastam.
Estas duas semanas tem sido mais calmo o movimento por lá. Tenho medo. Fica noite cedo. Para me sentir mais segura tenho fechado o café às 18h30. Quero sair e apanhar o autocarro com o meu filho enquanto há gente e portas abertas. Infelizmente é a única coisa que posso fazer.
Desculpe o desabafo mas realmente não é seguro. A Baixa não é nossa... Um bem-haja.




Antonio Madeira deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”":



Obrigado Amigo Luis, por compreender a minha mensagem de revolta e a clarificá-la por forma a que todos saibam as injustiças porque passam os comerciantes desta zona.
Bem haja Amigo. abr. 



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Jorge Neves deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: UMA“PONTUAÇÃO DE MERDA”":

A Baixa e a baixinha de Coimbra acabou para tudo que seja comercio tradicional .
Jorge Neves

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

EDITORIAL: UMA “PONTUAÇÃO DE MERDA”

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





António Madeira, para além de ser um respeitado munícipe na Baixa, é, desde há muitos anos, o proprietário da Residencial Moeda, na Rua da Moeda, confinante com a Loja do Cidadão. Desde há uns tempos, na sua página do Facebook, tem vindo a plasmar a sua impotência para vencer o isolacionismo a que está votado e a lamentar o que se passa na zona envolvente paredes-meias com o seu estabelecimento, o conhecido “Bota-abaixo”, a área do Largo das Olarias.
Desta vez, na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial) postou o seguinte post:

OBRIGADO SR. PRESIDENTE DA CÂMARA POR MAIS ESTE COMENTÁRIO E PONTUAÇÃO DE MERDA ACABADINHO DE CHEGAR DE UM CASAL ESPANHOL.
Convido-o a vir visitar o meu estabelecimento e ver as excelentes condições com que recebemos os nossos clientes, para no fim termos uma pontuação miserável por sua causa. HONRE A SUA PALAVRA E FAÇA O QUE PROMETEU.
A noite no "Bota-abaixo" tem que mudar. ESTAMOS FARTOS.!
A sua página de comentários em Booking.com
Anónimo
La ubicación está en peatonal parte antigua cuando cierran negocio a las 19 ha se vuelve muy inseguro.”

Para se perceber melhor vamos aclarar algumas premissas simples referidas nesta crónica. Comecemos por explicar o que é o “Bota-abaixo” e o “Booking.com”.
OBota-abaixo” é a denominação de uma área de casario antigo que começou a ser demolida em meados de 1960 para construir uma avenida central que ligaria a Rua da Sofia à margem do Rio Mondego. Alegadamente por falta de dinheiro, a obra pública viria a ser interrompida e constituiria um enorme buraco até aos finais de 1990 -quando os terrenos foram vendidos em hasta pública pela Câmara Municipal de Coimbra à Bragaparques, uma firma de Braga, que ali construiu um grande estacionamento subterrâneo e vários prédios, entre eles a Loja do Cidadão. Depois disso continua inquinada com os interesseiros do Metro. Daí apelidar-se a zona de “Bota-abaixo”.
OBooking.com” é um site de reservas para hotéis e congéneres de dormidas a nível mundial. No fim de pernoitar no alojamento o cliente comenta e classifica a estrutura turística a seu modo. Está de ver que esta manifestação pessoal acaba por ser uma espécie de carta de recomendação para outros, quem, no mundo inteiro, estiver interessado no mesmo espaço e pretenda deslocar-se e alojar-se.
Ora, agora voltando ao protesto de António Madeira, o que escreveram os espanhóis, que estiveram alojados na Residencial Moeda, no “Booking.com”? Aproximadamente, tão só como isto:
A localização está edificada na parte antiga. Quando encerram os comércios às 19h00 se torna muito insegura.

Prosseguindo na análise desta mensagem escrita, vamos a perguntas:

-O turista lamentou os serviços prestados dentro do empreendimento hoteleiro? Não senhor, o espanhol queixou-se da zona envolvente.
-E as consequências para o empresário? Mesmo sendo por razões exteriores ao seu serviço, assume os prejuízos e paga pelo mesmo, ou não? Claro que sim!
Em balanço, ou seja, por um problema que cabe inteiramente às entidades públicas que gerem a segurança pública na cidade, este empresário pode acabar na falência. Está correcto o alheamento a que está a ser votado? Sabendo que na zona existem outros empreendimentos no género, é óbvio que todos se encontram no mesmo patamar de abandono e com um pé na insolvência, mas, pelos vistos, num cenário que todos conhecemos bem, ninguém protesta.

TODA A BAIXA É UM IMENSO “BOTA-ABAIXO”

O que se está a passar na zona enunciada é o mesmo que se apreende e constata em toda a Baixa. O que está em causa nem é uma efectiva segurança material mas antes, pela desertificação notória depois do encerramento do comércio às 19h00, uma sentida insegurança psicológica. Pelo facto de haver poucas pessoas a circular à noite, como é natural, a todo o passo, em ruas com pouco movimento e pouco iluminadas, damos de caras com indivíduos de aspecto maltrapilho e emoldurados com rosto pouco amistoso. Posso escrever à vontade porque moro e trabalho nesta zona, retirando um ou outro caso pontual, desde há meia dúzia de anos que não há notícias de criminalidade, violência, através de assaltos sobre pessoas.
Se bem que, sejamos justos, na área do Bota-abaixo, apesar de estar inserida na Baixa, há uma diferença para pior: os sem-abrigo e toxico-dependentes concentram-se em grupo. Depois do encerramento, executado há anos, de alguns becos com portões, estes últimos injectam-se à vista de toda a gente, causando algum horror ao transeunte menos familiarizado com estas questões de saúde pública. já escrevi várias crónicas a tentar trazer à discussão a criação de uma sala de chuto nesta área velha. A resposta, claro está, nunca veio. É preciso inventar novos conceitos.
Já muito se falou, já muito se escreveu sobre este assunto, sobretudo na recente campanha eleitoral, porém foi fumo que não deu fogo, aliás, pelo deixa-correr, nada a que todos não estejamos já habituados.

QUEM LEVA A SÉRIO A BAIXA?

É público que a Reforma Administrativa de 2013, que levou à agregação das juntas de freguesia em todo o país, foi um fiasco -"A maioria das Freguesias agregadas defende que a reforma administrativa não melhorou a gestão nestas autarquias", refere um estudo que leva a Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) a defender a reposição das juntas extintas contra a sua vontade.”. Retirado daqui. E como é de prever a Baixa de Coimbra não constitui excepção. Passados quatro anos, desde essa altura, a zona histórica está entregue a si mesma, sem que alguém leve os seus problemas ao executivo ou, no mínimo, à Assembleia Municipal. Para piorar, quando deveriam permanecer na Baixa, transferiram-se os serviços da junta, agora agregada, para os Arcos do Jardim. Durante estes últimos quatro anos, exceptuando a campanha alegre, a contactarem munícipes, nunca se viu por aqui o presidente da Câmara Municipal, o presidente (agora substituído) da União de Freguesias de Coimbra. Também nunca se viu um deputado à Assembleia a saber dos problemas que afligem quem cá mora e trabalha.

MAS ATÉ A SEGURANÇA PÚBLICA?

Sabe-se que a segurança pública é da responsabilidade da PSP, mas o presidente da Câmara Municipal, enquanto chefe máximo da protecção civil, também aconselha e dá orientações sobre a garantia de bem-estar na cidade. E quando escrevo “segurança pública” refiro também a protecção psicológica que qualquer cidadão nacional ou estrangeiro tem direito. Escrevo isto porque, é dos livros, quando se fala de segurança pública lá vem o responsável máximo, mesmo que seja interino, pela instituição com um molho de números de estatística onde, a todo o custo, tenta mostrar que na Baixa não há criminalidade que justifique mais agentes de turno.
Não entro em sentimentos de ocasião, que um recente caso de espancamento à porta do Mc Donald's fez disparar a rebelião da oposição no executivo, em que à custa da desgraça alheia se tenta capitalizar juros políticos. O que escrevo, e não é só agora, é que a cidade, a Baixa, a Alta e outras zonas precisam de um policiamento diário, durante o dia e a noite, de proximidade. Na última década, digo eu, teria sido neste ramo de segurança pública a cargo do MAI, Ministério da Administração Interna, onde, para poupar, mais cortes teria havido e, em consequência, por um lado, terá gerado nas pessoas de bem um sentimento de medo, por outro, nos malfeitores, uma ideia de completa impunidade.
Uma coisa é certa, porque o texto já vai longo, é injusto, é ilegal, é inconstitucional que para poupar no erário público se sacrifiquem investidores que arriscam a sua vida no negócio. Estas pessoas, de que os políticos parecem ter tanto amor na altura da captura do voto, como o António Madeira, precisam da protecção institucional. Quem lhes vale?

EDITORIAL: QUANDO A NUVEM OBLITERA O NOSSO OLHAR

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)




Escrevi este texto em Março de 2010.
Passando a auto-citação, volto a publicá-lo
para mostrar que o comportamento do
executivo municipal PSD/CDS dessa altura,
perante os múltiplos problemas agonizantes
da Baixa, é igual ao de hoje, mesmo passando
para o PS.
Claro que, evidentemente, a filosofia dos
comerciantes, perante as dificuldades que
se abateram sobre o sector, também é a mesma.



A Polícia Municipal deixou aviso: o estacionamento aos sábados de manhã na Baixa de Coimbra vai voltar a ser pago”, em título de primeira página no Diário as Beiras de hoje.
Vamos começar pelo princípio, passando a redundância. Este perdão de pagamento no estacionamento ao Sábado surgiu há cerca de um ano, quando um grupo de comerciantes (em que eu estava incluído) tentou por todos os meios e com o apoio da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, e da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, que todas as lojas do Centro Histórico, perante a crise de vendas que continuamente se sente, estivessem abertas aos Sábados durante todo o dia.
Com o grande envolvimento das duas associações e de alguns comerciantes não associados, pela primeira vez, deram as mãos para tentar suprirem o “
calcanhar de Aquiles” do comércio tradicional. Ou seja, quando se pugna por novas medidas de apoio, naturalmente, pensa o consumidor:


Então vocês querem ser apoiados e não trabalham um minuto depois das 19 horas e, sobretudo ao Sábado, quando o consumidor está a descansar e tem tempo para passear e poder comprar, é nessa altura, incompreensivelmente, que vocês estão encerrados?

Claro que este pensamento não é tão linear assim, tem argumentos, mas, por entender agora despiciendos, não vou rebatê-los.

Continuando, então, num esforço louco, os três comerciantes proponentes da medida e as duas associações fizeram tudo para convencer os comerciantes-colegas a aderirem ao movimento. Fica aqui um texto que escrevi na altura. A APBC, na pessoa do presidente Armindo Gaspar, e a ACIC, por intermédio do presidente do sector comercial, Arménio Pratas, contactaram a autarquia a solicitarem a discriminação positiva para o não pagamento de estacionamento ao Sábado durante todo o dia –era pago até às 14 horas.
Através do vice-presidente da câmara, na altura o eng.º Rebelo, foi prometido que se deixaria cair o pagamento da manhã.
Em rigor, como as máquinas de moedas, controladoras de tempo de estacionamento, não estavam preparadas com
software para alterações o que aconteceu é que muitos automobilistas, por desconhecimento, continuaram a pagar.
Ora acontece, para meu pesar, que os comerciantes não aderiram à medida. Se no primeiro Sábado abriram cerca de 100 estabelecimentos –num universo de 500-, nos seguintes, penúltimo dia da semana, foi decrescendo até ficarem os mesmos que já abriam anteriormente, cerca de três dezenas de lojas.
Ora, mesmo na ambiguidade de pagar ou não pagar por falta de informação nas máquinas, por um lado –se os comerciantes não aderiram- entende-se o cair desta medida. Porém…
Há sempre um porém! A Baixa, se no ano passado estava em “
cuidados continuados”, hoje, sem exagero, está em “morte clínica”. E isto não são meras palavras. São factos. Só não vê quem não quiser. Eu sei do que escrevo. Na maioria das vezes não conto tudo para não assustar e não ser acusado de catastrofista.
E então surge a pergunta: estará certo, num momento de extrema fragilidade económica a Câmara de Coimbra voltar atrás? Para mim, está profundamente errado. É evidente que se pensar no trabalho que tive –que andei a pedinchar de porta-em-porta para os colegas abrirem-, e se me deixar levar pelo revanchismo mesquinho, digo: bem feito! O problema é que o momento é demasiado grave para pensar em vinganças bacocas. Estamos todos no fio da navalha. E quando digo “todos”, não me refiro apenas aos comerciantes. A Baixa é constituída por pequenos elos de uma cadeia económica. À medida que se vão quebrando, tudo vai atrás.
E quem mais deveria pensar nisto deveria ser a autarquia. Sem querer dar lições a ninguém –quem sou eu para tal?-, mas um político eleito tem obrigação de ver mais longe do que apenas o que os nossos olhos conseguem alcançar. 

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

EDITORIAL: PARA QUE SERVIU E SERVE A APBC? (4)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Em jeito de contar histórias, seguindo a mesma linha de anteriores apontamentos, vou continuar a escrever sobre a APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra.
Como ressalva, saliento que não se trata de qualquer obstinação, intenção obsessiva de perseguir seja quem for. A pretender alguma coisa, no máximo será fazer pensar se valerá a pena continuar a derreter milhares de euros de verbas públicas num projecto destinado à revitalização comercial e que na última década, para além da animação das ruas, não trouxe qualquer acrescento à Baixa. A mostrar isso mesmo, basta olhar em redor e verificar que o sector, num marasmo aflitivo, continuou e continua a empobrecer e as lojas mais antigas, paulatinamente, têm encerrado umas atrás de outras.

Rebobinando a cassete, estamos então em 2010. É interessante verificar, pelas remissões para textos escritos nessa altura, que os problemas eram os mesmos de hoje. Então, surge a pergunta: agora, passados sete anos, estamos melhor, igual, ou pior?

A Baixa, apresentava uma série de edifícios em ruína. A Polícia Municipal (PM), pela sua não actuação, pelo deixa-correr, era alvo de reparo pela Junta de Freguesia de São Bartolomeu. Outro novo comandante da PM, Euclides Santos, foi empossado em Janeiro.
A Câmara Municipal continuava a apertar os comerciantes até ao último suspiro. A Ourivesaria Costa foi esbulhada de todo o seu recheio, e eu a perorar sobre a insustentável leveza de ser comerciante. A minha tia Aida partiu para não mais voltar. Para onde caminhamos? Aflorava a questão.
Coimbra era uma cidade de ilhotas -pelo menos sob o meu olhar. Hoje estará diferente? O Sol andava nublado. O prédio decrépito do Largo da Freiria desafiava as leis da gravidade. Adivinhem se alguma coisa se alterou nestes sete anos. A Baixa morria perante os nossos olhos. No entanto, como a contrariar um marasmo implantado numa zona decrépita e a dar início a uma recuperação vertiginosa na zona das Escadas de Quebra Costas, abria o Fangas, Mercearia & Bar.
Chamava a atenção para os jardins suspensos, como quem diz, para o esquecimento da nossa história recente. O lixo na Baixa era um problema. O remoer da loucura na vida social foi e será sempre uma eterna e pertinente questão. Decorria na urbe uma importante peça teatral: a farsa de Dona Vitália. Era um ver e não ver. O que nos valia era a menina Francelina. Em todo o lado há sempre uma mulher misteriosa.
O Centro Histórico teve sempre presidentes de câmara que, fossem de direita ou de esquerda, sempre castigaram o comércio com taxas do absurdo. Claro que, por vezes, são obrigados a recuar -mas, para isso acontecer, terá de haver uma forte oposição dos lesados. Em contraponto, a sorte grande, de vez em quando, sai em Coimbra.
Como tolinho, em editorial, eu interrogava: o que querem “elesfazer da Baixa? É óbvio que ninguém respondia, e a miserável discriminação continuava: os velhos lobos do comércio, sem dó nem piedade, estavam condenados ao desaparecimento. Mesmo assim, nessa altura de 2010, os portugueses eram muito caridosos. O que nunca muda é a autarquia ao considerar os homens do comércio uma espécie de burro espanhol.
Uma infeliz certeza para a Baixa. O lojista era (e é) um cepo sujeito a todas as pancadas. Mas havia sempre tolos de vaidade. Surgiam imagens que não eram por acaso. Há dias, de dias, que deveriam acontecer todos os dias. Como o dia da tremoceira, por exemplo. Há sempre “Invictus” que nos marcam. Por outro lado, para nossa desconsolação, com a nuvem a obliterar o nosso olhar, os políticos, como é costume, fazem pouco dos “pequeninos”... e também dos “maiorzinhos”.
Dizia eu que, nessa época de 2010, a Baixa estava em morte clínica. Um exagero, claro está!

O que parecia estar em coma era o(a) nosso(a) Império. Mas havia sempre umas ofertas para esquecer a crise e embalar o consumidor. Era o começo das promoções em série “XXL”. Mas a Baixa, a desgraçada, continuava a cair aos olhos de todos. Um ouvido indiscreto apanhava sempre uma conversa aqui e ali. E podia até voar-se sobre um ninho de cucos.
Como já escrevi até à exaustão, o que sempre feriu mais quem trabalha nesta área velha foram os critérios pouco equitativos da edilidade. Foi sempre uma insensibilidade assustadora para esta amada terra de ninguém. Os comerciantes da Baixa até tinham descontos na morte. Os mendigos viam-se a dormir no patim de muitas entradas de prédios. E até havia quem colocasse bicos contra a indolência. Os Outlet's estavam a romper tentando contornar a crise da procura.
Algumas lojas desapareciam na noite. O comércio independente era já uma espécie em vias de extinção. Mas os velhos também morriam sozinhos. Debater o futuro? Sei lá?! Reivindicar o quê? E fez-se um jantar para falar da instabilidade económica que tocava todos. Sabia-se o que se queria, o problema era chegar lá. O pessoal resistia, resistia. Até se apelava a Deus para buscar forças. Mas, mesmo assim, a loja tradicional continuava a encerrar sem apelo nem agravo. Era o óbvio de La Palisse.
A direcção da ACIC, havia pouco tempo depois de empossada, realizava uma conferência de imprensa para falar da instabilidade que assolava o comércio. Mas a vetusta associação seguia o seu caminho. Há sempre quem procure o seu menino. Havia também os loucos das vielas manhosas. E interrogavam-se as estrelas.
A Perfumaria Pétala, a setenta metros da 2.ª Esquadra da PSP, foi assaltada. Para que serviam as câmaras de video-vigilância? Interrogava eu. E até fui à Assembleia Municipal. Chamava-lhe câmaras de ilusão. Até proclamava que precisava de uma câmara de inteligência. Eu sabia lá o que era uma revolução? E houve um desabamento anunciado. E quem era o proprietário? A autarquia, “off course”.

OAspirante” era o rei das ruas estreitas. A cidade se, por um lado, continua boazinha com os diferentes, por outro, sempre foi muito pudica. E quando se mija fora do penico lá vêm os puristas. Mas há sempre os últimos fingidores. E também os perdidos. O tempo também nos trocava as voltas. A Dona Altina, uma senhora muito conhecida, desapareceu sem deixar rasto. A ACIC dava conversa para boi dormir.

Às vezes, perante a miséria alheia, era impossível conter as lágrimas. A Polícia Municipal até multava ao amanhecer. No comércio era o alho e o reviralho.
Na política partidária, numa desilusão continuada que nos há-de levar à tumba, nunca mais aparecia o Dom Sebastião. Nem na crónica da semana passada. E escrevia sobre o Panteão Nacional, o nosso esquecido, mesmo à frente dos nossos olhos.
As fogueiras do Romal eram um espectáculo! Não há dúvida que só há bons líderes quando estão na oposição. Quando vão para o poder desaparecem no éter. 
A Avenida Central continuava embruxada. E já caiu a maldição?
O “forró” na Baixa persistia no descontrolo. O pão e circo sempre alimentou a alma do povo.
E, nesta crónica em que se remete para outras, conta-se a história dos primeiros seis meses de 2010.