segunda-feira, 28 de julho de 2014

UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA...




Andreia Silva deixou um novo comentário na sua mensagem "A DESTRUIÇÃO GRATUITA DA NOSSA ALMA":


Ahahaha! Contra Cultura... Não será uma referência ao avantajado traseiro da estátua?


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NOTA DO EDITOR

Vamos por partes, Andreia, que, como é o caso, quando toca a referenciar um belo traseiro de mulher qualquer homem simples e ignorante, como eu, fica logo em sentido. No caso em apreço, retirando especulações feministas, digo-lhe que é uma obra de arte que eu gostava de ter na minha sala. A meu ver, a interpretação da guitarra foi conseguida com muita inteligência –e talento, naturalmente. Esta linha, pretensamente exploradora do corpo voluptuoso da mulher, é exclusiva nesta escultura? Claro que não. Começou no Renascimento e passou por vários movimentos –como a “Pop Art", nos anos de 1950, por exemplo- até hoje.
Continuando, começo por lhe agradecer o comentário, irónico e cheio de graça. Naturalmente que, como deve calcular, não ia privá-la de resposta –como estou a começar, ainda não sei se o que vai sair, se cairá para o sarcástico ou para o sério –se calhar vai ser na linha deste último. O que sei é que  vou ser longo e quase aposto que você não vai ler tudo.
Inicio com uma ressalva: não conheço o escultor Alves André. A seguir refere “Contra Cultura” como se aquela escultura passasse ao lado deste movimento. Antes de continuar, sem me armar em sábio mas por que precisamos do conceito, vou definir “Cultura”. Antes de lá chegar, sabemos que, imbricando em todas as áreas, habitualmente divide-se em dois grupos: popular e erudita. Segundo um dicionário online onde fui repescar estas ideias, “Cultura significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é. (…) Cultura também é definida em ciências sociais como um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais, aprendidos de geração em geração através da vida em sociedade. Seria a herança social da humanidade ou ainda de forma específica, uma determinada variante da herança social. (…)A cultura é também um mecanismo cumulativo porque as modificações trazidas por uma geração passam à geração seguinte, onde vai se transformando perdendo e incorporando outros aspetos  procurando assim melhorar a vivência das novas gerações.”
Antes de continuar, embora acessório, vou também conceituar “Arte”. Segundo a “Wikipédia”, “Arte (do latim ars, significando técnica e/ou habilidade) pode ser entendida como a atividade humana ligada às manifestações de ordem estética ou comunicativa, realizada por meio de uma grande variedade de linguagens, tais como: arquiteturaesculturapinturaescrita,músicadança e cinema, em suas variadas combinações. O processo criativo se dá a partir da percepção com o intuito de expressar emoções e ideias, objetivando um significado único e diferente para cada obra.
(…) O principal problema na definição do que é arte é o fato de que esta definição varia com o tempo e de acordo com as várias culturas humanas. Devemos, pois, ter em mente que a própria definição de arte é uma construção cultural variável e sem significado constante.
(…) Ao mesmo tempo, mesmo que uma dada atividade seja considerada arte de modo geral, há muita inconsistência e subjetividade na aplicação do termo.
(…) Mesmo que se possa estabelecer parâmetros gerais válidos consensualmente, a análise de cada caso pode ser extraordinariamente complexa e inconsistente.”
Se chegou até aqui, muito obrigada. Sem arrogância, espero ter contribuído para algum derrubar de preconceitos e, tantas vezes, a defesa de uma impositiva “normalística” na apreciação de um qualquer objecto de criação artística. Se a qualquer obra tivesse que corresponder unanimismo, estou em crer, caía na “vulgata popularucha” e perderia a catalogação como tal. 
E a prática mostra o que defendo. Hoje passei junto ao Arco de Almedina e reparei que vários turistas estrangeiros fotografavam esta obra em causa. Por estranho que talvez lhe pareça, havia também mulheres a captar imagens. Como justificar? Serão estúpidos?
Bem-haja!





1 comentário:

danielmendes disse...

Interpretação poético-parva da estátua:

A guitarra portuguesa e o fado de Portugal - como uma bela mulher que, paradoxalmente, se expõe e protege - no fundo e no que escapa à vista, é apenas um grande cú que se gostaria de ter na sala de estar. Uma óptima crítica social que se falhou em ver ou em representar, a visão da mulher apenas como os seus contornos. Eu, enquanto grande macho que sou, também gostaria de ter um cuzão daqueles, não na sala, mas no quarto... Assim se fode a guitarra portuguesa, o fado e Portugal.

Fora a parvoeira, não acho que o artista tenha sido inteligente na forma como tentou representar o que quis representar, ser representativo não é o objectivo dos nossos tempos, talvez sensacional seja a palavra certa pelos piores motivos. Ora, nem toda a gente leu o Espectador Emancipado de Ranciére ou a Sociedade do Espectáculo de Guy Debord.

O meu pai, por exemplo, nunca me ensinou a olhar para o cú das raparigas, nunca o vi fazer tal coisa. Se ele é homosexual, ou não, pouco relevante é. Não conheço ninguém que tenha um casamento tão saudável e apaixonado como os meus pais. O problema põe-se quando olho para os meus colegas e amigos homens a fazê-lo, é bom ou mau? Ora, se pergunto a eles, o que é bom é para se ver. Se pergunto a elas, ninguém gosta de ser tratado como um pedaço de carne. O que eu verifico é que, embora seja uma prática social aceitável que tenha mais de quinhentos anos de vida, não deixa de ser uma atitude desrespeitadora que provoca um atrofio específico nas mulheres outro nos homens. Perguntas com rasteira: Porque é que mulheres participam na industria pornográfica? Porque é que o culto do corpo masculino da época clássica se perdeu para dar lugar ao culto do corpo feminino? Será aversão à homosexualidade, Atenas Clássica feita numa Gomorra Contemporânea?

Li este artigo porque estou a investigar uns temas relacionados para uma tese. Assim, em jeito de pausa do pensamento, decidi comentar - uma estúpida ideia da minha parte, porque comentar é para os mortos, criticar é para os vivos. Não acredito que fazer-me mais inteligente ou erudito, talvez certeiro, talvez errado, para contrapor ideias feitas seja produtivo. Acredito apenas que nenhuma actividade do homem se devesse sobrepor ao acto de ser bom, apenas bom. Bom, por vezes, significa fazer a coisa errada - ser ladrão, ser assassino, ser vândalo, ser mentiroso.