sábado, 30 de janeiro de 2010

O VÍDEO DO DIA...

VITÁLIA FERREIRA: UM RECURSO PERDIDO




  Dona Vitália está chorosa. “Foi uma tragédia o que me aconteceu. Estou tão envergonhada! Mas eu não sabia o que se estava a passar. Palavra de honra que não sabia que tinha perdido o recurso interposto para o Tribunal da Relação.
Há um mês e tal, em data que não posso precisar, o meu advogado contactou-me para me informar que em tal data se iria realizar a segunda sessão de julgamento em apelo. Passados uns dias avisou-me que afinal já não seria necessário porque, como ele tinha um julgamento marcado para esse dia, tinha pedido adiamento. E eu fiquei à espera. Foi então quando, há dias, fui surpreendida por todo aquele aparato dos jornalistas junto dos funcionários de execução do tribunal. Isto não se faz! Tive de passar três cheques para impedir que me levassem as minhas coisinhas da minha casinha. Parece que está tudo contra mim. E agora como vai ser? Vivo da minha reforma –tenho 71 anos- e sou uma pessoa doente.
Dos meus vizinhos da rua onde vivo, a Rua Padre António Vieira, apenas uma senhora veio ter comigo manifestando-me apoio e solidariedade –e também um senhor da Avenida Sá da Bandeira. Dos restantes residentes, nem um único se me dirigiu em palavra. Estou muito triste senhor Luís. Lembro que no abaixo-assinado que foi para a câmara iam mais de noventa assinaturas. Até ao processo, que a “In Tocha” me moveu por difamação, andaram sempre a bater-me nas costas e dizendo-me: “nós estamos ao seu lado, a senhora conte sempre connosco para o que der e vier. A dona Vitália é a nossa representante”. Pois, agora, nem ao menos um cumprimento. Isto é muito triste. Fui a carne para canhão dos meus vizinhos. Por que é que as pessoas são assim? Com a minha idade pensei que já tinha visto tudo, mas não. Dos humanos poderemos sempre esperar tudo. Uma pena senhor Luís. Estou tão triste e envergonhada. Valia mais Deus levar-me desta vida…”


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Contactada uma amiga advogada, com larga experiência na casuística jurídica, ao ser-lhe colocada a minha interrogação em como é que se processavam os julgamentos no Tribunal da Relação, respondeu-me:


“Os recursos no Tribunal da Relação são qualquer coisa que nos transcende. Repare, os julgamentos são sempre à quarta-feira. No caso de crime, vai apenas o advogado de defesa. Se for Cível pode ir o réu e o ofendido, mas, a minha convicção é que os desembargadores pouco ligam às alegações. É como se estivéssemos a falar para Deus. Depois há outra coisa: habitualmente o acórdão é lido no dia seguinte –embora haja casos em que a leitura demora três dias-, o que quer dizer que, provavelmente, o provimento ou não provimento já está tomado antecipadamente. Estas decisões, pelo menos para mim, deixam muito a desejar. Embora pareça que os juízes apreciem as matérias de facto e de direito, às vezes tenho muitas dúvidas de que, verdadeiramente, seja feita uma análise ao caso em apreço. Claro que esta incide praticamente na gravação do julgamento, mas mesmo assim, neste pleito de recurso, o advogado de defesa pouco pode fazer.”

A COLUNA DO JORGE...





Esquema imaginário.

Ontem estive a assistir ao debate quinzenal na Assembleia da Republica, deu em directo na RTPN!
Agradou-me ver uma presença em particular...a Maria de Medeiros, estava presente na bancada do PS logo ali ao lado do Francisco Assis! (ainda não percebi foi...é o PS que precisa da presença da Maria de Medeiros na bancada, ou se é a Maria que precisa do PS para lhe financiar as viagens de fim-de-semana a França!). Quanto ao conteúdo (Orçamento de Estado e redução da despesa pública e transparência das contas públicas) do debate, tirei as minhas ilações, e inspirei-me para propor ao governo uma forma de redução de despesa pública.
Fiz uma pesquisa para saber como eram compostos o governo e a assembleia da república, e fiz as minhas contas:
Assembleia da Republica:


230 deputados de 6 partidos têm assento parlamentar;


1 Presidente da Assembleia da República;


4 vice-presidentes da Assembleia da República;


4 secretários da presidência da Assembleia da Republica;


4 vice-secretários da presidência da Assembleia da Republica;


243 é o total;


Governo:


1 Primeiro-Ministro;


1 Chefe de gabinete do Primeiro-Ministro;


16 Ministros (de 16 Ministérios);


32 secretários de Estado (de 16 Ministérios);


50 é o total;


- 293 elementos são o total do somatório;


- tendo em conta que cada um destes elementos ganha para cima de 2000 euros (upa upa!)…


- 2000 euros (não estou a ser muito mauzinho) X 293= 586mil euros de despesa mensal;


- se a cada um destes elementos fosse reduzido o ordenado em 10% isso seria 200€ X 293=58,600€ redução mensal;


- ora isto ao ano reduzia-se: 58,600€X293 (elementos) X14 (12meses+1 mês de sub. férias+1 mês de sub. de Natal) = 820,400€ (quase um 1 milhão de euros);


- ora 820,400€X 8 (anos de governo que já passaram, mais os que vão passar) =6,563,200 (+ de 6milhões de euros);

Meus amigos, isto são um esquema imaginário (a roçar o real por baixo, isto são valores baixinhos, acredito que se gaste muito mais)...Agora, meus amigos já imaginaram a quantas pessoas se matava a fome ou se melhorava o nível de vida com os cerca de 600 mil euros que se pouparia todos os meses?????


Querem que me expresse melhor? Merda… cambada de…!


Nota final: a nossa selecção de futsal está pela primeira vez na final do europeu...vamos lá ver se é desta que conseguimos ganhar aos vizinhos espanhóis! Força Portugal!


JORGE NEVES

A MENTIRA QUE NUNCA FOI VERDADE






  Segundo o Diário de Coimbra de hoje -e o Campeão das Províncias-, em título, “Agostinho de Almeida Santos aposenta-se sem jubilação”.
Continuando a citar o jornal, “Com “alguma frustração e desalento”, uma “grande mágoa e profunda tristeza” e com “muita falta de esperança”. Almeida Santos viu autorizado, com efeitos a partir de segunda-feira, o pedido de aposentação antecipada, solicitado após a demissão da direcção do Departamento de Medicina Materno-Fetal, Genética e Reprodução Humana, extinto pelo actual Conselho de Administração dos HUC ficando, agora, desvinculado da actividade universitária e da FMUC –Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra- (…)”.
Este blogue não dorme em serviço, ou melhor, quando os outros dormem aqui trabalha-se, então como nunca “engole” totalmente o que vem a público, ou seja, é como a ”Judite”, uma amiga chegada, que desconfia sempre do que lhe dizem, tratou de ir investigar junto dos amigos do cientista de genética.
Suspiro aqui, uma sílaba acolá, mais uma frase naquele outro, estou quase em condições de garantir que a demissão de Almeida Santos está relacionada com esta notícia aqui. Segundo um seu amigo chegado, em desalento, lá foi exclamando: “bolas, é chato, o professor estava praticamente pronto para anunciar que o "Ponto" existe mesmo. Quando estava prestes a chegar lá Fernando Regateiro –presidente do Conselho de Administração dos HUC- tirou-lhe o tapete. Num momento alto da genética e da sexualidade, em que estávamos à frente do mundo, é-lhe feita uma coisa destas. Se o deixassem trabalhar, facilmente o senhor professor teria calado, de uma vez por todas, os ingleses e franceses. Assim não. Lá vão continuar a guerrear-se por causa do Ponto G. Isto não se faz!”.

A COLUNA DO JORGE...



REVOLTEMO-NOS…


Tudo na vida tem um sentido e uma finalidade. Assim sendo a finalidade deste meu artigo é o seguinte: naqueles dias em que nos apetece partir a loiça toda, em que nos sentimos revoltados com as injustiças do Mundo, revoltados com qualquer coisa que se tenha passado no nosso dia-a-dia, nos dias de revolta…podemos e devemos canalizar toda a nossa revolta escrevendo o que sentimos, porque quem não se sente não é filho de boa gente, revoltemo-nos.
Aguardo ansiosamente por ler as vossas “revoltas” aqui no Blogue Questões Nacionais, afinal de contas todos temos aqueles dias em que nos sentimos FORNICADOS!


Jorge Neves
jmfncriativo@gmail.com

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)


Paulo Marques deixou um novo comentário na sua mensagem "DIÁRIO AS BEIRAS: UMA NOTÍCIA EM 2ª MÃO":


Meu caro Luís:


Não é verdade que o texto de As Beiras não venha assinado. Vem. É da autoria da jornalista Anabela Pato. Também não é verdade que a fonte seja o seu blogue. V/ sabe, como eu sei, que meia Baixa sabe quem é o pasteleiro/empresário que vai investir. O nome importa, nesta fase? Talvez não. Antes importa relevar um passado rico e, infelizmente, perdido. Outras novidades virão a público, acredito eu. N'as Beiras e, espera-se, também no seu blogue.
abraço.

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NOTA DO EDITOR:

 Meu caro Paulo:

Quanto ao texto assinado pela Anabela Pato, é verdade, está lá no cantinho esquerdo. Aqui, neste ponto, dou a mãozinha à palmatória. Quanto ao restante do que afirmo, ainda que em juízo de valor, e, assim sendo, subjectivamente vale o que vale, mantenho.
 De qualquer modo, agradeço-lhe a sua disponibilidade.
Gostei de o "sentir" cá no meu cantinho.
Um grande abraço.

O VÍDEO DO DIA...




Estou velhote -a quem o dizem, como se eu não soubesse. É sobretudo nas músicas nostálgicas que o sentimos. Sentimos? Se calhar sou só eu...

A BAIXA ESTÁ GERAR APETITES






  Soube, há bocado, que anda por aí um empresário interessado em abrir cerca de meia-dúzia de bares na Baixa. Sei que contactou “pontos-chave” que lhe podem conceder informação acerca dos proprietários de determinados edifícios e, acima de tudo, a apalpar o terreno para saber quanto tempo irá demorar a aprovação dos projectos.
Sei também que o assunto já foi levado ao conhecimento do Director do Centro Histórico, Sidónio Simões, e que este, esfregando as mãos de contente, teria exclamado: “vamos a isso! O que a Baixa precisa é de animação. Venham lá os projectos que eu encarregar-me-ei de os apresentar ao Presidente da câmara. É evidente que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance”, teria exclamado Sidónio Simões.
Segundo a minha fonte, que pediu o anonimato, tratam-se de bares onde predominará a animação, com música ao vivo, e cultura popular e abertos à noite até às duas horas da manhã. Vamos aguardar para ver se não é apenas fumo…sem “habemus papa”.
Interessante porque o jornal Público de anteontem, dia 27 do corrente, apresentava um trabalho no caderno “Imobiliário”, onde titulava: “Comércio de rua ganha terreno no mercado de retalho nacional”. Em subtítulo: “Retalhistas olham com mais atenção para este segmento, face à crescente saturação dos centros comerciais”.
Em desenvolvimento, “ O comércio de rua, sobretudo na cidade de Lisboa, está a ganhar espaço nas opções dos retalhistas que se encontram a actuar em Portugal. (…) Apesar da conjuntura negativa do mercado de retalho, o comércio de rua beneficia actualmente de uma fase de forte crescimento da procura. Aliás, a C&W –Cushman & Wakefield, que realizou um inquérito aos retalhistas- dá conta de que as próprias autoridades locais se têm mostrado “cada vez mais sensibilizadas para o comércio de rua, ao contrário do que vinha sucedendo até aqui”.
Em caixa, o Público refere ainda que a C&W “revelou que apenas 21 por cento dos inquiridos no Inquérito aos Retalhistas 2009 acredita existir espaço para o desenvolvimento de novos centros comerciais. Os restantes 79 por cento defendem que o segmento está saturado. “Para os que acreditam no crescimento no sector de centros comerciais, mais de 60 por cento continua a preferir o formato tradicional, ancorado pelo hipermercado e com praça de restauração. O lazer como forma de ancoragem dos centros comerciais reúne os votos de cerca de 30 por cento dos participantes” no inquérito da consultora” –in jornal Público de 27 de Janeiro.

DIÁRIO AS BEIRAS: UMA NOTÍCIA EM 2ª MÃO






  O Diário as Beiras de hoje anuncia na primeira página o título “Brasileira volta a servir café na Baixa de Coimbra”, e remete para as páginas seguintes. Sem me colocar em bicos de pés –porque eu sou muito humilde, juro pela minha avozinha, que Deus a guarde muitos anos sem mim- acontece que já coloquei esta notícia aqui há precisamente um mês…e, passando a imodéstia, com mais pormenores.
Ora, onde quero eu chegar, parece você interrogar? Se eu estou a pedir um lugarzito no jornal? Nada disso! Eu respondo, calma, deixe-me respirar se faz favor. É assim: esta notícia não caiu do céu. Até porque nem sequer o novo adquirente é anunciado. Então, por conseguinte, não é difícil de adivinhar que o jornal veio aqui, neste lago de águas mansas, pescar a notícia. Continuando a vender o meu peixe, pescado neste lago calmo que está muito longe de ser o de Loch Ness na Escócia, então, o que deveria ter feito o jornalista? Pois! Fazer uma alusão à fonte. Nem mais. Claro que este blogue não precisa de referências –está você a pensar, e pensa bem-, isso é que é uma avaria! Claro que não precisa…mas, por uma questão de justiça, “atribuir a cada um o que é seu”, é um dos três preceitos de direito. Portanto, olhe lá ó senhora chefe de redacção, D. Dora Loureiro –porque como o texto não tem assinatura, presumo que é trabalho da redacção- vamos lá ao respeitinho. Sem querer dar lições de ética –quem sou eu para tal-, mas fica bem, pronto! Os blogues podem ser uns bons aliados dos jornais regionais –e vice versa-, portanto, há que estimar quem nos ajuda, pelo menos é como eu penso. Desde que tenho cá o meu jornal electrónico de parede de ilusão, sempre disponibilizei toda a minha informação recolhida, incluindo as fotos, quer para o Diário de Coimbra quer para o Diário as Beiras. Se quanto ao jornal de Adriano Lucas nada tenho a apontar -tratam-me com amizade, por exemplo publicando as minhas cartas-, já o jornal de Taveiro não é assim: cartas que envie para publicação devem ter um destino pré-anunciado: o lixo. Ora isto chateia. Se a minha escrita serve como fonte, certamente -penso eu…de que-, também deve servir para outro objecto que não o caixote.
Bem sei que estou quase a ser santo…mas até as santidades (como eu) têm ataques de nervos. Vocação para mártir só daqui a meio século quando morrer. Ora a cooperação estratégica –uma palavra tão em voga, porque eu só escrevo banalidades- implica reciprocidade no tratamento.
Falei claro? -como diria o meu amigo Adriano Lucas. Ou nem por isso? Aposto que não…

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O VÍDEO DO DIA...

TODOS TEMOS UM MARINHO E PINTO DENTRO DE NÓS





Goste-se ou não de Belmiro de Azevedo, uma coisa ninguém lhe pode negar: a sua frontalidade. Veja aqui a revista Visão.
Num país em que a cobardia impera e, nomeadamente, com uma classe empresarial subserviente ao poder que nunca diz o que pensa para não desagradar, esta forma idiosincrática do "novidades, novidades, só no Continente" impressiona. Tenho escrito tanta coisa das grandes superfícies...quando voltar a desancar nestas grandes áreas vou lembrar-me deste velho senhor. Gostei!

EU SEMPRE GOSTEI DE VÓLEI




Se virem por aí a Olinda Del Rio, façam-me um favor: digam-lhe que eu gosto muito de vólei. Se quiserem ver a sua fografia cliquem aqui. Mas é mesmo para ver a sua cara laroca e mais nada. Ouviu bem?

O DIÁRIO DE COIMBRA CHAMA A ATENÇÃO




 O Diário de Coimbra de hoje chama atenção em título de "caixa alta" para os assaltos a lojas de roupas para noivos. Eu rectifico que os furtos são em todos os ramos e atingem valores incomportáveis.
 Já aqui escrevi vários post's a chamar a atenção para este assunto. O último texto foi há uma semana atrás.
 A modéstia consome-me, mas sou obrigado a declarar que todos os comerciantes deveriam ler este blogue. É tão necessário como oferecer uma rosa vermelha à consorte. Bom, se calhar não será bem assim, isto é: ler o blogue é mais importante.

SORTE GRANDE? SORTE TENHO EU EM ESTAR VIVO






  Encontro-o sempre à hora do almoço sentado num qualquer banco de madeira entre a Praça 8 de Maio e o Largo da Portagem. Acho graça porque várias vezes está a conferir o boletim do totoloto. Mentalmente interrogo-me o que faria um velhinho com uma fortuna. De tal modo que até, mesmo sem falar com ele, compus este poema.
Como os meus dotes de presciência já não são o que eram –a idade não perdoa-, não consegui adivinhar tudo. Mas, vá lá, acertei em qualquer coisa, o que quer dizer que ainda posso fazer carreira com ajuda de uma bola de cristal.
Chama-se Manuel Costa e nasceu –vejam bem que inveja que me faz, ai de mim se quando chegar à sua idade não estarei assim como ele- em 1919. Tem 90 anos de idade. Se vissem o seu discernimento mental ficavam de boca à banda como eu fiquei. Tem uma doçura no trato que só encontramos nos nossos avós.
Trabalhou sempre em alfaiataria, uma profissão em vias de desaparecimento. A sua vida de labuta foi feita na Rua Martins de Carvalho (antiga Rua das Figueirinhas) ao lado do seu irmão, o José da Costa -que morreu vai para muitos anos. Um grande alfaiate na cidade, diz com calor na voz embargada.
Vive, e viveu sempre, na Baixa, “ali na rua de cima, está ver qual é?” –interroga-me. Sempre ao lado da sua companheira, a Dona Aurora, uns anitos mais nova –“sabe como é, um homem precisa de uma mulher sempre mais nova. É assim ou não é?” –pergunta-me de olhar brilhante, no meio de um sorriso matreiro. Sou muito feliz, palavra de honra que sou. Tenho uma consorte que não me pode tratar melhor. E mais: tenho um filho que é um exemplo para outros. Trabalha na câmara. É muito meu amigo. Olhe que nos fartamos de passear com ele. Leva-nos para todo o lado. Ainda há pouco estivemos no Algarve. Vamos lá sempre passar o Natal. Conheço aquela zona toda…Vila Real de Santo António, Ayamonte, do outro lado do Guadiana…você conhece? No verão, vamos sempre para a praia de Pedrógão. Já lá foi? É bonita, não é?
Gosto muito de viver na Baixa. Hoje está muito diferente de outros tempos. As lojas estão permanentemente vazias. Tenho saudade dessa época em que não se podia romper por aqui com gente.
Você disse que acha graça eu estar sempre a conferir o Totoloto e questionou-me se eu ganhasse a taluda o que fazia? Olhe, para mim, é um entretém. Eu quero lá saber dos prémios! Eu sou muito feliz –e abre o rosto iluminado. Vivo feliz. Quantos da minha idade tem a sorte de se deslocar sozinhos? Embora me custe um pouco, as pernas já me pesam muito. Já viu a minha sorte em ter um filho como eu tenho…que é tão meu amigo? A maioria das pessoas da minha idade, ou até mais novos, está “encaixotada” em lares, longe da sua casinha. Eu não. Todos os dias pego nas minhas coisas, sabe?, naqueles objectos que me acompanharam pela vida fora. São essas memórias que nos dão vida. Coitado de quem não pode permanecer no seu lar. Morre depressa!
Obrigado por falar comigo. Não falo com muita gente, sabe? A maioria que anda por aí, se se chegam a mim, é para me enganar, mas eu não estou a dormir, percebe? –ao mesmo tempo que leva o indicador à pálpebra. Mas consigo foi diferente, vê-se logo que você não faz mal. A nossa experiência de vida ensina-nos a conhecer as pessoas logo ao primeiro olhar.
Ai, então você escreve lá para um blogue? Isso é o quê? Uma espécie de jornal, não é? Está bem! Escreva, é bom as pessoas saberem que todos temos uma história. Obrigado. Gostei mesmo muito de ter falado consigo” –estendendo-me a mão, ao mesmo tempo que abre o rosto num sorriso contido, mas de afeição.

VITÁLIA FERREIRA FOI ARRESTADA







  Vitália Ferreira, que foi condenada em primeira instância por difamação agravada à firma “In Tocha”, foi esta manhã arrestada pelo tribunal para pagamento coercivo.
“Que país é este em que sou surpreendida na minha própria casa com ameaça de arrombamento? Eu interpus recurso para o Tribunal da Relação e até agora não sei o veredicto. O meu advogado não me comunicou nada. Será que perdi? Ninguém me diz nada. Só sei que fui surpreendida, logo de manhã, pelos serviços de execução e vários jornalistas a dispararem fotografias mal assomei à porta. Tive que passar três cheques para pagamento. Mas…o que é isto, meu Deus?” –diz-me a Dona Vitália no meio de intenso choro.
Pelos vistos, alguma coisa falhou na comunicação. Das duas uma, ou o recurso da Relação foi julgado improcedente, ou, então, por parte do seu advogado, a acção teria sido intentada fora de prazo. “Ainda hoje vou falar com o meu advogado para saber o que aconteceu. Estou simplesmente sem palavras”, enfatiza a dona Vitália.
Ainda hoje, penso, contarei aqui o estranho caso do recurso, que não foi, ou foi e perdeu-se nas entrelinhas da prescrição e não foi comunicado à recorrente.

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)




Nuno deixou um novo comentário na sua mensagem "UM ARTISTA DO CHAPITÔ...NA CIDADE":


Tenho o prazer de conhecer o Rafael Aranda pessoalmente, pessoa com quem me dou bastante bem. Tudo o que diz sobre ele é verdade. O Rafael é um excelente malabarista, um óptimo comunicador e, muito embora o sotaque espanhol denuncia a sua nacionalidade, facilmente se percebe o que ele quer dizer. O Rafael, apesar de todas as dificuldades, é uma pessoa bastante positiva e optimista, com a qual é agradável conversar.
Ao contrário do que, provavelmente, muita gente possa pensar, este tipo de trabalho não é propriamente mendicidade. Aqueles mendigos que apenas pedem dinheiro, de mim não levam absolutamente nada. Estes artistas, que estão ali a fazer alguma coisa para nos distrair, esses sim, merecem uma recompensa. Estes sim, justificam todas as moedas que recebem. É pena que sejam poucas.
Ao Rafael, muito em especial, desejo os maiores sucessos.


Cumprimentos,
Nuno.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

GRACIAS A LA VIDA...




PORQUE É QUE NUNCA AGRADECEMOS À VIDA? PELO CONTRÁRIO, MALDIZEMO-LA, CULPAMO-LA DE TUDO E ACHAMOS QUE ELA É MESMO A ÚNICA RESPONSÁVEL DE SOFRERMOS...POR ESTARMOS VIVOS. ESTRANHO, NÃO É?

POLÉMICA: JOÃO PAULO II AUTOFLAGELAVA-SE COM UM CINTO




Sem entrar em especulações, no mínimo, dá que pensar: quais seriam as razões que levariam João Paulo II a autoflagelar-se?. Seria por sentir a impotência de mudar toda a hierarquia católica? Evidentemente que as razões nunca serão do conhecimento público, mas, uma coisa é certa, este Papa foi de certeza uma boa pessoa. Tinha um rosto que convidava à paz...

LER NAS ENTRELINHAS...





"O Presidente da República (na abertura do ano Judicial) alertou hoje para a falta de adequação da legislação â realidade, por vezes ditada por "puros motivos de índole política ou ideológica", apontando o divórcio como exemplo de lei que produziu efeitos contrários às pretensões" -in jornal Sol online.
 Quanto a mim, temos aqui o primeiro aviso à navegação de que, depois de enviada da Assembleia da República, a lei do casamento homossexual vai ser remetida para o Tribunal Constitucional para fiscalização preventiva de constitucionalidade.

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)




João Braga deixou um novo comentário na sua mensagem "A COLUNA DO JORGE...":


Esta vem mesmo a calhar. Ainda hoje, fui a um departamento público e dos que mais necessitamos; chegando a esse local eram 12h e 22m. Informaram-me na recepção de que já não podia ser atendido. Perguntei porquê, uma vez que a ser para a hora de almoço, tal só deveria acontecer após as 12h30m. Acedeu essa pessoa e indicou-me o gabinete a que me deveria dirigir, não obstando o facto de lá chegar e já lá não estar ninguém. Ao chegar ao gabinete, informaram-me de que já não poderiam atender pois passava da 12h30m. Indignado, mostrei-lhe pelos meus 2 telemóveis que deveria estar equivocado pois um marcava 12h27m e o outro 12h26m, pelo que ainda se encontravam ao meu serviço e do Estado (esta parte por motivos óbvios não mencionei). Lá acederam e prestaram o serviço, não obstante o facto de amanhã ter de me deslocar ao mesmo local para levantar um documento, que hoje requeri. Por mais 5m, teria que me deslocar ao mesmo local ainda mais uma vez e perder mais umas horas de serviço.

UM ARTISTA DO CHAPITÔ...NA CIDADE







  Encontrei-o à hora do almoço na Rua Ferreira Borges. Chama-se Rafael Aranda. Está em Portugal desde 1996. É mestre em artes performativas. Já foi professor no “Chapitô”, em Lisboa, no projecto de artes circenses de Teresa Ricou, mais conhecida por Teté.
Vive na Lousã há cerca de 4 anos e, para além de ser artista de rua –arte que adora- colabora com várias companhias de teatro, entre elas a Maribondo.
O Rafael é espanhol, mais propriamente de Cádiz, Andaluzia, diz-me sublinhando com ênfase o nome da comunidade autónoma de Espanha desde 1982.
Embora viva há cerca de quatro anos próximo da cidade dos estudantes, hoje é o primeiro dia do resto da sua vida –como diria Sérgio Godinho- em que actua na Baixa. Está ali desde a manhã. “Noto que as pessoas daqui, comparativamente com outras cidades do país, são muito frias. Olham para mim como se eu fosse um fóssil de museu e desandam. Bolas, ao menos se parassem mais para ver o meu desempenho, mesmo que não contribuam, já era bom para mim. Claro que vivo deste meu trabalho. E para vir da Lousã até aqui gasto cerca de 10 Euros. Para comer, trago uma ou duas sandes…mas preciso que as pessoas contribuam com alguma coisa…entendes o que quero dizer?” –interroga-me quase em apelo.
Durante o pouco tempo que conversei com o Rafael pude testemunhar que ele é de facto um grande profissional entertainer. Para além de apresentar a sua performance, sempre que aparecem crianças, ou até adolescentes, comunica com elas e envolve-as no espectáculo. Sem desconsiderar outros artistas de rua, a Baixa com este “performer” fica muito mais enriquecida. Temos todos que nos habituar a olhar para estes artistas da mesma forma, e com a mesma profundidade, que apreciamos um qualquer espectáculo pago. É uma questão de disciplina e respeito pelo trabalho árduo destas pessoas.
Pense nisto…e já agora, quando passar junto ao Rafael contribua com uma moeda. É o mínimo que o pode ajudar a manter aqui no Centro Histórico. E a Baixa precisa dele e de todos os que actuam na rua. Seja generoso. Ao contribuir, você não ganhará o céu, mas estará a concorrer para uma boa causa.

A COLUNA DO JORGE...




Quem cala consente – Diz Não ao Assédio Moral no Trabalho




Adere a este grupo e informa todos teus amigos.


- Porque não queremos ser somente pessoas que constatam um problema, mas pessoas que contribuem para o eliminar


- Porque o conhecimento das normas em vigor e a sua divulgação junto dos trabalhadores, gestores e empregadores é importante no plano da prevenção e consciencialização dos direitos e deveres de todos


- Porque não queremos que situações que aniquilam a saúde e felicidade de tanta gente permaneçam no silencia


- Porque queremos dar um contributo sério e válido, seja com testemunhos, seja com informação, a todos os que, em algum momento da vida, se deparam com uma situação de assédio moral no trabalho


- Porque quem sofre este tipo de violência esmorece perante uma justiça cara, lenta e de prova difícil


- Porque a comunidade e as próprias autoridades ainda não interiorizaram o conceito de assédio moral


- Porque se nos calamos, consentimos


Desde já agradecemos a sua adesão a esta causa e contamos com o seu contributo na forma de divulgação, informação, testemunho.


Não te cales!!!!!!

Muito obrigado!


Jorge Neves
jmfncriativo@gmail.com

O VÍDEO DO DIA...




O QUE É QUE DISSE? QUE ESTA MÚSICA NÃO TINHA NADA A VER COM A ÉPOCA? AI NÃO? DESCULPE LÁ. ENGANEI-ME. PENSEI QUE O NATAL PODERIA SER TODOS OS DIAS...

A COLUNA DO JORGE...




25 de Abril Sempre!



  Hoje, infelizmente, sentimos nostalgia da alegria e da utopia que foram os primeiros dias do 25 de Abril de 1974 (fazendo fé nas palavras de quem o viveu intensamente, pois eu só tinha 4 anos de idade). Muitas das propostas, e ilusões, desses dias ainda estão por cumprir. Com o actual governo do PS estamos a regredir em vários aspectos sociais e democráticos. A corrupção e os interesses do capital estão de volta. Há cada vez mais desemprego e descontentamento social, mas para alguns há dinheiro com abastança. Alguns elementos da chamada “classe política” estão bem instituídos no aparelho do Estado ou nas grandes empresas. Há uma democracia, quanto mais não seja do ponto de vista formal. Mas há cada vez mais medo dos patrões, do desemprego, de desagradar aos chefes, de perder o emprego. Vivemos muita da insegurança que se vivia em 1974. Não há guerra colonial, é certo. Não há polícia política (?), não há censura (?). Mas há uma pressão para não levantar a cabeça, há processos-crime aos jornalistas que ousam escrever coisas que o Sr. Engenheiro não gosta. Há uma constante pressão sobre os funcionários públicos, uma desvalorização das suas funções. A escola pública está subjugada pela política da estatística e da burocracia. E, finalmente, a classe média está a perder a capacidade de resfolegar, coagida que está com a crise económica. Afinal de contas é esta mesma classe média que tudo paga neste país e pouco recebe em troca.


Jorge Neves
Independente no Bloco de Esquerda
Coimbra

MANUEL ALEGRE SERÁ "ECCE HOMO"?






  Pegando no texto de opinião de Jorge Neves, acerca da candidatura anunciada de Manuel Alegre, creio que este homem, pela sua sensibilidade, pode dar um bom presidente da República. Gosto dele. E até estou à vontade para o dizer. Na última eleição presidencial votei Cavaco Silva. Pois se tivesse possibilidades, hipoteticamente, pediria a devolução do meu voto. O actual presidente da República, para mim, revelou-se um chefe de Estado indeciso, onde ressaltou o desnorte e a falta de horizonte político, provocador de conflitos partidários –o caso da comunicação das escutas antes das eleições- e trazendo ao espectro político do País assuntos que deveriam ser estritamente do foro presidencial/governo –estou a lembrar-me da comunicação acerca do Estatuto dos Açores.
O seu envolvimento e da família, nunca totalmente esclarecido para a opinião pública, das acções da SLN, empresa do BPN, onde estiveram envolvidos Dias Loureiro e Oliveira Costa.
Sinceramente, esperava muito mais de Aníbal Cavaco Silva. Não sou de esquerda nem de direita, sou pessoa, simplesmente. Esta minha posição, para muitos não fará sentido, acham que todos os cidadãos têm de se definir ideologicamente, Ou preto ou branco. Ainda que os exemplos estejam aí à mão de semear. Hoje as ideologias caíram. O que resta, se resta mesmo, será um novo ideal de bem-estar e felicidade, que nada tem a ver com a carga ideológica do Maio de 1969. Hoje, penso, ninguém quer mudar a sociedade quanto ao seu objecto político. A experiência bolchevique da sociedade sem classes, de 1917, ruiu fragorosamente. Hoje restam os princípios, estes, assentes na solidariedade e num maior equilíbrio através da redistribuição da riqueza, nunca desaparecerão porque estão correctos.
Deveríamos aprender com a história do século XX. Está cheio de (maus) exemplos que nos deveriam fazer reflectir. No entanto, como cabeças duras, não aprendemos e continuamos a malhar em ferro frio e a pugnar por sistemas que a história nos ensinou que conduzem à barbárie.
Hoje, no século XXI, é preciso (tem de se encontrar) um presidente interventivo socialmente que faça renascer o melhor que a sociedade tem. Que não se guie pelo partidarismo e pela reeleição. Manuel Alegre será “Ecce Homo”? Não sei. O que sei é que gosto dele e (provavelmente) vou votar nele.

A COLUNA DO JORGE...



A ANUNCIADA CANDIDATURA DE MANUEL ALEGRE

Ao contrário de muita gente, eu não tenho uma opinião definida em relação à provável candidatura de Manuel Alegre. O PS alinhou tanto à direita que o sentimental tornou-se, comparativamente, num homem bastante à esquerda. Se não duvido de certos atributos de Alegre, tenho poucas certezas em relação à sua utilidade, embora para já seja o menos mau. Uma candidatura de Alegre apoiada pelo PS de Sócrates, à primeira volta, nunca contará com o meu voto, simplesmente abstenho-me. A eleição de um candidato manietado pela actual direcção do PS é um voto na política de direita, nas negociatas e na promiscuidade entre o governo e os interesses privados. Não pretendo legitimar a sua existência apoiando um seu candidato. Mais, acho até perigoso – numa conjuntura que o governo ambiciona “Berlusconizar” a justiça, dominar a comunicação social e conseguir um poder absoluto – ter um presidente e um governo na dependência directa de Sócrates.
A candidatura de Manuel Alegre é agradável no caso de ser feita sem o apoio do Partido Socialista. Nesse contexto, pode dar voz às centenas de milhar de eleitores socialistas que não se reconhecem neste PS virado à direita. Ajudando a construir um espaço de uma esquerda a sério que possa aspirar ganhar e governar à esquerda. Nesse espaço cabe Manuel Alegre, por direito próprio, e poderá ser, se o quiser, um protagonista do realinhamento da esquerda em Portugal.
Para além de resistir, a esquerda deve ter ambição de poder mudar estes pais. Apenas com a participação de sectores de esquerda do PS, do PCP, do Bloco e de muitas e muitos independentes isso será possível.


Jorge Neves
Independente no Bloco de Esquerda
Coimbra

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

UMA MEDIDA DE ELEMENTAR JUSTIÇA




O Governo vai pagar aos clientes do retorno absoluto do Banco Privado Português (BPP) até 250 mil euros. Leia aqui.

AS CAMPANHAS SOLIDÁRIAS






Segundo o JN, “A Assembleia Legislativa da Madeira aprovou, por unanimidade, a atribuição do salário de um dia de trabalho dos deputados às vítimas do sismo do Haiti. A proposta, apresentada pelo deputado da CDU-M, Leonel Nunes, representará uma ajuda de cerca de 3.600 euros.”
Com todo o respeito pelas vítimas da ilha do país das Caraíbas, mas embirro com esta forma panfletária de solidariedade. Fico irritado com a mimética de carneirada que estas campanhas solidárias atingem. No dia-a-dia, eu vejo, as pessoas passam ao lado de casos de que têm conhecimento e nada fazem para ajudar. Não movem uma simples palha. Quando se trata destes apelos lançados pelos “media”, particularmente a televisão, tudo responde massivamente.
Sabe-se, hoje, que a sociedade não se move pelas causas, mas sim pelos “cata-ventos” que as indicam e pelo poder difusor destes meios –nomeadamente o “status” de importância societária- em mobilizar as massas utilizando a mensagem como pano de fundo. Ou seja, a meu ver, o que impele os indivíduos nestas campanhas de ajuda é o mimetismo, a imitação, pura e simples, e tocadas pelos subscritores, cujo apelido, ou entidade, for mais sonante no meio em que se insere mais bem sucedida será.
Metaforicamente, e partindo de um exemplo de Hannah Arendt (1906-1975), a sociedade é um grande teatro. No palco, a actuar para as massas, estão aqueles que pelo estatuto ou pelo que fazem profissionalmente são reconhecidos como condutores do pensamento. Ou seja, são estes “artistas” que, através do seu desempenho –podendo até ser medíocre- indicam aos espectadores, em baixo na plateia, o caminho a seguir. É deste espaço público, deste palco, por princípio injusto e discriminador, gerando grandes convulsões no seu seio, e provocando barreiras de acesso de modo a que só alguns a ele tenham entrada, que saem os tão apregoados direitos de igualdade.
Porque se repararmos, basta dar uma volta no universo da Internet, nas imensas petições a favor de tudo e mais alguma coisa, veremos que muitas destas não passam das dezenas de assinaturas. E, atente-se, nalguns casos são de assuntos bem prementes. O que falhou? O estatuto dos proponentes e o meio de divulgação.
Por exemplo, sendo mais específico, a maratona televisiva “telethon Hope for Haiti Now, animada por mais de 100 artistas dos Estados Unidos, Inglaterra e outras partes do mundo, angariou mais de 40 milhões de euros. Não fosse o envolvimento dos vários artistas conseguiriam este montante?
Voltando ao caso da Madeira, quanto a mim, não é pelo facto de ter sido proposto por um deputado do Partido Comunista, mas esta proposta aprovada por unanimidade cheira a PREC, Processo Revolucionário em Curso. Lembro-me perfeitamente de ter trabalhado um dia e dar no que deu nos idos anos de 1974.

O VÍDEO DO DIA...




VAMOS LÁ A REGAR A ALMA -QUE PARECE TÃO MIRRADINHA, COITADINHA- COM ESTE SOM.

UMA IMAGEM DE SAUDADE


(FURTEI ESTA BELA IMAGEM AO BLOGUE "MERCADO DE BEM-FICA" -NÃO DIGAM NADA A NINGUÉM)

Uma tasca portuguesa onde se cantava o fado por volta de 1930. Por acaso é em Lisboa, mas poderia ser perfeitamente em Coimbra, por exemplo, no Manuel Vasques, no Largo da Maracha, aqui na Baixa. Lembra-se?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

UMA VIDA NUMA FOTOGRAFIA


(UMA EXTRAORDINÁRIA FOTOGRAFIA DE SUSANA CORREIA, QUE PODE VER NO OLHARES)




Esta extraordinária fotografia foi tirada por Susana Correia do Olhares, fotografia online. E quem é a Susana, interroga você? Olhe é minha familiar. Parece que estou a ouvi-lo dizer: pois, tinha de ser, lá vem ele elogiar os que lhe são próximos. Tenha lá paciência comigo, por dois motivos. O primeiro é que eu não sabia que tinha uma talentosa fotógrafa na minha prole –era de esperar, eu sei, mas eu não sabia, pronto! Só soube há dias e fiquei deveras contente. Quem não fica perante a força da exposição da obra de arte? E a Susana tem uma galeria, mais de cinco centenas de espectaculares retratos.
O segundo motivo, e não menos importante, é que a extraordinária foto mostra a minha tia Aida e avó da Susana. Infelizmente, não há muitas razões para comemorar, esta minha tia velhinha, com quase 90 anos, está muito mal nos HUC. Eu sei é a vida, e quanto a isso não deve haver lamentações. Pessoalmente, encaro a morte apenas e só como o fim da estrada. Acabou-se o trilho, mais nada. E nós até sabemos que é assim. Nem sequer é surpresa. Passamos a vida a prepararmo-nos para a morte. Não deveríamos chorar na hora derradeira de alguém. Deveríamos partir da mesma forma que entramos. Se quando vemos a luz pela primeira vez, saindo do ventre da nossa mãe, é uma grande alegria, a hora do último suspiro deveria ser, igualmente, de contentamento. Afinal, bem ou mal, cumprimos o fim para que viemos ao mundo.
Eu sei, e pensando na minha tia Aida, que me lembro dela desde que me conheço, é verdade que as memórias atropelam-se e dá-me uma ponta de nostalgia, mas é assim. Esta mulher, como tantas da sua época, trabalhou imenso no amanho da terra, na companhia do marido –o meu tio Ernesto que, pela sua bonomia tanto me marcou na minha infância. Já falei dele aqui. Faleceu há cerca de uma dúzia de anos. Era daqueles familiares que, pela sua ingenuidade franca, nos marcam para a vida.
Parabéns à Susana e esperança que a minha tia Aida melhore de saúde.

O VÍDEO DO DIA...

O INFERNO À NOSSA PORTA/TODAS AS CIDADES TÊM UMA CRUZ




Um inspector da Polícia Judiciária de Coimbra sofreu ontem uma facada no Baiiro do Ingote. Leia aqui o Campeão...

UM ENCONTRO NA ESQUINA DA RUA...


(PLACA CRIADA POR MANUEL VILHENA, LOGÓTIPO DO BLOGUE DIAS QUE VOAM)




  São 14H00. Encostado na esquina da Rua dos Dias que Voam, a apanhar este sol que aquece a alma, está o meu amigo Henrique. Está com cara que desafia soco. Ele é comerciante estabelecido com uma pequena loja de pronto-a-vestir.
-Então, como é que vais? Estás a apanhar este solinho que nos faz tão bem? –interrogo.
-Ó pá, estou a ver se aqueço a alma. Hoje, não estou nos meus melhores dias. Não se faz nada. Nem os saldos ajudam. Estou sozinho na loja, não dá para ter nenhuma empregada. Tive de despedir a que tinha –tu conheceste. Custou-me tanto, pá! Mas que se há-de fazer? Às vezes até precisava… tantas vezes que tenho de encerrar para ir tratar de assuntos…
-Pois, eu sei, hoje é um problema destas microempresas –interrompo.
-Ó pá, mas está mal. Já viste as pessoas que estão no desemprego sem nada fazerem? Diz-me lá, o Estado, em vez de lhes dar subsídio de desemprego sem nada lhes pedir em troca, não poderia colocar estas pessoas a trabalharem nas empresas? O ordenado era pago pelo IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional, e as pequenas firmas apenas seriam obrigadas a pagar as contribuições para a Segurança Social…
-Querias ter logo os sindicatos à perna? –atalho eu. Vinham logo dizer que o Governo, para além de estar a desenvolver a precariedade, estava a contribuir para o enriquecimento sem causa das pequenas empresas.
Além disso, como sabes, já existe um programa de apoio aos desempregados, o POC, em que as empresas pagam mais 20 por cento sobre o subsídio de desemprego.
-Provavelmente seria assim, lá viriam os sindicatos, mas já viste os milhares de desempregados que andam por aí a polir esquinas sem terem nada para fazerem? Depois, e mais grave ainda, é o perderem o vínculo que os liga ao trabalho e, acessoriamente, vão sendo invadidos por um sentimento de inutilidade, que, tantas vezes, conduz ao suicídio.
É melhor continuar nesta vida? –Interroga-me o Henrique Ramalhete

FAÇAM VÉNIAS: SUA EXCELÊNCIA O REI-SOL ESTÁ A CHEGAR








Assim, devagar, devagarinho, como pinto a sair da casca, o sol vai-se mostrando a quem passa e quem permanece estático a receber a sua luz, fonte de vida.
Junto à câmara municipal, dezenas de pessoas parecem receber o astro-rei de braços abertos. Nos seus rostos, um pouco menos carregados e mais iluminados de força anímica, parecem dizer: seja bem-vindo ao reino dos humildes.
No Largo da Portagem, com as esplanadas bem compostas, do café Montanha, da Briosa e do Toledo, os apreciadores da Primavera que tarda, parecem abraçar os raios solares que lentamente, como a espreguiçar-se, vai aquecendo estas almas tão necessitadas de calor.

UMA VOZ NA ESCURIDÃO







O relógio marca 20 horas. É sábado. Talvez pela aragem e proximidade do rio Mondego, faz frio junto à Estação de Coimbra-B. Acompanhado da minha mulher, parei o meu carro debaixo do IC2, junto ao restaurante “O Telheiro”. Um homem ainda novo, de bom aspecto, vestido com simplicidade mas limpo, ao ver que vou arrumar, faz-me gestos com o braço. Há um lugar lá no canto mais recuado.
Quando saí da viatura, reparei então melhor no rosto e no carisma do arrumador. Boa-noite, repliquei e ele correspondeu à saudação. Então por aqui? O senhor não tem aspecto de arrumador tradicional, provoquei. “Pois não”, respondeu. "Nunca pensei ter que recorrer a esta vida para viver. Estou sem trabalho. No último ano tenho feito o que aparece. Mas, neste momento e já há semanas, estou sem nada para fazer. Não estou a receber do desemprego. A fome aperta e as saudades de um cafezinho. O senhor sabe lá o que é não ter cinquenta cêntimos? Tive mesmo que pôr os pés ao caminho e colocar-me aqui a arrumar…é noite, pode ser que ninguém veja. Mas tenho muita vergonha” –notei que os seus olhos ficaram meio alagados de comoção. “Eu faço qualquer coisa que apareça, já trabalhei em serviços de gás, jardinagem, construção civil, qualquer coisa. O senhor não sabe de qualquer trabalho para mim?”

A SAUDADE DOS CALDINHOS DO TEMPO DA NOSSA AVÓ




"Cimento, cal, açúcar e  gresso na droga...". Leia aqui o que causou quase uma dezena de mortes entre toxicodependentes em Coimbra.

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)




Sandokan deixou um novo comentário na sua mensagem "AS TABERNAS DE COIMBRA ESTÃO NA MODA":


Vamos ao ZÉ MANEL no Beco do Forno comer uns ossos?
Às vezes é preciso abanar a árvore da existência para caírem as folhas velhas. Talvez seja por isso que eu não quero saber quem pintou o céu de azul, mas eu quero é o resto da tinta, porque nós podemos matar o tempo, mas é sempre ele que nos enterra.
Gostei muito de vir aqui visitar o teu belo espaço. No carácter, na conduta, no estilo, em todas as coisas, a simplicidade é a suprema virtude. O destino une e separa pessoas. Mas nenhuma força é tão grande para fazer esquecer pessoas, que por algum motivo um dia nos fizeram feliz!
Boa semana!

domingo, 24 de janeiro de 2010

AS TABERNAS DE COIMBRA ESTÃO NA MODA


(FOTO DO JN)

VAI UM TINTO, ACOMPANHADO DE UMA PATANISCA OU UMA SARDINHA EM MOLHO DE ESCABECHE? VAI OU NÃO VAI?

sábado, 23 de janeiro de 2010

O VÍDEO DO DIA...

HISTÓRIAS DA MINHA ALDEIA (34): O ÚLTIMO DESEJO NÃO RESPEITADO





 No ano em que nasceu o Diário de Coimbra, em 1930, fundado por Adriano Lucas, no lugar de Várzeas, nas cercanias de Luso, nascia também José Fernandes, o segundo filho dos meus avós Crispim e Madalena.
Naquela família paupérrima o puto despontava pela esperteza. Foi com grande facilidade que calcorreou os quatro anos da escola primária. Era o necessário naquele tempo. O que era mesmo preciso era saber ler, qualidade que não estava ao alcance de todos. Assim que acabou a quarta classe, com 10 anos, rumou até Anadia, como serviçal numa grande quinta, como guardador de rebanhos.
Há pouco, tinha começado a 2ª Guerra Mundial. Embora Salazar tivesse mantido o país neutro, a verdade é que os ventos vindos de leste eram de extrema pobreza e miséria. Cada cabeça, numa família, era uma peça fundamental, a força motriz, que teria de contribuir com trabalho para a salvação da prole.
É na grande casa agrícola de Anadia que vem a conhecer a esposa Natividade e, entre troca de alianças e promessas de fidelidade, se tornam casal e contraem matrimónio para a vida. Porque ganhavam pouco e o trabalho era intenso, transferiram-se para Lograssol para uma grande casa agrícola. Ele como “criado”, ela como serviçal. Mas o “” sonhava com outro labor. Daquele, em que transpirava de sol-a-sol, estava saturado. Era duro e o dinheiro não se via. Foi então que, com vinte e poucos anos, lhe arranjaram para a cozinha do Grande Hotel das Termas da Curia, de Alexandre de Almeida. Logo de seguida meteu uma “cunha” à administração e colocou lá a esposa no serviço de quartos.
Os anos foram passando, e o chefe da cozinha do Hotel, de “jaleca Branca”, via com gosto que o “moço de cozinha”, de jaleca cinzenta aos quadrados miúdos, vindo de Várzeas, terra de bons chefes cozinheiros, tinha dedo para as artes pantagruélicas. Foi promovido a cozinheiro do pessoal. Foi então que, por razões que a razão desconhece, a Natividade foi despedida. Naturalmente que o “” ficou numa posição desconfortável e, em solidariedade com a mulher, pediu a demissão também.
Neste entretanto, por volta dos anos de 1960, um amigo chegado, sabendo que ele tinha deixado o Hotel da Curia, convidou-o a ir para Coimbra para chefiar a cozinha de um restaurante que abrira há pouco na Praça da República: o café restaurante Mandarim.

O CHEFE DA COZINHA DO MANDARIM

O José Fernandes, que aqui trataremos por “”, para além de ser muito poupado, embora com algumas reservas, era uma pessoa solícita. Não era senhor de grandes rasgos de companheirismo mas, depois de avaliar a situação, gostava de ajudar. Foi assim que em 1966, recebendo uma carta minha a pedir-lhe para me arranjar emprego em Coimbra, me colocou, sobre a sua alçada, na cozinha do mesmo café de tantas tertúlias académicas, sob a gerência do senhor Joaquim Antunes, o Mandarim.
Passado um ano, passei para o balcão da pastelaria. Fui substituir o “Manel” Tarrafa, de Pereira do Campo. Sob a superintendência do senhor Mendes, o chefe do balcão de pastelaria, e sob a vigilância discreta do meu tio cozinheiro, lá permaneci no grande café frequentado por uma geração de estudantes que viriam a ser políticos, cerca de seis anos. Eram tantos e bons funcionários profissionais como o Hugo, o Joaquim Pardal, o Talina, o Abreu, o Fernando Gomes e tantos outros que não lembro.
Em 1972, porque considerava ganhar pouco –e cujo salário ia por inteiro para o meu pai- “levantei ferro” do velho café e parti em direcção a outros destinos que, em sonhos, vislumbrava no horizonte. O meu tio José Fernandes lá permaneceu a chefiar a cozinha e a confeccionar bons petiscos para os estudantes, como o bom bife à Mandarim e o muito procurado “combinado número cinco”, com uma tosta de pão por baixo, um escalope de vaca por cima e com um ovo estrelado e acompanhado com batatas fritas e um molho daqueles que nunca mais se esquece na vida.
Em finais da década de 1970 morreu o senhor Joaquim Antunes. A partir daí o velho café, como se tivesse perdido a alma, nunca mais voltou a ser o mesmo. Ainda passou por mais dois proprietários, mas entrou em decadência anímica e foi então transformado em restaurante “Mc Donalds”, até 2014. Em meados da década de 1980, o meu tio abandonou a casa que o albergou durante várias décadas e rumou até à fábrica Sanitana, em Grada, próximo de Anadia, como cozinheiro de apoio aos patrões.

A VIDA QUE NÃO CONTROLAMOS

Quis o destino que a minha tia Natividade não pudesse conceber filhos. Assim, no início da década de 1970, adoptaram uma criança, então já com sete anos, em Coimbra, filha de uma família desestruturada.
O meu tio José Fernandes esteve sempre ligado ao desenvolvimento da minha vida. Foi no início, quando me arranjou o primeiro emprego e me acompanhou durante seis anos, enquanto trabalhei no Mandarim, e voltou a ser uma pedra fundamental quando, em 1982, em plenas medidas económicas restritivas do FMI em Portugal, me estabeleci por conta própria e me emprestou 100 contos. Embora fosse muito difícil obter o seu acordo –demorou duas horas a dizer sim-, lá acabou, com a ajuda da minha tia Natividade, por me passar o cheque.
Ao longo dos anos, quando estava mais apertado de finanças, algumas vezes voltei a bater à sua porta. Em visitas amiúde, fui acompanhando a sua caminhada em direcção ao fim da estrada e a que chamamos vida. Nos últimos anos sofria de Alzheimer, doença neurológica progressiva caracterizada pela atrofia do cérebro.
Em Dezembro, do ano de 2009, numa das muitas deslocações que fiz à sua casa, num momento de grande lucidez, de lágrimas nos olhos, dizia-me: “já viste como estou para aqui abandonado como coisa velha e sem valor? De que valeu eu poupar tanto? Tantas viagens imaginadas e que não fiz. Os sonhos, martelados em tantas noites de insónia, que não realizei. A vida que poderia ter tido e não tive. O dinheiro não vale nada. Andamos todos enganados! Sabes o que quero agora? Pessoas à minha volta com um sorriso de conforto. E acabar os meus dias na minha casinha. Só quero mesmo a tua tia ao meu lado. Quando ela está aqui, nunca tenho frio. Precisava que a minha filha também estivesse sempre ao pé de nós e não está! Teima em trabalhar, aí na aldeia, noutra casa, a cuidar de outra pessoa doente. Eu até lhe dou o ordenado que ela está lá auferir” –enfatizou com uma grande tristeza que lhe pressenti nos olhos. Impressionou-me demais aqueles pungidos de sofrimento do meu tio José Fernandes.

A MENSAGEM

Passadas umas semanas, a meu pedido, tive uma conversa longa com a filha. Sem entrar em grandes confidências, tentei dizer-lhe o quanto o pai precisava dela. Que o ajudasse agora, enquanto podia e ele estava vivo, porque, não se saberia quando, ele iria partir na grande viagem sem retorno. Tentei dar-lhe a minha experiência relacional em conformidade com o que senti na afinidade ao meu pai. A nossa vida é dividida em três capítulos: 
o primeiro, até cerca dos 25 anos, será a fase da confrontação. Achamos que o nosso pai é de pouca prestabilidade, antiquado e deslocado no tempo, que nunca se ocupou de nós, enquanto filhos, e deu-nos pouco de tanto que nos poderia dar. A sua forma de proceder irrita-nos profundamente. Claro que iremos ser melhores pais.
o segundo, segue-se a da aceitação/compreensão. Esta fase irá dos 25 aos 50 anos. Talvez porque vêm os filhos e, ao mesmo tempo que amadurecemos, somos confrontados com o mesmo procedimento que tanto criticámos e a dar por nós a fazer o mesmo. Progressivamente, vamos entendendo o nosso progenitor e, pela nossa experiência empírica, compreendemos que ele foi apenas o que poderia ter sido, tendo em conta o circunstancialismo do tempo.
Depois vem o terceiro, o da desculpabilização/auto-culpabilidade. Para além de perdoarmos tudo ao nosso pai, mesmo os seus exageros, aos poucos, vamos criando um sentimento profundo de culpa por não termos sido melhores filhos e mais compreensivos com as suas atitudes.
A filha pareceu entender tudo e concordou. Achei que tinha feito o que tinha a fazer.
Em 17 de Janeiro de 2010 o meu tio José Fernandes, com 80 anos de idade, exalou o último suspiro. Infelizmente, e contrariamente ao seu desejo, faleceu fora do seu domicílio encantado e no ambiente que sempre cogitou. Estranhamente, vá lá compreender-se, foi levado para um lar, longe da sua casa. Como se quisesse reclamar deste tratamento tão impessoal e carregado de insensibilidade, passados dois dias faleceu.
De pouco valeram os bramidos sofridos de dor dos seus familiares mais directos na hora da despedida. De que gritariam eles? Da saudade de o verem partir ou pela culpa sentida de que Freud tão bem explicava? O destino é mesmo cruel!

UM POEMA DE SAUDADE

Meu tio está de partida,
reparem, não leva nada,
tem a cara acriançada,
serena imagem benzida;
Envolve-o um sobretudo,
aos seus pés umas flores,
talvez sejam desamores,
embrulhados em veludo;
Deixa tudo p’ra quem ficar,
terras, casas e dinheiro,
já não precisa de caseiro,
só quer paz quando chegar;
Muitos choram a sua ida,
ele não liga, parece feliz,
só lamenta esta matriz,
de lacrimar no fim da vida;
Parece não ver, mas sente,
o fingimento reinante,
só vê explicação abundante
na culpa que nunca mente;
A vida é uma grande lição,
que pena só o percebermos,
fora do tempo e esquecermos,
quando já não resta solução;
Quanto vale uma discussão,
o ódio, a guerra e a soberba,
um metro de terra de perda,
para no fim acabar em perdão;
Mas José leva consigo solidão,
não viajou; tudo fez para poupar,
só se preocupou em bens deixar,
e, em troca, só recebeu desilusão.