sexta-feira, 11 de julho de 2014

LEIA O DESPERTAR...


LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Esta semana deixo o textos "REFLEXÃO: A DISCRIMINAÇÃO DE CAVACO"; "VIAGENS PARA ENCHER PNEUS"; "QUEM ME LEVA OS MEUS FANTASMAS?"; e "PAPELEIRAS PARA QUE VOS QUERO"; e "A RUA DA SOTA AO CONTRÁRIO"


 

REFLEXÃO: A DISCRIMINAÇÃO DE CAVACO

O cidadão Aníbal Cavaco Silva é humano como qualquer um de nós. A sua história de vida é tão parecida com alguns milhões de portugueses, como eu e outros e outros, que nasceram pobres, ou remediados, nas décadas de 1940-1950 e escalaram a montanha da vida a pulso e dão muito valor ao caminho percorrido. Tal como eu e os outros milhões, alguns já reformados e a auferirem verbas de sobrevivência, este cidadão português que dá pelo nome de Cavaco chora quando se lembra dos seus tempos pobres de criança e ri a bandeiras desfraldadas quando recorda certas passagens patéticas. Ama e detesta. Aprecia quem gosta dele e abjura quem o abomina. Ainda como cidadão político, perseguindo a ideologia Social-Democrata, aparentemente odeia os comunistas. Tudo isto é legítimo e um comportamento seu que se respeita. Entre fragilidades, forças e valores, dentro do âmbito da liberdade individual, na sua idiossincrasia, este homem e cidadão português tem o direito de ser quem é.
Aníbal Cavaco Silva é o Presidente da República Portuguesa. Foi eleito Chefe da Nação maioritariamente pelos eleitores que sufragaram o último pleito eleitoral para a Presidência da República Portuguesa. Por inerência, por todos, pelos que votaram e os que não votaram nele, é sem dúvida, formal e materialmente, o presidente de todos os nacionais a residirem no país e no estrangeiro. Para além disso, no dia em que tomou posse, com uma mão em cima da Constituição da República Portuguesa, para além de outras promessas, jurou representar todos os portugueses nas alegrias, nas euforias de contentamento, e nas desgraças, quando a tristeza invade o nosso espaço e parece que o mundo ameaça ruir sobre as nossas cabeças.
José Saramago foi o nosso expoente máximo das letras além-fronteiras. Pelo seu trabalho, foi reconhecido com o prémio Nobel da Literatura, o nosso segundo nobelizado. A distinção atribuída pela Academia Sueca foi uma honra para Portugal e para todos os portugueses.
José Saramago, comunista de convicção e filiado no PCP desde antes do 25 de Abril, morreu em Junho de 2010. O Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, estava de férias nos Açores. Apresentou condolências públicas à família mas não se deslocou pessoalmente ao funeral do nosso maior expoente da literatura nacional e de projeção mundial.
Vasco Graça Moura, escritor, poeta e ensaísta, figura de relevo no firmamento social-democrata, morreu neste último Abril. O Presidente da República, Cavaco Silva, acompanhado da mulher, Maria Cavaco Silva, foram pessoalmente à Basílica da Estrela para apresentar condolências à família do extinto e velar o corpo ali exposto em câmara ardente.
Carlos do Carmo, filho de Lucília do Carmo, provindo de uma família de fadistas que muito tem dado à cultura portuguesa dentro e fora de Portugal. Na mesma linha de Amália, é um reconhecido artista nacional e internacional.
Em 2006 este notável cantor ganhou o prémio Goya, instituído pela Academia das Artes e Ciências Cinematográficas para a Melhor Canção Original, e foi felicitado, em nota oficial, pelo Presidente da República.
Assumidamente comunista, nos últimos tempos tem feito várias intervenções a criticar e a responsabilizar o presidente pela situação económica, política e social em que o país se encontra.
Esta semana foi o primeiro português a ser contemplado com um Grammy de carreira – este galardão é considerado o maior e mais prestigiado prémio da indústria discográfica mundial. Naturalmente recebeu muitas felicitações de várias personalidades do universo da cultura. O Presidente da República não faz parte dos que enviaram congratulações.
Pode o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, agir assim? Não pode nem deve. A mais alta figura do Estado não está a cumprir o mandato para que foi outorgado. Ao confundir os seus interesses individuais particulares, de cidadão, com o seu papel institucional, ao discriminar aqueles cidadãos que legitimamente ousam, ou ousaram, questionar a sua atuação política, não está a representar os portugueses. E não me venham como o argumento de que o direito civil se confunde com o direito constitucional e ambos se baralham no mesmo saco. O Presidente da República deve ser o primeiro a mostrar poder de encaixe para quem não concorda com o seu procedimento político.
O senhor Presidente da República está a dar um péssimo exemplo, para não dizer medíocre, aos nossos jovens e vindouros. Esta conduta pública deveria ser censurada por todas as forças políticas partidárias. Como português, este comportamento do mais alto magistrado da Nação envergonha-me.


VIAGENS PARA ENCHER PNEUS

Maria –vamos chamar-lhe assim- trabalha na Idealmed, uma moderna unidade hospitalar de Coimbra, privada, ali paredes-meias com Coselhas –um subúrbio da cidade e que, por curvas e contracurvas da estrada principal, dista sensivelmente cinco quilómetros até à sua casa de morada na Baixa. O seu horário de labor em muitos dias de uma qualquer semana do mês vai até às 23h00. Como não tem transporte público –e muito menos dinheiro para manter um automóvel- Maria percorre este caminho sempre a pé, faça chuva, sol ou nevoeiro. Aos domingos, durante todo o dia, também não há autocarros dos SMTUC, Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra, e a esta Maria, que poderia ser Madalena ou Etelvina, não lhe resta outra escolha do que colocar os pés ao caminho. Já por duas vezes teve tentativas de assalto, conta-me no meio de uma lágrima vadia que tenta romper por aqueles olhos de sofrimento encapotado.
Segundo o Diário as Beiras, da semana passada, Manuel Machado, Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, assinou um protocolo de cooperação com a Universidade de Coimbra, na pessoa do Magnífico Reitor João Gabriel Silva, para a implementação de uma nova linha mini-bus a ligar o Parque Verde e a Alta Universitária e para que os visitantes possam deixar os seus automóveis junto ao Mondego. Com isto não quero dizer que este novo projeto não seja importante para a cidade. O que quero dizer é que dar tudo para quem passeia –sobretudo numa zona bem servida de transportes públicos- e nada dar para quem trabalha, para quem luta e sofre para sobreviver de cabeça erguida, parece-me, há uma indecente discriminação negativa que atenta contra a liberdade individual. Talvez valesse a pena perder um minuto para pensar nisto!


QUEM ME LEVA OS MEUS FANTASMAS?

Talvez por que na Baixa andemos todos a precisar de exorcizar muitos dos nossos medos, ou por que esta zona velha está a necessitar de se revitalizar com novos negócios direcionados para áreas diferenciadas, abriu na Rua Eduardo Coelho, no antigo espaço da sapataria Modelo, uma loja dedicada ao esoterismo –Esoterismo “é o nome genérico que designa um conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões que buscam desvendar seu sentido supostamente oculto. Hoje em dia o termo é mais ligado ao misticismo, ou seja, à busca de supostas verdades e leis últimas que regem todo o universo, porém ligando ao mesmo tempo o natural com o sobrenatural”. Retirado da Wikipédia.
Segundo Carlos Pereira, “contrariamente ao que se possa supor é um estabelecimento de portas abertas a todos os públicos. Apenas comercializamos produtos e não iremos fazer consultas individuais –esta parte intimista deixamos reservada a especialistas com que trabalhamos já há vários anos.
Vendemos imagens de santos, físicas e em pagelas (papel), mensagens de pedidos rogados à boa-venturança, essências para purificar ambientes de más energias através da defumação, como incensos vários, velas e outros produtos ligados a toda a mística esotérica.
Respondendo à tua provocação –se trazemos boa-sorte para os comerciantes-, Luís, faço votos e tudo farei para que a nossa casa traga bons fluídos para todos.”


PAPELEIRAS PARA QUE VOS QUERO

O recado chegou-me curto: as Ruas Visconde da Luz e Ferreira Borges, as artérias principais e montras da Baixa e da cidade, estão sem papeleiras há vários meses. Como marco de fronteira, na divisão das duas vias pedonais, apenas uma marca presença junto à Mango. Segundo um comerciante estabelecido neste quarteirão, “é ridículo haver dinheiro para tanta coisa e para esta importante prevenção no recolher de detritos não há! O que me disseram foi que as papeleiras estão esgotadas. Enquanto elas vêm e não vêm os turistas, com os papéis na mão, entram dentro das lojas a interrogar onde podem depositar os excedentes. É como se fôssemos o seu caixote do lixo! Está a ver, não está?”
Em paradoxo, e certamente pelo extremo cuidado dos funcionários que alindam e cuidam do asfalto, a verdade é que o chão mantém-se limpo e asseado. É estranho? Pois é! Mas é verdade!


A RUA DA SOTA AO CONTRÁRIO

Antes de ir diretamente à questão que me levou a escrever esta crónica vou brincar com a palavra Sota. É um vocábulo giro porque, ao mesmo tempo, tem significados antagónicos. Tanto quer dizer “o que cavalga a sela” –por tanto instiga superioridade- como, em contrário e mais comum,  se infere uma subalternidade, no exemplo “sota-capitão”. Quer dizer ainda “mulher astuciosa”. E ainda “a parelha dianteira, num carro puxado por mais do que uma”. Por outro lado, se lermos “sota” da direita para a esquerda sugere-nos outra palavra: atos. Por conseguinte, “atos”, já no novo acordo ortográfico, entre várias interpretações, pode significar diferentes divisões ou partes de uma peça teatral.
Ora, depois desta estapafúrdia introdução, vou chegar onde queria, que era mostrar que a Rua da Sota, tendo em conta a sua definição etimológica, está a cumprir à risca o seu destino. Nos últimos cinco anos, pelas decisões camarárias respeitantes ao trânsito nesta artéria, foi uma guerra pegada entre o então executivo da extinta junta de freguesia de São Bartolomeu, de cor rosa (PS) e liderado por Carlos Clemente, e o então executivo autárquico da Coligação por Coimbra, PSD, PP, PPM, chefiado por Barbosa de Melo. O argumento de dissenso invocado era o estacionamento, que do lado do Hotel Astória era a pagar e do lado dos armazéns Raf era gratuito. Depois, para complicar ainda mais a interpretação, há dois anos, foi colocada uma placa junto ao Banco de Portugal, no Largo da Portagem, em que se proibia a circulação “excepto residentes e ligeiros para cargas e descargas”. Mais abaixo estava uma placa que indicava “zona estacionamento de ligeiros sujeito a pagamento”. Ou seja, entre as duas indicações havia uma contradição implícita. Uma ordem anulava a outra.
No seguimento de que esta rua está fadada para a confusão, ontem o sentido de trânsito foi invertido. Isto é, agora para se entrar nesta via terá de ser pelo Largo das Ameias, junto ao Café Angola. Sobre uma pequena rampa de acesso, se for um veículo de mercadorias, aparentemente não tem espaço facilitado para virar à direita. Mas junto ao Banco de Portugal –outrora entrada e agora saída-, parece-me, ainda é pior. Para além de ter uma outra rampa inclinada entra-se numa via estreita. Salvo melhor opinião, uns ingressos nada fáceis pelo que constatei. Mas, antes de saber as razões que estiveram na origem desta decisão, fui ouvir os responsáveis pelos estabelecimentos comerciais. Estão satisfeitos? Não estão?
Da parte dos que consideram positiva a medida Celso Baía, da Casa Baía, é um deles. “Concordo inteiramente. Passaram de 10 para 24 lugares de estacionamento. Já não circulam aqui carros em alta velocidade. Está muito melhor! Os meus clientes já podem vir calmamente ao meu estabelecimento”. Também Fátima Ferreira, funcionária dos Armazéns Raf, concorda. “Está melhor! Já podemos carregar e descarregar à vontade. Era um conflito diário com os outros automobilistas sempre a apitar. Agora podemos trabalhar calmamente. Hoje é o primeiro dia. Vamos ver como vai correr.”
Dos que estão contra, comecei por ouvir Ana Lúcia, do Salão Sota. “Não consigo entender o porquê desta alteração de movimento de trânsito na rua. Não faz qualquer sentido. Não devem ter mais nada para fazer, então inventam. Só pode!”. Também Jorge Fernandes, da Barbearia Adónis, partilha o mesmo sentimento. “É uma mudança para acabar com o negócio na Baixa. É um absurdo! Não faz sentido! Mais valia fechar o trânsito de vez. Com esta medida, não há melhoramentos. Antes pelo contrário. Acho que nos prejudica muito!”
Também Rosário Freitas, funcionária do restaurante Calado & Calado, está contra. “É muito mau! Hoje temos menos gente! Estão a passar menos carros. Se o negócio já estava mal, agora piorou. Não vejo qualquer vantagem! Enquanto funcionária, estou preocupada. Se o restaurante fosse meu fazia imediatamente um abaixo-assinado a solicitar a reposição do anterior”. Pedro Pereira, do restaurante “Solar do Bacalhau”, ex-Giuseppe & Joaquim, também partilha de opinião similar. “Com esta mudança, há menor visibilidade do nosso restaurante. Quem vem agora tem de vir de propósito. É um risco inverter o sentido do trânsito. Valia mais manter como estava e permitir o tráfego entre as 8h00 e as 19h00. Após esta hora do encerramento do comércio a rua passava a ser somente para peões e para carga e descarga. Parece-me que esta alteração, como está, não está bem!”

E O QUE DIZ CLEMENTE?
Carlos Clemente, ex-presidente da extinta Junta de São Bartolomeu e agora adjunto do Gabinete de Apoio à Presidência nas áreas de apoio às Juntas de Freguesia, salubridade pública e os cemitérios, em seu nome pessoal aceitou explicar o seu ponto de vista sobre esta nova postura camarária. “Enquanto ex-autarca, e é nesta condição que aceito prestar declarações, considero esta medida acertada. Aliás, era uma reivindicação antiga da junta de freguesia a que presidi. O que está em causa, e é preciso salientar isto muito bem porque não há outra qualquer intenção, é melhorar a circulação automóvel na Rua da Sota. Evitar que aquela via continue a ser uma “escapatória” para quem quer fugir ao trânsito da Avenida Navarro, um atalho de atravessamento a grande velocidade. Agora, com esta mudança, as pessoas que vêm para a Baixa tem mesmo de se deslocar para esse fim. É uma medida positiva. Acaba-se com o estacionamento em segunda fila. Deu-se maior dignidade à rua e a todos os operadores comerciais, concedendo-lhe mais espaço pedonal e menos para os automóveis.”




1 comentário:

Anónimo disse...

Boa tarde, perguntem ao outros membros do executivo da antiga Junta de São Bartolomeu se alguma vez fez parte das intenções do mesmo em alterar o sentido do transito na Rua da Sota.
Vão ficar a saber que nunca foi intenção da antiga Junta de freguesia.