quinta-feira, 25 de julho de 2019

BAIXA: ROTA DAS TABERNAS COM FADO E F**A

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Ontem à noite, no programa da Rota das Tabernas organizado pela Câmara Municipal de Coimbra, cerca das 22h00, junto ao Largo da Maracha, houve fado de Coimbra,  na Baixa, com o grupo de António Dinis
Cerca de meia centena de pessoas, acomodadas em cadeiras fornecidas pela autarquia, assistiu a um grandioso espectáculo da canção Coimbrã.
Tudo estaria bem se, primeiro, o evento não devesse ser realizado à frente do estabelecimento visado, ou seja, a taberna “34”, na Rua da Gala, que dista cerca de oito dezenas de metros, e não tão distante. Segundo, às 20h00 foram rebocados e sancionados com coima vários automóveis que, sem saberem que ali se iria desenvolver uma exibição musical, deixaram os carros ali estacionados como de costume. Com que direito se pode obrigar estes cidadãos a pagarem a contra-ordenação? Não deveria ter sido obrigação da Polícia Municipal manter ali um agente durante a tarde a avisar do que iria acontecer?
Enfim…

terça-feira, 23 de julho de 2019

BAIXA: CRÓNICA DO MALHADOR (12)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Ontem, duas horas e quinze minutos depois da hora regulamentar, às 19h15 – o Regimento das sessões de Câmara Municipal prevê, no seu artigo 14º, “a ocorrer pelas 17h00” –, na qualidade de munícipe, realizei a minha intervenção na Câmara Municipal de Coimbra.
Em resposta à minha questão colocada, o presidente da autarquia, Manuel Machado, respondeu que a edilidade, em face da lei vigente, uma vez que se trata de uma iniciativa empresarial que cabe aos privados, não poderia dar provimento a uma escola profissional de calceteiros. Será assim? Não sei. Mas duvido que, havendo vontade, não seja possível. Tudo é possível, mas, para acontecer, é preciso haver mesmo vontade. Conforme sugeriu o vereador José Manuel Silva, do movimento Somos Coimbra, nem que fosse através do ITAP, Instituto Técnico e Artístico Profissional de Coimbra, um instituto profissional na qual a Câmara Municipal é fundadora e detentora de uma parte do capital social.
Um enorme agradecimento ao Fernando Moura, director, redactor, repórter de imagem do Notícias de Coimbra, por, mais uma vez, dando imagem às minhas palavras, contribuir para mudar o político situacionismo endémico, bafioso,  patológico e subversivo que grassa no executivo da Câmara Municipal de   Coimbra. Com a sua louvável ajuda, tenho a certeza, a razão vencerá e o presidente da Câmara Municipal, sem que seja considerada derrota, vai ter de recuar e começar a respeitar os cidadãos, em geral, sem vocativo e sem apêndice. É uma questão de tempo. Pela defesa da minha honra, estarei presente até à vitória final.
Pode visualizar aqui o trabalho do jornal online Notícias de Coimbra (clique em cima).
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Ex.mº Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, senhores vereadores:


A cidade, enquanto espaço de fruição pública, assenta em, pelo menos, cinco factores que lhe dão sustentabilidade e a transformam em atractivo para aglomerar pessoas: segurança, iluminação, jardins, lixo e o chão que pisamos. Com a mesma sintomatologia, as premissas que enunciei, sem excepção, desenvolvem fenómenos inconscientes que vão influenciar as nossas decisões diárias para transitar ou, pelo contrário, preterir uma artéria e condená-la à proscrição, ao abandono e ostracismo para sempre. Embora pareça um assunto de somenos, é um tema importantíssimo para tornar a polis mais agradável e equitativa na prestação social aos cidadãos. É por esta falta de atenção da Administração que as ruas, tantas vezes carregadas com narrativas humanas, história de tradição comercial e séculos de universalidade, apagam-se e, como sarcófagos vazios, morrem aos nossos olhos.
Se quanto aos primeiros quatro vectores deixarei para uma próxima intervenção neste hemiciclo, hoje focarei apenas o último, o chão que pisamos na Baixa. Estou em crer que, embora estejamos sujeitos a critérios psicológicos de escolha que não controlamos, na maioria das vezes, não se dá muita atenção onde colocamos os pés. A mobilidade para todos, incluindo idosos, mulheres com carrinhos de bebé, crianças, deficientes motores e invisuais, é um direito absoluto que contribui para a igualdade e a paz social.
Recorrendo ao passado para justificar o presente, ao longo dos últimos quinhentos anos, -*com abertura de novos arruamentos, predominou o calhau rolado no chão da Baixa. Sem grande certeza, nos últimos três séculos o paralelepípedo em rocha foi substituindo o asfalto romano nas vias do Centro Histórico, Alta, cidade muralhada, e Baixa, considerada arrabalde para gente assalariada e criadora de artes e ofícios. Segundo poucos estudos disponíveis sobre este pavimento asfáltico, sabe-se que, apesar de não ser o melhor na aderência de pneus, qualquer outro similar tem um ciclo de vida na ordem da milionésima parte de durabilidade do paralelepípedo.
No virar do milénio, cumpria o Dr. Manuel Machado o seu último mandato como presidente camarário, em 1998, ao abrigo do PROCOM, Programa de Apoio à Modernização do Comércio, exceptuando pequenas áreas como a Praça do Comércio e Rua da Sota, a pavimentação das vias estreitas e largas da Baixa foi alterada para calçada portuguesa e intervalada com lajeado em pedra. Começou aqui o Inferno para a locomobilidade cidadã e o abrir do poço sem fundo para os gastos nos cofres camarários. Sem a assistência necessária e imperativa proporcionada diariamente por calceteiros especializados, sem o mínimo respeito por quem pisa e aprecia a arte ancestral de atapetar os caminhos, hoje o chão da Baixa é um enorme tapete de pedrinhas com declives, buracos e crateras, aqui e ali remendados com cimento, lajes partidas e uma tremenda falta de planeamento urbano que desencadeia a indignação. Sem pretender arvorar-me em especialista na matéria, dá para ver que este piso não é o indicado para ser pisado por trânsito rodoviário. Então, sendo assim, há duas hipóteses: ou se harmoniza o existente com uma assistência cuidada ou, preferindo a inércia, se substitui de vez o empedrado. Claro que se se optar pelo restauro cuidado e atempado, para isso acontecer, é preciso disponibilizar meios humanos e conhecimento técnico. Acontece que nos últimos vinte anos, quer os anteriores, quer o actual, jamais um executivo se preocupou em criar uma escola de calceteiros e canteiros de pedra.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

EDITORIAL: “A CIDADE ENQUANTO LABORATÓRIO DE DEMOCRACIA”

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Segundo a Wikipédia, “A hipocrisia é o ato de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não as possui. A palavra deriva do latim hypocrisis e do grego hupokrisis ambos significando a representação de um ator, atuação, fingimento (no sentido artístico). Essa palavra passou mais tarde a designar moralmente pessoas que representam, que fingem comportamentos.”
O país e o mundo ao longo da história antiga e contemporânea estão cheios de exemplos. Só para exemplificar um caso recente, basta relembrar o artigo de opinião de M. Fátima Bonifácio, com o título “Podemos? Não, não podemos”, publicado no último Sábado, no jornal PÚBLICO – para quem não leu, tratava-se de uma análise da historiadora, e colunista, ao pressuposto do tema “PS quer discriminação positiva para as minorias étnico-raciais”. O que perorava Fátima Bonifácio? Tão só uma opinião, que, concordemos ou não, é a dela, e, pelos direitos civis e constitucionais, que a assistem, temos de (deveríamos) respeitar. Em nome do pluralismo de opinião, cujo resultado final resulta do debate entre prós e contras, todos deveríamos pugnar pela liberdade de manifestação individual.
Ora, numa intolerância a todos os níveis, estamos a verificar uma catadupa de asneiras que ainda vai acabar mal. Seja em nome do “politicamente correcto”, ou talvez porque a maioria, olhando para este caso como se não lhe dissesse respeito, a verdade é que os alegados membros da defesa das minorias partem a loiça toda e, numa intransigência inqualificável, ostracizam e prometem acções judiciais contra a escritora. Está na moda sobrevalorizar os minoritários e desvalorizar os que, pensando pela sua cabeça, discordam de teses estúpidas e formatadas. Numa espécie de reviralho legalista, tendo em conta que o respeito se conquista, tenta-se impor pela força coercitiva o reconhecimento através da lei.
Para piorar, e podermos conjecturar que as liberdades de opinião e de livre-expressão estão ameaçadas por estes perigosos polícias censores, no dia a seguir, ou seja, no Domingo, o director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, em editorial, espetando uma faca na barriga publicamente – em metáfora, é claro -, veio pedir desculpa aos leitores por ter permitido a publicação da historiadora no jornal em que é (um mau) director. Uma tristeza que faz doer -pelo menos a mim, que sou leitor diário do matutino.
E agora, largando atentados à dignidade que nos deveriam envergonhar a todos, vou prosseguir no caso que me levou a escrever, e que também se insere na coluna da hipocrisia social que nos domina e, pela não intervenção cobarde da maioria que prefere não se manifestar, que há-de acabar por institucionalizar uma ortodoxa doutrina dominante.
Também no jornal Público de ontem, na edição em papel, na página 14, sob o título “A cidade enquanto laboratório de democracia”, em texto de opinião, insignes subscritores advogavam a defesa da revitalização da democracia, e que “urge aproximar os cidadãos da tomada de decisões e credibilizar o sistema político”.
Acontece que um dos signatários do manifesto é o conimbricense José António Bandeirinha. Sendo figura de proa na cidade dos estudantes, é professor catedrático e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Para além das suas funções de Pró-Reitor para a Cultura da Universidade de Coimbra e outros cargos de relevo que tem ocupado, Bandeirinha, em 2013, foi também deputado municipal, em representação do movimento Cidadãos por Coimbra. Em 2008, foi ainda membro activo do movimento nascido em Coimbra Pelo direito à cultura e pelo dever de cultura!”, postado num blogue na Internet, em que se pedia a assinatura online, apelidado de “Amigos da Cultura. É preciso esclarecer que este tempo foi entre 2001 e 2013, ou seja, no período do governo local, PSD/CDS/PPM, conotado com a direita.
Acerca da possibilidade de intervenção política dos munícipes na Câmara Municipal de Coimbra, Executivo e Assembleia Municipal, qualquer citadino minimamente informado sabe o que se passa actualmente nos dois fóruns da cidade. E, diga-se sem pejo, com a descarada conivência da imprensa local.
Então deixo umas interrogações ao professor Bandeirinha: estando farto de saber o que se passa na cidade, por que razão ainda não ouvi uma frase sua a denunciar esta violação do direito individual e colectivo dos cidadãos? Será por a cadeira do poder municipal estar a ser ocupada pela esquerda?
Não acha ridículo vir, através dos jornais, apelar aos portugueses que se movimentem no sentido de ouvir a sua voz individual e agrupada quando na sua própria terra o governo local, com subterfúgios, impede a participação política e faz pouco de todos?
Confesso que me apetece mandar-lhe um manguito, na forma de cruzar os braços `do “Zé Povinho”, na figura estilizada de Bordallo Pinheiro. Mas não. Como o conheço há muitos anos e tenho algum respeito por si, fico-me só pelo pensamento.

segunda-feira, 8 de julho de 2019

CMC: CRÓNICA DO MALHADOR (11)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Dentro do horário previsto e com uma estranha amabilidade, repito estranha, por parte de Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra – sem me interromper uma única vez -, na qualidade de munícipe, levei ao conhecimento do Executivo a análise exaustiva que realizei às actas municipais nos últimos 11 anos – ou seja, 60 meses do magistério da Coligação por Coimbra (PSD/CDS/PPM), entre Janeiro de 2007 e Junho de 2013 e o mesmo período de tempo, entre Outubro de 2013 e Junho de 2019, já com o PS a ocupar os destinos da cidade. Os resultados deste “estudo” podem ser consultados mais abaixo.



Ex.mo senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, senhores vereadores, meus senhores e senhoras:



1- Como sabem, já vai em quatro meses que, contra ventos e marés, tento exercer o meu direito/obrigação de trabalhar a cidadania neste hemiciclo. O que me move unicamente, repito unicamente, é que esta Câmara receba com cordialidade e simpatia a participação do cidadão comum, como eu, reconhecendo a sua dignidade e o constitucional direito de intervir na coisa pública.
Como venho teimosamente a reiterar aqui, o respeito pelo munícipe continua a ser lavrado em tábua rasa. Contrariando o Regimento, que foi aprovado para o público intervir às 17h00, num abuso de direito incompreensível, querendo intervir, o contribuinte é forçado a esperar várias horas e a falar quando os senhores permitem. A consequência, como vemos, é a continuada diminuição da participação pública nestas reuniões camarárias.

2- Para reflectir, entre 01 de janeiro de 2007 e Junho de 2013, portanto 5 anos e 6 meses, a Coligação por Coimbra (PSD/CDS/PPM) teve 126 inscrições consumadas de munícipes nas várias sessões de Câmara. REPITO, e fixem este número: 126 participações públicas.
De salientar que na regência do anterior governo, sempre que necessário, isto é, se ultrapassasse a hora anunciada no Regimento às 17h00, a sessão era sempre interrompida para que os munícipes interviessem e depois era retomada a sessão. -Recomenda-se a leitura das actas deste período: grandes discussões em assuntos levados ao hemiciclo por cidadãos e discutidos pelo presidente, vereadores e um técnico da área do assunto chamado à colação.
Com a renúncia do ex-presidente Carlos Encarnação, o sucessor, João Paulo Barbosa de Melo, em 10/01/2011, fez aprovar alterações ao Regimento da Câmara Municipal, artigos 9º, 10º e 15º relativo à intervenção do público. No artigo 9º, com quatro pontos, previa 2 dias úteis para a inscrição de munícipes. Apenas uma reunião era aberta ao público, “pelas 17h00”, podendo, no entanto, a Câmara deliberar sobre a realização de outras.

3- Em 28/10/2013, na primeira reunião do novo executivo PS, foi alterado o Regimento das Reuniões da Câmara Municipal. O artigos relativos ao acesso dos munícipes passaram a ser os 10º, 11º e 14º. No artigo 10º, de dois dias úteis para a inscrição de munícipes, passou a ser de cinco dias úteis. Para além disto, passou a incluir mais um ponto a chamar a atenção para a punição da violação da Lei 75/2013.
Ainda relativo às reuniões, mantendo o costume que vinha de trás, apenas uma reunião era pública. Foi alterada a redacção de intervenção do público “pelas 17h00” para “a ocorrer pelas 17h00” (artigo 14º). Por outro lado, a partir desta altura, os problemas apresentados pelos munícipes passaram a ser respondidos na maioria pelo presidente da Câmara e poucas vezes com intervenção dos restantes vereadores. Por outro lado ainda, os técnicos relaccionados com a solução para a matéria levada pelos munícipes deixaram de estar presentes. O último especialista a intervir no esclarecimento do cidadão foi em 31/03/2014.

4- Até 2016, quase todas as sessões foram interrompidas às 17h00 para ouvir os munícipes. Sem se saber a razão e o critério, duas delas, no ano de 2014, não sendo interrompida a sessão, prolongaram-se cerca de quatro horas para além da hora regulamentar. Tais factos, em 12/05/2014, originaram uma forte indignação do vereador, da altura, José Belo nos seguintes termos: (...) “a participação dos cidadãos, na gestão do seu Município, é não só um direito, mas também um dever cívico e de cidadania, podendo eles fazê-lo mediante vários recursos previstos na Lei, nomeadamente os inerentes à sua participação nas reuniões de Câmara. Daí, que tenhamos de ter o máximo cuidado no sentido de se criarem condições e boas práticas neste domínio, para que qualquer pessoa se sinta motivada a expor as suas questões de forma adequada e assertiva.

5- Em 31/10/2017 foi alterado o Regimento das Reuniões da Câmara Municipal. Os artigos 10º , 11º e 14º mantiveram-se na mesma ordem. Porém, o artigo 14º passou a prescrever que “as reuniões ordinárias da Câmara são públicas” - lembro que até aqui apenas uma reunião era aberta aos munícipes. O senhor Vereador José Manuel Silva propôs uma alteração ao Regimento: (…) “que no artigo 10º, relativo ao período de intervenção do público, os assuntos a serem tratados pelo público inscrito sejam incluídos na ordem de trabalhos (com indicação do assunto a tratar e eventual documentação apensa) a enviar aos vereadores”.
A partir desta altura, os munícipes passaram a serem ouvidos no final da sessão. Consequência ou não desta metodologia, a verdade é que no final de ano de 2017 não houve uma única participação de munícipes. Durante o ano de 2018, com as sessões a terminarem entre as 17h30 e as19h30, houve apenas 5 participações públicas.

6- -Em 02/07/2018, o senhor vereador Francisco Queirós disse em reunião camarária que “foi aprovada, por unanimidade, a abertura de um período de intervenção do público e que, no seu entender, foi uma decisão muito importante, visto que a intervenção dos munícipes vêm dar um contributo enriquecedor às reuniões do Executivo”.

7- Neste ano corrente de 2019, apenas 9 munícipes marcaram presença no hemiciclo. Mas, atenção, destas nove presenças seis foram da minha pessoa. Mais ainda: para comparecer em sessão de Câmara nestas seis vezes, inscrevi-me em 9.

8- No mesmo período de ocupação laranja, portanto, 5 anos e 6 meses, ou seja, entre 28/10/2013 e 24 de Junho de 2019, o Partido Socialista contabilizou 55 participações de munícipes nas várias sessões de Câmara. REPITO: 55 participações públicas -saliento que seis foram minhas.
Como disse em cima, relembro que no mesmo tempo exercido pelo PSD/CDS/PPM a participação pública foi de 126 inscrições.

Ontem foi divulgado um relatório internacional sobre a Democracia Liberal, realizado pela Universidade de Gotemburgo. Entre 175 países analisados, Portugal ocupa o 42.º, com um péssimo desempenho, devido à fraca participação da sociedade civil. Esta realidade não deveria fazer reflectir?


TEXTOS RELACCIONADOS:




sábado, 6 de julho de 2019

EDITORIAL: A NOSSA IMPRENSA LOCAL, OS NOSSOS ELEITOS E O BATER EM FERRO FRIO

(Vídeos realizados por Fernando Moura, do jornal online Notícias de Coimbra -para quem endereçamos o nosso mais profundo agradecimento)




Conforme dei conta em várias crónicas, há cerca de uma semana, depois de devidamente inscrito, marquei presença na Assembleia Municipal de Coimbra. Como, alegadamente e e se pode depreender, era intenção do presidente do parlamento local, Luiz Marinho, boicotar a minha prestação, numa cena próxima de um país terceiro-mundista, acabou por, a contra-gosto, no meio de gritos histéricos, ter de me incluir na ordem de trabalhos.
Admito que, trazendo este assunto outra vez à colação, já canso quem me lê. Mas, mesmo assim, pedindo uns minutos de reflexão ao leitor, rogo mais uns momentos de atenção.
Começo pelos parlamentares na assembleia, perante a medíocre prestação do maestro que conduzia a orquestra, não deveria ser obrigação de todos os representantes políticos indignarem-se e chamarem a atenção para o que ali aconteceu? Ao calarem a agressão a um cidadão, o que os nossos políticos eleitos no fórum da cidade fizeram, legitimando a acção, foi dar um voto de confiança a uma pessoa que, alegadamente, não possui qualidades para ser um “juiz” que, conjuntamente com outros, comanda, arbitra e fiscaliza um grupo de eleitos num órgão importantíssimo. Por que o fizeram, sobretudo a maioria de eleitos PSD/CDS, já escrevi um texto a explicar: ninguém é contra a brutalidade se já fez o mesmo quando era poder e ocupou o mesmo lugar.
Ainda neste vale de lágrimas, vale a pena fazer um resumo acerca dos comentários nas redes sociais, de onde vêm e para onde querem ir – sobretudo na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial), que, salvo melhor opinião, deve ser o sítio que melhor espelha a idiossincrasia dos conimbricenses interessados na vida da polis. Foram muitos os que se indignaram com veemência contra o desrespeito do senhor Luiz Marinho. A maioria destes comentadores são cidadãos sem rabo preso a partidos. Opinam pela paixão que os une à cidade e pela ilegalidade que lhes toca a sensibilidade à flor da pele.
Dos nomes sonantes da urbe, com peso no aparelho partidário, lugares de topo, nomeadamente lentes do ensino superior e directores gerais, nem um só se manifestou a insurgir-se contra aquela atrocidade. Mas, a meu ver, também não admira, Coimbra é uma cidade que, num classicismo notório, gira a dois movimentos: a classe Baixa, onde cabem todos os desapontados com este sistema discriminador, onde me incluo, e a classe Alta. Nesta classe Alta, incluem-se professores universitários, profissões bem remuneradas, políticos partidários e famílias abastadas. Estes grupos raramente se manifestam - e se o fizerem é sempre na linha dinástica da sua consanguinidade – porque, por um lado, temem ser prejudicados em investimentos futuros, por outro, sabem que amanhã irão estar no poder, ou ter algum familiar no mesmo grupo decisório.
Curiosamente, vale a pena analisar as forças partidárias locais que interagem nesta página pluralista, não oficial, de - embora grupo fechado e carecendo de inscrição prévia - expressão pública aberta a todos.
Falando apenas do início deste milénio, com o PS a governar a cidade desde 2013, embora todos os vereadores façam parte e tenham acesso à página virtual, raramente algum deles desce à terra (isto é, ao nível do cidadão comum) para comentar qualquer assunto. Porquê? Podemos perguntar? Porque teme o confronto democrático com os munícipes. Os cidadãos que criticam, a seu ver, são inimigos a abater. São os que, por serem do contra, colocam o “pau na roda”.
E o PSD? Durante três mandatos autárquicos, entre 2001 e 2013, coligado com outras forças políticas, foi poder na cidade. Em 2013, num choque que ainda não recuperou, perdeu as eleições para o PS. Como desempenhou e deu azo a mais de uma década de completo marasmo para Coimbra, perdendo uma oportunidade de ouro para o desenvolvimento local, não ousa vir para a praça pública confrontar os cidadãos. Para além disso, na Lusa Atenas, aparentemente, o futuro não se mostra auspicioso para combater o PS. Daí, a meu ver, raramente se expor na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial).
E o CDS/PP? Apesar de coligado com o PSD durante os doze anos de mandato, embora aqui e ali, sem dar muito nas vistas, o seu líder local, assumindo o papel de charneira que lhe cabe e sabendo encaixar as críticas, não se escondendo atrás do biombo, vai publicando e comentando crónicas e comentários de munícipes.
A CDU, através do seu vereador ou algum membro de topo da direcção local da coligação, que me lembre, nunca comentou ou publicou qualquer notícia. E porquê? Bom, as explicações poderão ser tantas quanto a simpatia que cada um nutre mas, a meu ver, a CDU, sofrendo do complexo colaboracionista, que, se não abreviar caminho, a há-de fazer perder o único vereador que detém na Câmara Municipal, teme ser ridicularizado pelos cerca de sete mil membros que compõem o sítio virtual.
O CpC (Cidadãos por Coimbra), que, embora elegendo dois deputados para a Assembleia Municipal, perderam o seu único vereador no executivo, ainda estão a digerir o desastre que os atingiu em 2017. De certo modo também, digo eu, por se julgarem de esquerda e mais iluminados, acima do comum mortal, é seu entender que os que não comungam das suas opiniões são contra a sua doutrina. Portanto, considerando a página virtual como inclinada à direita, para eles, não é sítio recomendável.
O PPM e o MPT, em que cada um elegeu um deputado à Assembleia, cultivando uma certa superioridade moral de elite e sendo, à sua maneira, marginais do sistema eleitoral, poucos conhecendo os seus representes na cidade, também não se esforçam muito para fazer passar a sua mensagem. Por esta e outras razões, está tudo dito.
E, no espectro partidário, falta então falar do movimento Somos Coimbra. Sabendo que a sua sobrevivência futura, a recomeçar em 2021, assenta em, no mínimo, manter os seus dois vereadores; no suficiente mais, furtar um eleito ao PSD e eleger mais um; no intermédio, passar a quatro representantes, roubando um ao PS e outro ao PSD; e, no máximo, ganhar a Câmara Municipal com cinco vereadores. É esta prova de vida que faz correr contra o tempo o seu coordenador. Uma forma histórica de proceder na cidade já conseguiu: sem medo de se apresentar à crítica social, o interagir com outros cidadãos marca a ferros esta época pouco diferenciadora.


MAS, DIGA-ME, NÃO ERA PARA FALAR DA IMPRENSA LOCAL?


De facto, comecei a escrever esta crónica apenas com intenção de focar o desempenho da imprensa local na última Assembleia Municipal. Acontece que, como o escrever é o meu mundo desconhecido de prazer, muitas vezes nunca sei onde vou parar.
Mas, mesmo já sendo este texto comprido como o raio que me ilumine na vida, ainda lá vou. Quem leu os jornais diários locais do último Sábado, nomeadamente o Diário as Beiras e o Diário de Coimbra, apercebeu-se que nenhum deles fez qualquer referência ao histerismo do presidente do parlamento. Preferindo ambos por centralizarem o meu desempenho, optaram ambos por passar por cima do que do ponto de vista jornalístico aconteceu. Isto, esta reiterada opacidade é bom para a cidade? É assim que o leitor médio, aquele que busca informação em papel, vai fazer aumentar as tiragens? Bem sei, sem esquecer, que me publicam as minhas cartas nas suas páginas do leitor, mas, com franqueza, gostava de ter em Coimbra uma imprensa independente, aguerrida, sem receio de confronto com o poder.
No semanário Campeão das Províncias, num hábito que se vai tornando mais costume, nem uma linha nas “Vinagretas”. Os contraventores agradecem o curvar de espinha dorsal.
Por último, não posso esquecer aqui o Fernando Moura – o único jornalista, interventor, que soletro o nome -, do jornal online Notícias de Coimbra. Sem ele, sem as suas imagens gravadas em vídeo nas sessões de Câmara, Coimbra seria sempre a cidade do Desconhecimento.



sexta-feira, 5 de julho de 2019

EDITORIAL: EM COIMBRA, DUAS FAMÍLIAS POLÍTICAS GOVERNAM E MALTRATAM O CIDADÃO À VEZ


(Vídeos realizados por Fernando Moura, do jornal online Notícias de Coimbra -para quem endereçamos o nosso mais profundo agradecimento)




Na próxima Segunda-feira, dia de reunião autárquica, na qualidade de cidadão, vou levar à Câmara o resultado de uma análise exaustiva às actas dos últimos 12 anos – isto, obviamente, se os serviços de apoio à presidência, à última hora, não arranjarem um qualquer impedimento. No penúltimo encontro fui barrado com o argumento de que não tinha escrito no requerimento de inscrição a frase “Pedir esclarecimentos”. Por este reiterado comportamento, a qualquer hora espero que argumentem que falta um ponto de exclamação, uma vírgula, um ponto final, sei lá.
Voltando ao “estudo” que apresentarei nesta próxima Segunda-feira, ou noutra qualquer, declaro que o meu único propósito é, com dados, provar que em Coimbra, em acentuada inclinação nos últimos 12 anos, há um profundo défice democrático de participação popular. Gostava de salientar que, embora os elementos apontem para uma mais elevada degradação nos últimos seis anos de governança PS, com conhecimento de facto, porque participei no Executivo e na Assembleia Municipal muitas vezes entre 2007 e 2013, afirmo solenemente que a anterior Coligação por Coimbra (PSD/CDS/PPM) praticou sempre na cidade o mesmo desrespeito pelo cidadão. Ou seja, quer a família laranja - em exercício político no período de 2001 a 2013 -, quer a família rosa - entre 2013 e 2019 -, uma e outra, destrataram sempre o munícipe. Mas há um pormenor: este PS, com Manuel Machado à frente, consegue ultrapassar em muito, para pior, o anterior governo de associação política.
Conforme afirmei, há cerca de uma semana, na última Assembleia Municipal, entre 01 de Janeiro de 2007 e Junho de 2013, a Coligação por Coimbra, com Carlos Encarnação e João Barbosa de Melo, teve 126 participações públicas nas muitas sessões de Câmara – que é preciso levar em conta que apenas uma das duas mensais era aberta aos munícipes. Por outro lado, relembro, eram necessários apenas dois dias úteis para a inscrição prévia. Por outro lado ainda, nesta altura as sessões eram sempre interrompidas às 17h00 para ouvir os cidadãos e depois, em seguida, eram retomados os trabalhos de agenda.
Faço notar que neste período da história da cidade, os assuntos apresentados pelos munícipes no hemiciclo eram discutidos por toda a vereação e era levado o técnico responsável ou chefe de departamento para responder ao cidadão.
Em 28/10/2013, na primeira reunião do novo executivo liderado por Manuel Machado, foi alterado o Regimento das Reuniões da Câmara Municipal de Coimbra. Entre outras modificações, de dois dias úteis para a inscrição pública passou para cinco dias úteis. Para além disto, passou a incluir mais um ponto a incluir sanção para a violação da Lei. Assim como a redacção do acesso ao público passou de “pelas 17h00” para “a ocorrer pelas 17h00”.
A partir desta mudança de sistema, aos problemas apresentados, a resposta passou a ser respondida na maioria das vezes pelo presidente da Câmara e poucas vezes com intervenção dos restantes vereadores da oposição. Assim como também os técnicos relaccionados com o problema levado pelos munícipes deixaram de estar presentes na sessão. O último a intervir no esclarecimento do cidadão ocorreu em 31/03/2014.
Até 2016 quase todas as sessões foram interrompidas às 17h00 para ouvir os munícipes e depois retomadas. Sem se saber a razão e o critério, duas delas, no ano de 2014, por não ter sido interrompida a sessão, foram prolongadas cerca de quatro horas para além da hora regulamentar. Tais factos originaram uma forte indignação, com uma premonição, do então vereador José Belo.
Em 31/10/2017 foi novamente alterado o Regimento Camarário. Entre outros pontos, o artigo 14.º passou a prescrever que “as reuniões ordinárias da Câmara são Públicas” - relembro que até aqui apenas uma era aberta publicamente.
A partir desta altura os munícipes passaram a serem ouvidos no final da sessão. Consequência ou não desta metodologia, a verdade é que no final do ano de 2017 não houve uma única participação. Durante o ano de 2018, com as reuniões a terminarem entre as 17h30 e as 19h30, houve apenas cinco intervenções de munícipes.
No total destes cinco anos e seis meses, entre 28/10/2013 e Junho de 2019, com o PS a liderar, foram contabilizados 55 participações nas várias sessões públicas – para comparar, e repetindo o que escrevi em cima, entre 01 de Janeiro de 2007 e Junho de 2013, a Coligação por Coimbra, com Carlos Encarnação e João Barbosa de Melo, teve 126 participações públicas nas muitas sessões de Câmara.
Mais há para dizer, mas fica para a próxima Segunda-feira, na sessão de Câmara - que deverá ocorrer, talvez, às 18h00, 19h00, 20h00, 21h00 ou, quem sabe, lá para as 22h00. De qualquer modo, por uma questão de honra, até esta declarada prepotência ser emendada, lá estarei presente.

terça-feira, 2 de julho de 2019

segunda-feira, 1 de julho de 2019

ASSEMBLEIA MUNICIPAL: O FAMIGERADO ARTIGO 72º





Para os senhores que comentam na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial), e também os que lêem este Blogue, talvez o sítio que mais se debruça sobre questões de cidadania em Coimbra – com franqueza, para mim são uma parte da parte mais esclarecida da cidade – peço-vos encarecidamente que percam uns minutos a analisarem o famigerado artigo 72º do Regimento da Assembleia Municipal de Coimbra, revisto e aprovado em sessão ordinária de 29 de Abril de 2015.


TOMAI ATENÇÃO, NOMEADAMENTE, AO PONTO 2: (…) “que ouvida a Conferência de Representantes decidirá sobre a pretensão”.


OU SEJA, CAROS CONCIDADÃOS: ESTAMOS PERANTE UMA COMISSÃO DE TRIAGEM, OU DITO DE OUTRA FORMA: UMA COMISSÃO DE CENSURA. DITO “SEM PAPAS NA LÍNGUA”: SÓ FALA QUEM O SENHOR PRESIDENTE E OS SENHORES QUE COMPÕEM A COMISSÃO DE LÍDERES QUISEREM. ESTES SENHORES SÃO OS DONOS DA LIBERDADE E QUE CONTROLAM A LIVRE-EXPRESSÃO NA CIDADE DE COIMBRA:


REGIMENTO DAS REUNIÕES DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE COIMBRA
ARTIGO 72º
Período de Intervenção aberto ao Público


1. Os munícipes, as pessoas jurídicas ou os grupos que sejam portadores de interesse municipais relevantes, podem tomar a palavra nas sessões da Assembleia quando essa faculdade seja o meio adequado, para os promover ou defender.
2. O pedido de intervenção é feito ao Presidente da Assembleia, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias, que ouvida a Conferência de Representantes decidira sobre a pretensão.
3. Quando for o caso, o Presidente da Assembleia Municipal fixa um período de intervenção aberto ao público, quem lugar imediatamente após a abertura dos trabalhos, não sendo superior a 15 minutos.
(...)