terça-feira, 31 de maio de 2011

É PRECISO NÃO DORMIR NA NOITE BRANCA





 Em mais uma “noite branca”, na última sexta-feira realizou-se na Praça do Comércio o Baile da Rosa. Foi uma realização da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e do pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra.
Segundo o Diário de Coimbra, do sábado seguinte, “Praça do Comércio foi pequena para multidão que aproveitou a simpatia do S. Pedro e deu um pezinho de dança num baile que foi “sucesso surpreendente”, até para a organização.”
Será que, maioritariamente, os comerciantes estarão de acordo e comungarão de que esta “noite branca” foi um sucesso?
Vou convidá-lo, leitor, a vir comigo até às ruas estreitas da Baixa e, já agora, vamos ouvir quem lá esteve aberto, na última sexta-feira, até às 24h00.
Vamos começar pela Rua das Padeiras. A pergunta será igual para todos e será assim: “o que achou da “noite branca?”
Responde o primeiro, “achei bem. Estas iniciativas são muito válidas. Trazem pessoas para a Baixa e isso, no futuro, será bom. Por acaso fiz uma venda. Foi um meu amigo, que, estou certo, viria cá na mesma num qualquer outro dia. Mas não é isso que está em causa, o que conta é que as pessoas venham. Acho que estes eventos são pouco publicitados.”
E na mesma rua segue o segundo, “acho que o formato em que tem vindo a ser construídas estas “noites brancas” está errado. Não vendi nada, nem tive ninguém a visitar a loja. Ficou tudo concentrado na Praça do Comércio e ninguém se desloca para estas ruas periféricas. Acho a sexta-feira um mau dia para realizar este evento. Porque razão não é feito ao sábado? Assim sempre se tentava convencer mais pessoas a estarem abertas durante a tarde. Até porque, assim, no domingo já poderíamos ficar um pouco na cama até mais tarde, coisa que não acontece no dia antecedente. O que tenho verificado é que todos os eventos –mesmo os da responsabilidade do pelouro da Cultura- são sempre concentrados num só local, e quase sempre nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, e na Praça 8 de Maio. Ora está de ver que nós, aqui em baixo, estamos a ser deliberadamente prejudicados, já que as pessoas não passam dali.”
E vamos ao terceiro comerciante, ainda na mesma Rua das Padeiras, “foi bom porque trouxe muita gente à Baixa. Tenho esperança que estas pessoas que agora só vêm pela festa, um dia venham para comprar. Não posso é concordar que estas alegorias sejam todas feitas num só local, como agora na Praça do Comércio. Está errado. Em vez de se fazer um só espectáculo no mesmo sítio, dever-se-ia desdobrar em vários ao longo de todas as ruas, largos e praças. Além de mais constatamos outro problema: supõe-se que se convida a hotelaria para ajudar o comércio, certo? O que é que está acontecer? Os comerciantes abrem as suas portas até à meia-noite e quem trabalha são os restaurantes. Ou seja, está a acontecer o contrário do planeado: o comércio é que está a ajudar a hotelaria.”
Outro ainda na mesma rua, “a continuar assim, não me convidem mais para alinhar. As pessoas concentram-se todas na praça velha, não circulam pelas artérias interiores, e eu estive aqui a olhar para o boneco. Estive a gastar luz, e se não estivesse cá jantaria em casa, que me ficaria muito mais barato. É preciso inventar uma nova forma para a “noite branca”. Eu tenho concordado sempre em estar aberto em todas, mas verifico que continuamos a olhar para o horizonte. Não sei se me entende, mas, a continuar assim, ainda morreremos a olhar para a esperança. É que não podemos continuar a dar… dar, sem pedir nada em troca. Caso contrário, estamos a criar uma espécie de consumidor-dependente de arraiais. Escreva lá que a Câmara Municipal não pode continuar a realizar todas as festas nas ruas da calçada. É preciso descentralizar e trazer o público também para a baixinha.”
Vamos agora entrar na Rua Eduardo Coelho. À minha pergunta, diz um comerciante, “assim não dá. As pessoas aglomeraram-se todas na Praça do Comércio e não tive ninguém a visitar a minha loja. Foi mesmo zero. Vi as que me rodeavam e a mesma coisa… zero. É preciso inventar uma nova solução. É necessário colocar as pessoas a circular por todas as ruas e ruelas. Lembrando as festas que a autarquia faz, parece que quer dividir a Baixa em duas. Porque é que não diversifica, se temos aqui larguinhos espectaculares?”
Na Rua Sargento-mor responde um outro comerciante, “eu assim não continuo. Então estou mesmo aqui ao lado da praça e não tive ninguém a entrar. Isto é o quê? Tem de se entender que uma pessoa ficar até mais tarde tem um custo. Lá que peçam para as luzes ficarem todas ligadas até entendo, agora assim, não!”
Diz outro muito próximo deste, “até parece que somos enteados –referindo-se aos eventos de grande monta realizados pela autarquia nas ruas principais. Porque é que não contemplam toda a Baixa? Mas isto não é lógico?”
Na Rua da Sofia diz uma senhora comerciante, “isto está mal. A mim não me convidem mais. Fica tudo para aquele lado –acenando para sul. É preciso colocar as pessoas a circular por todo o perímetro da Baixa. Por exemplo, agora vêm aí as marchas populares. Acho que são meia centena de inscritos. Porque é que não aproveitam para os fazerem circular entre vários traçados? E mais: porque razão é que vai tudo confluir na Praça 8 de Maio? Dividiam os grupos a acabarem as suas actuações em vários sítios diferentes. Compreendeu o que eu disse?”

PERANTE ESTE PROTESTO EU PROTESTO







 Como ressalva de valores começo por escrever que, em princípio, concordo com o conteúdo deste protesto acerca da ditadura dos mercados financeiros, na Praça 8 de Maio, junto ao Panteão Nacional. Porém, discordo completamente pela forma como ele está a ser apresentado aos conimbricenses há mais de duas semanas.
Que estas pessoas, dentro do legítimo direito de expressar o descontentamento, o fizessem durante dois ou três dias até se entenderia bem. Agora, neste queimar em lume brando o nuclear da questão, a prorrogar "ad eternum" é que não se compreende. Haja alguém que diga a estes cidadãos que, a continuar aqui acampados, começam a provocar a antipatia de quem, como eu, simpatiza com a sua (nossa) causa.
É preciso chegar ao pé destes manifestantes e convencê-los a sair pacificamente. A mensagem que queriam transmitir já chegou a todos, creio. Vou mais longe, no caso de não querem sair a bem terão de sair a mal. Começa a ser uma espécie de testar a força e a paciência de quem aqui vive, trabalha ou passa no local simplesmente.
O direito de manifestação é, sem dúvida uma premissa consignada constitucionalmente, mas tem regras, isto é, tem uma lei específica e regulada nas autarquias. Começa a ser abusivo esta apropriação de um espaço público -que é de todos- continuar a estar na mão de alguns, mesmo que as suas razões sejam fundamentais para o esclarecimento da maioria dos cidadãos.
Penso que está na hora das autoridades começarem a tomar uma posição e, aparentemente, deixarem de mostrar alguma apatia incomodativa. Ou seja, fazerem que não vêem, vendo, o que se está a passar.

UMA IMAGEM...POR ACASO...


O VÍDEO DO DIA...

O DESEJADO ETERNO RETORNO?

(IMAGEM DE ARQUIVO)



 Segundo a "Agência Financeira", "As lojas de rua estão a ser mais procuradas pelos lojistas do que os centros comerciais. São os efeitos da crise e da saturação do mercado".
Leia aqui o artigo.

(Recebido por e-mail de um leitor atento e solidário com a a causa do comércio tradicional, a quem agradeço)

9ª SEMANA CULTURAL DO LUSO

(CLIQUE EM CIMA DA IMAGEM PARA AMPLIAR)


 O Luso, terra abençoada pela natureza, com as suas onze bicas na fonte de São João sempre a correr, como a correr é a nossa vida, vai estar em festa desde a próxima quinta-feira, dia 2, com a Romaria de Ascensão, até domingo, dia 5, com a abertura da Feira de Artes Tradicionais.
É uma organização do Grupo folclórico "As Tricanas" da Vila de Luso, com o meu amigo Alcides Rego sempre a pugnar para que a memória não se apague.
Eu irei lá com muito prazer. Faça o mesmo. É um passeio que aconselho sempre, mas, tendo em conta este programa, mais particularmente neste fim-de-semana.

LER E AGIR

(Esta imagem foi retirada de aqui e o seu criador defende exactamente o mesmo)


«Portugal afundou, somos enxovalhados diariamente por considerações e comentários mais ou menos jocosos vindos de várias paragens, mas em particular dos países mais ricos. 

Olham-nos como um fardo pesado incapaz de recuperar e de traçar um rumo de desenvolvimento. Nós que já dobrámos o Cabo Bojador, também seremos capazes de ultrapassar esta situação difícil. 

Agora, mais do que lamentar a situação de falência a que Portugal chegou, e mais do que procurarmos fuzilar o responsável, cabe-nos dar a resposta ao mundo mostrando de que fibra somos feitos para podermos recuperar a nossa auto-estima e o nosso orgulho. Vamos certamente dar o nosso melhor para dar a volta por cima, mas há atitudes simples que podem fazer a diferença. 


O desafio é durante quatro meses só comprar produtos fabricados em Portugal. Fazer o esforço em cada acto de compra de verificar as etiquetas e rejeitar comprar o que não tenha sido produzido em Portugal. 

Desta forma estaremos a substituir importações que nos estão a arrastar para o fundo e apresentaremos resultados surpreendentes a nível de indicadores de crescimento económico. 

Este comportamento deve ser assumido como um acto de cidadania, como um acto de mobilização colectiva, por nós, e, como resposta aos povos do mundo que nos acham uns coitadinhos incapazes.

Passe este texto para todos os seus endereços para chegarmos a todos os portugueses.
Quando a onda pegar, vamos safar-nos.

Será um primeiro passo na direcção certa!
Viva Portugal.»


(Não sei o autor, recebi por mail)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

PARTIDO SOCIALISTA DE COIMBRA COM OS COMERCIANTES




 Todo o staff do partido Socialista, a nível regional e representando o distrito de Coimbra, dentro do espírito de campanha eleitoral, esteve com alguns comerciantes, sendo estes convidados para estarem presentes num almoço no restaurante Paço do Conde, na Baixa da cidade.
Pelo que pude constatar, Mário Ruivo, líder da distrital de todos os Socialistas de Coimbra e candidato a deputado à Assembleia da República, no fim do repasto, levou um pequeno caderno de apontamentos cheio. Sobretudo o Francisco Veiga, o Arménio Pratas e o Armindo Gaspar não lhe deram prazo para almoçar. Dividido entre o constante retinir do telemóvel e as queixas dos três comerciantes, provavelmente, acabou por não ter tempo para saborear a grelhada mista do nosso mais famoso restaurante e que muito honra o nosso Centro Histórico.
Para mim, investido no papel de falso jornalista, gostei de o ouvir. Mostrou alguma compreensão para o momento crítico que o comércio de rua está a atravessar. Entre o que conhecia e com interrogações acerca do que desconhecia, lá levou o recado de quem sente na pele a amargura de desde criança a trabalhar no comércio e agora, sentindo a terra a fugir dos pés, se vê, no mínimo, sem um subsídio de desemprego e um futuro cada vez mais incerto e que tanto lutou para construir.
Na parte que me toca, até aqui sem grande conhecimento pessoal de Mário Ruivo, pareceu-me uma pessoa honesta e frontal. É lógico que defende a sua "dama" vestindo a camisola de um partido que concorre às eleições, mas todos entendemos que terá de ser assim. Sinceramente, gostei dele. Temos todos obrigação de confiar. Se as coisas correram mal até aqui, não será por isso que iremos perder a esperança em quem se apresenta e vier por bem. E isto vale para todos os candidatos. Tenho a certeza, até prova em contrário, a resposta estará sempre no novo. 
A cada um, sem querer nem dever influenciar, como Pôncio Pilatos, caberá a apresentação aos demais “Ecce homo”, eis o homem.


UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)



Jorge Neves deixou um novo comentário na sua mensagem "ESTA RUA NÃO É MINHA": 


 Disse tudo o que penso acerca do futuro da Baixa. Que regresse o passado para revitalizar o presente e rumo ao futuro. 

ESTA RUA NÃO É MINHA



Eu não conheço esta rua.
É escura, não tem vida, não tem gente,
só tem sombras disfarçadas, nuvens carregadas,
noite de assombração, relâmpagos de cheia lua;

Eu quero a minha rua de outrora.
Onde o barulho e os encontrões eram reais,
o pregão e a obscenidade eram companheiros,
não quero este silêncio dos vivos-mortos de agora;

Quero a felicidade perdida, os risos estridentes de então.
Quero ouvir o cauteleiro, de boné, a oferecer a taluda,
mais ao longe, quero um ceguinho com a sua lenga-lenga,
rogando uma moeda, lembrando o milagre da visão;

Quero ver um grupo a jogar à moeda, a pedir “três”.
“Quatro, seis, nove, doze”, a abrir a mão, tanto faz,
entre um copo e uma sardinha na tasca da Maria,
era o dia-a-dia, falando de futebol, trocando os "vês" pelos "bês";

Quero a mercearia do Xico e o livro dos calotes.
Com o seu sorriso à porta, de lápis na orelha, de bata azul,
na prateleira, a pasta medicinal Couto, no balcão o bacalhau,
o açúcar ao quilo, o azeite a retalho, as azeitonas nos potes;

Quero voltar a ouvir o martelar e o brandir da chapa, pelo picheleiro.
O refrão da venda do peixe fresco, pela vendedeira da Figueira,
quero comer uma castanha, embrulhada em jornal, no S. Martinho,
o burburinho na cidade, o maldizer da velha e o seu ar trambiqueiro;

Ó rua do meu amor traz-me à memória tudo o que eu perdi,
diz-me onde errei, voltarei atrás para emendar,
solenemente te prometo rua que, de joelhos, pedirei perdão,
não me deixes nesta angústia, abraça-me, volta para mim.

O VÍDEO DO DIA...

CÂNTARO QUE VAI À FONTE...




 Esta noite, pouco passaria da primeira badalada na torre do relógio da Igreja de Santa Cruz, mais uma vez, a loja dos irmãos Costa, na Rua do Corvo foi violada, desta vez com certeza, por dois marmanjos.
Lembro que na noite de sexta-feira última esta vetusta e reputada loja, identificativa através da sua formação original, de um comércio tradicional outrora de vanguarda e agora em avançado estado de desaparecimento, foi assaltada. Há cerca de oito meses tinha tido também uma tentativa, embora gorada.
O lado bom, nesta história agora escrita, é que os “violadores”, já dentro da vítima, depois de já terem arrombado a porta, e com vários sacos cheios prontos a partir, foram detectados por dois agentes da PSP. Um dos meliantes conseguiu escapar, mas um menos ágil, para prova do estupro, foi apanhado e será sujeito ao juiz.
Talvez porque, volta e meia dou pancada na PSP –é uma maneira de escrever, porque os seus agentes limitam-se a cumprir ordens-, pela omissão de afiançar a segurança a que está obrigada a proporcionar aos comerciantes, desta vez, faço o contrário: relevo o bom trabalho realizado por estes agentes envolvidos. É bom sentir que, com este acto, poderemos dormir um pouco mais descansados. Quem já foi roubado durante a noite aqui no Centro Histórico –infelizmente já serão poucas as virgens- sabe que se, durante a noite, tocar o telefone o primeiro pensamento é: “mais um assalto à minha loja. Lá fui outra vez escolhido”.
Um bom trabalho para a instituição de segurança pública, no caso a PSP, nomeadamente para os dois agentes. Ainda bem que sou obrigado a emendar a mão. Já há muito tempo que não o fazia.


UMA IMAGEM...POR ACASO...


UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)


Sérgio Reis deixou um novo comentário na sua mensagem "O ARRUMADOR PINGO DOCE": 


 É por estes homens que eu considero ser possível existirem arrumadores em Coimbra. Mas, para isso acontecer, é necessário que seja promovida a Licença de Arrumador de Automóveis, e a Polícia Municipal faça cumprir esta norma.
Conheço mais arrumadores como este que realmente estão para ordenar o estacionamento na nossa cidade.
Estas pequenas medidas, este serviço a troco de uma moeda, permitem-nos estacionar tranquilamente e sem medos de "não arrumadores". E não ser necessário pensarmos em soluções radicais e pouco eficazes para o problema.

Sérgio Reis 

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Jorge Neves deixou um novo comentário na sua mensagem "O ARRUMADOR PINGO DOCE": 


 Parabéns Cláudio pela tua grande coragem. 



domingo, 29 de maio de 2011

O ARRUMADOR PINGO DOCE





 São 19h00 deste domingo. Parei o meu carrito junto ao supermercado Pingo Doce, na Baixa da cidade. Reparei que, quase em concorrência directa, dois homens disputavam os carros que pareciam ir estacionar. Os dois tinham bom aspecto. “Demasiado” bom aspecto, escrito assim, até parece que os arrumadores de automóveis têm um arquétipo imaginado por todos nós. E têm mesmo, esse é o problema. Imaginamos que, como bonecos saídos de linha de montagem, todos são iguais. Quando perdemos tempo a pensar, construímos histórias à volta de pendentes em toxicodependências e outras adições. Sem o sentirmos passámos a evitá-los, na forma defensiva de olhar o chão, que é a indiferença no seu grau mais cruel.
Um dos arrumadores teria à volta de 40 anos. Bem vestido, relativamente bem cuidado fisicamente. A barriga saliente mostrava, provavelmente, que sempre vivera desafogadamente, pelo menos até agora. Sempre que se aproximava uma viatura, gesticulava, indicando um lugar vago, como se tentasse apanhar bolinhas de sabão. Se o condutor seguia as suas indicações, estacionava e a seguir ignorava o seu serviço, ia a atrás dele e, com voz dividida entre o cortante de atenção e o meloso de apelo, proclamava: “ó amigo, então não me arranja uma moedinha?”. Se o homem prosseguia a passada ele acompanhava-o até que se dispusesse mesmo a dar-lhe o níquel. Depois de uns tantos gestos positivos, como se ele apenas procurasse dinheiro para comer uma sandes, abandonou o trabalho sem apresentar causa para o despedimento.
O outro arrumador, um rapaz de cerca de 30 anos, constatei, era o oposto deste. Fazia umas indicações delicadas e, curioso, pedia com os olhos. Isso mesmo, quem reparasse nele, veria que era uma pessoa diferente. Porte atlético, rosto pontiagudo acompanhado com dois olhos negros que, certamente já teriam tido muito mais alegria. Olhando para ele de rompante fazia lembrar o Luís de Matos, o mágico de Coimbra.
Como estava com tempo, saio do carro e cumprimento-o, apertando-lhe a mão –é muito importante esta simbologia. Ao manifestar esta expressão de paz, apertando a mão a alguém, estamos a transmitir, através do sinal, que o consideramos igual a nós. E entro a matar, como habitualmente faço em relação a quem não conheço.
-Boa tarde. Como se chama?
Você foge ao modelo que nos habituámos a ver nas pessoas que estão a arrumar automóveis. O que é que se passou para você estar aqui? Interrogo. Nem todos os visados encaram bem, mas a maioria, talvez porque precisem de conversar com alguém, anuem.
-Chamo-me Cláudio Miguel. Olhe, até há cerca de oito meses, eu vivia muito bem. Estava a trabalhar em Espanha –sou carpinteiro de cofragem- e ganhava entre 1400 e 1500 euros, mensalmente. De repente, por causa da crise da construção que também se vive lá, fui despedido e vi-me numa situação de desespero. Há poucos anos comprei uma casa usada ali em Santa Clara, junto aos Correios, para mim e para toda a minha família –tenho mais cinco irmãos, um é deficiente, e a minha mãe. Foi a forma que eu encontrei de lhes dar um tecto, está a ver? Comprei também um carro, que também estou a pagar.
-E de repente é despedido…
-Exactamente. A minha mãe também está desempregada. Estamos os dois a fazer um curso profissional e recebemos cerca de 600 euros os dois. Está a ver, só para a prestação da casa vão duzentos e cinquenta. E como é que comemos? Tive de começar a arrumar carros. Mas custa muito, você não imagina a vergonha que sinto. Sabe, as pessoas pensam que quem está aqui só quer umas moedas para a droga, nunca se lembram que a pessoa com quem não falam, nem olham nos olhos, foi até há pouco um igual a elas. Mas eu não condeno. Até há pouco tempo eu também pensava assim. Olhe que em Espanha partiram-me um vidro do automóvel só para me roubar uma mala com roupa de trabalho.
-E é rentável. Isto é, você aqui a arrumar, dá para fazer face às despesas?
-Ai isso é. Durante a semana venho para cá a partir das 17h00, logo que acabo o curso, e até à noitinha ganho 10… 15 euros. É conforme. Ao sábado, durante todo o dia, dá à volta de 40 euros. Ao domingo, como hoje, é mais fraco.
-Mas você, engraçado, reparei que não pede a ninguém…
-Pois não. Você já sabe porque é que estou aqui. Eu não persigo ninguém para me gratificar. Quem quer dar, dá, quem não quer também não levo a mal.
Eu preciso é de trabalho. O trabalho dignifica. Estar aqui a arrumar, não é que seja indigno, mas é desprestigiante. A vida obriga-me a isto. Claro que, se não tenho escolha, prefiro fazer isto do que andar a roubar e ir parar a uma cadeia.
É triste uma pessoa ter de recorrer a isto. Acredite, amigo, é muito triste. Mas o que é que se há-de fazer?


(Chamo a atenção de que esta história como outras são colhidas em bruto e sem qualquer investigação. O que quer dizer que facilmente poderei ser enganado. De qualquer modo, mesmo que neste caso e noutros o seja, servirá sempre para pensarmos e aprendermos a olhar o "outro" de modo igual a nós)


TEXTOS RELACIONADOS COM O MESMO TEMA:


"O guardião da margem esquerda"


"A destruição e um estacionamento..."


"Repórter estrábico: uma nota de dez euros"


"Hélder o pária mal-amado"

sábado, 28 de maio de 2011

... E O VENCEDOR É...?

(1º prémio -peixaria pinguin, Rua das Padeiras)

(2º prémio -loja Lena, Rua Sargento-mor)

(3º prémio, "ex aequo" -Loja das Meias, Rua Ferreira Borges, e Brancal, Rua Visconde da Luz)



  Foram já anunciados pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, os vencedores, os melhores dos que se propuseram a concurso, da melhor montra.
O primeiro prémio recaiu na peixaria Pinguim, na Rua das Padeiras; o segundo na loja Lena, na Rua de Sargento-mor e o terceiro na Brancal e na Loja das Meias, “ex aequo”, em igual mérito.
Por parte da restauração, porque também havia classificações para o melhor prato gastronómico alusivo a tempos recuados e medievos, a escolha caiu no restaurante “A Cozinha”, com o 1º prémio. Com o segundo foi contemplado o restaurante “007” e com o terceiro o restaurante “O Espanhol”.
Se as decisões de escolha obedecem a critérios previamente anunciados, tal como uma demanda judicial, a sentença jamais obterá unanimidade para as partes em confronto. Afinal uma deliberação é sempre uma resolução subjectiva assente numa ponderação de preceitos. O que quero dizer é que, neste caso, raramente os concursantes estarão de acordo com o despacho final, embora, tal descontentamento terá de ter uma margem razoável –transmitindo obrigatoriamente sempre um sentimento de justiça- e não poderá tomar a maioria, caso contrário, tal como nas decisões judiciais, provoca o descrédito e a vontade de não participação futura.
Ora, segundo várias queixas que me chegaram de alguns participantes, o descontentamento em relação à designação, sobretudo, do primeiro prémio era lactente. Os desabafos foram vários, dizia um: “então “aquilo” –referindo-se à montra da peixaria Pinguim- é que é criatividade? Por amor de Deus?! O júri não percebe nada de arte de vitrinismo”.
Dizia outro, “se o que eles procuravam era uma “parolada” que dissessem antes, evitava de me esforçar tanto para colaborar no concurso. Ao atribuir o prémio a uma montra daquelas é descer o nível do que verdadeiramente estava em causa. Em futuras participações, provavelmente, não concorrerei.”
Dizia ainda outro comerciante, “sinceramente, nunca vi tanta falta de gosto de alguém a apreciar arte num lugar de júri. Qual é a formação em arte dos seus membros?”
Fui dar os parabéns à dona Lurdes Alves e ao mesmo tempo pedir-lhe uma declaração acerca da contestação de outros colegas. “Eu não tenho nada a ver com o que dizem. Fiz a montra à minha maneira e não falei com ninguém. Se me atribuíram o prémio lá saberão porquê. Só sei que, em futuras iniciativas, aumentou a minha responsabilidade. Quanto a polémicas, isso passa-me ao lado.
Vou ouvir Armindo Gaspar, o presidente da APBC: “Ainda bem que há polémica, isso significa que, pela elevada qualidade e pelos muitos bons trabalhos apresentados a concurso, por parte do júri, deveria ter sido difícil de se pronunciar. Como sabes, estas coisas nunca geram consenso, o que posso dizer é que não tenho nada a ver com a decisão. Para não criar suspeições nem concorri. Posso acrescentar que a composição do júri era de três elementos, dois ligados a arte e outro a marketing e publicidade.
Acrescento ainda que os critérios de avaliação assentavam em três princípios: criatividade, originalidade e promoção do produto. Em sub-princípio, digamos assim, teria de estar presente a rosa na decoração e ser perceptível a alegoria aos 900 anos da concessão de Carta de Foral à cidade de Coimbra.”, enfatizou Armindo Gaspar.


sexta-feira, 27 de maio de 2011

AMANHÃ COMEÇA A FEIRA DE ARTESENATO



 Começará amanhã, no Parque Verde, a Feira de artesanato. Segundo o blogue do Gabinete para o Centro Histórico, "durante 9 dias, de 28 de Maio a 9 de Junho, artesãos de várias regiões do país mostram as artes e ofícios tradicionais..."
Este novo espaço de implantação, em termos de beleza paisagística, é espectacular. Quanto ao negócio, isso já não sei. O que consegui saber é que a Feira do Livro, que esteve a decorrer até há uns dias atrás, segundo um responsável com quem falei, correu muito mal. É evidente que há factores exógenos ao novo local que concorrem para isso... e são muitos. De qualquer modo, se posso sugerir, vá até lá...

O MENINO DANÇA?



 Dentro de duas horas, mais coisa menos coisa, na Praça do Comércio, vai começar o baile da rosa. Trata-se de uma recriação à moda antiga, em que o homem é convidado para dançar pela dama. A particularidade é que a mulher terá de trazer na mão uma rosa. Não sei muito bem porquê, mas gosto disto. Bem sei que a contra-argumentação ao que acabo de escrever será a do costume: de que, ao longo da história, foram sempre elas a escolher. Pode ser, mas invertendo os papéis, até sabe bem, nem que seja por ilusão. 
E digo mais: até que enfim que chegou a nossa vez e reconhecem o nosso valor... nem que seja pela vulnerabilidade e pouca resistência do cromossoma y. Ah... pois?! É a natureza a repor a justiça. Ou as mulheres nos tratam como merecemos ou, qualquer dia, para se conseguir um homem a sério terá de ser por concurso. Por exemplo, na televisão, em vez de se dar dinheiro, automóveis, máquinas de lavar, o prémio é... um homem!
Ah... é verdade, é uma realização da APBC, Agência para a Promoção da baixa de Coimbra, e da Câmara Municipal de Coimbra.
Ah... é verdade, até se me varria, digo também que o agrupamento musical -espectacular, a propósito- é a orquestra Smooth, de Taveiro.

EM NOME DA ROSA... (4)


O VÍDEO DO DIA...

EM NOME DA ROSA... (3)


A MULHER OLHA O VAZIO

(Obra pintada em tela de José Eliseu)




Menino estás à janela
em braços de protecção,
tua mãe está sentinela,
concentrada em oração,
apreensiva em beijadela,
parece estar em absorção,
talvez pense em cuspidela
neste tempo de preocupação,
se calhar sonhou ser bela
esta vida tumultuosa de aflição,
teme que te tornes caravela
em oceano de rebentação,
quer fugir para a Venezuela,
ou até para o Uzbequistão,
olha a tua mãe, coitada dela,
tem rosto triste,  negro coração,
cresce menino e vai fazer novela,
mesmo até futebolista de eleição,
ou político corrupto de panela,
não vás é para pintor de vocação,
como o criador que te tutela,
voa menino, mesmo em abstracção.


EM NOME DA ROSA... (2)