O cidadão Aníbal Cavaco Silva é humano como
qualquer um de nós. A sua história de vida é tão parecida com alguns milhões de
portugueses, como eu e outros e outros, que nasceram pobres, ou remediados, nas
décadas de 1940-1950 e escalaram a montanha da vida a pulso e dão muito valor
ao caminho percorrido. Tal como eu e os outros milhões, alguns já reformados e
a auferirem verbas de sobrevivência, este cidadão português que dá pelo nome de
Cavaco chora quando se lembra dos seus tempos pobres de criança e ri a
bandeiras desfraldadas quando recorda certas passagens patéticas. Ama e
detesta. Aprecia quem gosta dele e abjura quem o abomina. Ainda como cidadão
político, perseguindo a ideologia Social-Democrata, aparentemente odeia os comunistas. Tudo
isto é legítimo e um comportamento seu que se respeita. Entre fragilidades, forças e
valores, dentro do âmbito da liberdade individual, na sua idiossincrasia, este
homem e cidadão português tem o direito de ser quem é.
Aníbal Cavaco Silva é o Presidente da
República Portuguesa. Foi eleito Chefe da Nação maioritariamente pelos
eleitores que sufragaram o último pleito eleitoral para a Presidência da
República Portuguesa. Por inerência, por todos, pelos que votaram e os que não
votaram nele, é sem dúvida, formal e materialmente, o presidente de todos
os nacionais a residirem no país e no estrangeiro. Para além disso, no dia em
que tomou posse, com uma mão em cima da Constituição da República Portuguesa,
para além de outras promessas, jurou representar todos os portugueses nas
alegrias, nas euforias de contentamento, e nas desgraças, quando a tristeza
invade o nosso espaço e parece que o mundo ameaça ruir sobre as nossas cabeças.
José Saramago foi o nosso expoente máximo das
letras além-fronteiras. Pelo seu trabalho, foi reconhecido com o prémio Nobel da
Literatura, o nosso segundo nobelizado. A distinção atribuída pela Academia
Sueca foi uma honra para Portugal e para todos os portugueses.
José Saramago, comunista de
convicção e filiado no PCP desde antes do 25 de Abril, morreu em Junho de 2010.
O Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, estava de férias nos
Açores. Apresentou condolências públicas à família mas não se deslocou pessoalmente
ao funeral do nosso maior expoente da literatura nacional e de projecção
mundial.
Vasco Graça Moura, escritor, poeta e ensaísta,
figura de relevo no firmamento social-democrata, morreu neste último Abril. O Presidente
da República, Cavaco Silva, acompanhado da mulher, Maria Cavaco Silva, foram
pessoalmente à Basílica da Estrela para apresentar condolências à família do
extinto e velar o corpo ali exposto em câmara ardente.
Carlos do Carmo, filho de Lucília do Carmo,
provindo de uma família de fadistas que muito tem dado à cultura portuguesa
dentro e fora de Portugal. Na mesma linha de Amália, é um reconhecido artista
nacional e internacional.
Em 2006 este notável cantor ganhou
o prémio Goya, instituído pela Academia das Artes e Ciências Cinematográficas
para a Melhor Canção Original, e foi felicitado, em nota oficial, pelo
Presidente da República.
Assumidamente comunista, nos
últimos tempos tem feito várias intervenções a criticar e a responsabilizar o
presidente pela situação económica, política e social em que o país se
encontra.
Esta semana foi o primeiro
português a ser contemplado com um Grammy
de carreira – este galardão é considerado o maior e
mais prestigiado prémio da indústria discográfica mundial. Naturalmente recebeu
muitas felicitações de várias personalidades do universo da cultura. O
Presidente da República não faz parte dos que enviaram congratulações.
Pode o Presidente da República, Aníbal Cavaco
Silva, agir assim? Não pode nem deve. A mais alta figura do Estado não está a cumprir
o mandato para que foi outorgado. Ao confundir os seus interesses individuais particulares,
de cidadão, com o seu papel institucional, ao discriminar aqueles cidadãos que legitimamente
ousam, ou ousaram, questionar a sua actuação política, não está a representar
os portugueses. E não me venham como o argumento de que o direito civil se
confunde com o direito constitucional e ambos se baralham no mesmo saco. O
Presidente da República deve ser o primeiro a mostrar poder de encaixe para quem não concorda com o seu procedimento
político.
O senhor Presidente da República
está a dar um péssimo exemplo, para não dizer medíocre, aos nossos jovens e
vindouros. Esta conduta pública deveria ser censurada por todas as forças
políticas partidárias. Como português, este comportamento do mais alto
magistrado da Nação envergonha-me.
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